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domingo, 25 de fevereiro de 2007

Limites do trabalho tradutório

O cliente manda um servicinho, pede orçamento, você apresenta, ele aprova. Depois, diz, assim, meio de banda, olha, me faz um favor… e, aí, vem a cacetada. O favor pode ser:
  • Dar uma arrumada no texto, que foi escrito às pressas pelo engenheiro mais competente da empresa mas está pouco claro.
  • Resumir o texto, que está muito longo.
  • Adaptar o texto para o público brasileiro, infantil, semi-analfabeto, ou o que seja.
  • Conferir a bibliografia, adicionando informações sobre os livros que foram traduzidos para o português ou os nomes corretos dos livros em inglês.
  • Entregar no pdf, um eufemismo para dizer que querem que você imponha ao texto a diagramação do original, feita por um experiente profissional de editoração eletrônica, usando Quark Express.
  • Criar um slogan de impacto de um dia para outro, como tradução de algo que a dupla de criação de uma agêcia de publicade levou uma semana para criar, tendo cobrado pelos seus esforços mais do que vai custar sua tradução de cem laudas de texto.
O cliente é muito inteligente (se não fosse, não seria seu cliente, seria cliente de algum concorrente) e apela para a tua vaidade, elogiando teus conhecimentos de informática, redação, filosofia renascentista, mecânica quântica, sem falar nas prosopopéias metafísicas do climatérico clavicórdio e o que mais seja, ainda acenando com mais serviço no futuro. Inchada de orgulho, você cai na esparrela.

Vamos cair na real?

Primeiro, que você é tradutor e precisa, antes de tudo, estabelecer um limite para os serviços que pode e deve prestar. Vá ao médico, consulte, peça orientação e tal e, em seguida, pergunte ao médico se ele poderia fazer o favor de trocar o pneu do carro para você. Vai ouvir um não redondo, certo? Eis aí um ponto para meditação.

Segundo, que essas coisas se pedem antes de pedir a cotação. Quer dizer, mesmo que você tenha QuarkExpress e saiba lidar com aquela traquitana diabólica, quarquear toma tempo, tempo que você poderia estar dedicando a outra tradução, a procurar serviço ou a dormir. Portanto, são serviços que devem ser cobrados em separado. O mesmo se aplica a coisas como pesquisas bibliográficas e o que mais seja. Sua cotação foi para traduzir. Extras são extras. Não tenha receio de dizer faço com prazer, leva tantas horas, custa tanto.

Terceiro, que é uma responsabilidade que eu me pergunto se você pode assumir. Você pega um bruto de um texto sobre engenharia, o cliente diz resume isso para mim e vai que você corta exatamente o parágrafo que ele considera mais importante. Outro dia, me aparece um sujeito com uns tantos contratos para "localizar" de acordo com a lei brasileira. Lá tenho eu competência para fazer isso? Isso é coisa para advogado. Eu posso traduzir. O advogado que adapte ao direito brasileiro.

Nunca se esqueça que o cliente que te pede pelo amor de Deus para fazer alguma coisa é o mesmo que depois, quando as coisas dão errado, diz que quem não tem competência não se estabelece e você não deveria ser gananciosa a ponto de aceitar um trabalho para o qual não estava preparada.

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