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quinta-feira, 13 de março de 2008

Prazos apertados

Tem aí em baixo um comentário da Camilinha dizendo que na área dela é tudo para ontem. Não duvido nem me surpreende. O que me surpreende é ela achar que o para ontem é peculiar a área dela.

Todo serviço de tradução é para ontem. Até as editoras, atualmente, têm prazos apertados, embora ninguém peça a tradução de um livro de 100.000 palavras para hoje de tarde. Ainda não chegaram a tanto.

Só duas vezes na minha vida de tradutor (e olha que já se vão 37 anos) recebi serviços que não eram urgentes. Um deles, jamais foi feito; o outro, o cliente me cobrou depois de 48 horas. Uma vez, recebi um fax dizendo precisamos desta tradução impreterivelmente até 14 horas. Mas o fax tinha sido enviado às 15 horas. Lamentavelmente, perdi essa jóia.

Traduzo notícias financeiras e o serviço é feito por uma equipe de uma meia dúzia de tradutores, que trabalham com a mesma memória de tradução. Quem pegar primeiro, faz. O texto em inglês sai num dia, a gente traduz e vai para a revisão e, depois, para a editoração eletrônica. Tenho a impressão de que é distribuído aos leitores no dia seguinte.

Por que toda tradução é urgente?

Primeiro porque todo serviço, por natureza, é urgente: a gente não leva o carro ao mecânico e diz olha, fica aí, você dá uma olhada quando tiver tempo. Nem diz para o encanador tem um entupimento aqui, quando sobrar um dia aí no teu calendário, vem ver para mim.

Segundo, que a tradução é um dos últimos elos de qualquer cadeia: primeiro você levanta os fatos, depois discute, faz isto, aquilo e, por fim, o relatório que vai ter de ser traduzido. Em cada estágio, há um atraso e, quando chega na nossa mão o serviço, espera-se que tiremos todo o atraso.

Por fim, tem o fato de que pedir urgência não custa nada. Dizer que precisa para ontem, não custa nada. Por isso a turma pede. Durante muito tempo, cobrei taxa de urgência. Quer para amanhã? Dez. Para depois de amanhã? Oito. Depois, acabei embutindo a taxa de urgência no preço. Ou dá para fazer, ou não dá – e acabou a história.

A gente precisa se acostumar a lidar com isso. Mas, de vez em quando, dá meleca. Vamos ver se consigo contar uma história de meleca amanhã.

Um comentário:

Camilinha disse...

É isso aí Danilo, a tradução é o último elo... E a gente é quem paga o pato. E é claro que a gente se esforça, entende que tudo é pra ontem, mas as coisas têm prazo.

Eu, por exemplo, não abro mão da revisão. Enquanto não ficar o mais fluente possível, não sai daqui. Enquanto não tiver palavras repetidas no mesmo parágrafo (coisa com que o inglês não se preocupa muito), não vai embora. E a gente vai levando.

O cliente quer se livrar do trabalho, mandar para frente, mas eu sempre digo:
"- De que adianta se for uma porcaria? Acaba com o seu trabalho!"

Nem sempre eles topam. O fato é que a coisa aqui é dinâmica. Raramente tenho serviço de uma semana para outra. Entretanto, sempre procuro dar um prazo justo, porém não apertado. Se der pau no micro, no Speedy, etc a gente tem que se virar.

A gente se esforça para entregar "pra ontem"... Só que às vezes toma 2 ou 3 dias... Fazer o quê?
=D