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domingo, 25 de março de 2007

Reconhecimento público do tradutor

Faz já tempo que a história aconteceu, mas ainda é válida.

A platéia de jovens atenta, tão atenta quanto consegue ficar uma platéia de jovens. Chegou a minha vez de falar. Comecei dizendo que não traduzia um livro havia mais de um quarto de século - e a maioria da platéia tinha bem menos de vinte e cinco anos de idade -, jamais tinha traduzido literatura, jamais tinha traduzido um filme, que não fazia simultânea (entre outras coisas porque meu inglês falado é frágil demais) não era juramentado. Tensão no auditório. Que raio vem fazer esse cara aqui? Os professores que me ladeavam na mesa e os que estavam na platéia, mexiam os pés, inquietos e se entreolhavam, preocupados.

Continuei dizendo que há mais de trinta anos sustentava família com meus ganhos como tradutor. Espanto total.

A situação, nas faculdades, melhorou muito, mas o público em geral ainda vê a dupla Livro & Filme como o ganha-pão básico do tradutor. Os mais bem informadinhos sabem dos TPICs, embora falem deles como "juramentados", ou "oficiais", o que é bem pior. Outros conhecem o pessoal da simultânea. Mas, mesmo nas faculdades, a minha situação causa algum espanto. Quer dizer, mesmo no ambiente acadêmico, a atuação profissional não é tão conhecida como deveria ser, quem dirá entre o público em geral.

O curioso é que não faço parte de uma minoria, ao contrário: a grande maioria dos tradutores tem uma experiência semelhante à minha. Esses segmentos mais visíveis da profissão são muito importantes sob diversos pontos de vista, mas representam uma parcela muito pequena do nosso trabalho e, por isso, há inúmeros tradutores que pouco ou nada fazem nessas áreas, como é meu caso.

Trabalho, como a maioria de nós, na "face oculta" da profissão. Isso me irrita? Não. Nem um pouco. Meus clientes sabem o que eu faço, me respeitam e me pagam por isso. Sou tradutor porque gosto de traduzir e porque é assim que ganho a vida. Reconhecimento público é o que menos me interessa.

Há anos, apareci em algumas matérias jornalísticas e, depois, uma que outra pessoa que me conhecia como cliente ou freguês, comentou a matéria comigo. Sempre achei isso um tanto constrangedor. Quando me perguntam o que faço, digo que sou tradutor e, antes que me peçam uma tradução do último gangsta rap para o português, ou, o que é pior, a tradução para o inglês daquele rock que a banda de garagem do filho compôs, já vou dizendo que só faço financeira. Evita tanto problema!

Até amanhã. Mas, não sem uma pausa para nossos comerciais: agora, o Aulavox tem uma página especial para os meus cursos. Acho que vai facilitar a vida dos interessados. Vem curso de Trados por aí, tem a Reunião na Sala 7, grátis, como de sempre, desta vez discutindo os aspectos econômicos da tradução. Depois tem um Wordfast avançado, para quem quer aprender a mexer com a Caixa de Pandora. Divirtam-se.

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