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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Você decide – traduzir ou não traduzir?

Apareceu na imprensa uma história de que, em uma reunião de que participava um estrangeiro, o Presidente Lula contou que tentara estuprar um companheiro de cela. Quem narrou a história participou da discussão e, entre outras coisas, funcionou como intérprete ad hoc, mas se negou a traduzir a história da tentativa de estupro.

Outras pessoas que estavam na reunião confirmaram a história, mas disseram que não levaram a sério a afirmação, porque, para qualquer pessoa que conhecesse Lula, era óbvio que era mais uma das histórias malucas que ele costumava inventar para divertir a plateia e irritar um que outro e que ninguém acreditou que tivesse havido uma tentativa de estupro.

Se Lula tentou ou não estuprar alguém, é coisa que não interessa a este blogue. Este é um ciberponto de encontro para a discussão sobre questões de tradução e o que nos interessa aqui é o que deve fazer o intérprete/tradutor numa situação dessas. Então, reformulemos a história de modo mais seco, para podermos conversar, como profissionais da tradução. Imagine as situações abaixo:
1. Você é intérprete em uma reunião, da qual participa uma pessoa de projeção (político, artista, membro da comunidade de negócios, intelectual…). Essa pessoa de projeção, em dado momento, faz uma declaração que, se divulgada pela imprensa, pode causar grandes constrangimentos e prejuízos (tentei estuprar, estuprei, roubei, matei, destruí, prejudiquei…). O que você faz?
(a) Traduzo exatamente o que foi dito. O orador é responsável pelo que diz. Tradutor não é censor. Se eu não traduzir o que ele disse, estarei atraiçoando a audiência. Deixo à audiência decidir se a história é verdadeira ou mera brincadeira.
(b) Omito ou abrando as declarações, porque é minha responsabilidade evitar um incidente desnecessário.
(c) Depende de quem está me pagando. Se for o orador, omito ou abrando, porque minha função é evitar problemas para ele. Se for a audiência, faço uma tradução tão fiel quanto puder, porque, ao aceitar o serviço, aceitei a incumbência de manter a audiência bem informada.
(d) Se for um político do meu partido, omito ou abrando; se for um político de outro partido, deixo que ele se arrebente.
2. Se estivesse na audiência:
(a) Preferiria que o intérprete traduzisse tudo o que foi dito. Cabe a mim decidir se foi brincadeira ou se foi a sério.
(b) Preferiria que o intérprete traduzisse tudo o que foi dito, mas explicasse que evidentemente se tratava de uma brincadeira, se fosse o caso.
(c) Omitisse as observações mais cruas, para evitar um escândalo e salvaguardar a honra do orador.
(3) Se fosse o orador:
(a) Preferiria que o intérprete traduzisse tudo. Eu assumo responsabilidade pelo que digo.
(b) Ficaria grato se o intérprete omitisse ou abrandasse qualquer coisa que me pudesse causar problemas posteriores.
As três perguntas acima e as respostas sugeridas são meros guias para os seus comentários. Mas esqueça, ou ao menos faça por esquecer, que estamos nos referindo a uma determinada pessoa, da qual você pode gostar muito ou detestar. Faça de conta que é um exercício puramente acadêmico sobre um personagem fictício.

Comente à vontade, mas lembre que os comentários a este blogue estão sujeitos a aprovação. Não serão aprovados comentários que contenham mensagens políticas implícitas ou explícitas. Há mil lugares onde se pode discutir política; aqui, falamos sobre tradução.


Na semana que vem, comentamos.




Esclarecimento postado no dia 1/12: Agradecemos aos diversos comentaristas, que, inclusive, tiveram o bom senso de se ater ao assunto, sem se desviar para o lado político da questão.


Segundo tudo o que lemos sobre o assunto, não há dúvida de que o Lula contou a história e que a história era a descrição de uma tentativa de estupro, inclusive com uma descrição da reação da quase-vítima. O interessante é que parte das pessoas viu como uma brincadeira (de bom ou mau gosto) e outra parte viu como a descrição de um fato real. Por outro lado, as expansões do tema feitas por alguns dos comentaristas só enriquecem a discussão. Obrigado por agora e continuem comentando.


Os comentários já postados mostram que as respostas podem ser diferentes conforme se trate de simultânea ou consecutiva — e, mais ainda, se for tradução escrita, para legendagem ou dublagem. Se alguém quiser explorar essas facetas, considero uma contribuição positiva.
















domingo, 29 de novembro de 2009

Você decide: O Repasse

Vários dos comentaristas demonstraram revolta com o fato de que Beta estava retendo 2/3 do preço pago pelo cliente Gama e que Alfa, que "estava fazendo o serviço", ia ficar somente com 1/2.
Essa questão sempre aparece e, na minha opinião, é sempre irrelevante. Mas antes de dar a minha opinião, quero contar um caso real. Colega me escreve dizendo que de vez em quando tinha excessos de serviço e gostaria de repartir (gente fina não repassa: quem repassa é agência; gente fina "reparte" ou "divide"]. Perguntou se eu achava aceitável uma divisão a 2:1, quer dizer, o tradutor encarregado ficava com 2/3 e ela com 1/3. Nunca descobri se ela estava me oferecendo serviço de um modo indireto, mas essa não é a questão. A questão, para mim, é "2/3 de quanto?" Se ela me dissesse "2/3 de R$ 0,09 por palavra", a resposta era negativa, porque isso significaria R$ 0,06 por palavra no meu bolso, o que é menos que o meu mínimo. Se fossem 2/3 de R$ 0,90 por palavra, aceitaria com prazer, porque daria R$0,60 por palavra, o que é mais do que estou conseguindo cobrar. Quer dizer, não quero saber quanto a intermediária retém, eu quero saber quanto me paga.
Essa minha postura tem um outro lado: não dou o famoso "desconto de mau negócio". Não me venha com a história do "estou cobrando pouco do cliente". Se alguém pegou um serviço a dois reau a baciada isso é problema dele, ele que se dane e não venha descarregar o prejuízo nas minhas costas.  Quer dizer, a intermediária tem lá seus problemas e eu tenho os meus. Eu não pago as contas dela, ela não paga as minhas. Mas disso, falo no próximo capítulo desta novela.
Terça-feira volto à esta discussão. Amanhã, temos outro "Você decide", mais uma vez com uma semana para comentários. Enquanto vocês postam comentários, eu volto a este assunto. Parece que os "você decide" vieram para ficar. É muito divertido.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Você decide – O Repasse


Semana complicada, discussão interrompida. Aqui, terminei dizendo que tradutor detesta recusar serviço. Muitos tradutores sofrem de insegurança crônica. Acham que, se recusarem um serviço ou se recomendarem um colega, vão perder o cliente. Então, pegam tudo o que oferecerem, mesmo que não possam fazer. Não podendo fazer, repassam.

Mas o repasse é muito mal visto e, portanto, quem repassa, muitas vezes faz cabriolas intelectuais para se justificar. Está "ajudando um cliente", é "para não cair na mão de agência", essas coisas. O fato é que se o tradutor disser, "não posso fazer, fala com fulano", ou "vou pedir que um colega meu entre em contato com vocês" resolve o problema da mesma forma — mas é raro o tradutor que tem peito para fazer isso: o medo de perder o cliente — quando não o desejo de fazer uns trocados — impede.
Aqui chegamos, agora, a uma questão fundamental: é ético repassar serviço? Beta estava certa ao pegar o serviço e oferecer a Alfa?

O combinado está sempre certo. Filosofia de boteco, sem dúvida. Se você quer em termos mais bonitos, diga assim "Vale a convenção entre as partes", que é como os advogados dizem. Se Beta se apresentou ao cliente final como uma agência, nada vejo de errado no repasse. Porém, se, para pegar o serviço, ela se apresentou como a tradutora que ia se encarregar do trabalho, mostrando seu CV e sua experiência profissionais como meios de conseguir a encomenda, é errado repassar a outra pessoa, por competente que essa pessoa seja. Transparência, honestidade, são características essenciais de qualquer negócio.

Está certo pagar ao tradutor só um terço do que vai receber do cliente? É esta a pergunta que vou responder durante o fim de semana. Espero que você goste da resposta.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Edição Extra: Desaforo!

Gente, é demais. Aconteceu de novo. Todo santo dia acontece, não tem exceção. Não falha um!

"Estudo inglês a 10 anos" 

Ótimo, mas, não teve dez minutos, nesses dez anos, para aprender a escrever português? Para aprender que é "há dez anos"? E quer se dedicar à tradução! De vez em quando, me ferve o molho de tomate que me corre nas veias e dá vontade de responder como se respondia no Brás, na minha infância. Mas não adianta. Primeiro que a destinatária da correção ainda responde com mimimi, 'tadinha. Segundo, que vem a turminha do "ah, temos que fazer críticas positivas" passar a mão na cabecinha de bagre. Farei, então uma crítica altamente positiva: quer ser tradutor? Ótimo. Gaste cada minuto livre de sua vida estudando a sua segunda língua (provavelmente o inglês) e para cada minuto que estudar a segunda língua, estude ao menos dois de português. Agora, escreva 100 vezes:

Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
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Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.
Estudo inglês há dez anos.

O enlace para este artigo é http://www.tradutorprofissional.com/2009/11/edicao-extra-desaforo.html. Quando aparecer pela sua frente um "a 10 anos", ou, pior "a 09 anos", responda com o link.

Embolou o Meio de Campo - para Lucya Hellena e Luciana

Estou respondendo aqui às mensagens destas duas colegas, porque parece que têm a mesma origem (terão elas feito o mesmo curso? Serão conhecidas uma da outra?) e porque creio que haverá mais gente neste bonde.

Estamos (este artigo está passando pelo crivo da Kelli, que já me fez re-escrever tudo duas vezes e disse que ainda não está do jeito dela, mas que dá para postar) surpresos com a reação de vocês duas. Parece que vocês entendem essa tradução via Google Translate como a pedra de toque do Wordfast Classic, a sua característica mais importante. Não concordamos. Sabemos usar a tradução automática e até usamos em um que outro caso. Mas sua utilidade é restrita e, em muitos casos, o uso é desaconselhável, porque dá mais trabalho revisar o Google do que fazer tudo do zero, com o material da memória e glossários.

Wordfast Classic é uma poderosíssima ferramenta para o tradutor profissional. Seus principais recursos são o uso avançado de glossários, as cabriolas que ele pode fazer com os comandos da Pandora's Box, o sistema eficientíssimo de pesquisa de frases na memória, os sistemas avançados de controle de qualidade, enfim, uma série enorme de recursos que mesmo programas mais caros não oferecem. Mais refinado que o Wordfast Classic, atualmente, só o MemoQ — que não tem essa coisa de tradução automática via Google. Aliás, o Trados antigo tinha, não deu muito certo. O Trados novo, apesar de algumas informações divulgadas por aí, ainda está muito cru. Sugiro ficar longe.

Perante tudo o que foi dito acima, a tradução automática, via Google Translate, signfica pouquíssimo.
Para usar o Google Translate, o Wordfast Classic usava uma "porta" que o Google tinha deixado aberta. A porta foi fechada pelo Google (direito deles) e agora o Wordfast Classic não pode mais entrar. Não há absolutamente nada que o atendimento do Wordfast Classic possa fazer. A porta foi fechada "por dentro" e não adianta bater, porque só o Google tem a chave e vai abrir quando quiser. Encerraram o serviço, nada podemos fazer. A equipe do Wordfast Classic está procurando uma outra porta. Ela existe, está sendo testada, mas ainda não foi a nova versão que usa essa porta não foi liberada porque não se tem certeza de que vá funcionar direito. Terminados os testes, se for aprovada, será liberada. Eu aviso aqui, vocês atualizam o Wordfast Classic (grátis, durante três anos) e ficam felizes.

Não achamos o Wordfast caro. Tirante o OmegaT e mais um que outro programa grátis, todos eles muito limitados, o Wordfast Classic é o programa de tradução assistida por computador mais barato que existe e ajuda tanto que a gente costuma recuperar o preço em menos de uma semana de trabalho. Se vocês querem ser profissionais de sucesso, preparem-se para investir e investir alto. Eu devo muito do que consegui aos meus altos investimentos em equipamento e programas e a Kelli está seguindo meu caminho e se tornando uma profissional supre equipada. Sem investimento, não há lucro. Nós não investiríamos dinheiro na compra do Systran. Não achamos que valha a pena. Mais vale a pena procurar aprender a usar melhor os recursos do Wordfast, mediante cursos ou com o manual.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Você decide: O Repasse

Como prometido, vou comentar os comentários sobre a história contada aqui. Vai precisar de mais de um artigo, porque os 28 comentários recebidos — e os mais que ainda espero receber — vão dar muito pano para mangas e quero fazer uma análise bem detalhada.

Entre uma ínfima minoria de tradutores que jamais repassou um serviço e um outro grupo que repassa todos os serviços que pega, fica a maioria, a grande maioria, que repassa parte dos serviços que aceita.

Detesto repassar serviço. Outro dia, um cliente americano me mandou um pacote de serviço do inglês e dois arquivos em francês. Deve ter havido algum mal-entendido, porque ele cria que eu traduzisse do francês, o que não é verdade. Avisei, e ele disse "Onde é que eu vou arranjar agora quem faça francês para o português? Te vira aí, você, por favor." Note que esse cliente está na Califórnia e não fala português. Para ele, arranjar alguém confiável que fizesse duas mil palavras do francês para o português de um dia para o outro ia ser terrível. Ia ter que postar no ProZ ou coisa pior ainda — e era material confidencial. Para mim, custou um telefonema a uma amiga de um quarto de século. Mas mandei para um os dados do outro, para que, no futuro, se entendessem sem a minha interferência.

Mas muita gente repassa e repassa bastante. Repasses sempre ocorreram na tradução e Paulo Rónai nos conta uma história divertidíssima de um escritor húngaro que vivia de vender a editoras traduções de terceiros que eram publicadas com o "peso" da sua assinatura. Quer dizer, não é coisa nem de hoje, nem do Brasil.

O repasse de trabalhos é muito mal visto entre os tradutores, tratado como se fosse um roubo. Por outro lado, tradutor detesta recusar serviço. Conciliar essas duas posições antitéticas não é fácil, mas é algo de que vou falar amanhã, quarta-feira, porque por hoje é só.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

E a transparência?

Logo que o Danilo lançou a enquete, eu fiquei com vontade de comentar, mas resolvi esperar e ler o que as outras pessoas tinham a dizer antes. Foi uma boa decisão. Mas uma coisa estava me martelando e continua, porque não vi ninguém tocar no assunto. Tradutor A pegou um serviço da empresa B e repassou para o tradutor C, era isso, não?

A mim, pouco importa o preço do repasse. Creio que cada um aceita aquilo que acha que merece ou consegue e, uma vez aceitos o serviço e o valor, essa é uma reclamação estéril e até, conforme o caso, antiética. Acho a questão da transparência com a empresa que solicitou o serviço muito mais importante.

Se ela foi avisada e concordou, não vejo problemas. Mas e se não foi avisada? Como fica a confidencialidade do documento? Eu já peguei uma meia dúzia de textos para traduzir que só vieram ao conhecimento público bem depois da tradução. Imagina se eu repasso e isso cai na boca de quem não deve, como eu fico perante o meu cliente?

Sei não, acho que arrumar cliente hoje é tão difícil, manter também, com tanta oferta de mão de obra... que eu é que não vou me arriscar a perder um numa bobeada dessas.

Embolou o Meio de Campo — Parte 2

Este texto é continuação deste aqui. Melhor ler o outro e os comentários, antes de prosseguir. Um texto breve, que tenho pouco tempo hoje.
Yves Champollion está tratando de resolver o problema de não se poder usar mais o Google Translate como auxiliar do Wordfast. Quando tiver alguma novidade, aviso.
Entretanto, cabe aqui alertar que o Wordfast NÃO envia nossas traduções para o Google Translate. Não tem como. Já achava que não, mas, antes de dizer alguma coisa aqui, perguntei na lista do WF e o próprio Yves me deu a resposta, além do Dominique Pivard, que é outro cara que sabe muito bem das coisas.
De onde é que o Google Translate pega material? Dos alinhamentos que eles fazem de documentos que encontram na Internet. Devem ter um alinhador monstro.
A outra ferramenta de tradução do Google, o Translator Toolkit é outra conversa — e sobre ela falamos outra hora.

domingo, 22 de novembro de 2009

Causo Relampo - Você já Parou para Pensar?

Logo antes do curso sobre títulos de crédito, a turma estava falando da dificuldade que encontravam em distinguir fatura de nota promissória de nota fiscal de duplicata, essas coisas.

Logo no início da aula eu disse "uma nota promissória é só isso: uma nota promissória, uma nota, um bilhete, um escrito, em que se promete alguma coisa, neste caso pagar um determinado valor". Uma das participantes, comentou irritada: "Eu sou uma anta! Conheço o termo há muitos anos e nunca tinha pensado nisso. Preciso aprender a ler com mais cuidado".

O comentário, creio, serve para todos nós. Leia com cuidado, calmamente, que o texto começa a fazer mais sentido.

Obrigado pela vista e volte amanhã.

sábado, 21 de novembro de 2009

Antigamente, os Políticos Sabiam Ler

Você ouviu falar em Bartolomé Mitre? Claro, há uma rua com esse nome em Buenos Aires. Mas o que mais você sabe de don Bartolomé? Eu sabia muito pouco, até ontem, quando, por recomendação de @matthewbennett, no Twitter, fui ler um texto do homem e, depois, fascinado, fui procurar a biografia dele na Wikipedia.

O fato é que ele foi presidente da República Argentina, comandante militar no tempo da Guerra do Paraguai e fundador do La Nación, segundo maior jornal argentino, ainda em mãos de seus descendentes. Morou em cinco países, sempre ativo na política e no jornalismo. Nas horas vagas, foi historiador e — claro! — tradutor. Nosso colega argentino não era pouco ambicioso e atacou de Divina Comédia. Não entendo nem italiano antigo nem espanhol o suficiente para analisar a tradução de Mitre, mas o prefácio, intitulado "Teoría del Traductor"  é muito interessante, mesmo que você não concorde totalmente com a posição do autor.

O texto, como eu o li e de acordo com o encaminhamento do Matthew Bennett, está no blogue do Clube de Traductores Literarios de Buenos Aires. O título do artigo é uma triste verdade: Antes, los políticos sabiam leer, escribir e incluso traducían a los clássicos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Posta-restante: Perguntas que exigem respostas breves



 Aproveito para responder algumas perguntas que me fizeram.

Anônima pergunta: Faço faculdade de Letras e minha área é a tradução. Entretanto estou confusa sobre como me tornar de fato uma profissional de tradução. Explico: gostaria de saber se depois de formar, ou até mesmo durante o curso, é necessário fazer algum curso extra e como faço para ter uma carteira profissional de tradutor, se é que existe. 

A profissão não é regulamentada e, portanto, qualquer um pode ser tradutor ("qualquer um" inclui até a mim próprio, que não tenho curso de nada e, de título, só tenho o de eleitor). Faça a faculdade para aprender, não para ganhar diploma e, com o tempo, você vai ver que uma faculdade bem feita é uma grande vantagem — ao passo que um diploma bonito pode servir como decoração para sua sala de visitas, mas, profissionalmente, não vale grande coisa.

Carteira de tradutor não existe e, se existisse, não teria muita utilidade. Por outro lado, se você conseguir um emprego de tradutora em uma empresa (como eu já tive), na sua Carteira Profissional vai constar "tradutora". Mas, realmente, pouco adianta. O que adianta é o que você traz dentro da cabeça.

Então, vai aí o conselho que eu sempre dou: Aproveite cada minuto livre de sua vida para estudar a língua estrangeira à qual você vai se dedicar (inglês, espanhol, o que seja). Leia feito uma doida. Tudo! Desde os grandes autores até bula de remédio. Tudo importa para o tradutor. E, para cada minuto que dedicar à língua estrangeira, dedique ao menos dois ao português. A maioria dos aprendizes de tradutor tem um português lamentável e, como profissional, você vai precisar fazer cabriolas incríveis com seu português.

Magda pergunta: Sou formada em letras (licenciatura), estava procurando um curso só para tradutor e encontrei seu blog e você disse que existem cursos livres de tradução, gostaria que você me indicasse algum, pois não consigo encontrar nenhum em São Paulo, apenas universidades com o curso completo de letras e tradução.

O Curso da Associação Alumni está lá bem vivo, Magda. E, ao que dizem, a Ângela Levy ainda mostrando a classe.

Paula pergunta: Devido a essa iniciativa do governo, criei minha pequena empresa. Agora a dúvida é como fazer a nota fiscal, pois o modelo estabelecido pede endereço e como a minha empresa é na minha própria residência, eu não tenho como colocar o endereço daqui.

O endereço da minha empresa também é o da minha residência. Isso não é problema algum. Na minha nota fiscal consta como endereço da firma o endereço da firma, que, coincidentemente, é o endereço da minha residência.

Mariana escreve: Eu estava pesquisando sobre a profissão de tradutor no Google e encontrei o blog de vocês, que me chamou bastante atenção pelas valiosas informações dadas. Primeiramente, gostaria de me apresentar; chamo-me Mariana e estou cursando Direito, encontro-me na metade do curso e não gosto da minha área. Por outro lado, sou apaixonada por línguas - estudei inglês por sete anos, estou aprendendo francês e mais à frente pretendo iniciar o alemão! Foi então lendo um livro da Jane Austen da coleção Penguim Classics, há mais ou menos um mês atrás, que me veio a ideia de ser tradutora. Parece ser o tipo de profissão que junta tudo o que mais amo: leitura, escrita e línguas. No entanto, eu não entendo nada do mercado da tradução e sequer sei por onde começar. Ouço muito falar em pessoas que traduzem artigos avulsos, etc. Mas como se faz para trabalhar na tradução de livros, quais os caminhos a seguir, quais as opções que a profissão oferece? É possível viver bem da atividade de tradução? Talvez sejam perguntas demais, mas peço encarecidamente que respondam.

Mariana, desculpe, mas você está pedindo que eu re-escreva para você, de novo, 50% do que está no blogue e isso eu não posso fazer. Clique aí do lado onde diz "principiantes" e "iniciantes" que aparecem as respostas a todas às suas perguntas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Edição Extra - Dia da Consciência Negra para Tradutores

Ulisses Wehby de Carvalho nos brinda com uma tradução do mais arrasador e brutal grito contra o preconceito racial que eu conheço. Clique aqui, leia, ouça e, se dentro de você ainda existe algum resquício de preconceito racial, que o choque te limpe a alma.




quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Embolou o meio de campo!

Não dá mais para usar Google Translate com Wordfast. Ai, ai, ai!

Mas o Yves Champollion já disse que vai tomar uma providência.

A ver quem ganha. Aposto nos gauleses.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Você decide: O Repasse




Gostaria de abrir uma discussão, com base em uma história que apareceu outro dia na Web. Vou mascarar nomes (e espero que os comentaristas que conheçam a história não mencionem os nomes), porque gostaria de ver não uma crítica a este ou aquele portal ou tradutor(a), mas sim uma discussão da questão em si. Resumidamente:

  • Existem na Internet vários portais onde se oferecem serviços para tradutores.
  • Nossa colega Alfa entrou no Portal 1 e encontrou uma oferta de serviço, postada por Beta. Candidatou-se e conquistou o serviço.
  • Em seguida, entrou no Portal 2 e descobriu que Beta tinha conquistado o serviço lá, nesse Portal 2, onde tinha sido postado por Gama e que estava recebendo, por ele, aproximadamente três vezes o que estava pagando a Alfa.
  • Tendo tomado conhecimento da situação, Alfa escreveu a Beta e rejeitou o serviço.


Comente à vontade. Principalmente, gostaria de saber se, na sua opinião:

  • Beta tinha direito de repassar o serviço?
  • O fato de que Beta tinha repassado por um terço do que recebia é relevante?
  • Alfa tinha alguma obrigação de rejeitar o serviço?
  • Gama foi lesada?


Terça-feira da semana que vem, comento os comentários. Espero que sejam muitos.


domingo, 15 de novembro de 2009

Ainda a revogação da regulamentção dos TPICs no RJ

Posto, aqui, com algumas alterações, longa mensagem postada na lista trad-prt.
A DELIBERAÇÃO JUCERJA N.º 32 / 2009 DE 06 DE NOVEMBRO DE 2009,diz, no Art. 1º - Revogar a Deliberação JUCERJA n.º 106, de 29 de outubro de 1998, que trata da regulamentação do ofício de Tradutor Público e Intérprete Comercial.
Evidentemente, uma deliberação de Junta Comercial, seja de que UF for, não pode revogar o decreto federal que regula a profissão de tradutor desde os tempos do Getúlio Vargas. Então, o que essa Deliberação revoga? Algumas disposições específicas ao Estado do Rio de Janeiro, tais como número de ofícios e quejandos. Quem era TPIC, continua sendo; quem não era, continua não sendo. A atuação dos TPICs nas outras UFs continua inalterada, já que a JUCERJA tem jurisdição exclusiva sobre o Estado do Rio de Janeiro.
Conferi o site da JUCERJA, as duas resoluções estão lá. A pergunta, é, então, em que isso altera a vida dos TPICs do RJ e dos que prestaram concurso, tenham sido aprovados ou não. É essa a pergunta que gostaria de ver respondida. A resolução revogada, por exemplo, dispõe sobre o número de ofícios para cada língua. Por exemplo, diz que haverá, para o inglês, 120 ofícios. Tendo sido revogada e, ao que eu tenha visto, não tendo sido substituída por outra, pergunta-se, então, quantos ofícios há, agora, para o inglês (e quem diz inglês, diz francês e as outras línguas)? Todos os aprovados serão nomeados? Vão mudar o quantitativo e nomear menos tradutores do que o necessário para chegar a 120? Antes da nomeação, vão escoimar do rol de TPICs os "suspensos" que já morreram? Coisas assim. Há outras perguntas, mas não quero me estender aqui.
Reitero que não sou TPIC e nunca prestei concurso, o que significa que nada ganho nada perco com a situação. Além disso, não faço traduções para serem juramentadas por terceiros. Nossa colega Tamara Barile, há anos, me lembrou que quando a tradução sai do meu computador, eu não sei o que vão fazer dela. Rigorosamente certa está a Tamara. Mas também é rigorosamente certo que, dada a natureza do que faço há anos e o que ganho pelo meu serviço, é de se duvidar que alguém queira juramentar o que traduzi.
Espero ter dirimido as eventuais dúvidas.

Concurso para Tradutor Público ("juramentado) no RJ - desregulamentaram a profissão?

Recebi este comentário durante a noite:
Caros colegas, acabei de descobrir na página da Jucerja que a mesma revogou, com a Deliberação 32/2009 de 6 de novembro (coincidentemente logo após a divulgação dos resultados da prova escrita do concurso) a Deliberação JUCERJA n.º 106, de 29 de outubro de 1998, que trata da regulamentação do ofício de Tradutor Público e Intérprete Comercial. Como interpretam isso? Não se trata de uma nova regulamentação revogando a velha. A regulamentação em si é que foi revogada.

Fui conferir e, e fato, a 32/2009, que se encontra aqui, revoga esta aqui  — sem substituir por nada. Uma coisa muito esquisita, de fato.

Alguém, por favor, me explica como é isso?

Agradeço ao comentarista anônimo e, realmente, do fundo do coração, espero que ele e eu estejamos enganados. Porque, no meu entendimento, desde 29 de outubro de 2009 e até que se publique nova regulamentação, não há regulamentação alguma sobre a profissão de Tradutor Público e Intérprete Comercial no Estado do Rio de Janeiro.

Agradeço muito a quem puder comentar ou agregar alguma informação. É de bons comentários que se faz um blogue útil à coletividade.

sábado, 14 de novembro de 2009

Cliente estrangeiro precisa de nota fiscal ou RPA?

Escreve a M.:

Meu nome é M., 32, e também sou tradutora. Li no seu site as informações sobre as formas de pagamento para quem traduz para o exterior e tenho uma dúvida: eu não emito nota, eu não tenho firma aberta. Caso seja possível trabalhar assim para uma agência no exterior, qual seria a melhor forma de receber o pagamento? Tenho tido dificuldades para encontrar informações, você poderia me ajudar?

Nota fisca e RPA só têm valor e sentido dentro do território Brasileiro. Jamais se enviam essas coisas para empresas estrangeiras. As empresas estrangeiras querem faturas como descrito aqui, embora cada uma delas tenha lá suas exigências e você deve estar preparada para que recusem a sua fatura e peçam uma emendada de acordo com o que eles precisam. Para elas, você é uma pessoa física e acabou. Podem, conforme o caso, pedir que você mande uma cópia de sua Declaração de IR, ou um documento da Receita Federal, declarando que você é contribuinte no Brasil.

Maravilha? De certo modo, sim. Mas trabalhar para agências estrangeiras ou quaisquer clientes no exterior tem três desvantagens:

1. Dada a taxa de câmbio atual, as taxas lá fora andam muito baixas. Há uns três anos, ganhar USD 0,15 por palavra era um sonho. Hoje, é bom, mas também não é essas maravilhas.

2. O risco de calote é muito maior. É muito difícil e caro acionar a lei para ir atrás de uma agência no exterior.

3. Você precisa trazer o dinheiro para cá, o que pode sair caro e demorar. Nem pense em pedir para mandar um cheque para descontar no doleiro da esquina.

E, finalmente, se você pensa que, com isso, se livra dos impostos, está muito enganada.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Reu Zulu

Estava falando mal da vida dos outros com minha amiga Ana Iaria, que mora na Inglaterra. Falávamos, entre outras coisas, de contaminação linguística, a apropriação indébita de termos e estruturas de uma língua estrangeira. Coisas como "aplicar para uma bolsa de estudos" e quejandos.  Vai além, muito além, dos tais falsos cognatos, para abarcar problemas de sintaxe, como a moça que disse "eu fui oferecida uma tradução" — porque achou que, se "I was offered a translation" era correto, "eu fui oferecida uma tradução" havia de ser também. Ou, ao menos, chique, demonstrando a todos que ela tinha feito intercâmbio, tendo morado em Podunk e tal.

Isso acontece muito em tradução, porque a língua estrangeira está lá presente o tempo todo e muito da formação do tradutor está em aprender a eliminar a contaminação.

Também acontece muito com o pessoal que vive lá fora, como a própria Ana Iaria, que tem que se policiar constantemente, para não trocar o português por anglunhês, como tantos fazem. Ainda outro dia, uma colega que mora nos EUA defendia um anglicismo bobo sob a alegação de que todos os brasileiros residentes lá usam. Achei melhor nem responder.

O curioso é, entretanto, as pessoas que usam essas coisas propositadamente, porque acham chique. É chique, por exemplo, em certas áreas do submundo acadêmico, usar anglicismos para lembrar à patuleia que o autor/locutor participa dos mais altos círculos profissionais, onde a língua é inglês, sendo que português é sabidamente língua de bugres.  A Ana me passou "tamanho dependente", que na verdade seria "dependente do tamanho". Porém a construção à moda inglesa cai de chiqueireza e esfrega no focinho dos que não são "insiders", que o autor ou estudou lá fora ou, ao menos, conhece alguém que estudou ou leu alguma coisa escrita em inglês, coisa assim. Quer dizer, o cara não é pouca porcaria, não! Está pensando o quê?

Se você reclamar, ele vai dizer que é a linguagem habitual da academia — arrastando o teu focinho na areia ainda mais um pouco, para ver se sangra.

A maioria dos caras que escrevem desse jeito sabe pouco inglês e, se soltos no meio dos gringos, faz feio. Outros, até que se viram bem. Mas jamais vão poder ocultar o fato de que são botocudos como nós outros. Lembram um pouco umas caricaturas em que os ingleses ridicularizavam o Rei dos Zulus, no século XIX, onde o potentado africano sempre aparecia descalço, vestindo um calção e depois casaca, gravata e cartola, mas sem camisa. Por mais que se paramentasse com um ou outro adorno europeu, jamais deixava de ser zulu. Não sei se as caricaturas retratavam a realidade, mas devem servir de exemplo para todos nós.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

E qual é o Plano B?

Fazendo uma pausa nos assuntos especificamente tradutórios, deixa falar um momento sobre o apagão. As explicações variam, inclusive movidas por fatores ideológicos. O governo afirma que foi um problema atmosférico, aquelas coisas que se chamam em inglês "acts of God", enquanto a oposição fala em "falha administrativa". Não vou discutir isso aqui, porque não é o lugar e não sou autoridade no assunto. Mas vou falar de algo que creio interessante para nós.

No meu entender, o problema não foi a falha do sistema de distribuição em si, mas sim a falha do Plano B. Quer dizer, o que a gente faz se falhar o sistema? O Plano B, se é que havia, ficou só no papel. Se existisse e funcionasse, a luz ia dar uma piscada e, no outro dia, o governo ia dizer, de peito cheio "deu pane na linha de distribuição, mas o sistema se re-estabeleceu em menos de um minuto". Não foi o que aconteceu.

Essas coisas sempre me fazem lembrar dois episódios terríveis na minha vida em que sofri muito pelo simples motivo de que não tinha um bom Plano B. Não estou aqui, agora, falando do governo, mas sim de nós tradutores. A pergunta é: qual é seu Plano B? Quer dizer, se isso que você está planejando não der certo, o que você vai fazer?

A maioria de nós devota todo seu tempo a polir o Plano A e nada ou quase nada ao Plano B. Ficamos empolgados, animadíssimos e esquecemos que pode dar certo o plano, como pode dar errado.

Se alguém nos alertar para a possibilidade de fracasso, imediatamente os venenos da superstição e do "pensamento positivo" se juntam para afastar a ideia nefasta: "Oh, cara, fica secando aí meus planos, vira essa boca para lá!", "Tem uma turma que só desanima", "Que é isso! Pensamento positivo! Deus vai ajudar que tudo vai dar certo!". Mas o fato é que, por mais confiança que tenhamos no Plano A, não podemos descuidar do Plano B e o Plano B, embora dê menos vantagens que o Plano A, é a nossa segurança.
Não podemos esperar o pior, mas temos que contar com a possibilidade de que o pior aconteça e estar preparados para ela. Que o exemplo sirva a todos nós. Quando estivermos empolgados com algum plano, lembrem-se do apagão e se perguntem "e qual é o Plano B?"

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Concurso para Tradutor Público ("juramentado) no Rio de Janeiro

Só uma breve atualização. Tem uma turma se mexendo, como seria de esperar. Essa turma discute muito e, para minha grande satisfação, as cabeças esfriam e a conversa se torna mais lógica. Não interessa a ninguém — nem sequer à JUCERJA, que poderia ser a maior beneficiária de uma grande confusão — que os reprovados se percam em oratória cabeça quente. É mais interessante para todos que se movimentem organizadamente, usando os recursos apropriados.

Por lealdade aos colegas, estou calando sobre certas informações que me foram dadas em confidência. Acho mais honesto ficar calado do que dar informações sobre os planos deles.

Mais uma vez, entretanto, recomendo: não hostilize os aprovados. Pode ter havido fraude, podem ter ocorrido mil coisas, mas isso não quer dizer que alguém mereça nossa hostilidade exclusivamente por ter sido aprovado no exame. Vamos aguardar. Minha impressão é que as possíveis injustiças vão ser sanadas.

Causo: O Dia em que Escapei de Boa

Houve uma época em que os bichos falavam, as galinhas tinham dentes e eu fazia tradução intermitente, na área de negócios, acredite se quiser. Mas, início de carreira, a gente faz de tudo e se acha o maioral.
Um dia, fui chamado para discutir uma participação num encontro. A promotora era uma pequena firma de auditoria, com mais pretensões do que fundos. Chegando lá, não demorou para perceber que não ia dar certo. Logo na recepção, havia um quadro com uma lista completa das outras firmas que faziam a glória do grupo no mundo todo e uma delas ficava na "Ilha do Homem". Apavorei. O dono sofria de logorreia desenfreada e falava sem parar. Além disso, sendo um tanto surdo, falava aos berros. Tinha convidado um amigo para me testar e o amigo sabia menos inglês do que eu, se é que sabia alguma coisa. Era brabo.
Depois das amenidades consuetudinárias, uma introdução de meia hora sobre a glória do grupo e da conferência de que eu ia ter a felicidade única de participar, fui informado que haveria, além dos americanos e ingleses, uns tantos hispanófonos.
A presença de três línguas exige simultânea pura, que eu não faço. Expliquei isso e expliquei que poderia recomendar colegas que fizessem. Como, para piorar, era uma reunião de dia inteiro (ao contrário do que me tinham informado) eram quatro profissionais por cabine, oito ao todo, mais o aluguel do equipamento. Fora de propósito, claro, porque o grupo estava em uma fase transitória de alguma contenção nas despesas, mas isso não é problema meu.
O cara insistiu que eu devia fazer uma tradução inglês-portunhol. Recusei. Para tudo há um limite. Acabou ali a conversa. Ele disse que ele próprio faria a interpretação. Consegui ficar com a boca fechada. Agradeci, me despedi, saí, tomei um café num bar próximo, para estabilizar o estômago e voltei para a casa. Começo de carreira, pouco serviço, um serviço perdido era algo de muito importante. Paciência.
Depois, soube do resultado, por conhecidos comuns.
A reunião se deu na própria firma. Como o dono sofria de logorreia desenfreada e, além de tudo, se viu na posição de participante e intérprete, teve uma apoteose mental pirotécnica e, nas raras ocasiões em que deixava alguém falar, na hora de traduzir, comentava, analisava, agregava,  retrucava. No meio da reunião, alguém cometeu o erro de protestar, o que agravou ainda mais a situação, porque a resposta dele foi altíssona, grandíloqua e sesquipedal e a tradução foi pior ainda. Para coroar, o inglês do cara era uma miséria do cão.
Em suma, escapei de boa.
Obrigado pela visita e até amanhã, quando posto coisas sérias de novo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O concurso da JUCERJA e outros para TPIC III

Embora pareça que muita gente capacitada tenha sido reprovada, nem em particular nem em público vi alguém alegando que os aprovados no RJ eram incapazes (mas surgiu uma acusação desse tipo em outro estado — a ver se consigo apurar alguma coisa fundamentada, para postar aqui). Portanto, salvo melhor juízo, continua válida a recomendação de não hostilizar os aprovados. Se houvesse um caso de suborno envolvido, teriam sido aprovados alguns incapazes também. Pouco posso dizer sobre a capacidade dos candidatos, porque, embora conheça vários deles pessoalmente, nunca vi o trabalho deles.
Mas é interessante, muito interessante, a quantidade bárbara de reprovações e um resultado que, do ponto de vista estatístico, é totalmente anômalo, ponto abordado pelo nosso colega Erik Borten em uma mensagem brilhante à trad-prt. Já escrevi a ele pedindo permissão para usar aqui, mas ainda não obtive resposta.
Por outro lado, tenho a satisfação de reproduzir, com a devida permissão, uma mensagem da nossa colega Sheyla Barretto de Carvalho, que me pareceu equilibrada e inteligente.
Prezados colegas,
Apesar de inconformada com as notas que me foram atribuídas na prova para tradutor público, desejo esclarecer que credito o resultado do concurso a erro no formato adotado para a correção das provas, não necessariamente à fraude.
Posso parecer ingênua ao afirmar isso, porém, conheço há anos alguns dos profissionais aprovados (como Adriana Rieche, Fernanda Mathias, colegas minhas na PUC-RJ, Patricia Tate e Adriana Schwartz no idioma inglês; Annie Cambe no idioma francês) e sei que são todos merecedores da aprovação recebida.
Acredito que o professor César Cardoso é competente o bastante para receber aprovação, independentemente de ser colega de membro da banca examinadora.
Conheço também Leonardo Morais e sei que há muito tempo atua na área de tradução, portanto, prefiro acreditar que tenha sido aprovado por merecimento.
A impressão que tenho é que distribuíram as provas do concurso para diferentes avaliadores e a maioria deles não soube aplicar as regras de correção recomendáveis para provas de tradução/versão.
Não está autorizado o uso do meu nome em emails como aquele divulgado recentemente por uma "Comissão": acusatório, sem assinatura e cuja opinião é divergente da minha.
Tenho plena confiança na minha capacidade como profissional da área de tradução/interpretação, construída ao longo de uma carreira bem-sucedida de quase 20 anos de muito trabalho e dedicação e da qual muito me orgulho, mas desejo me solidarizar com aqueles cuja confiança possa ter sido abalada pelo resultado do concurso.
As aprovações podem ter sido justas, no entanto, as reprovações, em grande parte, certamente não o foram.
Atenciosamente,
Sheyla Barretto de Carvalho
Tradutora-Intérprete
Sócia-Fundadora do Brasillis
membro da Abrates, da ATA, do Sintra
membro da OAB-RJ
membro do CRA-RJ

domingo, 8 de novembro de 2009

O concurso da JUCERJA e outros para TPIC

Estou recebendo, além dos comentários que você vê aí abaixo, umas quantas mensagens particulares de amigos que prestaram o concurso e que me mandam informações interessantes, mas pedindo que eu as divulgue mascaradas, de modo a lhes proteger a identidade.
Uma delas vem de uma pessoa que afirma ter prestado o concurso de boa-fé, não ter subornado ninguém, não saber de antemão o que ia cair, tendo recebido a aprovação com base exclusivamente em seu trabalho. Queixa-se de estar sofrendo hostilidade por parte de colegas reprovados. Conhecendo o remetente, acredito que tenha agido de boa-fé no concurso, conhecendo o mundo, sei o que quer dizer com "hostilizado", porque eu próprio sou alvo de muita hostilidade, às vezes aberta, às vezes encoberta — e olha que não fui aprovado em concurso algum. Pode ser muito irritante ou muito divertido, conforme o estado de ânimo do momento. Mas o colega que me escreveu, que queria comemorar a vitória, ficou frustradíssimo com as alfinetadas recebidas. Não será o único. O hábito do perdedor hostilizar o vencedor é tão velho quanto desprezível.
Longe de mim dizer que o tal do concurso foi bem conduzido: quanto mais sei sobre ele, mais sei que foi uma vergonha. Vou voltar ao assunto várias vezes, até que, de um modo ou de outro, se esgote. Entretanto, a conclusão de que todos os aprovados conseguiram passar por ter agido de maneira criminosa, via subornos, apadrinhamentos ou coisa pior ainda, me parece um erro. Não vamos agora, sem prova alguma, por mera suspeita, acusar de desonesto o colega que antes tínhamos por amigo e honesto. Há que investigar e a grita é forte, o que deve forçar a uma investigação. Talvez, inclusive, incluindo uns casos estranhos havidos em pelo menos mais um concurso para TPIC e mais umas coisinhas. Lamentavelmente, esta foi uma semana corrida demais e não pude agitar as coisas; a semana que vem, espero, será melhor.
De uma coisa, creio, podemos ter certeza: na raiz do problema está um ponto levantado pelo nosso colega José Henrique Lammensdorf, que é TPIC em SP e que não prestou o concurso no RJ. Ele lembra que os TPICs são um peso morto para as Juntas Comerciais. TPIC recolhe ISS ao município, ao passo que as JUCs são estaduais. Em todos os Estados, o interesse da JUC pelo que quer que aconteça com a Tradução Pública é extremamente limitado. Fazem o que não podem evitar fazer.
Mas sobre isso, volto a falar amanhã.

Você está de acordo com isto?

Você está de acordo com isto?
Denise Bottmann, agitando, como sempre, está fazendo uma proposta interessante e precisa do nosso apoio. Leia a proposta e, se, como eu, estiver de acordo, clique aqui  , para manifestar seu apoio.
LICENCIAMENTO DE OBRAS DE TRADUÇÃO ESGOTADAS

Os plágios de tradução de grandes obras da literatura e do pensamento universal constituem uma negra mancha na história do livro no Brasil. O recurso a tal prática teve um grande impulso sobretudo a partir de 1998. A principal característica comum à grande maioria de tais ilícitos é o uso fraudado de traduções antigas, geralmente esgotadas e que ainda não entraram em domínio público.

Por um lado, uma grande e necessária retificação da atual lei 9.610/98 seria a autorização para o licenciamento em curto prazo de obras esgotadas para reprodução sem fins comerciais, sob a forma de reprografia e digitalização para uso privado, para o ensino e para os acervos de bibliotecas públicas.
Por outro lado, cremos que, além desta flexibilização que atende ao premente direito social de acesso a obras esgotadas e abandonadas, seria da máxima importância prever igualmente um dispositivo legal autorizando a livre reprodução dessas obras de tradução também em formato de livro, sempre respeitados os direitos inalienáveis de seus autores e a cadeia dos direitos prévios eventualmente vigentes.
Assim, sugerimos que, decorridos 20 (vinte) anos após a última edição da obra, ela possa ser novamente disponibilizada à sociedade como livro impresso, pelos circuitos tradicionais de publicação e distribuição.
Tal proposta não fere as regras dos tratados internacionais sobre propriedade intelectual e está em consonância com as condições previstas no Anexo da Convenção de Berna, pois se trata de caso especial, que não conflita com a exploração normal e tampouco prejudica os interesses legítimos do titular.
Cremos que todos terão a ganhar: os cidadãos leitores que poderão dispor de obras até então esgotadas, seus autores assim resgatados do esquecimento, os editores que poderão publicar tais obras e os livreiros que poderão fazê-las chegar aos leitores.
Toda a sociedade poderá assim ter garantias de preservar ativamente sua memória cultural, permitindo a sobrevivência íntegra de importantes obras de tradução que compõem nossa história.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Concurso para Tradutor Público ("juramentado) no Rio de Janeiro

Estão girando pela Web mensagens iradas sobre os concursos para TPIC recentemente promovidos no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. Para dizer a verdade, eu já esperava. É sempre assim: quem passa, elogia o concurso; quem não passa sempre encontra um advogado pronto a jurar que um mandado de segurança garante a nomeação e é "causa ganha". Isso faz parte da vida e da própria cultura brasileira. Tapetão está aí para ser puxado, como todos sabem.

Mas parece que, desta vez, a coisa foi feia. Vou me deter aqui somente em um ponto do concurso do Rio: segundo se diz — e eu ainda não tive como apurar a origem da denúncia — foi usado um gabarito de correção. Ou seja, para cada texto, haveria uma "tradução padrão" e os desvios dessa tradução teriam sido punidos com descontos de pontos. Se isso aconteceu, foi um crime. Não sei como a lei tipificaria esse desatino, mas foi um crime hediondo que vai deixar uma mancha, uma grande nódoa na reputação de quem o cometeu.

Só cabe gabarito em teste de múltipla escolha e os exames da JUCERJA não foram testes de múltipla escolha nem cabe esse tipo de avaliação em exame de tradução. Só isso desqualifica completamente o concurso, aos meus olhos.

Sei de uma pessoa que foi aprovada e sei que é profissional séria e competente. Conheço muitos dos reprovados e fico me perguntando o que terão feito para merecerem a reprovação, porque são gente conceituadíssima. Em qualquer concurso, sempre há uns tantos "conceituados reprovados", ou porque estavam em mau dia, ou porque gozavam de conceito imerecido. Parece, entretanto, que o número de reprovações de gente conhecida e respeitada na primeira fase do teste excede o que se poderia esperar.

Quer dizer, há algo errado, muito errado. As informações estão pipocando de cá e lá e ainda é cedo para termos certeza de alguma coisa. Mas, ao menos, essa história do gabarito precisa ser tirada muito a limpo. Por primorosa que seja a tradução do gabarito, o sistema é absurdo.

Ainda devo voltar ao assunto muitas vezes, talvez menos do que ele mereça.

Post scriptum: mal tinha publicado este artigo, me escreveu um colega que diz que as coisas não são bem assim. Não pode dar detalhes agora e pede que eu nome seja mantido em segredo. Diz que vai escrever mais  tarde e, sendo quem é, tenho certeza de que não vai faltar. Vamos ver o que acontece. Estou adicionando este PS para deixar as coisas tão claras quanto possível.  



A ideia é publicar mesmo os comentários anônimos, desde que estejam dentro do que eu próprio considerar os limites da seriedade. 




segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Epitáfio para um Tradutor

Sendo hoje o dia de finados, acho apropriado postar o "Epitáfio para um tradutor", escrito por nosso colega Hugh Keith (a quem agradeço a permissão para republicar), com a minha capenguíssima tradução. Quem sabe você tem uma tradução melhor?

The body of xx, translator
(Like a battered hard disk
Its contents gone forever)
Lies here
Fit only for consignment to the rubbish bin
The labour of decades
Happily erased from memory
Lest the errors and infelicities
Of over-hasty completion
Return to haunt him


O corpo de Fulano de Tal, tradutor, jaz aqui (como se fora um HD velho, seu conteúdo para sempre perdido), próprio somente para o lixo.
Os lavores de décadas afortunadamente apagados da memória, para que os erros e infelicidades de uma entrega por demais apressada não voltem para assombrá-lo.

domingo, 1 de novembro de 2009

Principiantes e aventureiros.

É preciso aprender a distinguir principiantes de aventureiros. O principiante se esforça e pede ajuda quanto não tem mais onde procurar. O aventureiro é um vagabundo folgado que posta na Internet todos os termos cuja tradução não lhe vem à cabeça imediatamente, para ver se algum palmípide responde, poupando-lhe o trabalho de abrir um dicionário.

Quem ajuda um principiante está ajudando à profissão como um todo: o principiante de hoje é o colega de amanhã, alguém que vai contribuir para a melhora geral de nossa vida, que nos vai ajudar a resolver um problema.

O aventureiro, ao contrário, jamais vai deixar de ser um peso morto.

Não entendo, nunca entendi, talvez nunca venha a entender, como certos colegas passam a mãozinha na cabeça desses chupins.

Desculpe o desabafo. Mas tem dias que ferve o sangue. Um dos motivos por que me afastei de tantos grupos de tradutores. Porque nessa hora me dá uma vontade, de dizer "oh, meu, escuta, por que você não vai se roçar nas ostras?" como dizia a turma do Pasquin. E, muitas vezes, eu não conseguia resistir. Aí, vinham as acusações de falta de coleguismo, falta de apoio aos principiantes, arrogância de veterano e mais o escambau.