Mudamos para www.tradutorprofissional.com

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Confidencialidade

O cliente me pediu para assinar um contrato de confidencialidade, que também se chama contrato de preservação de segredos comerciais. Li, era o mesmo de sempre, assinei sem problema. Só dizia que eu não ia contar nada do que traduzia para ninguém, nem sequer ia contar que estava traduzido para esse cliente.

Mas é desnecessário, quando o tradutor tem um mínimo de profissionalismo: tudo aquilo que você traduz é confidencial. Interessante como tantos tradutores não se dão conta disso. Principalmente nos fóruns de tradutores na Internet, fala-se o que ninguém deveria dizer. O sujeito diz estou traduzindo um manual de tal e tal coisa para a empresa Alfa e .... A informação de que a Alfa tem um manual de tal e tal coisa e que está sendo traduzido no Brasil pode ser preciosa para os concorrentes. Muitas empresas têm quem junte esses fragmentos de informações e, do resultado, tire conclusões muito interessantes. A informação de que a empresa Alfa mandou traduzir o manual da sua Superrebimboca para o inglês, então, pode contar uma história extraordinariamente interessante para sua concorrente mais próxima a Empresa Beta.

Imagine que você diga Estou traduzindo, para o McDonalds, um manual de preparação de pizzas. É um prato cheio para a concorrência. Então, o McDonalds está pensando em fazer pizza no Brasil! E lá se vai o segredo por água abaixo. Temos um colega que perdeu um bom serviço por causa de uma coisa dessas. Botou no ProZ uma pergunta que deixava claro demais o que ele fazia – e era um negócio altamente confidencial. Outro membro da equipe leu e deu o alarma e o sujeito perdeu o cliente.

Muitas vezes, só mencionar o nome do cliente já é errado. Se você traduz material técnico para a Petrobras e disser isso, provavelmente pouco se perde: todo mundo sabe que a Petrobras traduz material técnico. Mas se a empresa tem pouca ou nenhuma presença no Brasil, a simples informação de que você está com um contrato deles para traduzir já pode causar danos irreparáveis ao cliente.

Por outro lado, se você foi tradutor da Metalúrgica Alfa e está fazendo um teste na Metalúrgica Beta, vão te perguntar o que você traduzia na Alfa e talvez até te pedir uma amostra de serviço. De jeito nenhum. Aceite fazer um teste, mas o que Alfa pagou para você traduzir, Beta não pode ler. Muita ingenuidade, também, pensar que, contando os segredos de Alfa, vai conseguir emprego em Beta: ninguém confia em tradutor língua língua-de-trapo.

Então, a regra é bico calado. Salvo se você for chamada para depor em juízo. Aí, a coisa muda de figura: nem de longe se arrisque a perjúrio, mesmo que o cliente diga que não vai te acontecer nada. Para juiz, não se mente, de juiz não se oculta a verdade e ponto final. E procure seu próprio advogado: não confie no do cliente. Lá pelas tantas, você pode se encontrar em uma situação em que se disser a verdade pode contrariar os interesses do cliente e o advogado do cliente, nessa hora, não vai proteger os teus interesses.

Mas há casos especiais, muito especiais em que a quebra de sigilo espontânea se faz necessária, talvez indispensável. Mas o que constitui um caso especial, o que constitui aquela situação em que o tradutor diz: meu São Jerônimo, a Polícia Federal tem que saber disso! São casos raros, muito raros, e são sempre questões de foro íntimo do tradutor. Não posso, eu, daqui do meu canto, dizer em que casos você deve pegar o telefone e ligar para as autoridades. Sequer posso contar um caso dos meus, porque nunca aconteceu comigo. Já me ofereceram pagamento para revelar segredos de clientes, mas isso fica totalmente fora de cogitação, em qualquer situação.

Nenhum comentário: