Curioso como tanta gente que está se preparando para ser tradutor na vida ignora o que seja o mercado de tradução. Há um grande mercado visível, composto da literatura, interpretação simultânea e a famosa dupla dublagem e legendagem. E tem "o resto".
As editoras brasileiras traduzem muito. Muita literatura, o que irrita os escritores patrícios, que reclamam que se traduz muita bobagem enquanto grandes textos brasileiros jamais são publicados. Em muitos países, a tradução literária é praticamente inexistente. Na Inglaterra, por exemplo, os tradutores vão de editora em editora, com um trecho de uma tradução debaixo do braço, tentando convencer algum editor a publicar o livro.
Parece muito bonito, o tradutor escolher o que vai traduzir e tal. Mas é terrível. A resposta normal é "tem tanta coisa em inglês para publicar, para que traduzir?" Às vezes, até conseguem convencer o editor a publicar o livro, embora muitas vezes o encarregado da tradução seja um figurão qualquer mais conhecido e o infeliz que propôs a aventura a fica ver navios.
Quando digo que temos aqui tradutores literários que não fazem outra coisa na vida, embora não ganhem muito, a turma lá baba. Quando digo que aqui as editoras têm um grupo de tradutores e telefonam para eles, oferecendo tradução, a turma lá também baba.
Há, certamente, grandes tradutores literários por aí. Mas muito raro é aquele que traduz um livro atrás do outro, como aqui acontece tanto.
E, mesmo assim, segundo um levantamento informal feito por alguns colegas há tempos, o número de livros (incluindo tudo, não só literatura) traduzidos em um ano é inferior ao número de alunos que as faculdades de tradução despejou no mercado no mesmo ano. Isso, sem contar o pessoal que fez licenciatura. Quer dizer, mesmo que as editoras fossem forçadas por lei a só entregar livros para recém-formados em tradução, não haveria trabalho para todos eles.
Ainda bem que o conjunto de todas as traduções contratadas por editoras é uma gotinha no nosso oceano profissional. Dos outros mercados visíveis, falo depois, porque por hoje chega.
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