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domingo, 4 de fevereiro de 2007

Pagamento adiantado

Uma colega me escreve perguntando se acho certo pedir 50% do pagamento antecipado, para minimizar os riscos de calote. Errado, certamente, não está. Tenho colegas que dizem que trabalham assim. Longe de mim duvidar da palavra deles, mas nenhum de meus clientes atuais poderia me pagar adiantamentos de 50%.

Temos pelo menos dois problemas aí. A ver se consigo me explicar sem muitos volteios.

Em primeiro lugar, se você tem o direito de recear que o cliente não te pague, ele também tem o direito de recear que você suma do mapa com o dinheiro dele, sem entregar a tradução. Ou que demore meses para fazer dez míseras laudas, ou que entregue uma tradução de dar medo. Quer dizer, na testa dele não está escrito que ele é honesto, mas também na tua não está. Eis aí um grande problema.

Um outro, e talvez maior, é que a maioria dos clientes – e a quase totalidade dos bons clientes – é de pessoas jurídicas. Uma pessoa jurídica, por cheia de dinheiro que seja, por honesta que seja, precisa de vários dias para pagar qualquer coisa que seja. As faturas precisam de aprovação, os pagamentos precisam ser colocados na programação de caixa, alguém tem que emitir um cheque ou preparar uma ordem de pagamento, doc ou que seja e, o documento de pagamento, qualquer que seja, precisa normalmente de duas assinaturas, para evitar fraudes internas. É possível, em casos de emergência, num gigantesco corre-corre, fazer tudo isso em poucas horas. Mas isso é caso especial, grande urgência. Não é a praxe comercial. A praxe comercial é prestar o serviço, enviar a fatura e dar um prazo razoável para o pagamento. Nenhum de meus clientes tem condições de fazer um depósito na minha conta em menos de 15 dias e nenhum deles tem condições de esperar quinze dias até que eu comece a tradução.

Isso, numa empresa honesta e bem administrada. Há empresas onde a burocracia é enorme e ultrapassa todos os limites do necessário para manter um bom controle interno. Em outras, segurar pagamentos para fazer caixa é o esporte predileto.

Além disso, a maioria das pessoas jurídicas só faz adiantamentos mediante a assinatura de contratos e a própria preparação e assinatura de um contrato demora vários dias. Mas, muitas vezes, a tradução tem que sair em questão de poucas horas.

Há, claro, as exceções, mas exceções são exceções.

Claro que uma pessoa física pode sacar o talão de cheques e te fazer um na hora. Ou dois, uma para agora e outro para você depositar quando entregar a tradução. Mas as pessoas físicas representam menos de 1% do mercado. Se você conseguir uma clientela dessas, sorte sua, mas duvido que paguem tanto quanto as pessoas jurídicas. Até amanhã . Por hoje, é só.

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