Mensagem da Renata, com umas dúvidas que vão interessar a mais de um leitor.
Danilo, parabéns pelo seu blog. É uma iniciativa admirável manter um blog com tantas informações úteis que certamente ajuda a vida de muita gente. Eu sou estudante de Filosofia da UFRJ mas vou trancar minha matrícula neste semestre. Pretendo cursar Letras na Puc. Entrei num curso de tradução (DBB) há um mês e estou muito feliz por perceber que realmente levo jeito pra coisa. Acho o trabalho de tradução muito interessante e quero me dedicar somente a ele. Entendi pelo seu blog que inglês é a língua mais significativa no mercado, seguida de espanhol e francês, e que tradução literária e legendagem são muito procurados mas não correspondem à maior parcela do mercado e pelo jeito não são o melhor caminho para escolher como uma boa fonte de renda exclusiva. Certo? Me parece que manuais e documentos da área jurídica são a maior fatia do bolo. Você sugeriria alguma área como mais garantida para se investir? Eu poderia fazer um curso de tradução jurídica por exemplo, mas não sei até que ponto isso é o ideal considerando que eu não sei nada de Direito. Outra dúvida: o inglês é hoje a língua mais importante no mundo, por motivos econômicos e políticos, certo? Será que pode ser interessante aprender mandarim, prevendo uma mudança nesse aspecto, já que a China está crescendo e segundo alguns entendidos do assunto (eu não sou) está prestes a tomar o lugar dos EUA?
Renata, obrigado pela mensagem e descuple pelo tanto que demorou para responder. Vamos ver se me faço mais claro.
A maior parte do movimento, talvez mais de 50%, é de inglês. Por outro lado, há uma quantidade enorme de tradutores de inglês, o que significa que as chances de quem traduz inglês não são realmente maiores do que as chances de quem traduz francês ou espanhol. Existe muita gente trabalhando e vivendo e ganhando com francês, italiano, espanhol e outras línguas. O único mercado que parece ter minguado é o de alemão e vários colegas meus que traduziam praticamente só alemão, hoje estão vivendo mais do inglês do que do alemão. Mas esta é uma afirmação empírica, não tenho realmente dados que a alicercem.
Quanto ao curso de tradução jurídica, você tem toda a razão. Não se pode traduzir algo que não se entende e não é em umas poucas aulas que você ou qualquer pessoa vai aprender a destrinchar tradução jurídica. Eu pego assim, as bordas da jurídica que fazem contato com a financeira e posso dizer que é uma barra pesadíssima. Jamais teria a coragem de dizer que sou tradutor jurídico. Aliás, conheço muito poucos tradutores jurídicos realmente bons. Não quer dizer que você precise fazer um curso de direito para fazer tradução jurídica, mas precisa aprender como funcionam as engrenagens do nosso ordenamento jurídico e o ordenamento jurídico do país ou países onde se fala a língua de que você está traduzindo. Isso se pode fazer lendo, lendo furiosamente e pesquisando adoidada.
Quer dizer, para traduzir um documento jurídico do inglês para o português, você precisa entender como funcionam as coisas aqui e lá. E “lá” pode ser Inglaterra, Escócia, Estados Unidos, Canadá e Deus sabe mais o quê, porque pode te cair no colo um documento escrito em inglês, traduzido do japonês, sobre a legislação japonesa sobre as cooperativas.
Existem, aí, uns modelitos, umas formulinhas e tal, mas é o que na indústria de confecções se chama “serviço de carregação”.
Isso se aplica a todo e qualquer tipo de trabalho tradutório, inclusive o literário. Você tem que entender o original muitíssimo bem para conseguir traduzir.
Mas o fato é que o mercado te conduz, Renata. Quando peguei minha primeira tradução na área financeira, não sabia a diferença entre “ativo” e “passivo”. Tive de estudar como um doido para entender essas e outras coisas.
Quanto a línguas, respondo amanhã, que este artigo já está longo demais.
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