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terça-feira, 28 de abril de 2009

Legendagem

Escreveu a Priscila:

Meu nome é Priscila, sou estudante de Letras - Inglês pela faculdade UNIMEP - Piracicaba, e gostaria muito de alguma dica e/ou matéria que falasse sobre as traduções e legendas; o porque de algumas vezes serem bastante diferentes as traduções, as falas dos personagens, queria muito falar sobre "Traduções e legendas" na minha monografia gostaria muito que você pudesse me ajudar.

Obrigado pela mensagem, Priscila. O blogue adquire mais vida quando respondemos mensagens dos leitores.

Uma das maiores especialistas em legendagem em português é a Carol Alfaro, que, inclusive, dá aulas de legendagem a distância e já fez uma palestra grátis excelente sobre técnicas de legendagem, também a distância. Clique aqui, para conhecer melhor a Carol.

Particularmente, tenho pouco a dizer sobre legendagem, porque não é minha área (nem minha praia). Mas talvez possa abrir um caminho para você e sua monografia contanto este caso, que envolve exatamente a Carol.

Numa discussão entre tradutores, um colega apresentou algumas falas de filmes, juntamente com as legendas que ele tinha visto, e as suas próprias propostas. A Carol explicou que independentemente de sua qualidade, todas as propostas seriam recusadas porque tinham mais caracteres do que cabiam na tela. E esse é só um dos problemas enfrentados por quem trabalha com legendagem. As legendas precisam ficar um tanto de tempo na tela, porque caso contrário, muitos leitores não vão conseguir ler e ver o filme; além disso, precisam usar um vocabulário simples, porque ninguém vai consultar dicionário e porque não é possível usar notas de tradutor. E por aí afora.

Não há dúvida que há tradutores incompetentes e que mesmo os competentes cometem erros — sem contar os erros introduzidos pelos revisores, que, por bons que sejam, também têm lá suas fraquezas. Mas as restrições impostas pelas especificações do meio (que a Carol conhece mil vezes melhor que eu) são tantas, que o tradutor tem que fazer escolhas dificílimas. Na verdade, Priscila, muito do que parecem ser erros e falhas do tradutor, são soluções brilhantes para problemas complexos que escapam ao leigo que jamais teve de legendar um filme.

Tenho certeza de que você vai se divertir com o assunto.

Tem mais sobre o legendagem aqui.

Chega por hoje, amanhã tem mais.

Notícias

Pessoal, escrevendo rapidinho aqui, entre um espirro e outro, para avisar que o Danilo está sem internet até quarta-feira, provavelmente. Para facilitar as respostas aos comentários quando ele voltar, não vou aprovar nada, mas fiquem tranquilos, está tudo aqui e não estou recusando nenhum.

Ah, sim: minha conexão parece estar bem, estou voltando aos poucos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Viver exclusivamente da tradução

O Mairo perguntou, como comentário ao artigo anterior:

Posso perguntar uma coisa diferente? Quanto tempo leva, se eu começar hoje, para eu começar a ganhar uns trocados como tradutor? Uns trocados eu digo ser capaz de fazer só isso dá vida...

Depende muito do caminho que você seguir. Eu consegui um meio período numa empresa, quinze dias depois, uma editora e, assim, imediatamente comecei a viver de tradução. Nem todos conseguem.


Atualmente, eu diria que o caminho mais simples para o iniciante é procurar agêncis e editoras (principalmente as pequenas). Não se ganha muito dinheiro, mas há um fluxo de serviço contínuo, que paga o essencial e dá uma experiência enorme. Isso, evidentemente, quando você estiver preparado. Não adianta fazer testes aos montes quando você ainda estiver engatinhando: só vai queimar o filme.


Procure ter vários clientes: depender de um só é um risco muito grande. Oito meses depois de conseguir o emprego na empresa, pedi demissão, para trabalhar exclusivamente por conta própria. Tinha uma editora que ocupava 75% do meu tempo e mais um cliente direto que ocupava o resto. Muito melhor do que ter de ir ao centro de São Paulo todos, os dias para trabalhar quatro horas. Um dia, a editora parou de me dar serviço e eu caí em desespero.


Em outras palavras, não é bom que qualquer dos seus clientes represente mais do que 25% dos seus rendimentos. Idealmente, 10% deveria ser o máximo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Quero ser tradutor!

Ou, o que é mais frequente, "quero ser tradutora!". Rara é a semana em que não recebo uma mensagem de alguém que quer se dedicar à tradução como profissional, sempre me pedindo "algumas dicas".

Este blogue não passa de uma coleção de dicas para tradutores. Tem até, aí do lado, dois marcadores, um iniciantes e outro principiantes, que levam o leitor a várias notas especificamente direcionadas para os que estão ainda nos primeiros degraus da escada profissional.

Há muito pouco que eu possa dizer que não esteja aqui e que eu não tenha dito mil vezes em palestras e nas Reuniões na Sala 7. Uma das minhas maiores dificuldades atualmente é escrever artigos novos, sem repisar mais uma vez os fatos, temas e conselhos que já dei mil vezes.

Por que me escrevem, então, pedindo "dicas para iniciantes"?

Não sei. Talvez seja falta de paciência para pesquisar, para ler a tela toda do computador e ver o que nela está escrito, para dar uma boa xeretada no blogue.

Isso é mau. Mau porque o tradutor é, entre outras coisas, um pesquisador cuidadoso, um fuçador nato, um xereta paciente e incontrolável. E escrever uma mensagem perguntando o que está à vista de todos indica que o redator precisa, antes de tudo, mudar seus hábitos intelectuais.

Mas talvez eu esteja sendo injusto. Talvez o missivista tenha lido tudo e esteja procurando aquela diferença, o pulo do gato, aquela chave mestra que abre todas as portas. Como, depois de ler meio blogue, não encontrou, resolveu perguntar. O fato é que não existe essa chave mestra. Existe uma porção de coisas que você pode e deve fazer e que estão descritas nos itens para iniciantes e principiantes e, me desculpe, eu não vou repetir de novo mais uma vez (duplo pleonasmo proposital) para cada pessoa que me escreve.

Mas o pulo do gato não existe. Me faz lembrar as histórias que circulavam na minha adolescência — e devem ainda estar circulando, em versões mais modernas — sobre técnicas para conquistar as meninas. Tenho certeza de que entre as meninas circulavam as histórias recíprocas, sobre como conquistar os meninos. Mas, embora a maioria tivesse lá sua utilidade, nenhuma delas era garantida e eu também não tenho nenhuma técnica garantida para fazer carreira e conquistar clientes.

Mas, para quem insiste e pede, ao menos, uma diquinha, pequenininha que seja, tenho aqui a dica das dicas, a mãe de todas elas, a maior e mais importante: para cada hora que dedicar ao estudo da língua estrangeira à qual você quer se ligar como tradutor ou tradutora, dedique ao menos duas ao estudo do português.

Mas, se você insistir que quer mais uma diquinha, só uminha, porque teu português é bom, e você sabe a diferença entre "a", "á", "à", "ah" e "há", sabe quando se usa "havia" e quando se usa "haviam" (o que é mais do que sabem muitos que me pedem dicas para pretendentes a tradutor), eu vou dizer: aprenda a usar seu computador, principalmente o Word for Windows. Dá pena ver gente que não sabe formatar parágrafos, que bate enter duas vezes no fim do parágrafo, pensa que para iniciar página nova tem que ir dando enter até virar de página, não sabe formatar tabulações nem localizar e substituir marcas de parágrafo, por exemplo.

Agora, se você continuar a insistir, eu vou dar a terceira e última dica: clique nos marcadores "iniciantes" e "principiantes", aí do lado, que tudo o mais que eu sei está lá.

Pronto, já dei três.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Edição extra!!!!!

Não ia escrever nada, hoje. Pouca inspiração, muita confusão, dia complicado. Mas acaba de ser inaugurado o Tradução via Val, blogue da Val, também conhecida por Ana Valéria Ivonica, grande colega e amiga ainda maior — e eu não poderia deixar de noticiar aqui.

Ainda está no começo, tem pouca coisa, mas, sendo a dona quem é, vai crescer e aparecer, vai ser uma fonte de muita informação útil e interessante, porque a Val, além de competente e inteligente, é membro da Liga do Bem, um grupo de tradutores abstrato e imaginário (que eu acabo de inventar) que têm prazer em compartilhar o que sabe com todos os seus colegas.

Fique de olho e, melhor ainda, faça uma visita e deixe um recado de felicitações à nossa nova blogueira.

domingo, 19 de abril de 2009

Você foi bem sucedida na tentativa (2)

Só quem mantém um blogue destes sabe o trabalho que dá e, de vez em quando, simplesmente não dá coragem. Ontem foi o caso. Gosto muito de escrever estas notas, mas ontem, preferi ler e dormir.

Esta é a segunda parte da resposta a um comentário deixado aqui e, certamente, a mais importante.

Como disse na primeira parte deste artigo, acho deselegante e de pouca ética o hábito de desfiar coleções de erros alheios em público. Mas quando faço uma revisão, me considero na obrigação de manter o cliente informado sobre a qualidade do trabalho. Já elogiei muita gente, já fiz outros tantos perderem o cliente.

Quando a tradução é ruim, preciso de mais tempo para revisar. Ou cobro mais – e preciso justificar a cobrança – ou tomo prejuízo – o que não é minha obrigação, porque a burrada não foi minha. Já devolvi textos por inservíveis, já tive de refazer do zero, num fim de semana, porque tinha prazo para entregar e não havia tempo para grandes discussões, visto que a agência estava fechada.

Você não acredita quanta sem-vergonhice tem por aí. Tem gente que faz testes lindos, mas repassa tradução para pessoas absolutamente incompetentes; tem gente que simplesmente entrega material sem dar nem uma olhada por cima, para tirar o grosso dos erros. Chegou no fim, manda e o revisor que se vire. Por outro lado, tem gente que faz serviço bonito, inclusive se dando ao luxo de destacar os pontos mais complexos para atenção especial do revisor. Um ganha estrelinha dourada, o outro toma pito. É assim que funciona. O cliente e, mais do que ele, o leitor, merecem o nosso respeito.

Não importa se o cliente paga pouco ou muito: aceitou, tem que caprichar, que eu não estou aqui para limpar caca feita por gente incompetente ou descuidada. Caiu na minha mão, tem que sair bonitinho (não como estes artigos batuscritos assim meio a la porca em meio a mil outras coisas).

Mas a safadeza não é só dos tradutores: o que tem de cliente que manda para o editor o lixo dos lixos, esperando que a gente devolva uma tradução impecável é uma barbaridade. Tem uma turma que manda tradução automática para a gente revisar e quer pagar preço de revisão normal. E – acredite se quiser – temos um par de colegas espertinhos que fornecem traduções automáticas a clientes como se tivessem sido feitas por eles. Pau neles!

Com meu comentário, posso estar prejudicando alguém? Desculpe, mas dizer a verdade não prejudica a ninguém; calar perante o erro prejudica a muitos, incluindo uma turminha boa que está aí doida atrás de servço.

Não somos nós os primeiros a reclamar do que nos parece excesso de corporativismo em outras profissões? Quantas vezes você não ouviu alguém revoltado dizendo que os membros desta ou daquela profissão encobrem os erros uns dos outros? Então, como é que fica?

Um outro ponto do comentário que merece análise é o "dá para entender" e o "errado, não está". Que é isso, companheiro? Quando você está do outro lado do muro, como comprador, aceita um "dá para usar" ou um "quebrado, não está"? Acha que isso é aceitável? Pois é. O que não é aceitável para o comprador, não deve ser aceitável para o vendedor. Revisão serve para transformar uma boa tradução em uma tradução excelente. Tradução ruim não se revisa: joga fora e faz de novo.

Finalmente, no fecho você se refere a mim como "paladino das traduções bem sucedidas", não sem uma pontinha de escárnio. Não sou paladino de nada, mas defendo a qualidade. Aliás, meu nome é Danilo e prefiro não ser tratado por "senhor" - especialmente quando o "senhor" é forma de escárnio, não de respeito.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Críticas ao trabalho de tradutores


Um colega deixou um comentário a este artigo e me deu vontade de contar um caso já muitíssimo antigo. Vai tomar acho que dois dias, mas faz parte.

Fui a um congresso de tradutores, antes de 1980, na Alumni, em São Paulo. Na plateia, eu, boquiaberto, perante as grandes vacas sagradas que estavam na mesa diretora. Na primeira fila da plateia, esperando para ser chamado a falar, Paulo Rónai, como sempre tendo ao lado sua esposa. Quer dizer, era pesada, a barra.

Estava falando um crítico literário qualquer, desfiando uma daquelas longas listas de erros de tradução hilários. O homem rebolava alegre em sua vasta erudição, citando erros de tradução de espanhol, francês, inglês, italiano e alemão. Cada grupo da plateia ria dos exemplos em uma língua, claro, que poliglotas de tal quilate não há muitos. Quando o homem resolveu calar a boca, a casa veio abaixo com aplausos.

No lado direito da mesa (tenho a imagem na mente até hoje) ou seja, do lado esquerdo para quem, como eu, estava na plateia, Regina Alfarano, naquela época a alma da Faculdade Ibero-Americana, aplaudiu protocolarmente, de cara amarrada. Quem conhece a Regina Alfarano, sabe que ninguém amarra a cara como ela. Amenizada a tempestade de palmas, começou a Regina a falar. Falou pouco, menos de cinco minutos. Nesses poucos minutos, nos deu uma lição que deveria ter sido gravada, degravada, impressa, publicada e distribuída urbi et orbi e constituir matéria obrigatória em todo curso de tradução.

Lamento não poder reproduzir aqui exatamente o que ela disse. As palavras dela cortavam em cortes profundos e precisos, movidas pela força de sua revolta. Quando – dizia ela – num congresso de advogados, médicos, engenheiros ou o que quer que fosse, veríamos um orador humilhar de tal modo a profissão da plateia e ainda ser aplaudido por todos? Claro que erramos, claro que muitos de nossos erros são hilários, mas em todas as profissões há bons e maus profissionais e mesmo os melhores profissionais erram. Mas nossos intensos aplausos denotavam uma falta de auto estima que somente se igualava à deselegância do orador e de sua fala escarninha. Como poderíamos nós almejar o respeito da sociedade, se nem nós mesmos nos respeitávamos? Não se trata de acobertar os erros dos outros, de corporativismo. Trata-se do uso que se faz desses erros.

O constrangimento era grande, mas os aplausos foram maiores ainda. Tomamos todos um grande sabão da Regina – eu, incluso, porque era um dos que mais riu entre os que mais riram – pelo qual até hoje estou grato.

Fiz inúmeras palestras, desde então, mas sempre me recusei a fazer essas listas de erros cômicos. Acho mais importante e digno compartilhar o conhecimento que ridicularizar o erro.

Escreveu a Dra. Lourdes


A Dra. Lourdes nos enviou uma mensagem:
Boa noite, fico feliz que tenha um site preocupando-se com os Tradutores Juramentados porem um aparte meu, atualmente o ingles já perdeu o trono tão falado pois como Tradutora Juramentada e concursada pela JUnta Comercial, posso lhe dizer que o espanhol está no mesmo patamar que o ingles pois temos os paises limítrofes com o Brasil que necessitam e muito juntamente com as Universidades e exportações como importações, de Tradutores Juramentados dando a Fé Pública para regularização de todos os documentos.Dra. Lourdes Rodrigues
Quinze minutos depois, mandou a segunda, toda em caixa alta, talvez sem saber que as maiúsculas, na Internet, indicam os gritos.

BOA NOITE, EU REALMENTE ME INSCREVI NESTE SITE PARA PODER TER CONTATOS COM OUTROS TRADUTORES JURAMENTADOS MAS PARA MINHA SURPRESA, SÓ ESCREVEM TRADUTORES NÃO JUR. E SEMPRE EM BRINCADEIRAS QUANTO AOS PREÇOS E AS PESSOAS QUE DIZEM QUERER FICAR COM SEUS TRABALHOS.PARA MIM ISSO É PERDA DE TEMPO POIS GOSTARIA DE SER PROCURADA POR PESSOAS QUE NECESSITEM DA FÉ PÚBLICA E QUANTO AO DINHEIRO, CADA jUNTA COMESCIAL TEM A SUA TABELA DE TRADUTORES MAS TEM QUE SER JURAMENTADO.EU REALMENTE AINDA NÃO ENCONTREI NENHUMA COIS QUE ME PRENDESSE POIS O QUE QUERO É SER CONSULTADA PARA TRABALHOS E PODER TROCAR IDÉIAS COM TRADUTORES JURAMENTADOS.DRA. LOURDES RODRIGUES

Prezada Dra. Lourdes,

Aquilo que, para a senhora, é perda de tempo, para outros é um bom investimento. A maioria, a grande maioria, a esmagadora maioria dos tradutores destes Brasis não é, nunca foi nem vai ser TPIC e não é afetada pelas tabelas das diversas juntas e há tradutores de e para o português em diversos países deste mundo que, por morarem fora do Brasil, nem podem pensar em prestar concurso. Quer dizer, Dra., vastos são este nosso mundo e esta nossa profissão e não se pode limitar nossa profissão ao trabalho dos TPICs, por respeitável e respeitado que seja.

Aqui, nem a Kelli nem eu jamais nos propusemos a atender especificamente aos interesses dos TPICs, visto que nem ela nem eu jamais prestamos o concurso e, portanto, estaríamos lavrando em seara alheia. A senhora simplesmente bateu em porta errada e acabou entrando onde não queria entrar, o que certamente não é culpa nossa, embora seja lamentável. Mas a senhora se equivoca num ponto: muitos dos que comentam nossos artigos são TPICs, ou “juramentados” como diz a senhora.

Aliás, juramentada é a tradução, não o tradutor, pelo menos é o que me explica a diretoria da ATPIESP, a Associação dos Tradutores Públicos do Estado de São Paulo, que insiste em afirmar que o título ao qual a senhora adquiriu o direito por concurso é o de Tradutor Público e Intérprete Comercial, não de tradutora juramentada.

Quem sabe algum de nossos leitores TPICs pode lhe indicar o que a senhora quer, se é que existe. Se não existir, talvez a senhora mesma queira se encarregar de criar. Por que não?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Reunião na Sala 7

Chato, mas em abril de 2009 não tem Reunião na Sala 7. A próxima já está marcada para 9 de maio. Uma enfiada de feriados e outros bagunçou a nossa agenda. Para piorar, a Kelli está de novo sem conexão, o que é um problemaço. Uma vez que me acostumei a trabalhar junto com ela, trabalhar sozinho é uma chateação.

Temos a esperança e expectativa de pelo menos mais uma outra surpresa para vocês. "Pelo menos uma" quer dizer "talvez mais de uma". Mesmo com a Kelli desconectada, andamos muito ativos, nós dois. Imagine se ela estivesse com a conexão funcionando!

Se quiser anotar o link, é http://www.aulavox.com/2009/05/danilon/salasete0905.htm

Você foi bem-sucedida na tentativa?


"Você tem sido bem-sucedida em sua tentativa de aprender inglês? O marido de uma amiga minha falhou e consequentemente não foi promovido na corporação em que trabalhava."

Se eu encontrar uma bobagem dessas numa tradução que estiver revisando, troco logo para "Você está conseguindo aprender inglês? O marido de uma amiga minha não conseguiu e, por isso, não foi promovido no serviço" e aviso o cliente para procurar um tradutor melhorzinho ou, ao menos, para avisar o vivente que é para traduzir para o português, não para o anglunhês.

Essas coisas num texto traduzido são indesculpáveis: a isso se chama contaminação. Num texto escrito originalmente em português, são piores ainda e devem ter outro nome. No entanto, não há dia em que não se encontrem os famosos "falhou em" e "foi bem-sucedido em" na nossa imprensa e em mil outros lugares.

Outra é o "fortemente". Gente que tem horror a advérbios e diz, metodicamente "de forma metódica" para evitar o sufixo -mente, este pária da língua, diz "fortemente" só porque, no mesmo lugar, o inglês diria "strongly". "Sistemas fortemente correlacionados" são "sistemas com grande correlação", "recuou fortemente" é "sofreu/teve um grande recuo"

O mais curioso é que essa gente escreve português como se fosse inglês, mas escreve inglês como se fosse português: o mais puro tupiniquinglish. Quer dizer, esqueceram uma língua sem terem aprendido a outra. É um feito, convenhamos.

Obrigado pela visita, deixe seu comentário, dê um pulo aqui, se é que ainda não conhece — e volte amanhã.

PS: Já tinha publicado isto quando topei com um "poderão não atender". Em português, se diz "talvez não atendam". Eita ferro!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Agradecimento

A Kelli e eu agradecemos a todos os que visitaram nosso site de Ferramentas para Tradutores e, mas ainda, os que nos enviaram comentários e sugestões.


O site, ao qual você chega clicando aqui, ainda está nos começos. Pretendemos atualizar uma vez por semana. Espero que vocês gostem e aproveitem.

"Readaptação de tabela de valores"


Recebi, de uma agência escocesa, uma mensagem avisando que, dada a demanda por bons tradutores, estão aumentando nossas taxas. Estou - e não só eu - lotado de serviço.

E, aí, me aparece uma colega avisando que um cliente dela passou uma circular afirmando que está readaptando a tabela de valores para acompanhar a concorrência do mercado. Isso, para mim, é um eufemismo para dizer: pretendemos pagar ainda menos. Vão para o diabo que os carregue, com as devidas desculpas ao demônio e sua Ilma. família. Ainda por cima, é covarde: entende, ele é bonzinho, não quer baixar as taxas, são os outros, entende? São os outros, é o mercado. Os "outros" devem estar dizendo o mesmo. Nunca se esqueça que somos os outros dos outros.

Existem intermediários que só conhecem uma estratégia de negócios: cobrar menos do cliente final e pagar menos ao tradutor. Nem todos são desonestos, mas são todos incompetentes, porque ter exclusivamente a estratégia de esfolar o fornecedor é prova cabal de incompetência.

O que quer que aconteça, não importam as condições, esse pessoal aplica sempre a mesma estratégia: corta preços, corta pagamentos e vive da miséria de tradutor. A tal da crise é mero pretexto a mais: essa turma SEMPRE chora as mágoas e pede descontos. Chega de ser boba, reaja!

Uma sugestão: digamos que você esteja cobrando 100 dos clientes atuais.

  • Se um cliente atual pedir para reduzir para 80, recuse, com firmeza e educação. Não é sempre uma excelente resposta. Se você tem serviço a 100, não faz sentido trabalhar por 80. Se o cara fez um mau negócio e não pode pagar mais, ele que de dane.
  • Se aparecer um cliente novo oferecendo 100, diga que seu mínimo é 120. Serviço a 100, você já tem, não troque seis por meia dúzia.
  • À medida que for agregando os 120 à carteira, volte aos 100 e diga todos estão pagando 120. Se o cara recusar, larga dele. Por que trabalhar por 100 se você está conseguindo 120?
Ah, uma coisinha, sempre procure trabalhar melhor que o cara que faz por oitenta.

Pode ter certeza de que, com essa estratégia você vai perder clientes. Mas a perda não deve preocupar. É melhor ter 80% do seu tempo ocupado com quem pague 120 do que 50% ocupado com gente que paga 80 e mais 50% com quem paga 80. Assim, você pode descansar um pouco.

Lembre-se: coragem não garante vitória, mas sem coragem, você vai ser sempre derrotado.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ferramentas para tradutores

Acaba de entrar no ar, finalmente e atrasada, a nossa promessa de um site com ferramentas para tradutores. No momento, tem menos de 10% do material de que dispomos. Pusemos no ar assim mesmo porque se fôssemos esperar ter tudo, ia demorar mais um mês e, também, para sentir a reação dos usuários. Por favor, escreva para nós usando o formulário para contado que você encontra no próprio site, dizendo o que pensa, apontando erros, fazendo sugestões. A Kelli e eu agradecemos qualquer divulgação que você possa fazer.


Para chegar lá, é só clicar aqui.



segunda-feira, 13 de abril de 2009

Hora de pedir desculpas

Minhas desculpas a todos os que estão zangados comigo porque ainda não saiu o tal website com as ferramentas. Embolou um pouco o meio do campo, mas, daqui a pouco, temos uma telerreunião com o pessoal Aulavox para uns testes e — espero — ainda hoje liberamos um betinha. Está ficando bonito.

Frango!


A Meg encontrou um erro de tradução divertido no Windows. Não há de ser o único, nem mesmo o mais curioso deles e eu tenho seguido a praxe de não apontar erros alheios, mas o que ela encontrou dá margem a uma conversa interessante. Clique aqui pará dar um pulo lá para ver e volte para ler o meu comentário.

É um erro de tradução, certamente, mas nem todo erro de tradução é um erro de quem traduziu. Pode ter sido, mas nesse tipo de serviço, interfere muita gente e sabe-se lá quem deu a rata.

Pode ter sido o tradutor e esta é uma hipótese com boas probabilidades de estar certa e eu não vou ficar aqui dizendo que todo tradutor é bom, porque você e eu sabemos que não é verdade.

Entretanto, pode não ter sido falha do tradutor. Tradutor, nesses casos, trabalha com um glossário e, muitas vezes, é obrigado a aplicar o glossário a bem da "consistência" (que, em português, neste caso, se diz "uniformidade", mas alguns tradutores não conseguem falar português, ou acham indigno de suas altas prosopopéias). Nesses casos, quando a palavra tem duas traduções, a coisa encrespa. E, vamos falar a verdade counter, entre outras coisas, é contador e contador deve ser a tradução mais frequente para counter, num texto de informática. O glossário deveria ter as duas traduções, mas talvez não tenha. Ou talvez tivesse e o tradutor pertencesse à escola do "a primeira opção é a que vale".

Provavelmente, falta contexto. O tradutor recebe um longo arquivo com cadeias de caracteres ("strings", na língua da matriz) sem muita conexão uma com a outra e vai traduzindo, provavelmente com Trados - que a Microsoft parece ainda adorar - até terminar sua cota do dia.

Mesmo que o tradutor possa violar o glossário e tenha violado, sempre há uma boa chance de o revisor ou o pessoal encarregado de garantia de qualidade ter "corrigido o erro" e até dado um puxão de orelhas no tradutor. Quem nunca passou por essas coisas, que se dê por feliz.

Finalmente, acho que faltou o teste da tradução. Nesses casos, depois de as cadeias de caracteres serem incluídas na interface de usuário, tem que ter ao menos uma pessoa a clicar, metodicamente, em tudo o que for clicável, para ver se abre tudo direitinho, se acontece o que deveria acontecer e se não está escrita nenhuma bobagem. E esse cara é o goleiro: pode falhar todo o resto do time, que tem jeito, mas se falhar ele, não tem solução, é gol mesmo. E esse foi um frango dos bons.

domingo, 12 de abril de 2009

Demo do Trados

A Elizabeth escreveu:
Estou entrando agora para o ramo de tradução, mas não consigo baixar o TRADOS, você poderia me dar uma dica de como conseguir baixar este programa?
Boa pergunta, que muita gente anda fazendo, Elizabeth. Antigamente, a Trados tinha uns deminhos, muito restritos, mas que funcionavam. Esses deminhos sumiram. Aparentemente, eles acham que, como o Trados é líder do mercado, não faz sentido distribuir demos.

De qualquer maneira, o demo não vai resolver o seu problema. Se você quer Trados, ou compra ou pirateia. Deve haver mais de uma versão pirata do Trados por aí, não sei onde estão e, mesmo que soubesse, não divulgaria aqui. Além de ser ilegal, grande parte delas vem bichada e eu não vou recomendar alguma coisa que pode criar um problema para a turminha que lê este blogue. Ainda esta semana, uma amiga minha teve de reformatar e reinstalar tudo porque tinha baixado um arquivo com um rootkit.

A pergunta é se você realmente precisa de Trados. Eu tenho, desde o século passado, um Trados oficial, que mantenho atualizado. Mas detesto o programa. Praticamente tudo que ele faz, o Wordfast Classic faz melhor. E o Wordfast é bem mais barato.

Agora, é a hora em que muita gente diz "Estou só começando! Ainda tenho pouco serviço. Como posso gastar todo esse dinheiro". Pois é. Gostemos ou não, o tempo em que a gente "virava tradutor" de um dia para o outro, porque sabia duas línguas, está chegando ao fim. É cada vez mais difícil entrar na profissão sem fazer um investimento sério em software, abrir firma, essas coisas.

Nisso, não diferimos da maioria das outras profissões. Ou o sujeito é empregado e trabalha com o equipamento alheio, ou tem que comprar equipamento e se estabelecer. Não há grandes alternativas.

Quando eu comecei, tudo o que usava era o que se esperava que uma pessoa razoavelmente instruída tivesse em casa: escrivaninha, máquina de escrever e menos de meia dúzia de dicionários. Mas isso foi em 1970.

Se você clicar nos marcadores

Memória de tradução
Trados
Wordfast

aí do seu lado direito, vai aprender muita coisa sobre esses programas.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O tradutor e o macarrão

Dizem que quando há recessão, a turma que faz macarrão fica feliz. Macarrão é bom e barato. Uma pratada de spaghetti al sugo fumegante, com um bocado de queijo ralado por cima, enche a barriga do adolescente mais exigente, sem gerar reclamações. Então, macarrão vende adoidado e a turma que faz macarrão vende adoidado.

Quer dizer, "crise" é uma coisa localizada. Crise não afeta todos. E, dessa vez, parece que não está afetando a nós.

  • Ontem recebi uma mensagem de uma agência dizendo que, dado o aumento de serviço, estavam aumentando os preços para os clientes e a paga dos tradutores.
  • Uma colega está dizendo que está sobrecarregada.
  • A Kelli e eu também estamos com muito serviço.
  • Muitos dos nossos colegas parecem também estar lotados.

Agora, como dizia minha mãe, pousa a mala no chão, enxuga o suor da testa, senta e pensa: se você está com muito serviço, como tantos de nós, para que reduzir preços porque o cliente diz que estamos em crise? Quando ele estava montado na carne seca, ofereceu gratificação para você? Quando você fez o milagre de traduzir uma montoeira de coisas para ele no fim de semana e ajudou a ganhar uma concorrência, ganhou bônus? Alguma vez veio dizer que estava na hora de reajustar os seus honorários?

Mas, agora, vem pedir desconto, não é? Desconto a gente dá quando está com a corda no pescoço. Dar desconto quando você está trabalhando feito doida para dar conta do recado é bobeira.

Se o cliente pedir desconto, recuse. Diga, tranquila, sossegada, educada, que está sobrecarregada, que a procura por tradutores aumentou muito, porque muitas empresas estão reconhecendo a importância da boa tradução para seus negócios e que os bons profissionais são poucos.

Vamos lá, tenha a coragem de dizer "não" aos descontos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Precisamos de uma revisãozinha

A Agência Alfa oferece um serviço à tradutora Beta, mas não chegam a um acordo quanto a preço. A Agência Alfa, então, encarrega do serviço a tradutora Gama, que aceita tarifas "mais competitivas". Até aí, faz parte da normalidade. Nós também procuramos preços "mais em conta", quando estamos procurando comprar alguma coisa. A Tradutora Beta não gosta, mas faz parte da vida. Quem ganha, celebra; quem perde, é melhor não chorar, porque chorar dá pé de galinha e porque também torna difícil notar que há outros clientes neste mundo, além da Agência Alfa.


Acontece que o Cliente Final rejeitou o serviço da Tradutora Gama e a Agência Alfa voltou a falar com a Tradutora Beta e pediu para revisar a tradução da Tradutora Gama. Beta está toda feliz, vingança é uma doçura e tal. Mas, falando objetiva e profissionalmente, temos que ver a história por um outro prisma.


Você já sabe, de antemão, que a tradução está ruim. Nem precisa ver. O Cliente Final disse que estava ruim e a Agência Alfa concordou, caso contrário não estariam falando com você. Quem é você para discordar do Sr. Cliente Final e da Sra. Agência Alfa? Ninguém. Então, estamos de acordo, está um lixo. Mais: temos um cliente exigente, que vai implicar até com o rabinho do "Q", que vai achar comprido ou curto demais. Quer dizer, barra pesada. Além disso, o prazo já mais que esgotou e eles querem serviço a toque de caixa.


A Agência Alfa vai querer que você revise a tradução, a preço de revisão, quer dizer, entre muito pouco e quase nada. Nada disso!


Primeiro, que revisão serve para transformar uma tradução boa em uma tradução excelente; tradução ruim, a gente não revisa: joga fora e faz de novo. Transformar lixo em tradução que se apresente dá mais trabalho que fazer tudo de novo. A Agência Alfa está cheia de saber disso, entre outras coisas porque a Sra. Alfa, que é dona da agência, já foi tradutora e já teve de arrumar muita porcaria na vida. Mas ela quer que você "dê uma revisada", porque sai mais barato do que pagar sua tradução. Se der trabalho, como certamente vai dar, azar seu.


Então, a tua resposta tem de ser clara, correta, concisa, simples e direta: um "não" redondo. É a tua hora de fazer pé firme, dizer que vai ter que cobrar preço de tradução, porque aquilo não tem jeito, não — até rima. E não vai virar noite, que sai serviço porco e o cliente reclama. Exija prazo normal ou pagamento de taxa de urgência. Não acredite quando a Sra. Alfa chorar dizendo que aprendeu a lição (até parece que é novidade para ela) e que os próximos serviços são seus. São lágrimas de crocodilo. Por este serviço, você tem que cobrar por este serviço. Pelo outro, cobra pelo outro. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.


Não vá você pagar pelos erros da Sra. Alfa, dona da agência homônima: ela paga pelas besteiras dela, você paga pelas suas. É assim que tem de funcionar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Chegou o Marcílio II

Chegou o novo Marcílio!

Sabe aquele dicionário de termos jurídicos, econômicos e de contabilidade que nenhuma editora brasileira quis publicar e que, por isso, o autor, Marcílio Moreira de Castro, resolveu publicar à sua moda e está vendendo diretamente ao público?

Pois é, então! Saiu uma nova edição.

A nova edição pesa metade da anterior porque a diagramação foi mudada. A nova diagramação resultou em grande economia de papel e, consequentemente, em uma boa redução no preço. Mas o conteúdo é ainda mais rico, porque o livro ganhou numerosas emendas e adições. Mais 1.200 verbetes, subverbetes e expressões, informa o próprio Marcílio. Mais ênfase na terminologia britânica, mais fundamentação, mais exemplos.

O Marcílio está sempre alerta para as recomendações e sugestões dos leitores e constantemente aperfeiçoa o seu trabalho, que já começou muito bom.

Embora se chame Dicionário de Direito, Economia e Contabilidade, o ponto mais forte do Marcílio é o direito, onde faz muita sombra para a concorrência. Se você trabalha nessa área ou quer ingressar nela, é um livro essencial. Se nem quer chegar perto desse tipo de texto, avise os colegas que possam se interessar: eles vão ficar muito gratos.

Em tempo: minha "comissão" se restringe a um exemplar autografado e com dedicatória, que ocupa lugar de honra na minha estante.

Clique aqui para comprar. O preço é de R$ 85,00 para o BR ou US$ 55.00.

Para ver meu comentário sobre a edição anterior, clique aqui.



sábado, 4 de abril de 2009

Fiquei cabreiro



Lá pelos meados da semana, me deu uma gana enorme de repassar uma série de conceitos a respeito de tradução e, em menos de três dias, encontrei uma boa dúzia de caras que chamam a tradução "parte da literatura". Para usar uma expressão muito em moda na minha adolescência, fico cabreiro com essas coisas. Tradução não faz parte da literatura coisa nenhuma.

Não precisa ser muito inteligente para saber que a tradução literária é importante. Também não precisa ser muito inteligente para saber que uma boa parte dos teóricos da tradução tem a tradução literária como ponto de partida. Mas também não precisa ser muito inteligente para saber que a maior parte do trabalho de tradução hoje e sempre não tem nada que ver com literatura. Conheço dezenas de tradutores que jamais traduziram nada de literatura na vida - muito menos de alta literatura. Quer dizer, para essa turma acha que tradução significa exclusivamente tradução de obra literária e que nós, a maioria, os que traduzem textos não literários, simplesmente não somos tradutores. Tradutores são eles, em sua nefelibática arrogância.

Agora, então faço uma pergunta, se tradução faz parte da literatura, por que se fala em "tradução literária", em vez de "literatura tradutória"? Ou será que eu esqueci o pouco português que sabia e agora num sintagma nominal desses o substantivo significa a espécie e o adjetivo é que indica o gênero?

Irmão Angelino, intérprete ad hoc

Irmão Angelino conteve um grito de susto ao ver José Pequeno rolar escada abaixo depois de levar um encontrão proposital de João Grandão. Ainda bem que Irmão Marcelo, encarregado da enfermaria do colégio, estava passando e assumiu o comando da situação.

Minutos depois, irmão Patrick, recém-chegado da Irlanda para dirigir o colégio e ainda com um português meio capenga, chamou João Grande ao seu gabinete e pediu a Irmão Angelino que servisse de intérprete.

Aqui vai o diálogo entre os três, com as falas em inglês traduzias ao português por mim, porque nem todos os leitores do blogue sabem inglês, mas em negrito itálico, para deixar claro o que é o quê.

I. Patrick: O que aconteceu, João Grandão?

I. Angelino: O que aconteceu, João Grandão?

J. Grandão: O José Pequeno rolou a escada e, como de costume, estão pondo a culpa em mim, dizendo que fui eu quem empurrou. Sou grande mas não abuso dos pequenos.

I. Angelino: O José Pequeno rolou a escada e, como de costume, estão pondo a culpa em mim, dizendo que fui eu quem empurrou. Sou grande mas não abuso dos pequenos.

Essa é uma história que dá voltas na minha cabeça há tempos, sob várias formas. Note que João Grandão estava mentindo, porque tinha sido ele a derrubar o José Pequeno. Irmão Angelino tinha presenciado o acontecido e sabia que era mentira. Mas Irmão Patrick perguntou o que João Grandão dizia e João Grandão dizia que era inocente. Sendo assim, para dizer a verdade, Irmão Angelino teve de repetir uma mentira.

Dada a situação, Irmão Angelino podia agregar uma "nota do intérprete", contando ao Irmão Patrick que tinha testemunhado o incidente e que João Grandão estava mentindo. Mas nem sempre as coisas são assim.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Respondendo: estudante quer ser tradutor

Mensagem do Luis, algo abreviada:
Meu nome é Luis, tenho 19 anos. Sou estudante de Engenharia e tenho pensado em ter uma renda mas a faculdade ainda está no começo e ainda não é hora de conseguir um estágio remunerado. Por isso, tenho pensado sobre tradução. Domino bem o inglês, costumo ler os livros na língua original, e tenho CPE.

Como começar? Já li algumas dúvidas similares no blog, mas nunca sobre o que fazer primeiro em relação a me apresentar para as editoras. Já mandei e-mails para algumas, mas não recebi resposta; não sei se devido à falta de experiência ou de formação (faculdade/curso).


Pretendo fazer um curso de tradução, mas até agora o melhor que eu achei aqui no Rio requer graduação.


Enfim, o que eu gostaria de saber é quais são seus conselhos de como procurar algum tipo de trabalho como tradutor. Se devo continuar a comunicação por e-mail ou carta ou me apresentar pessoalmente nas sedes. E principalmente se o diploma de proficiência tem um peso inexistente sem curso/faculdade.

Luis,

É cada vez mais difícil fazer da tradução um bico. Os prazos estão cada vez mais breves, as exigências cada vez maiores. Mesmo a tradução de grandes obras literárias, que, antigamente, muitas vezes era feita nas horas vagas por escritores, jornalistas ou acadêmicos, hoje cada vez mais está nas mãos de profissionais que se dedicam à tradução em tempo integral. Curso de engenharia consome um tempo enorme e dificilmente vai sobrar algum para cumprir os prazos de hoje. Mesmo assim, vale a pena insistir e você não seria o primeiro que, aos vinte anos, descobre que prefere traduzir a ser engenheiro.

Por outro lado, você quer a "receita do bolo", (quem não quer?) para entrar na profissão e essa eu não tenho e não acredito que exista. Não existe um modo certo e certeiro para se tornar tradutor. Há recomendações e, também, gente que faz tudo ao contrário e se dá bem. Você vai ter que ir formando seu próprio caminho, como fiz eu e como fizeram os outros. Nada impede que eu dê algumas indicações.

As editoras significam uma parte importante mas pequena de nosso mercado. Sem contar os mercados de interpretação e audiovisuais e mais alguns segmentos, que provavelmente não interessam a você, ainda temos as agências e clientes diretos, segmentos que não podem ser desprezados. Não existe em lugar algum uma lista de agências ou clientes diretos, mas, se você der uma olhada nas páginas amarelas, sob "tradutores", vai ver vários anúncios destacados e pode apostar que são agências.

As editoras, além disso, são especializadas. Se o teu negócio é engenharia, não adianta se oferecer como tradutor a uma editora especializada em literatura: precisa procurar as editoras que publicam o tipo de livro que você lê e saberia traduzir.

Não se apresente pessoalmente: é possivel que nem passe da porta, se não tiver uma reunião marcada. Continue usando correio convencional ou eletrônico e conforme-se com o fato de que você pode ter de mandar muitos CVs antes de encontrar seu primeiro cliente. Pense, assim, em torno de cem. Tem gente que emboca na primeira, mas é raro.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um zero à esquerda

O que é um "zero à esquerda"? Nada! Quando se diz, "fulano é um zero à esquerda", estamos dizendo que Fulano é um nada, um irrelevante, certo? Ótimo. Bom saber que você concorda comigo.

Agora, então, por favor, me diga, porque essa mania de adicionar zeros antes das unidades? O numero da minha casa é seis. Cada vez que dou o meu endereço, a turma escreve "06". Se fosse doze, teriam escrito "12", sem zero à esquerda; se fosse cem, escreveriam 100, sem zero a esquerda. Como é seis, escrevem "06", com um zero à esquerda. Para quê?

Há muitos anos, era permitido licenciar carros de duas portas como táxis em SP. Todos eles tinham um cartaz se referindo a "carros de 02 portas".

Um colega, tradutor profissional e que, portanto, deveria saber escrever, me diz que tem "02 serviços" para entregar. Deveria ter dito que tinha "dois serviços", não "02". Quer abreviar, era uma mensagem eletrônica, temos pouco tempo, que seja. Então, deveria ter dito "2 serviços", sem zero à esquerda. Não vi, não conheço, nenhuma regra que diga que quando o número é uma unidade, seja necessário ou correto usar um zero à esquerda.

Dizem que é por segurança, para que ninguém adultere. É mesmo? Qual é a chance de alguém, num texto impresso, inserir um algarismo a mais? Quer dizer, qual a chance de alguém entrar aqui no blog e transformar o meu "Rua Tal, nº 6" em "Rua Tal, nº 16"? Qual a possibilidade de alguém mudar o cartaz que havia nos táxis paulistanos para "carros de 12 portas"?

Mas, se você entregar o texto em formato eletrônico, não é o zero à esquerda que vai impedir adulterações, pode ter certeza.

Cada vez que embirro com o "zero seis", alguém me vem dizer que tem uma regra que manda. Tem, nada! Escrevi até para a Academia Brasileira de Letras, perguntando se existe alguma base para esse uso. Está aqui a resposta que recebi:
ABL RESPONDE

Pergunta : Existe alguma razão para o uso de zeros à esquerda dos números de um a nove? Coisas como "Fulano tem 02 filhos"? Obrigado.

Resposta : Usa-se o zero à esquerda mais em cheques para evitar fraudes. Numa frase comum, não se usa o zero à esquerda. Fulano tem dois filhos é a melhor redação. OU : Fulano tem 2 filhos.

O uso de zero à esquerda em cheques, evidentemente, só se faz necessário quando o cheque é manuscrito. E acho que se esqueceram de mencionar que se usa zero antes da vírgula, quando há decimais: 0,5%, para tornar a vírgula mais visível. De resto, zero à esquerda é zero à esquerda.