Então, me escreveu a Aleksandra, pedindo umas informações. Respondi diretamente, o que não é meu costume: mensagens pedindo informações respondo via blog. As razões são muitas e nenhuma delas importa agora, mas a Aleksandra eu respondi em particular, porque uma resposta pública poderia estragar o projeto que ela tinha em mente, que é bonito e para o qual eu lhe desejo muito sucesso.
A mensagem dela era muito bem escrita, talvez um pouco formal, o que se justificava por estar escrevendo a um estranho. Já na segunda mensagem estava mais solta, num português coloquial, mas ainda perfeitamente correto, o que não é realização pequena. Talvez não fosse grande coisa, se ela fosse brasileira. Ela não diz onde nasceu e passou a "mais tenra infância", mas informa que morou no Brasil desde 1991 ate 1999, dos 12 aos 20 anos, e hoje mora na Sérvia.
Tem muita gente que morou no Brasil a vida inteira e não escreve coisa com coisa. O fato de que ela aproveitou os oito anos que morou aqui para aprender português direito é mérito exclusivo dela. Eu sempre falo em virtù e fortuna e é hora de falar de novo: fortuna é passar a adolescência no Brasil, virtù é aproveitar para aprender português.
A Aleksandra é tradutora na Sérvia. A mãe também é, o que prova que filha de peixa é peixinha. Gente, vocês já pensaram o que é ser tradutor de português na Sérvia? Não é que sérvio seja mais ou menos difícil que as outras línguas – para os falantes nativos. Sou da turma da Rainha Vitória, que uma vez disse alemão tem fama de tão difícil, mas os alemãezinhos falam alemão desde bem pequenininhos. O problema é o material de trabalho: mesmo a turma do inglês, a mais privilegiada, pena por falta de material e, muitas vezes, tem de passear pelo espanhol para achar uma solução que preste. Agora, imaginem a turma do sérvio (ou do búlgaro, romeno, japonês, turcomano, venusiano medieval, sei lá, tem línguas a dar com pau neste mundo)! E também não dá para se especializar. O que cair na rede é peixe. Não deve haver tantos tradutores de português em Belgrado que se possa dizer desculpe, mas medicina eu não faça, fala com o fulano, que ele é fera nessas coisas. E nem tanto trabalho que possam se dar ao luxo de esnobar.
Quer dizer esse pessoal não deve penar pouco: um exemplo para os chorões que vivem reclamando de falta de material.
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