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sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Descontos por volume

O cliente tem um serviço grande e, por isso, pede um desconto de volume. O cliente sempre pede desconto. Se não pedir por volume pede por qualquer outra razão. Já me pediram um desconto de urgência. Mas disso, falo outro dia: agora vamos falar dos descontos por volume.

A rigor, você só deve conceder descontos por volume se o trabalho tiver muitas repetições. Nesse caso, você usa um programa de memória de tradução, processa o serviço com muito mais facilidade e, portanto, em menos tempo – e pode rachar o ganho com o cliente: o cliente paga um pouco menos, você ganha um pouco mais, ficam os dois felizes.

Mas, se o serviço não tiver repetições, os grandes serviços deveriam ter um adicional de volume, porque manter uniformidade e coerência em um texto de 500.000 palavras exige um esforço enorme do tradutor. O cliente pode entender e pode não entender essas coisas mas, mesmo se entender, jamais vai em reconhecer que entendeu, para não ter que pagar mais. Você, entretanto, precisa saber disso. Você precisa saber que na tradução, salvo no caso que mencionei, das repetições, não há ganho de escala e, portanto, não cabe conceder descontos por volume. Quem concede desconto por volume, ganha cada vez menos para trabalhar cada vez mais.

Só vale a pena conceder esse tipo de desconto se você estiver com pouco serviço e se o prazo for razoavelmente longo, de modo que, se aparecer algo mais bem pago, você possa encaixar, sem atrasar o serviço de grande volume. Mas é um jogo arriscadíssimo: se você não tem serviço hoje, pode ter amanhã e o servição que era a sua esperança pode se tornar um fardo insuportável. E, claro, o prazo é sempre apertado demais para permitir encaixes. Sempre.

Isso tudo que eu escrevi aí acima não vai adiantar nada. A primeira vez que te oferecerem 5000 laudas para traduzir, desde que seja com um bom desconto, você vai conceder um baita desconto, se matar de trabalhar, virar noite, perder outros serviços mais bem pagos, perder outros clientes que não vai poder atender, mas não vai resistir ao canto da sereia das 5000 laudas. O peixe morre pela boca. Depois, vai se arrepender e se lembrar deste artiguinho. Mas aí vai ser tarde.

Por hoje chega, amanhã tem mais.

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