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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Mais preços

Escreve o Rolim

Eu cobro mais barato que qualquer um aqui na minha cidade, Belém do Pará. Tão barato que chega a ser ridículo, porque não cobro por palavras, toques, laudas... cobro por empreitada. Aliás, eu não cobro, a agência diz o que tem de dinheiro e paga. Acontece que o cliente aqui, por mais rica que seja sua empresa, não está acostumado a pagar grandes serviços de tradução e pensa que a coisa é fácil e por isso, barata. As duas agências para as quais trabalho já me ligam com o seguinte discurso: “Rolim, temos um book do Grupo Fulano de Tal, de 150 'páginas' e temos X reais pra pagar o serviço. Tu fazes em 10 dias?”. Se eu não o fizer, alguém o fará, e o fará mal feito, sem revisão, e às vezes usando a ferramenta de tradução automática online (os três juramentados que aqui residem cobram zilhões e poucos os procuram). Seriíssimo, mas acontece muito aqui em Belém nos materiais do Governo do Estado, Prefeitura, entre outros. Cruel, mas preciso pagar minhas contas. 80% dos meus serviços são por empreitada, sempre saio perdendo e muito chateado. Mas não posso abrir mão dos parcos serviços que aqui aparecem.
Forte abraço. Adoro teu blog.

Oi, Rolim, bom saber que você adora o blogue. Eu também, embora por motivos diferentes.

Tudo o que você diz de sua cidade se aplica ao mundo todo e, no mundo todo, há tradutores que acham que isso é só no cantinho deles. Numa lista britânica, estava todo mundo outro dia reclamando da mesma coisa. Mas há muito serviço mais bem pago, sem dúvida (e você mesmo diz que ninguém aí cobra menos que você, o que comprova minha assertiva). Tem que ir atrás, como vou eu e vão tantos. Ficar pensando que teu mercado é a cidade onde você mora é um dos maiores erros que você pode cometer.

Quanto ao trabalhar por empreitada, também não vejo problema. Me oferecem muito serviço assim. O sujeito diz "tenho tal coisa para traduzir e uma verba de X". Você pode aceitar ou pode fazer uma contraproposta e, se a proposta for ruim demais, simplesmente rejeitar. O jogo de proposta, contraproposta, aceitação ou rejeição faz parte do mundo dos negócios.

Se você aceitar tudo o que te oferecem, pelo preço que te oferecerem, vão ter oferecer cada vez menos para fazer cada vez mais. Quer dizer, muito depende de que tipo de reputação você cria para si próprio. Nenhum cliente vai te oferecer preços bons se souber que você aceita qualquer preço. Nem você, quando cliente, faz isso. Se você for comer num restaurante, não vai dizer "a refeição aqui é barata demais, vou pagar 20% a mais do que a conta que você apresentou".

Curioso como tradutor tem medo de recusar preços baixos. Precisa ter coragem, mas dá um lucro danado. Esse sempre foi um meu maior segredo: dizer "não" com uma enorme tranquilidade. Sem discurso, sem sarcasmo, sem ironia, sem gracinhas. Só um "não, meu preço mínimo para esse serviço é X", educado mas firme.

Ah, por fim, nunca diga que algum dos seus colegas cobra "zilhões". Isso não existe.

3 comentários:

Anônimo disse...

Danilo,
isso me lembra um comentário recente seu de que você "fez carreira recusando trabalhos". Eu concordo com você! Eu também já me beneficiei ao recusar trabalhos. Tudo depende da reputação que você quer ter no mercado.
Claro que a situação do colega, assim como de muitos, não é fácil. Eu sugeriria um discurso mais firme, uma ênfase na qualidade, e uma busca por novos mercados. Precisamos ter uma estratégia e colocá-la em prática.
Abraços,
Daniel Bonatti

Rolim disse...

Danilo,
muitíssimo obrigado pela resposta, mesmo que dura e um tanto rude. De muito me vale sua crítica e vou sim correr atrás de outros clientes e expandir meus horizontes. Só um detalhe: você não estudou semântica? "zilhões" quer dizer "muito caro" neste contexto. E isto existe sim.

Danilo Nogueira disse...

Ah, Rolim

Dura? Sim. Rude? Talvez. O meu objetivo é ajudar, não agradar. Lamento que você tenha me achado muito áspero, não foi ess a intenção. Mas se te servir de alguma coisa, me dou por pago.

Já fui mais de uma vez criticado por minha falta de boas maneiras. Chato isso. No Instituto Rio Branco, nem me deixariam entrar. Tenho lutado contra isso, mas é uma questão de berço.

Igualmente lamento que meu uso de "zilhões" não tenha ficado claro. Então, permita-me uma nova explicação. Vamos ver se agora me faço claro, usando sua própria definição de zilhões, com a qual concordo inteiramente.

Nunca diga que algum colega cobra muito caro. Isso não existe. Se o colega cobra X e tem quem pague, quando podia procurar outro, não está cobrando caro demais. Este é o conceito jurídico e econômico de "preço justo": é aquele que as partes ajustaram, quer dizer, o preço pelo qual um aceita vender e o outro aceita comprar.

Tenho profunda admiração pelos que cobram mais que eu e cobraria o dobro do que cobro se achasse quem me pagasse. Não há nada de mal em cobrar caro. Ao contrário, quem cobra caro ajuda os colegas. Se um veterano como eu cobrar 10 centavos por palavra, vai vir uma porção de gente dizendo "pô, o Danilo, tradutor há 40 anos, fez isto, fez aquilo, cobra 10 e você quer 9? Se liga, cara!" Por isso eu cobro 30 e, como disse, só não cobro R$ 0,60 por palavra porque não encontrei quem pagasse.

O que é errado, muito errado, é enganar o cliente, por exemplo, dizendo que o serviço vai dar "umas dez" laudas, quando sabe muito bem que vai dar vinte. Mas não é disso que você e eu estamos falando.