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segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Tabela de preços para traduções do SINTRA

Apareceu na minha página de recados no Orkut, assinado por Zanzibar, que eu não sei quem possa ser:

Tenho um texto, em inglês, de 6708 palavras e 40271 caracteres (com espaço). Se para traduzi-lo para o português um tradutor fosse me cobrar por palavras, o serviço sairia, pela tabela do Sintra, R$ 1475,76 (R$ 0,22 x 6708). Se o tradutor fosse me cobrar por lauda, vejamos: 40271 dividido por 2100 (tamanho da lauda) = 19,17 laudas x R$ 24 cada lauda = R$ 460,08. A diferença é de 1000 reais! Por favor, qual a lógica de se usar dois critérios?

Para responder, melhor reproduzir um pedacinho da Tabela do SINTRA:

Tradução / Versão

  • Tradução R$ 0,22 por palavra de um idioma estrangeiro para o português
  • Tradução literária R$ 24,00 por lauda com 30 linhas x até 70 caracteres com espaço por linha (igual a cerca de 2.100 caracteres por página, com espaços) de um idioma estrangeiro para o português (direitos autorais à parte)
  • Versão R$ 0,32 por palavra do português para um idioma estrangeiro
  • Versão de um idioma estrangeiro para outro R$ 0,35 por palavra de um idioma estrangeiro para outro

Vamos começar dizendo que quem fez a tabela não fui eu e a pergunta talvez devesse ser encaminhada ao próprio SINTRA. Mas, aparentemente, quem mandou o recado queria saber minha opinião. Então vamos ver se nos entendemos.

Se você fizer uma tradução, cobra R$ 0,22 por palavra. Isso significa R$ 0,22 por palavra do original ou da tradução? São coisas diferentes: mil palavras de original dificilmente vai dar mil palavras de tradução. Faz uma diferença e, então, precisa ficar claro do que estamos falando.

Tentei entender. À primeira vista, me pareceu que era do original, por causa do de um idioma estrangeiro para o português. Cobrar R$ 0,22 por palavra de um idioma estrangeiro me pareceu que era por palavra do original. Mas logo me dei conta de que não deve ser isso, porque a mesma frase aparece no segundo item e não me parece provável que alguém vá cobrar com base no número de laudas do original. Quer dizer, não vejo alguém pegando um texto em inglês e dizendo “aqui há X laudas”. Já vi empresas calculando preços e dizendo “este texto em inglês vai dar X laudas em português”.

O segundo item é interessante porque diz que tradução literária se cobra por lauda. Deve ser porque tradução literária se faz para editora e editora gosta de lauda. Tudo bem, cores e gostos não se discutem. Também, como apontado pelo Zanzibar, indica uma enorme diferença entre o preço da tradução inespecífica e da tradução literária. Por outro lado, diz que na tradução literária, há, ainda, os direitos autorais à parte, como está lá dito. Esse último pedacinho faltou combinar com as editoras, que juram, de pés juntos e apoiados em portentosos pareceres jurídicos, que o pagamento por lauda é o pagamento pelos direitos autorais e acabou a história. Isso é briga de cachorro grande e não vou me meter nela. Mas estou avisando e quem avisa, amigo é.

Mas o segundo item me fascina: primeiro que fala em tradução literária em oposição ao simples tradução do primeiro item. Será que para o SINTRA existe tradução e tradução literária? Ou será que eles simplesmente saíram pela tangente e não quiseram definir o que é a tradução que não for literária? Sei lá. Melhor perguntar a eles, não a mim.

O que é tradução literária? Shakespeare é, sem dúvida. Os famosos Bianca, Sabrina & Júlia serão? Conheço gente que diz que isso não é literatura. Lobsang Rampa e a turma toda da auto-ajuda, isso é literatura? Não é? Paulo Coelho, é ou não é? Bíblia é literatura? Corão? Os Diálogos de Platão? Coisa difícil, isso, de dizer o que raio é literatura e o que não é.

Mas a fascinação não termina aí, Zanzibar. O que acontece se eu traduzir um livro sobre, digamos, finanças – que é minha área – e que dificilmente alguém classificaria de literatura? No segundo item, certamente não cabe. No terceiro e quarto, muito menos. Então cai no primeiro. Quer dizer que, se eu traduzir um livro sobre finanças para uma editora, devo cobrar R$ 0,22 por palavra (do original ou da tradução, não sei), mas abrir mão dos direitos autorais à parte?

Veja, Zanzibar, você me faz uma pergunta e eu te devolvo uma dúzia delas. Mundo estranho, o nosso.

Agora, se você me perguntar como é que eu cobro, vou dizendo logo de cara: pelo número de palavras do original. Sei que são normalmente menos palavras que na tradução, mas minha tabela de preços já leva em conta esse fato. Antes que me esqueça, Zanzibar, ninguém é obrigado a acompanhar a tabela do SINTRA. Aliás, até é bom. Porque se eu fosse obrigado a cumprir, estava perdido: até hoje não consegui entender direito como funciona. E olha que há anos eles só trocam os valores.

4 comentários:

Paula Góes disse...

Danilo, uma vez ouvi falar que o Brasil é o único lugar no planeta onde se cobra tradução por lauda, será verdade? Em se tratando de páginas de um livro até que faria sentido, mas aqui na Grã-Bretanha, que eu saiba, é o preço por palavra e acabou-se.

Anônimo disse...

Eu trabalho há mais de dez anos como tradutora técnica (especificamente na área Médica), mas meu day job é no comércio exterior. A tabela do Sintra sempre me deixou preocupada, afinal, talvez eu seja muito boazinha, mas cobro por "lauda imposta", ou seja, meus clientes impuseram uma "lauda de 1000 caracteres sem espaços", e eu nunca consegui sair deste poço. Enfim, como não vivo disso, uso a grana extra para meus projetos especiais (rs).
Recebo muitos elogios pela qualidade do meu trabalho (até porque sou muito meticulosa), mas nunca pensei em tornar-me uma tradutora full-time. Eu gostaria de uma idéia de preço atual para cobrança por lauda, pois pretendo aumentar o valor cobrado atualmente, de R$ 16/lauda. Alguém poderia me ajudar?

Danilo Nogueira disse...

Respondendo a Paulissima e Angélica:

Na Itália de cobra por uma tipo lá de lauda deles, que são italianos e que se entendam, e em alguns países se cobra por linha.

Tem gente, entre tradutores e clientes, que acha que o seu modo de medir o trabalho (lauda, palavra do original, palavra da tradução, número de caracteres do original, número de caracteres da tradução, linha de 50 caracteres, linha de 55 caracteres, baciada, porção, prato) é algo estabelecido por lei divina e nem quer ouvir falar em mudança.

Eu cobro preferencialmente pelo número de palavreas do original. Se o cliente quiser cobrança usando outra unidade, a calculadora me diz como fazer a conversão e acabou a história.

Anônimo disse...

Entendo da seguinte forma...
1. conta-se as palavras se for menos que uma lauda
2. se tiver mais de uma lauda...por que contar as palavras.
Simples. ;)