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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ABC de memórias de tradução

Traduzir, hoje, é muito mais fácil que no passado, não só pela inesgotável fonte de informações e contatos que é a Internet, mas também por causa das CAT tools. E o que faz esse trem de nome esquisito?

Computer-aided translation tools, ou seja, ferramentas que auxiliam a tradução no computador, são frequentemente confundidas com tradutores automáticos. Um erro comum, mas as duas coisas não poderiam ser mais diferentes. Um tradutor automático traduz para você, sozinho. Pode não ficar uma maravilha – e não fica mesmo, pelo menos por enquanto – mas ele traduz. Uma CAT tool não faz nada sozinha, nada. Para o tradutor iniciante, muitas vezes ela chega até a atrapalhar, mas compensa como investimento futuro. Como não se passa uma semana sem que o Danilo e eu recebamos perguntas sobre as tais memórias de tradução, tive a ideia de desenvolver um ABC, que vai ainda aumentar muito e que vai ser parte de uma surpresa que estamos preparando.

Uma das principais atrações dessas ferramentas é a TM (translation memory). TM é o arquivo onde a ferramenta armazena todas as suas traduções, segmento por segmento, junto com o original. Segmento é um trecho pequeno do texto, em geral uma frase. Em novas traduções, a CAT tool consulta esse arquivo e, se a frase a ser traduzida estiver lá, ou for parecida com a que está lá, maravilha: ela sugere a tradução, você revisa e complementa se for necessário, e não precisa traduzir de novo. Com isso, dá para perceber que uma TM bem recheada, principalmente para quem trabalha com textos repetitivos, é uma ajuda imensa e aumenta muito a produtividade. Mas, quando a gente começa a usar uma dessas ferramentas, a TM está vazia e não ajuda em nada.

Outro grande trunfo é o glossário. Aqui, também, os iniciantes estão em desvantagem, porque precisam começar seus glossários do zero, e isso toma um tempo enorme (eu, pelo menos, acho que sim). Mas existem duas vantagens que, a meu ver, compensam o esforço: não precisar digitar várias vezes a mesma sequência repetida, nem palavras comuns na língua, e não precisar refazer uma pesquisa complicada sobre determinado termo que rendeu aquela solução fantástica e que, depois, você corre o risco de não lembrar.

Existem vários softwares de auxílio à tradução, para todos os gostos e bolsos – tem inclusive alguns grátis. O mais conhecido e pedido é o Trados, que eu nunca vi na frente. Creio que, hoje, o grande concorrente é o MemoQ, que eu uso e é uma gracinha. Faz coisas incríveis, mas é caro, custando cerca de 2 mil reais, conforme o câmbio. Comprei o meu em uma promoção de 50% de desconto. Dos pagos, o mais acessível é realmente o Wordfast, que ainda tem desconto para o Brasil (e outros países). Ainda que caros, eu acredito que compensa. Além de aumentarem a produtividade, e consequentemente o lucro, ainda me permitem fazer coisas que, sem eles, eu não poderia fazer, e perderia o dinheiro, quando não o cliente.

Alguns desses programas, como o Wordfast, podem trabalhar em conjunto com o Google Translate. Ajuda em algumas ocasiões, atrapalha em outras, quando revisar a sugestão do Google dá mais trabalho que traduzir sozinho. Mas acredito que dê pra perceber que isso é só mais um detalhe, não a principal função desses nossos amiguinhos.

Aprender a usar as ferramentas de tradução não é tarefa óbvia. Tem gente que tem mais facilidade, e vai sozinho, com o manual, numa boa. Eu lembro que, da primeira vez que vi o Wordfast na minha frente, eu lia, relia e trelia o manual e não entendia nada do que aquilo tudo queria dizer. No meu caso, perguntar aqui e ali resolveu. A apostila aí do lado (que na época era só do Danilo) também me ajudou demais da conta. Mas tem gente que precisa de cursos. Tem alguns tradutores que ainda dão curso de Wordfast. O pessoal da Kilgray, desenvolvedores do MemoQ, faz vários Webinars – apresentações de uma hora – por mês, mas em inglês, alemão e talvez alguma outra língua que eu não lembro agora. Já assisti o básico umas duas ou três vezes e sempre aprendo algo novo.

De tudo isso, só concluo uma coisa: só não se atualiza quem não quer.

13 comentários:

Manu disse...

Perfeito Kelli! Tem que divulgar este seu post bastante para os iniciantes (e alguns clientes, que também acham que CAT = MT).

Martin disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Wayne Santos disse...

Oi Kelli, infelizmente o Wordfast foi "desautorizado" a disponibilizar os tradutores automáticos (MT), inclusive o Google. Ou seja, o campo para habilitá-los continua lá, mas não funciona mais. Quem gosta de traduzir a partir de texto automático (e eu acho que estamos diante de uma verdadeira revolução nessa área) vai ter de lançar mão, por exemplo do bem-boladíssimo e esperto Client for Google Translate e similares...

Kelli Semolini disse...

Sim, Wayne, isso é verdade e esqueci realmente de mencionar no texto. Falha minha ;)

Por outro lado, o Champollion está trabalhando para que o Google volte a funcionar com o WF. É esperar um pouco, agora, e ver se dá certo.

Obrigada pela visita e volte sempre!

Felipe disse...

Olá! Tenho uma dúvida, qual programa é o mais versátil ? Digo no quesito de aceitar diferentes formatos de arquivos de texto. Vi no post que você usa o MemoQ, me aconselharia, então, a usá-lo? Eu não sei como mexer em nenhum, mas aprender não é o problema, meu medo é investir num programa que me traga mais dores de cabeça do que lucros.

Kelli Semolini disse...

OI, Felipe!

Dos que eu conheço, o mais versátil é realmente o Memoq, que trabalha diretamente com vários formatos, inclusive pdfs mais simples. O resultado (do pdf) vai ser um txt, então formatação de pdf ainda é um problema, mas é um grande passo, já. Nos outros formatos, o programa exporta a tradução com a mesma formatação, em geral. Não vi dar nenhum problema com isso, ainda.

O Wordfast até trabalha com xls, ppt e outras coisas, mas o risco de virar uma meleca é bem maior.

Helder Ribeiro disse...

Eu acho que esses CATs tendem a ser substituídos por soluções online
(ou a migrar eles mesmos para a web). Acho um desperdício a memória de
tradução de um usuário novo começar do zero. Porque não algo online
(nas linhas do Google Docs, Wave, etc.) que crie um banco
compartilhado de memória de todos os seus usuários? Claro que, para
muitos trabalhos, há restrições de privacidade (e, para estes casos,
poderia haver um botão "off the record", como no Gtalk). Mas para
coisas não-sigilosas, não vejo por que não.

Não duvido nada que o Google apareça com isso em algum momento. Não só
traria mais uma aplicação para a web (onde eles querem que todo mundo
viva), como também proviria ótimos corpora paralelos feitos por
profissionais para que eles treinassem seus algoritmos linguísticos.

Kelli Semolini disse...

Helder, o Google já tem algo nessa linha. Em vários sites é possível ver a possibilidade de oferecer uma tradução - o Danilo me mostrou uma vez mas eu não lembro onde nem como. Creio que essas sugestões formem um corpus para o tradutor do Google, que qualquer um pode usar.

Mas, ainda assim, eu não sou muito a favor dessa ideia. Nunca contribuí com as traduções do Google e, embora esteja me preparando para a era das traduções automáticas, não vou erguer um dedo sequer para que ela chegue mais rápido.

Helder Ribeiro disse...

Agora foi! :) Então, com a coisa sobre o Google eu quis dizer que talvez eles criem uma ferramenta para tradutores fazerem seu trabalho, como um CAT na web mesmo. A parte de ele traduzir automaticamente páginas da web já existe mesmo. Eu, como às vezes escrevo coisas em inglês e às vezes em português, deixo o botãozinho do lado lá para o visitante usar (por sua conta e risco! :).

Quanto a ajudar ou não o avanço da tradução automática, é realmente complicado. Seres humanos são difíceis de emular. Por mais que tenhamos avançado tanto em computação gráfica, o menor dos detalhes visuais e de movimentação nos acusa que uma imagem gerada não é um ser humano de verdade. Para a geração de texto e fala acho que acontece a mesma coisa.

Talvez nas áreas mais objetivas e estruturadas o computador virá a melhorar seus resultados mais rapidamente. Resta saber se ele será um substituto ao ser humano ou uma ferramenta para potencializar seu desempenho (um carro não compete para chegar mais rápido a um lugar que um ser humano, ele o leva mais rápido até lá).

Em outras áreas mais subjetivas, como literatura, não vejo isso acontecendo tão rápido. É como dizem: o computador pode calcular possibilidades super rápido e jogar xadrez melhor que o homem, mas quero ver ele compôr uma sinfonia ou pintar uma obra de arte.

Enfim, eu divago. Isso está virando conversa de boteco :)

Prazer em conhecê-la e obrigado pela conversa e pelos pontos de vista :)

Anônimo disse...

Oi Kelli,
Parabéns pelo blogue. Tenho feito várias visitas recentemente e os textos são sempre úteis e interessantes. Sou tradutora literária e a editora para a qual trabalho normalmente me manda um original pelo correio, e não o texto eletrônico. Dá para usar o Wordfast neste caso? Eu teria que digitalizar o texto? Vale a pena? Agradeço desde já a atenção. Um grande abraço,
Rosana

Kelli Semolini disse...

Obrigada, Rosana!

Olha, eu nunca recebi original em papel. Conheço quem receba e digitalize, sim. Dizem que poupa muito tempo, apesar do tempo gasto na digitalização, que é tarefa bastante chata, eu acho (mas que eu faria, sem sombra de dúvidas).

Falando da minha experiência: já recebi muito texto em PDFs que mais estavam para FDPs. Dão um trabalhão para transformar em um doc decente, mas, se por nada mais valesse a pena, pelo menos aquele texto fica na minha memória. Ainda assim, em muitos casos aumenta a produtividade sim. Só de não precisar virar pescoço ou trocar de janela e só de ter acesso aos glossários e à memória já é vantagem mais que suficiente, para mim.

Conheço também quem ache que vale a pena contratar alguém para digitar os textos. Em geral não é caro e, se o digitador for bom, compensa também. É o que eu penso em fazer no dia em que me deparar com aquele PDF que não tem jeito nem com reza brava. Mas, fazer na unha, sem usar meus glossários e sem usar minha memória... nem pensar.

Alessandro Porto da Silva disse...

Legal o seu artigo. Nossa, eu pensava que eu era o único que não entendia aquele manual do Wordfast...

Kelli Semolini disse...

Aaaaah, de modo algum, Alessandro. Você não está sozinho, fique tranquilo. E volte sempre!