Apareceu na imprensa uma história de que, em uma reunião de que participava um estrangeiro, o Presidente Lula contou que tentara estuprar um companheiro de cela. Quem narrou a história participou da discussão e, entre outras coisas, funcionou como intérprete ad hoc, mas se negou a traduzir a história da tentativa de estupro.
Outras pessoas que estavam na reunião confirmaram a história, mas disseram que não levaram a sério a afirmação, porque, para qualquer pessoa que conhecesse Lula, era óbvio que era mais uma das histórias malucas que ele costumava inventar para divertir a plateia e irritar um que outro e que ninguém acreditou que tivesse havido uma tentativa de estupro.
Se Lula tentou ou não estuprar alguém, é coisa que não interessa a este blogue. Este é um ciberponto de encontro para a discussão sobre questões de tradução e o que nos interessa aqui é o que deve fazer o intérprete/tradutor numa situação dessas. Então, reformulemos a história de modo mais seco, para podermos conversar, como profissionais da tradução. Imagine as situações abaixo:
1. Você é intérprete em uma reunião, da qual participa uma pessoa de projeção (político, artista, membro da comunidade de negócios, intelectual…). Essa pessoa de projeção, em dado momento, faz uma declaração que, se divulgada pela imprensa, pode causar grandes constrangimentos e prejuízos (tentei estuprar, estuprei, roubei, matei, destruí, prejudiquei…). O que você faz?
(a) Traduzo exatamente o que foi dito. O orador é responsável pelo que diz. Tradutor não é censor. Se eu não traduzir o que ele disse, estarei atraiçoando a audiência. Deixo à audiência decidir se a história é verdadeira ou mera brincadeira.
(b) Omito ou abrando as declarações, porque é minha responsabilidade evitar um incidente desnecessário.
(c) Depende de quem está me pagando. Se for o orador, omito ou abrando, porque minha função é evitar problemas para ele. Se for a audiência, faço uma tradução tão fiel quanto puder, porque, ao aceitar o serviço, aceitei a incumbência de manter a audiência bem informada.
(d) Se for um político do meu partido, omito ou abrando; se for um político de outro partido, deixo que ele se arrebente.
2. Se estivesse na audiência:
(a) Preferiria que o intérprete traduzisse tudo o que foi dito. Cabe a mim decidir se foi brincadeira ou se foi a sério.
(b) Preferiria que o intérprete traduzisse tudo o que foi dito, mas explicasse que evidentemente se tratava de uma brincadeira, se fosse o caso.
(c) Omitisse as observações mais cruas, para evitar um escândalo e salvaguardar a honra do orador.
(3) Se fosse o orador:
(a) Preferiria que o intérprete traduzisse tudo. Eu assumo responsabilidade pelo que digo.
(b) Ficaria grato se o intérprete omitisse ou abrandasse qualquer coisa que me pudesse causar problemas posteriores.
As três perguntas acima e as respostas sugeridas são meros guias para os seus comentários. Mas esqueça, ou ao menos faça por esquecer, que estamos nos referindo a uma determinada pessoa, da qual você pode gostar muito ou detestar. Faça de conta que é um exercício puramente acadêmico sobre um personagem fictício.
Comente à vontade, mas lembre que os comentários a este blogue estão sujeitos a aprovação. Não serão aprovados comentários que contenham mensagens políticas implícitas ou explícitas. Há mil lugares onde se pode discutir política; aqui, falamos sobre tradução.
Na semana que vem, comentamos.
Esclarecimento postado no dia 1/12: Agradecemos aos diversos comentaristas, que, inclusive, tiveram o bom senso de se ater ao assunto, sem se desviar para o lado político da questão.
Segundo tudo o que lemos sobre o assunto, não há dúvida de que o Lula contou a história e que a história era a descrição de uma tentativa de estupro, inclusive com uma descrição da reação da quase-vítima. O interessante é que parte das pessoas viu como uma brincadeira (de bom ou mau gosto) e outra parte viu como a descrição de um fato real. Por outro lado, as expansões do tema feitas por alguns dos comentaristas só enriquecem a discussão. Obrigado por agora e continuem comentando.
Os comentários já postados mostram que as respostas podem ser diferentes conforme se trate de simultânea ou consecutiva — e, mais ainda, se for tradução escrita, para legendagem ou dublagem. Se alguém quiser explorar essas facetas, considero uma contribuição positiva.
Na semana que vem, comentamos.
Esclarecimento postado no dia 1/12: Agradecemos aos diversos comentaristas, que, inclusive, tiveram o bom senso de se ater ao assunto, sem se desviar para o lado político da questão.
Segundo tudo o que lemos sobre o assunto, não há dúvida de que o Lula contou a história e que a história era a descrição de uma tentativa de estupro, inclusive com uma descrição da reação da quase-vítima. O interessante é que parte das pessoas viu como uma brincadeira (de bom ou mau gosto) e outra parte viu como a descrição de um fato real. Por outro lado, as expansões do tema feitas por alguns dos comentaristas só enriquecem a discussão. Obrigado por agora e continuem comentando.
Os comentários já postados mostram que as respostas podem ser diferentes conforme se trate de simultânea ou consecutiva — e, mais ainda, se for tradução escrita, para legendagem ou dublagem. Se alguém quiser explorar essas facetas, considero uma contribuição positiva.