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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Vida de tradutor

Tradutor velho tem muitas histórias e acaba se repetindo muito, mas acho que esta você não conhece.

Fui há muitos anos, ainda no tempo da máquina de escrever, mas ainda me parece válida.

Era uma enorme instituição financeira e várias pessoas me mandavam serviço, tratado separadamente com cada um deles. Sempre na base da confiança mútua. Um dia, um sujeito novo na casa me deu um livrete para traduzir, perguntou o preço, cotei, ele aceitou, fiz, cobrei, recebi. Mandou um segundo, não perguntou o preço, era do mesmo tamanho que o primeiro, fiz, cobrei, recebi. Mandou um terceiro, que era maior que os outros dois juntos. Não perguntou preço, fiz, cobrei o dobro do que tinha cobrado os outros, ele esperneou. Disse que era X por livro e ele não ia pagar agora o dobro do que tinha pago pelos outros. Expliquei que tinha o dobro do tamanho do anterior. Ele disse que não via razão para isso dobrar o preço. Um livrete era um livrete e pronto: o porte não fazia diferença e eu tinha dito que era X por livrete. Estava mentindo, claro, mas eu não tinha provas nem argumentos. Evidentemente ele tinha dado os pequenos primeiro de propósito.

Podia reclamar com o chefe dele (como me recomendaram), mas corria o risco de me encrencar com um bom cliente. Resolvi dizer que, então, era grátis: no meu serviço, ele não punha preço. Ou eu cobrava o que queria, ou era grátis. Ele argumentou que, por segurança, ia me fazer assinar uma cessão de direitos, preparada pelo departamento jurídico da empresa. Me neguei. Lá sei eu o que o raio do advogado da empresa (com o qual eu dificilmente conseguiria falar) ia botar na carta. Ele disse que ia recomendar que eu jamais fosse contratado de novo pela empresa e que quem ia perder era eu.

Irritado, humilhado, emiti uma fatura por valor simbólico. Cobrei, pelo livro, que deveria ter umas boas duzentas laudas (era no tempo da máquina de escrever), o equivalente a uns cinqüenta reais de hoje. Confesso que cheguei em casa e chorei. Chorei de raiva e, também, porque o dinheiro ia fazer falta. Muita falta.

O sujeito sumiu da empresa e espero que hoje esteja ardendo nos quintos dos infernos, compartilhando com gente fedida uma masmorra mal ventilada e cheia de baratas voadoras. Mas, a bem dizer, a lição até que saiu barata. Desde então, jamais aceitei um serviço sem combinar preço antecipadamente e por escrito.

Não vá você fazer a besteira que eu fiz: eu já fiz, você não precisa fazer.

Obrigado por ter lido, volte amanhã que tem mais. Se gostou, divulgue; se não gostou, escreva descendo a lenha.

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