Entre uma ínfima minoria de tradutores que jamais repassou um serviço e um outro grupo que repassa todos os serviços que pega, fica a maioria, a grande maioria, que repassa parte dos serviços que aceita.
Detesto repassar serviço. Outro dia, um cliente americano me mandou um pacote de serviço do inglês e dois arquivos em francês. Deve ter havido algum mal-entendido, porque ele cria que eu traduzisse do francês, o que não é verdade. Avisei, e ele disse "Onde é que eu vou arranjar agora quem faça francês para o português? Te vira aí, você, por favor." Note que esse cliente está na Califórnia e não fala português. Para ele, arranjar alguém confiável que fizesse duas mil palavras do francês para o português de um dia para o outro ia ser terrível. Ia ter que postar no ProZ ou coisa pior ainda — e era material confidencial. Para mim, custou um telefonema a uma amiga de um quarto de século. Mas mandei para um os dados do outro, para que, no futuro, se entendessem sem a minha interferência.
Mas muita gente repassa e repassa bastante. Repasses sempre ocorreram na tradução e Paulo Rónai nos conta uma história divertidíssima de um escritor húngaro que vivia de vender a editoras traduções de terceiros que eram publicadas com o "peso" da sua assinatura. Quer dizer, não é coisa nem de hoje, nem do Brasil.
O repasse de trabalhos é muito mal visto entre os tradutores, tratado como se fosse um roubo. Por outro lado, tradutor detesta recusar serviço. Conciliar essas duas posições antitéticas não é fácil, mas é algo de que vou falar amanhã, quarta-feira, porque por hoje é só.
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