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segunda-feira, 17 de março de 2008

Seguinte: o preço da vaca é cento e vinte

Recebi um convite para participar de uma licitação do tipo menor preço. Quer dizer, convidaram umas quantas pessoas, cada uma dá sua cotação, quem cobrar menos leva.

Não vou apresentar proposta: não participo de licitações em que o único critério para decisão é o preço e acabou a história.

É mediante convite, está bem, já melhora um pouco. Dizem que só convidaram gente boa. Pode ser, mas essa coisa de menor preço, sabe, abre o envelope e diz Alfa: R$ 10,00; Beta: R$ 9,00; Gama: R$ 8.00. Gama ganha, não me desce bem.

A proposta não deve dizer nada mais que Seguinte, o preço da vaca é cento e vinte. Não vai falar nada de métodos de controle de qualidade, de tratamento das emendas ao texto de partida (que certamente vão surgir, porque é um texto dinâmico, sujeito a alterações antes de estar terminada a tradução), de como vão ser tratadas as sugestões do cliente, de preparação de glossários, de nada. Só preço: Seguinte, o preço da vaca é cento e vinte. Não fala de prazo de entrega, de forma de entrega, de apresentação, de nada que não seja Seguinte, o preço da vaca é cento e vinte. Todo o resto, a gente vê depois. Quanto você cobra?

Quero ver se fariam isso para escolher pediatra para o filho deles. Dr. Alfa: R$ 10,00; Dr. Beta: R$ 9,00; Dr. Gama: R$ 8.00. Dr. Gama ganha e cuida do moleque! Meus parabéns!

Diz lá o convite, a folhas tantas, que o vencedor se compromete a executar o serviço e entregar o material de acordo com as especificações fornecidas pelo [CLIENTE]. Agora, ainda que mal pergunte, como raio vou cotar preço primeiro e ver as especificações depois? E se o cliente quiser algo que eu ache absurdo ou completamente em desacordo com o preço cotado?

A gente está sempre reclamando dessas coisas e há muito pouco que possamos fazer: se o cliente pensa assim, que pense, direito dele, mas eu não me meto nessa. Agradeço o convite e tal, mas não vou apresentar proposta.

Não faltará quem apresente. Não há nada que eu possa fazer quanto a isso: cada um é cada um, cada um tem seus problemas. Mas eu simplesmente me nego a participar dessas coisas. Para minha felicidade, já não preciso correr atrás de todos os serviços que me aparecem pela frente. Essa situação privilegiada me confere a obrigação, perante meus colegas, de não me candidatar a certos serviços. Há certas obrigações que é um prazer cumprir.

(Dois artigos num dia só. Estou inspirado, hoje.)

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