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terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Sorte, máfia, QI

Quando alguém pergunta como entrar no mercado de tradução, sempre há alguém que reclame que o mercado é dominado por uma máfia, que é necessário ter muita sorte para entrar e que o QI vale mais que qualquer outra qualidade.

No meu tempo de iniciante, ninguém falava em máfia, mas se falava de "igrejinha" e "panelinha"; em vez de “QI”, falava-se em “cartucho”, mas, no fundo, dá no mesmo: a linguagem mudou, as idéias continuaram as mesmas. Quando comecei, me deram a revoltante informação de que a tradução era apanágio de meia dúzia de velhinhos sebosos que não deixavam os jovens entrar. Agora, que eu faço parte integrante do grupo dos velhinhos sebosos, quando a gente se encontra, um dos assuntos é a revolta perante essa molecada que ainda ontem usava cueiros e tenta forçar a entrada no mercado a toda força, aceitando, inclusive, preços vis e prazos absurdos. Assim é a vida: muito depende do lado do muro em que você está.

Fala-se muito na necessidade de sorte para entrar no mercado. É verdade, quem não tem sorte não vai longe na vida e quem tem azar, então, está perdido. Mas não adianta apenas ter sorte. É necessário estar preparado para a hora em que a deusa Fortuna passa cavalgando se corcel e agarrar a madame pelo cabelo com toda a força. Não adianta a sorte toda do mundo se você não só souber usar o computador para entrar em chat e se tiver feito faculdade sentado na mesa do boteco da esquina. Também não adianta se você não pesquisar e revisar sua primeira tradução ao menos sete vezes antes de entregar ao cliente ou se entregar fora do prazo. Coisas assim.

Quanto à máfia, se você faz absoluta questão de ser tradutora de poesia, vai descobrir que o número total de livros de poesia traduzidos no Brasil em um ano deve ser inferior a uma dúzia (em outros países é menos ainda) e há menos de meia dúzia de tradutores de poesia em atividade no país, gente cujo nome vende livro e, por isso, são os preferidos dos editores. Haverá mais um ou outro nicho desses, onde é dificílimo entrar. Mas, fora disso, tem tradução a dar com pau, num mercado altamente diversificado e globalizado, que não é controlado por ninguém.

Com meus 35 anos de mercado, não controlo coisa alguma e não acredito que alguém controle. Por mais que eu quisesse impedir que alguém entrasse no mercado, não teria como.

Do “QI” falamos amanhã. Por hoje é só.

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