Sou tradutor. Sou tradutor porque gosto de traduzir. Gosto de traduzir e pronto. A roda da fortuna fez de mim um especialista em contabilidade e finanças, mas, quando comecei, não entendia nada dessas coisas e tive de aprender. Quando me perguntam se eu não gostaria de traduzir algo "mais interessante", acho graça. Traduzir em si é interessante. Não é o texto ou seu hipotético valor literário que torna a tradução interessante. Traduziria com a mesma satisfação filosofia ou histórias em quadrinhos. Em mais de 35 anos de profissão, nunca traduzi nenhuma dessas coisas que tanta gente considera “interessantes”, mas achei muito interessante traduzir tudo o que traduzi até hoje. Ninguém, nem eu próprio, leria as coisas que eu traduzo por prazer, mas eu traduzi todas essas coisas com imenso prazer.
O interesse do traduzir não está no conteúdo do original, mas sim no desafio da tradução. E podem ter certeza de que o desafio da tradução é subjetivo: quer dizer, está mais dentro de você do que no texto a traduzir. Os outros talvez não percebam, principalmente porque nunca tentaram traduzir o texto. Entretanto, quando você se senta ao computador, os desafios começam a pular da tela. E, se você não percebe onde estão os desafios, os problemas, é que não foi suficientemente fundo na questão.
Imagine um professor de inglês. Todo ano tem que ensinar, de novo, as mesmas coisas. Todo ano, tem que ensinar a turma a diferença entre os adjetivos possessivos e os pronomes possessivos. Se tiver alma professora, se for Professora com “P” maiúsculo, vai adorar. E cada vez que tiver de apresentar a mesma matéria, vai apresentar de uma maneira um pouquinho diferente, aproveitando a experiência adquirida anteriormente. E a cada vez que apresentar diferente, vai ter a esperança de apresentar um pouquinho melhor. Assim sou eu com a tradução. Só Deus sabe quantas vezes traduzi “current assets” na minha vida, mas eu sei que sempre com prazer.
Tradutor com “T”, quer dizer, com tradutor com tesão, tesão de traduzir, traduz qualquer coisa com prazer. O que eu quero é traduzir. O que vier, a gente traça com prazer.
Por hoje é só. Volte amanhã, que tem mais.
2 comentários:
Sabe Danilo pensei em trabalhar com tradução porque realmente gosto desse desafio que "pula da tela" a cada vez que se senta para trabalhar. É realmente motivador e um ótimo exercício mental. Mas uma outra razão que me fez decidir por esse trabalho, que iniciei a menos de 1 ano, foi o fato de poder contar com colegas que tivessem uma mentalidade parecida com a minha e essa grande experiência e riqueza para dividir e presentear os outros. Você é realmente uma grande figura e uma inspiração como profissional e pessoa. Já faz um tempinho que estou para escrever isso então aproveito para desejar ótimas festas e um ano novo cheio de desafios e músicas boas!
Este foi um dos melhores site ou blog de traduçoes que ja li.
um abraço
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