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segunda-feira, 31 de março de 2008

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Na história que contei sobre transcrição de fitas do Jaques Cousteau, esqueci de um detalhe importante: transcrever fitas (ou degravar, como se diz na polícia) é uma coisa, traduzir é outra. Alguns tradutores são hábeis transcritores, da mesma forma que alguns tradutores são excelentes professores, intérpretes ou trombonistas. Alguns profissionais conseguem traduzir diretamente da fita gravada, sem ter que primeiro transcrever. Mas uma coisa nada tem que ver com a outra e, depois da minha experiência traumática narrada acima, só aceito para traduzir o que vier escritinho. Se vier em áudio, recuso. Parafraseando Paulo (Cor I, 7:9), porque é melhor recusar do que ferrar-se.

O cliente, meio que sem saber sabendo, como diria o Chaves, faz de conta que é um serviço só, e é bem capaz de até tentar convencer a gente que é até mais fácil ir ouvindo e "já" ir traduzindo do que traduzir de um texto. Para conseguir um desconto, qualquer argumento é válido. Mas o fato é que transcrever, mesmo para o transcritor competente, toma muito tempo, principalmente quando a gravação foi feita por gente incompetente usando equipamento inadequado – o que é mais comum do que se teme.

Também é comum o cliente mencionar que a palestra foi de improviso e que precisa de uma revisãozinha. "Revisãozinha" já é outro serviço e precisa ser cobrado separadamente.

Fez, cobra. Se não é para cobrar, também não é para fazer e ponto final.

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