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sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Mensagem de Natal e Ano Novo

Não poderia faltar, não é? Escrevi o texto abaixo há muitos anos, como mensagem de natal para os colegas da trad-prt. Esqueci dele, até que me pediram permissão para publicar no PLData, o boletim da Divisão de Língua Portuguesa da ATA. Com duas ou três pequenas mudanças, republico aqui. São memórias de minha infância, coisas que eram verdade para mim entre 1948 e 1950, quando eu morava no Brás, um bairo pobre de São Paulo.

Meu mundo praticamente se restringia a uma quadra da Rua Campos Sales, entre Aristides Lobo e Martin Burchard, somada à casa de alguns parentes e ao Liceu Vera Cruz, na rua Piratininga. Éramos todos católicos, evidentemente. Minha mãe, até morrer, considerava o catolicismo como “a religião” e se referia a quem não fosse católico dizendo que “não é religioso”. Claro, tinha os protestantes, mas esses protestavam contra não sei o quê, os padres deles não se chamavam “padres” e ainda por cima se casavam, o que me parecia certo, mas era pecado, como o Padre Jesuíno ensinava no catecismo, mas protestante só tinha nos Estados Unidos. A dona Elvira freqüentava centro espírita, mas isso, na época, não era não ser católico: todo mundo era catolico e ela também. Espiritismo era um pouco de pimenta malagueta que a gente botava no catolicismo. Uns botavam sempre, outros só quando a situação parecia mais preta e exigia, digamos, remédios heróicos. Mas ir ao centro espírita não descaracterizava ninguém de católico.

Tinha também os turcos que não acreditavam em Deus mas tinham lá o deus deles, que se chamava Alá e tinha até uma música de carnaval meio antiga que falava dele. Mas turco só tinha em fita de cinema e eles eram diferentes, usavam camisola e turbante. Tinha também os judeus, mas esses só apareciam naquele filme terrível e horrível chamado o Rei dos Reis que passava na sexta-feira santa no Ideal, um cinema que tinha mais pulgas que espectadores e minha mãe me levava para ver e eu odiava porque era mal feito e chato. Só tinha um pedaço bom que era uma grossa pancadaria na frente duma igreja muito grande. Que Roy Rogers era bem melhor, lá isso era, mas na semana santa era pecado, então não tinha. Mas judeu também era um tipo de turco que também usava camisola e eu nunca tinha visto nenhum desses no Brás. Na verdade, judeu e turco só tinha mesmo no cinema e todo mundo sabe que cinema é tudo de mentirinha: tanto que a gente vê o filme de novo e o cara que tinha morrido tá vivo e dando tiro de montão. Então a gente, nesta época do ano, desejava feliz natal e feliz ano novo para todo mundo. E todo mundo ficava satisfeito. Não fazer isso era prova de grossa falta de educação.

Agora, mudou tudo e eu já não sei o que fazer. Uma porção de gente que eu conheço e de quem gosto não é católica. Eu mesmo me afastei da igreja há mais de 40 anos. Desejar feliz natal para judeu e islâmico é falta de cortesia e não é PC, apesar de que muitos dos meus amigos judeus acham graça e, piscando o olho, respondem com um sorriso quando se lhes pergunta qual o seu nome de batismo. Alguns dos meus vizinhos e meu carteiro são da Assembléia de Deus, que não comemora Natal, significando, entre outras coisas, que o Luis, que fielmente nos entrega montes de correspondência, jamais pede caixinha e a gente nunca sabe se, em dando, ofende o homem. Vida complicada, esta.

Então, a gente começa a desejar feliz ano novo. Mas os judeus têm seu próprio ano novo, os muçulmanos o deles e os chineses também – sem contar que os russos começam o deles algo mais tarde do que os ocidentais, pelo que são alvo de inúmeras piadas. O Maluf e tantos dos meus vizinhos do Paraíso eram melquitas. Alguém sabe quando os melquitas comemoram natal, se é que o comemoram? Que fazem um bom quibe, isso fazem. Lá sei eu como anda o ano novo dos armênios e dos eslobóvios, quando não seja por alguma tribo indígena obscura que tenha virado ícone da preservação cultural e para a qual tenham inventado algum festival de que os membros mais velhos da tribo, guardiões da tradição, nunca tenham ouvido falar. É uma seca isto, como dizia o Eça. Tem até uns exageros que me parecem demais. Conta-se do padre de Nanuque que se benzia dizendo “Em nome do Pai, do filho e de Minas Gerais”. Não sei se é verdade, mas é uma boa história. Chegamos ao amargo ponto em que desejar felicidades a alguém pode ser uma ofensa. Eu próprio acho que esse negócio de Natal e ano novo não tem nada a ver: a vida continua do mesmo jeito. E para mim, Natal ou João Pessoa é tudo o mesmo. Mas é como o domingo: eu não acho sagrado coisa nenhuma, mas se a gente tem de escolher um dia para descansar (ou cobrar taxa de urgência), então que seja o domingo. Não idolatro tradições, mas também não vejo motivo para acabar com elas a cacetadas só por serem tradições. Por isso, chega esta época do ano e a gente deseja felicidades aos amigos, mesmo aos que caírem de pau em cima de mim por algum incorreção política encontrada nesta mensagem.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

O tradutor e a globalização (2)

Este artigo é a continuação do anterior e faz parte de uma série que vai se estender ainda por alguns dias.

No princípio, a gente se atrapalha. Estamos tão acostumados a trabalhar pelo sistema brasileiro que muitas vezes pensamos que é o único sistema que existe, que em todo mundo é do mesmo jeito. Não, não é.

Talvez a primeira coisa a lembrar seja que os modos de medir o trabalho variam muito de um país para outro e que a praxe é cotar usando o método do cliente. Se o cliente pede uma cotação por palavra do original, não adianta cotar por lauda e adicionar uma longa explicação sobre o que possa eventualmente significar uma lauda, se é que alguém sabe direito.

Em seguida, é bom lembrar que, no mercado da América do Norte e Europa Ocidental, de modo geral cada um traduz para sua própria língua. Nesses mercados, é raríssimo alguém solicitar um trabalho do que aqui se chama "versão". Mesmo que você se considere muito bom de traduzir para o inglês, é melhor não oferecer o serviço, que pode pegar mal. Se oferecerem para você, a conversa é outra. Na China e na Índia a situação é diferente e uma agência chinesa é perfeitamente capaz de pedir a um tradutor brasileiro que traduza do turco para o búlgaro. O que a maioria delas quer é pagar pouco, só isso. Também é bom, antes de aceitar o serviço, ver se eles querem português europeu ou brasileiro.

Gostaria de falar agora um pouco sobre a importância do pedido para clientes estrangeiros, mas estou cansado demais para isso. Amanhã tem mais.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

O tradutor e a globalização

Este é o primeiro de uma série de artigos sobre a globalização de nosso mercado. Antigamente, o mercado era a cidade onde o tradutor morava. Raros, muito raros, eram os tradutores que tinham clientes em outra cidade. Na prática, havia tradutores em São Paulo e Rio. Esporadicamente em outras grandes metrópoles nacionais, como Porto Alegre e Belo Horizonte. Em Porto Alegre houve uma fase brilhante, na velha Globo da Rua da Praia, com Henrique Bertaso delegando a Erico Veríssimo a tarefa de fazer da intelectualidade porto-alegrense um grupo de grandes tradutores. Mas eram as exceções que confirmam a regra.

Fora do eixo São Paulo – Rio de Janeiro sempre houve os juramentados. Um que outro professor que fazia as vezes de tradutor quando necessário. Mas mesmo nos grandes centros, poucos eram os que viviam exclusivamente da tradução.

Em 1983, a Faculdade Ibero-americana (esse era o nome na época) promoveu um seminário de tradução e foi então que fiz minha primeira palestra sobre a profissão. Causei grande surpresa ao dizer a todos que vivia exclusivamente de tradução sem ser juramentado, sem ter vínculo empregatício com empresa alguma, sem ser intérprete, sem repassar serviço ao que eufemisticamente se chamava “colaboradores” e viver de comissões e, reforço, sem ter qualquer outra fonte de renda. Não era professor, jornalista, diplomata, aposentado nem tinha marido ou pai que me sustentassem. Era, simplesmente, um tradutor profissional. E já naquela época não trabalhava mais para editoras. E nunca tinha traduzido uma linha de literatura na vida. Um fenômeno.

Hoje há profissionais aos montes: não são poucas as mulheres e homens que sustentam família a custa de traduzir. Além disso, há profissionais espalhados por todo Brasil, muitos deles atendendo uma demanda local que cresceu muito, outros atendendo a demanda nacional e mesmo internacional, via Internet. Conheço um colega que mora no interior de São Paulo e não tem firma nem registro como autônomo, porque atende exclusivamente clientes no exterior, para os quais nada disso é necessário. Não há de ser o único.

Ele, como eu e muitos outros, reside na Internet. Seus clientes sabem que ele mora no Brasil, mas não fazem idéia de em que lugar fica a cidade onde ele mora nem estão interessados em fazer.

É desse mercado que vou falar com você nos próximos dias, talvez com alguma interrupção, para não ficar monótono. Por hoje, entretanto, é só. Este foi o primeiro artigo que escrevi sem óculos, tarefa que, até agora, me parecia impossível. Não esperava tanto da cirurgia de catarata. Até amanhã.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Tabelas, pisos, aviltamentos, etc.

No meio da conversa, sempre tem alguém que fale de preços e, aí, a conversa pega fogo.

O consenso geral é que nossas taxas estão defasadas em aproximadamente trinta por cento. Faça o teste num grupo de tradutores: proponha que deveríamos ganhar uns 30% a mais e veja como a maioria vai concordar. Trinta por cento é um valor mágico: a maioria acha "o justo".

Sempre tem alguém que vai falar numa tabela, num mínimo que nos obrigaria a todos. A maioria também vai concordar que isso seria ótimo. A maioria já perdeu serviços porque apareceu alguém cobrando a metade do preço deles e seria bom acabar com essa prática destrutiva.

Ficam todos felizes, satisfeitos: é uma excelente idéia. Mas a felicidade termina quando se tenta dizer qual é esse mínimo. Cada um pensa em um valor, digamos, 10% abaixo do que estão cobrando agora. Assim, não vai vir safado nenhum cobrar metade e pegar o serviço. Se cobrar 10% a menos, sempre dá para arranjar um desconto e ainda sobreviver.

Mas acontece que, como os preços variam muito de tradutor para tradutor, o mínimo que serve para uns pode ser irrisório para outros e inalcançável para outros. Então, aparece uma turma dizendo vocês não entenderam, é um piso, quer dizer, quem quiser e puder cobrar mais, que cobre. Tudo bem, mas como é que eu vou explicar para o meu cliente que meu preço é o triplo do piso? Bom, esse é o meu problema, claro, eles não tem nada com isso, que o coleguismo só chega ao exigir um aumento dos que cobram menos que eles e lhes roubam serviço. Quando eles pegam um serviço, cobrando metade do que eu pedi, isso se chama… se chama como?

Mas a turma que cobra mais procura forçar o piso para cima, porque se é para ter piso baixo, então não adianta ter piso.

É mais ou menos nessa hora que a discussão azeda e a turma começa a se desinteressar da conversa. Mas a conversa não morre de todo. Mais dia, menos dia, ressurge, igualzinha ao que foi na vez passada.

Por hoje, é só. Amanhã tem mais. Não esqueci da história de trabalhar para o exterior e receber de clientes de fora. Mas ainda vai ter de esperar um dia ou dois.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Vida de tradutor

Ontem, pela primeira vez desde que criei o blog, deixei de postar. Espero que isso não ocorra de novo. O fato é que sábado fui operar a primeira catarata. Postei de manhã, fiz a cirurgia de tarde. Foi tudo bem, mas fiquei meio baleado. No domingo, achei que o computador, eu e – por que não dizer? – també você, todos mereciam um descanso. Volto hoje.

Isso me lembra que um dos problemas mais graves dos tradutores independentes é ficar preparado para os “imprevistos”. “Preparar-se para os imprevistos” é autocontraditório, mas não deixa de ser uma necessidade. Pagar convênio do próprio bolso, recolher INSS pontualmente, coisas que eu nem sempre fiz, mas deveria ter feito. Tenho um bom seguro de vida e invalidez, mas, cretinamente, rejeitei a opção que me indenizava por dias parados por motivo de doença. Em mais de 35 anos, nunca precisei, mas outro dia encontrei um colega que ficou seis meses de molho e está agora numa encrenca dos diabos. Vai sair dela, tenho certeza, porque é um sujeito valente. Mas vai suar frio.

Cuide-se. As doenças atacam de emboscada, nas horas menos esperadas e a idade corre. Quando menos esperar, você está à beira da aposentadoria. Quer dizer, se tiver recolhido INSS, claro.

Antes de acabar, uma palavrinha para o Ricardo, que, num comentário aí abaixo, sugeriu que eu falasse sobre receber dinheiro do exterior. Entre amanhã e depois, iniciou uma breve série sobre o assunto.

Por hoje, é só. Amanhã tem mais.

sábado, 16 de dezembro de 2006

De quantas horas você vai precisar? (2)

Um dos fatos que é bom ter em mente, nessas discussões com clientes, é que há uma diferença entre trabalhar com vínculo empregatício e sem ele. Se você não tem vínculo empregatício, quer dizer, não tem carteira assinada, ninguém tem nada que saber quanto você ganha – exceto o imposto de renda. Muita petulância querer ficar fazendo continhas para saber quanto eu vou ganhar por hora ou por mês ou o que seja.

Se o cliente achar alto seu preço, tem toda a liberdade de procurar quem cobre menos. Vai encontrar: não importa o que você cobrar, sempre tem quem cobre menos. Cabe a ele decidir se vai entregar o serviço a você ou ao outro. Mas não lhe cabe o direito de saber quanto você ganha. Não é da conta dele e pronto.

É necessário fazer pé firme nessas horas. Eu disse que o número de horas é confidencial e não contei, nem dei uma idéia, nem dei uma dica, nem passei por cima. Boca de siri.

Meu único comentário foi a propósito da afirmação de que o cliente precisava de um parâmetro para comparação: digamos que o tradutor médio faça esse serviço em dez horas e eu, pela minha experiência, habilidade e vivência de tradução e do assunto, faça em cinco. Você acha que, fazendo em menos tempo, eu devo cobrar menos pelo trabalho do que cobraria o tradutor mais lento e ser punido pela minha eficiência?

A conversa ficou por aí, assim como a nossa, por hoje, fica por aqui. Volte amanhã, que tem mais. A semana que vem, vai sair a agenda de cursos e palestras a distância pela Aulavox, inclusive a Reunião na Sala 7, que é grátis. Mas grátis de verdade: não fazemos coleta, não passamos rifa, não cobramos dízimo, não pedimos nem aceitamos doações. Todos são bem-vindos, não importa onde morem ou seu grau de experiência.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

De quantas horas você vai precisar?

Temos muitos colegas que brigam por unidades de medição do trabalho: cobram por, digamos, lauda e ficam furiosos se o cleinte quer pagar por palavra do original. Tenho uma abordagem diferente: deixo o cliente definir a unidade de medição (lauda, toque, palavra do original, Normzeile, o que diabo seja) e ajusto minha tarifa como necessário. Já, inclusive, falei disso aqui.

Para clientes finais, muitas vezes coto preço fechado. Faço lá minhas contas e digo, "para traduzir o docuemnto X, tantos reais". Agências não gostam desse tipo de cotação, mas os clientes finais muitas vezes preferem. Alguns deles acham que, assim, obtêm um preço mais baixo, o que, no meu caso, não é verdade.

Às vezes, quando é difícil quantificar o trabalho, a gente faz um acerto que, no fundo, é o mesmo do preço fechado: combina-se um tanto por hora, mas com um limite de umas tantas horas. Quer dizer, se eu me comprometo a fazer um serviço a USD 50 por hora e não exceder 4 horas, estou, evidentemente, cobrando um máximo de USD 200 por ele. É, na verdade, um preço fechado, porque a gente acaba semre cobrando o máximo.

Mas um dia, depois de eu cotar um preço fechado, o cliente me perguntou de quantas horas eu iria precisar. Num instante, percebi qual era o objetivo: dizer que meu preço por hora era alto e que eu tinha de dar um desconto. Sabe aquela história do "por esse preço por hora, vou ser tradutor também"?

Então disse que esse dado era confidencial e nada me demoveu da posição. Um absurdo.

Ele argumentou mil coisas, que era praxe da própria firma dele cotar por número de horas (verdade, mas mentiam adoidado), que ele precisava de um parâmetro de comparação com o preço dos meus concorrentes (já tinha: era o preço fechado) e mais um trololó sem fim. Mas não cedi. Se ele queria um preço por hora, deveria ter pedido antes.

Amanhã, voltamos ao assunto. Por hoje é só.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Sorte, máfia, QI (3)

Este é o terceiro e último artigo sobre este assunto, pelo menos por enquanto.

Talvez para encerrar, acho importante dizer que apresentar-se nos grupos, dizer o que estudou, onde trabalhou, que programas sabe usar, que assuntos conhece.

Tudo isso é importante e útil. O que pega mal é pedinchar serviço. Coisas do tipo pessoal, vê se alguem aí pode me arranjar alguma coisa, que a situação anda preta aqui. Cria um constrangimento imediato. Na verdade, ninguém pode inventar serviço para você porque você está precisando. Podem, evidentemente, lembrar de você se acharem que você é a pessoa certa para um determinado serviço.

Também pega mal dizer algo do tipo estou querendo entrar na área X, mas a máfia fechou a porta. Primeiro, porque ninguém pode fechar a porta para você. Segundo, porque um dos circunstantes pode estar exatamente naquela área e se sentir ofendido.

Mas não deixe de aparecer, de se apresentar, de deixar seu cartãozinho de visitas. Como eu sempre digo, moça bonita que põe vestido bonito e fica trancada no quarto com a janela fechada não arranja namorado.

Chega deste assunto, pelo menos por agora. Amanhã, falamos de outra coisa.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Sorte, máfia, QI (2)

Continuando o artigo de ontem, acho que agora temos de distinguir “QI” (quem indica) de “propaganda boca-a-boca”. Propaganda boca-a-boca é quando alguém me indica para um serviço, em justo reconhecimento de minhas qualidades. QI é quando algum dos meus concorrentes é recomendado por um dos seus cumpinhchas.

O fato é que muito serviço de tradução passa de mão em mão com base em informações particulares. Muitas vezes, de tradutor em tradutor. Por exemplo, um laboratório farmacêutico tem confiança em seu tradutor de muitos anos, mas sabe que ele só mexe com medicina, jamais com jurídico. Lá pelas tantas, precisa da tradução de uns contratos e pergunta ao seu tradutor se pode recomendar alguém. Ou um tradutor qualquer se vê assoberbado de serviço e procura, entre seus colegas, quem possa ajudar no aperto. Ou uma agência pega um serviço grande e precisa de mais gente e lança um aviso geral de que está procurando quem saiba mexer com Trados. Ou um sujeito, num boteco está reclamando que a firma dele precisa de um tradutor e o teu primo lembra que você se diplomou e está aí, vendo se consegue se firmar na vida. Coisas desse tipo.

Acontece muito, não porque os veteranos mantenham o mercado na rédea curta: nem teriam como, mesmo que quisessem. Mas acontece que o nosso mercado, formado de milhares de prestadores de serviço independentes, funciona mesmo assim.

No primeiro congresso de Tradutores a que compareci, conheci a Waldívia Marchiori Portinho, tradutora porto-alegrense atualmente residindo no Rio de Janeiro e grande líder da profissão, que disse “a maior fonte de trabalho são os colegas". Quando ouvi isso, lá para 1972 ou 1973, achei que ela tinha ficado doida. O tempo me mostrou que ela estava certíssima.

Por hoje é só. Amanhã ainda falamos um pouco disso. Parece ser um assunto interessante.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Sorte, máfia, QI

Quando alguém pergunta como entrar no mercado de tradução, sempre há alguém que reclame que o mercado é dominado por uma máfia, que é necessário ter muita sorte para entrar e que o QI vale mais que qualquer outra qualidade.

No meu tempo de iniciante, ninguém falava em máfia, mas se falava de "igrejinha" e "panelinha"; em vez de “QI”, falava-se em “cartucho”, mas, no fundo, dá no mesmo: a linguagem mudou, as idéias continuaram as mesmas. Quando comecei, me deram a revoltante informação de que a tradução era apanágio de meia dúzia de velhinhos sebosos que não deixavam os jovens entrar. Agora, que eu faço parte integrante do grupo dos velhinhos sebosos, quando a gente se encontra, um dos assuntos é a revolta perante essa molecada que ainda ontem usava cueiros e tenta forçar a entrada no mercado a toda força, aceitando, inclusive, preços vis e prazos absurdos. Assim é a vida: muito depende do lado do muro em que você está.

Fala-se muito na necessidade de sorte para entrar no mercado. É verdade, quem não tem sorte não vai longe na vida e quem tem azar, então, está perdido. Mas não adianta apenas ter sorte. É necessário estar preparado para a hora em que a deusa Fortuna passa cavalgando se corcel e agarrar a madame pelo cabelo com toda a força. Não adianta a sorte toda do mundo se você não só souber usar o computador para entrar em chat e se tiver feito faculdade sentado na mesa do boteco da esquina. Também não adianta se você não pesquisar e revisar sua primeira tradução ao menos sete vezes antes de entregar ao cliente ou se entregar fora do prazo. Coisas assim.

Quanto à máfia, se você faz absoluta questão de ser tradutora de poesia, vai descobrir que o número total de livros de poesia traduzidos no Brasil em um ano deve ser inferior a uma dúzia (em outros países é menos ainda) e há menos de meia dúzia de tradutores de poesia em atividade no país, gente cujo nome vende livro e, por isso, são os preferidos dos editores. Haverá mais um ou outro nicho desses, onde é dificílimo entrar. Mas, fora disso, tem tradução a dar com pau, num mercado altamente diversificado e globalizado, que não é controlado por ninguém.

Com meus 35 anos de mercado, não controlo coisa alguma e não acredito que alguém controle. Por mais que eu quisesse impedir que alguém entrasse no mercado, não teria como.

Do “QI” falamos amanhã. Por hoje é só.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Tradutor com "T"

Sou tradutor. Sou tradutor porque gosto de traduzir. Gosto de traduzir e pronto. A roda da fortuna fez de mim um especialista em contabilidade e finanças, mas, quando comecei, não entendia nada dessas coisas e tive de aprender. Quando me perguntam se eu não gostaria de traduzir algo "mais interessante", acho graça. Traduzir em si é interessante. Não é o texto ou seu hipotético valor literário que torna a tradução interessante. Traduziria com a mesma satisfação filosofia ou histórias em quadrinhos. Em mais de 35 anos de profissão, nunca traduzi nenhuma dessas coisas que tanta gente considera “interessantes”, mas achei muito interessante traduzir tudo o que traduzi até hoje. Ninguém, nem eu próprio, leria as coisas que eu traduzo por prazer, mas eu traduzi todas essas coisas com imenso prazer.

O interesse do traduzir não está no conteúdo do original, mas sim no desafio da tradução. E podem ter certeza de que o desafio da tradução é subjetivo: quer dizer, está mais dentro de você do que no texto a traduzir. Os outros talvez não percebam, principalmente porque nunca tentaram traduzir o texto. Entretanto, quando você se senta ao computador, os desafios começam a pular da tela. E, se você não percebe onde estão os desafios, os problemas, é que não foi suficientemente fundo na questão.

Imagine um professor de inglês. Todo ano tem que ensinar, de novo, as mesmas coisas. Todo ano, tem que ensinar a turma a diferença entre os adjetivos possessivos e os pronomes possessivos. Se tiver alma professora, se for Professora com “P” maiúsculo, vai adorar. E cada vez que tiver de apresentar a mesma matéria, vai apresentar de uma maneira um pouquinho diferente, aproveitando a experiência adquirida anteriormente. E a cada vez que apresentar diferente, vai ter a esperança de apresentar um pouquinho melhor. Assim sou eu com a tradução. Só Deus sabe quantas vezes traduzi “current assets” na minha vida, mas eu sei que sempre com prazer.

Tradutor com “T”, quer dizer, com tradutor com tesão, tesão de traduzir, traduz qualquer coisa com prazer. O que eu quero é traduzir. O que vier, a gente traça com prazer.

Por hoje é só. Volte amanhã, que tem mais.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Domingo e eu aqui

Domingo e eu trabalhando. Trabalho por conta própria, algo que geralmente causa inveja em meus conhecidos que "têm que bater ponto". É, de fato, muito bom. “Ir para o escritório" significa atravessar um hiato de cinco metros que separa o escritório da cozinha. Não ter de encarar o trânsito na Grande São Paulo já é uma bênção. E trabalho vestido como quero, o que também não é pequena vantagem. E ouço a música que quero ouvir, o que também não é de se desprezar.

Conheço um escritório onde o pessoal se divide em turmas do rock, da mpb e da sertaneja, o que significa que, em qualquer momento, dois terços do pessoal estão irritados com o que ouvem. Eu simplesmente mudo de estação ou toco um CD. Maravilha.

Por outro lado, trabalha-se muito e, você pode ter certeza, toda sexta-feira tem serviço novo para a segunda. Tirar férias é difícil, livrar-se da família que raramente entende que você trabalha e que está ocupado e que não pode parar um instantinho só para receber a tia Robustiana que veio de visita, coitada, que é tão boa para você e sempre te recebia de braços abertos quando você ia passar as férias lá.

A turma, muitas vezes, reclama. Eu me acostumei e nem ligo mais: faço o que gosto, gosto do que faço e, como isso, ganho o meu pão e o presunto também. Mas, se você quer ser tradutor e pensa que vai pegar um “nove-às-cinco” maneiro, provavelmente vai ter uma desilusão. Há, de certo, muitos empregos de tradutor em escritórios de tradução e mesmo empresas que não têm nada que ver com tradução. Mas esses, de vez em quando, ou de vez em freqüentemente, ou até de vez em sempre, acabam pedindo para os tradutores darem uma esticadinha ou terminar um servicinho em casa. E, claro, você ainda tem que enfrentar o trânsito. E vestir algo de decente para ir ao escritório. E agüentar a música.

Por hoje, é só.

sábado, 9 de dezembro de 2006

Tradução e música

Hoje, na “Reunião na Sala 7” que a Aulavox nos permite realizar grátis uma vez por mês e onde ficamos um tempo falando sobre assuntos profissionais e, entre outras coisas, mal dos ausentes, um colega perguntou, assim, muito genericamente, se havia alguma relação entre tradução e música.

Acho que sim. Sou doido por música, se é que alguém ainda não sabe disso, e um daqueles chatos que distinguem Bruch de Bruckner e sabem que nenhum dos dois tem coisa alguma que ver com Buxtehude. Para mim, traduzir é o mesmo que tocar um instrumento musical. Emil Gilels toca piano, eu toco computador e pronto. Vejam que a terminologia inclusive tem muito em comum. O pianista interpreta Beethoven, por exemplo. E nossos bons amigos Vinay e Darbelnet falam em transposição e em modulação. O original é a partitura, a nossa tradução é a gravação. Há bons intérpretes de Chopin como há bons intérpretes de medicina ou veterinária.

O intérprete de música clássica toca rigorosamente o que está na partitura, ao contrário do que acontece na música popular, onde se tem mais liberdade. Mas você pega duas interpretações da mesma peça musical, por dois musicistas diferentes, tocando exatamente as mesmas notas, e vai ver que não são a mesma coisa. E mesmo se você pegar duas interpretações da mesma peça, pelo mesmo executante, em data diferentes, também vai notar diferença. Igualzinho ao que acontece com tradução.

Por hoje, é só. Até amanhã.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Descontos por volume

O cliente tem um serviço grande e, por isso, pede um desconto de volume. O cliente sempre pede desconto. Se não pedir por volume pede por qualquer outra razão. Já me pediram um desconto de urgência. Mas disso, falo outro dia: agora vamos falar dos descontos por volume.

A rigor, você só deve conceder descontos por volume se o trabalho tiver muitas repetições. Nesse caso, você usa um programa de memória de tradução, processa o serviço com muito mais facilidade e, portanto, em menos tempo – e pode rachar o ganho com o cliente: o cliente paga um pouco menos, você ganha um pouco mais, ficam os dois felizes.

Mas, se o serviço não tiver repetições, os grandes serviços deveriam ter um adicional de volume, porque manter uniformidade e coerência em um texto de 500.000 palavras exige um esforço enorme do tradutor. O cliente pode entender e pode não entender essas coisas mas, mesmo se entender, jamais vai em reconhecer que entendeu, para não ter que pagar mais. Você, entretanto, precisa saber disso. Você precisa saber que na tradução, salvo no caso que mencionei, das repetições, não há ganho de escala e, portanto, não cabe conceder descontos por volume. Quem concede desconto por volume, ganha cada vez menos para trabalhar cada vez mais.

Só vale a pena conceder esse tipo de desconto se você estiver com pouco serviço e se o prazo for razoavelmente longo, de modo que, se aparecer algo mais bem pago, você possa encaixar, sem atrasar o serviço de grande volume. Mas é um jogo arriscadíssimo: se você não tem serviço hoje, pode ter amanhã e o servição que era a sua esperança pode se tornar um fardo insuportável. E, claro, o prazo é sempre apertado demais para permitir encaixes. Sempre.

Isso tudo que eu escrevi aí acima não vai adiantar nada. A primeira vez que te oferecerem 5000 laudas para traduzir, desde que seja com um bom desconto, você vai conceder um baita desconto, se matar de trabalhar, virar noite, perder outros serviços mais bem pagos, perder outros clientes que não vai poder atender, mas não vai resistir ao canto da sereia das 5000 laudas. O peixe morre pela boca. Depois, vai se arrepender e se lembrar deste artiguinho. Mas aí vai ser tarde.

Por hoje chega, amanhã tem mais.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

A Comissão justa

A colega me escreveu, explicando que, de vez em quando, sobrava algum trabalho e ela repassava a algum colega e me perguntando que porcentagem seria “justo” cobrar como comissão, considerando-se o trabalho de administrar o serviço e o tempo de revisão e tal.

Para começo de conversa não acredito que haja uma "porcentagem justa". O mínimo que seria sensato reter num serviço a ser terceirizado é o que compensasse o trabalho de terceirizar. Quer dizer, se você recebeu um serviço de um cliente, gastou x horas procurando quem fizesse, distribuindo o serviço, coordenando a equipe, revisando, respondendo perguntas e o que mais seja e, no fim das contas, descobriu que, se tivesse ficando essas x horas traduzindo, teria ganhado muito mais, perdeu dinheiro de bobeira. Se ganhou exatamente o que teria ganhando traduzindo, então só empatou.

Do ponto de vista do tradutor, a conversa é outra: quanto é que eu vou receber pela tradução? Se alguém me oferecer serviço a R$ 0,05 por palavra, não adiante dizer que não está retendo comissão, porque não vou aceitar. Não vou aceitar, pelo simples motivo de que, no momento atual, tenho um excelente fluxo de serviço com preço maior e, se aceitar cinco centavos por palavra, vou me arriscar a perder algo muito mais bem pago, quer dizer, vou me arriscar a ter de pagar pela honra de trabalhar para essa pessoa.

Por outro lado, se me oferecerem serviço pela tabela do SINTRA na minha área de especialização, aceito com prazer e nem quero saber quanto o terceirizante reteve de comissão. Não é da minha conta. Espero que ele esteja ganhando uma fortuna, que tenha muitos anos de vida, e que me mande mais serviço constantemente.

Quer dizer, para mim, tradutor, o que interessa é com quanto eu fico. Minha busca é por serviços que me paguem mais, não por terceirizantes que retenham comissões menores. Então, tem a colega tradutora que diz não te dá raiva ver eles ganharem tanto e nós tão pouco?. Na verdade, não. Fico com raiva quando ganho pouco, mas paro por aí. E também paro por aqui: por hoje, é só.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Vida de Tradutor - continuação

Meu computador, coitado, deu o prego ontem. Durante o dia, minha mulher e eu compartilhamos a máquina dela, para dar conta do serviço. De noite, voltou a máquina do conserto e fiquei até agora arrumando detalhes. Ainda vou mais uma boa semana até poder instalar toda a minha tralha.

Artigo novo, mesmo, de verdade, só amanhã.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Vida de tradutor

Um dos dogmas básicos do setor de traduções, em nível internacional, é que todos traduzem exclusivamente para sua própria língua. As grandes agências americanas e européias, que formam um bloco de elite com grande influência sobre o que sucede na profissão, jamais nos pedem serviços de “versão” – ou, ao menos, é o que dizem.

Enquanto trabalhava basicamente para clientes brasileiros, eu fazia muito serviço para o inglês. Acho que até mais para o inglês que para o português. De repente, minha vida deu uma virada e comecei a ter cada vez mais clientes no exterior. Por isso, a participação do “para inglês” no meu trabalho foi caindo e houve meses em que não “verti” uma só palavra.

Ontem, entretanto, liga esbaforida uma agência cliente antiga, lá de Nova York. Tinha um apaga-fogo para mim e começou por dar graças a Deus de ter me encontrado em casa. Havia um porém, entretanto: tratava-se de uma tradução para o inglês. Simplesmente, não tinham conseguido ninguém, na carteira de prestadores de serviço deles, que entendesse português brasileiro o suficiente e estivesse disponível para encarar o serviço no prazo desejado. Então, como vocês sabem, não tem tu, vai tu mesmo, e ligaram para mim, cheios de desculpas e justificações.

Contaram uma história de que meu inglês ia ser revisado por um americano e tal, mas era mentira, como eu logo descobri. Meu serviço foi remetido diretamente para o cliente, com casca e tudo, entre outras coisas, porque não havia tempo para revisões.

Moral da história: como diz o marinheiro, em dia de tempestade, todo porto é amigo.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Comentário ao comentário: andei fazendo umas contas

Uma colega escreveu indignada com os clientes que não querem pagar os espaços. Eu já me indignei muito e, em outras eras, tive o apelido de “estopim”, porque partia para a confrontação à menor oportunidade. Não sei se a idade me tornou mais sábio ou mais covarde, mas o fato é que hoje me irrito muito menos que antes e achei uma série de meios de evitar os arranca-rabos com clientes que já fizeram parte integrante do meu dia-a-dia.

Então, fiz umas contas. Peguei um texto em inglês e sua tradução em português, feita por mim. Poderia ter pegado vários, para uma amostra maior. Se o assunto interessar a você, pode reconferir meus cálculos e mandar um comentário sobre eles. Dependendo do seu jeito de traduzir e dos textos que você traduz, os resultados talvez sejam diferentes.

Vamos lá, aos meus resultados:

O texto original em inglês tinha
• 10.553 palavras
• 61.133 caracteres, sem espaços
• 71.062 caracteres, com espaços

A tradução em português tinha
• 11.758 palavras
• 67.038 caracteres, sem espaços
• 78.226 caracteres, com espaços

Daí, podemos tirar uma porção de conclusões. Vou me limitar a umas poucas. Você pode tirar as suas e iniciarmos aqui uma boa discussão sobre quantificação de trabalho.

A primeira é que, na tradução, o texto cresceu cerca de 11%. Digamos que sua tarifa seja 10 centavos por palavra do original inglês. Nesse caso, numa cotação baseada no número de palavras da tradução portuguesa, para ganhar o mesmo, você deveria cobrar 9 centavos. Certo? Quer dizer, 10.553 palavras em inglês a R$ 0.10, dariam R$ 1.055,30. O mesmo texto, traduzido, daria 11.758 palavras em português, que, a R$ 0,09, dariam R$ 1.058,22. Praticamente o mesmo.

Quanto ao com/sem espaços, a história é um pouco diferente. A diferença entre “com” e “sem” é de aproximadamente 15%. Então, se eu cobrasse por número de caracteres, estabeleceria um valor para o “sem espaços”. Digamos, para fazer conta redonda, que eu cobrasse R$ 10 reais por mil caracteres, com espaços. Então, o valor para “sem espaços” seria aprocimadamente R$ 11,50. Quando o cliente perguntasse o valor, a resposta seria “R$ 11,50 por mil caracteres, mas não cobramos os espaços. Caso o senhor prefira pagar os espaços, há um desconto de 15% sobre essa taxa”. “Caso o senhor prefira” e “há um desconto” são expressões que granjeiam a voa vontade do cliente e, neste caso, podem ser usadas sem risco de perder o dinheiro.

Por hoje chega, amanhã tem mais.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Antes que me esqueça de lembrar,

não se esqueça você da Reunião na Sala 7. Como é virtual, você pode participar, não importa onde esteja. E é grátis, mas, lamentavelmente, não é possível servir lanchinho.

Truquinho de Word

Cada vez que dou um curso de Trados ou de Wordfast ensino o mesmo truquinho, um truquinho bobo, muito bobo, mas bastante útil. Raros são os que conhecem. Se você não conhecer, boa hora para aprender. Faça o seguinte: num documento em Word, deixe o cursor em uma palavra qualquer, aperte Shift e F3 ao mesmo tempo e veja o que acontece. Aperte de novo. Mais uma vez. Gostou? Se gostou, selecione um grupo de palavras, podem ser duas, três, um parágrafo ou até o documento inteiro – e repita o processo.

Por hoje é só. Amanhã tem mais.

O fim do IEDEC de pedra e cal

Ontem, apresentei meu último curso no IEDEC de pedra e cal. A sede, na praça Dom José Gaspar, vai fechar. Doravante, todos os cursos serão a distância, via Internet. Ensino a distância funciona, funciona bem e, em certos casos, funciona bem melhor que o ensino presencial. Um dos casos é o treinamento no uso de programas de memória de tradução, onde tenho achado mais produtivos os cursos a distância: você trabalha no seu ambiente, no seu computador e, depois, quando vai trabalhar sozinho, não tem surpresas.

Para o instrutor, faz falta aquele olho brilhante lá no fundo da sala, do participante que descobre que o que ele achava que ia ser um problema é, na realidade, algo muito fácil de fazer; a paradinha para o café com fofoca no meio do curso; o abraço carinhoso no fim do curso.

Tive, também, de mudar as apostilas, porque a abordagem tem de ser outra. Mas, uma vez qua a gente se adapte, é uma delícia.

A grande vantagem é atingir gente em lugares onde não é possível levar o curso presencial. E, para mim, não ter que ir ao centro de São Paulo que, sem ser de todo longe demais, também não fica ali na esquina.

sábado, 2 de dezembro de 2006

Comentário do comentário: coisas que cliente diz

O Graeme, colega tradutor e intérprete opera lá no Nordeste, visitou o blog e deixou o recado:

É, de fato, espantoso o que um tradutor ouve ao conversar com leigos e, principalmente, clientes com expectativas surpreendentes quanto a preço, prazo etc. …Já ouvi coisas do tipo... "mas você cobra até pelas preposições e artigos?"... e fiquei tentado a dizer... "não necessariamente... posso enviar o texto (de 20 páginas) com todas as preposições e artigos ainda em português, se preferir..." mas consegui resistir à tentação.

Não acho nada disso espantoso, Graeme. Alguns realmente não entendem, o que não é de estranhar, porque eu também não entendo a profissão dos outros. Outros entendem muito bem, mas querem ver se dão uma rasteira na gente e arrancam um desconto. Tudo isso faz parte.

Outro dia, um cliente me perguntou se o preço por palavra se aplicava igualmente às palavras grandes e pequenas. Perguntou porque tinha que perguntar, porque achava que tinha de questionar alguma coisa e não sabia bem o que questionar, porque não entendia nada de tradução e, portanto, fez aquela pergunta, como poderia ter perguntado se eu cobrava também pelas palavras iniciadas por “f” ou terminada por “x”, se me faço claro. Tive vontade de dar uma resposta mal-educada ou, ao menos, gozadora, mas como o Grame, resisti. Mas acho que não me saí mal: disse que o preço por palavra era corrigido por um fator calculado estatisticamente, padrão para o setor de tradução, que compensava as palavras curtas com as longas. O cliente ficou todo pimpão e impressionadíssimo com meu profissionalismo.

É preciso manter o bom humor. Por hoje é só. Amanhã tem mais.



sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Resposta: que é "memória de tradução".

Colega, em comentário, pergunta o que é “memória de tradução”.

Memória de tradução tem dois significados.

  1. Um repositório pesquisável (a) das traduções que fizemos usando um programa apropriado e (b) de outras traduções convertidas para o formato apropriado pelo uso de um programa especial, num processo que se chama alinhamento. Esse repositório é o que o pessoal da lingüística de corpus chama corpus paralelo.
  2. Um programa que, entre outras coisas, cria esses repositórios e vai adicionando a eles material à medida que vamos traduzindo e, ao mesmo tempo, automaticamente consulta esses repositórios em busca de informações úteis para o tradutor.

O meu repositório, tem mais de 10 milhões de palavras. Imagine o tesouro que tenho para fins de pesquisa.

O programa mais conhecido desse tipo é o Trados, mas eu, e muita gente mais, acha que a popularidade do Trados é mais fruto do bom marketing do que da qualidade de programa. A meu ver, o Wordfast é muito superior e, ainda a meu ver, é saber usar programas de memória de tradução, principalmente Trados e Wordfast, é tão absolutamente essencial para o tradutor quanto saber usar um estetoscópio é essencial para o médico. Acho extraordinário, inclusive, que uma escola superior conceda diplomas de tradutor a alguém sem lhe ensinar a usar essas coisas.

Antes que me esqueça, duas informações importantes: primeira, que quando você usa programa de memória de tradução, é você quem traduz, não o programa. O programa busca e oferece sugestões, mas não traduz nada; segunda que Trados, Wordfast, DéjàVu e seus concorrentes fazem muito mais que gerenciar memórias de tradução.

Por fim, para dar um exemplo extremo, mas por isso abrangente, e que vai responder muitas perguntas antes que sejam feitas: se eu soubesse russo e fosse traduzir Guerra e paz para o português, certamente usaria um programa de memória de tradução.

Amanhã tem mais.



Resposta: Como aprender a escrever 400 palavras...

Uma colega deixou o seguinte comentário

Tenho um comentário, [...] uma opinião minha sobre um e-mail muito divulgado. […] Como aprender a escrever 400 palavras em Inglês em apenas um minuto..., etc. – (O resto vocês já conhecem.)

Conheço o e-mail, sim, e também uma versão em pps. É uma bobagem. Dá a impressão de que o autor descobriu a pólvora, quando não descobriu nada. Alem disso, dá a impressão de que é possível reduzir o aprendizado de línguas a meia dúzia de regrinhas, “dicas e macetes”. Não, não é, e você sabe disso. O que me surpreende é que continue circulando por aí, mesmo em listas de discussões de tradutores.