A tendência é a gente ficar furioso com os que cobram menos que nós, dizer que aviltam o mercado, que se prostituem e o que mais seja, mas se esquecer de que há também os que cobram mais que nós e que podem estar dizendo o mesmo dos nossos preços. Então, aí vai a historinha — que já contei mil vezes.
Um dia, um grupo de amigos decidiu que ia cobrar o equivalente a 1 OTN por lauda. Uma história muito velha, como você pode ver, porque a OTN desapareceu há quase vinte anos e eu ainda cobrava por lauda. Mas ainda vale.
Tempos depois, fui convidado para uma mesa redonda, onde uma colega verberou com palavras duras a turma que cobrava pouco. Ela cobrava não me lembro lá quanto e reclamava de ter perdido serviço para quem cobrava preços inferiores. Só faltou xingar a mãe de quem cobrava menos que ela. No auge da revolta contra os que aviltavam a nobre profissão de tradutor, voltou-se para mim e disparou "quanto você cobra". Foi a minha vez de me divertir: "Eu e mais fulano, beltrano e sicrano combinamos de jamais cobrar menos de uma OTN por lauda. O mercado está aceitando bem."
Saia justa total, porque o preço era bem superior ao que a colega tinha cotado. Como fica? A colega retrucou com uma série de sarcasmos, chegando a insinuar que eu mentia e justificou seu preço com não sei quantas razões, desde "não esfolar o cliente" até "o valor justo".
Não, não estava mentindo. Mas também não reagi. Seria bobagem: era a minha palavra contra a dela e cada um que acredite em quem quiser. Podia ser diferente: não duvido nada que haja quem cobre mais do que eu e poderia ser eu o cobra-pouco da mesa.
Fica a lição: quem execra os que cobram menos, tem que estar preparado para se justificar os que cobram mais.
Por hoje é só. Acho que amanhã tem mais.
4 comentários:
Interessantíssima história, Danilo. Como dizia minha querida avó, quem fala demais dá bom dia a cavalo. O importante é cobrar quanto nós (e nossos clientes) achamos justo.
Abraço,
Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com
Eu cobro mais barato que qualquer um aqui na minha cidade, Belém do Pará. Tão barato que chega a ser ridículo, porque não cobro por palavras, toques, laudas... cobro por empreitada. Aliás, eu não cobro, a agência diz o que tem de dinheiro e paga. Acontece que o cliente aqui, por mais rica que seja sua empresa, não está acostumado a pagar grandes serviços de tradução e pensa que a coisa é fácil e por isso, barata. As duas agências para as quais trabalho já me ligam com o seguinte discurso: “Rolim, temos um book do Grupo Fulano de Tal, de 150 ‘páginas’ e temos X reais pra pagar o serviço. Tu fazes em 10 dias?”. Se eu não o fizer, alguém o fará, e o fará mal feito, sem revisão, e às vezes usando a ferramenta de tradução automática online (os três juramentados que aqui residem cobram zilhões e poucos os procuram). Seriíssimo, mas acontece muito aqui em Belém nos materiais do Governo do Estado, Prefeitura, entre outros. Cruel, mas preciso pagar minhas contas. 80% dos meus serviços são por empreitada, sempre saio perdendo e muito chateado. Mas não posso abrir mão dos parcos serviços que aqui aparecem.
Forte abraço. Adoro teu blog.
Uma resposta ao seu comentário aqui:
http://tradutor-profissional.blogspot.com/2009/06/mais-precos_26.html
Pablo,
é interessante o verbo "ajustar" como usam os advogados. Ajustar preço é simplesmente entrar num acordo com a outra parte. Uma vez que você e o cliente ajustem um pagamento X, este é o pagamento justo.
Os economistas também falam em "preço justo", que tem aproximadamente o mesmo sentido: é o preço vigente no mercado.
Postar um comentário