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domingo, 16 de março de 2008

Os prazos curtos, de novo

O problema dos prazos curtos é que não deixam ensancha (*) para resolver problemas. Quando tudo dá certo, ótimo; quando temos um problema, a coisa complica. E, muitas vezes, o serviço vai indo bonitinho, dentro do cronograma e, quando falta meia hora para entregar, surge uma encrenca qualquer. Pode ser problema de computador, pode ser arquivo bichado, pode ser texto enrolado, termo desconhecido, empastelamento (**), quebranto, espinhela caída, bucho virado, o diabo. Mas em meia hora não dá para resolver.

Nos tempos de editora, era mais simples, porque eu corria como doido para entregar o serviço antes do prazo e sempre sobrava uma folguinha para fazer a limpeza final. Com as coisas que faço agora, servicinhos que chegam de manhã e vão embora de tarde, é muito complicado.

Então, a gente reza, reza para as duas santas às quais temos de recorrer, porque São Jerônimo, nessa hora, não serve de muito: Nossa Senhora da Última Hora e Santa Maria do Último Dia. Costumam resolver, mas às vezes o rolo é grande demais. Então, dá meleca.

O pior é que as complicações tendem a vir em fases. Você pega meia dúzia de serviços em seguida, cada um pior que o outro. Dorme menos, descansa menos, trabalha sobre pressão, fica irritado – e a qualidade vai caindo.

Lá pelas tantas, você faz alguma bobagem grossa. E aí, danou. Aí, o cliente que te pediu de joelhos para aceitar o serviço naquele prazo exíguo, porque só você poderia fazer, lembra, altivo, que foi você quem aceitou e, portanto, tinha obrigação de fazer direito.

O melhor, mesmo, é recusar. Ser realista, lembrar que "encaixar" mais este servicinho vai colocar você na zona de alto risco, que você já está exausto, que já não está mais distinguindo a natureza da selva da Ana Teresa da Silva, nem a testa do médico do atestado médico, e dizer não.

Lamentavelmente, de vez em quando a gente se atrapalha, principalmente quando faz muitos pequenos serviços. Se confunde e acaba aceitando alguma coisa a mais do que deveria, no momento em que já estava absolutamente superlotado. E se essa "alguma coisa" der problema, a catástrofe é certa. No próximo artigo, conto uma catástrofe que aconteceu comigo.

(*) Fala a verdade, ensancha é uma palavrinha porreta, não?

(**) Empastelado é um termo que está desaparecendo. Diz-se do texto que ficou bagunçado na composição (atualmente na editoração eletrônica) e, por isso, perdeu o sentido.

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