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domingo, 23 de março de 2008

Quem pariu Mateus que o embale

É comum a turma reclamar das comissões das agências, dizendo que a agência retêm uma porcentagem exagerada do preço cobrado do cliente final. A conclusão final costuma ser de que a comissão máxima justa ficaria em torno de 25% do total.

Uma vez, perguntei a um colega de onde ele tinha tirado esse número, esses 25%. Indignado, fez primeiro um discurso inflamado contra o que ele chamava minha defesa das agências (tradutor gosta muito de fazer discurso inflamado, principalmente por correio eletrônico, nos diversos fóruns de tradutores que por aí há). Logo eu, que jamais repasso trabalho para ninguém, por que raio estaria defendendo as agências? Mas, feito o discurso, o colega me perguntou se era justo nós ficarmos com três centavos por palavra, enquanto a agência ficava com nove.

Se é justo a agência ficar com nove, não sei. Não pago as contas deles, não sei que encargos têm, não é da minha conta. Não me interessa a vida dos outros. Para mim, chega a minha.

Um amigo dono de agência me fez uma conta onde mostrava que se retivesse menos de 75% do valor cobrado do cliente, não ia dar conta de seus gastos. Pode ser e pode não ser, não me interessa. Ele quis ter uma agência e quem pariu Mateus que o embale. Meu problema é o Mateus que eu pari, ou seja a tradução.

E sei que três centavos por palavra, e mesmo cinco ou oito, para o tradutor são uma quantia irrisória, lembrando que pagamos equipamento do nosso bolso, temos impostos e não temos férias, 13º e mais nenhuma das mordomias de quem tem vínculo empregatício, ou seja, a famosa carteira assinada. Isso sim, é da minha conta.

O que você ganha traduzindo deve ser suficiente para se sustentar e pagar pelo menos parte das despesas de sustento dos filhos. Com três centavos por palavra, só dá para fazer isso trabalhando o dia todo sete dias por semana. Caso contrário, você pode dar uma contribuiçãozinha, mas não paga a sua parte.

Conheci uma senhora que traduzia para uma editora e, a bem dizer, pagava para traduzir: considerando que a empregada ganhava férias, 13º e o que mais seja, o que a tradutora ganhava não pagava a empregada. Quer dizer, do ponto de vista econômico, dava mais vantagem demitir a empregada e assumir a casa. Não que ela quisesse, mas isso é outra conversa. De um modo ou de outro, não cabe pagar para trabalhar.

Então, repito o conselho: procure clientes adoidado e vá fazendo uma listinha deles classificada por valor pago. A cada vez que o pé-de-lista, quer dizer, o que menos paga, oferecer um serviço, diga educadamente gostaria de pegar, mas por esse preço é impossível, todos os meus clientes pagam mais que isso. Vai ver como funciona. Não peça aumento, não pergunte se dá para esticar: simplesmente diga que todos os outros estão pagando mais e você não pode aceitar por aquele preço.

Como é que a agência ou editora vai fazer para pagar mais a você? Não sei, não é da minha conta. Quem pariu Mateus que o embale.

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