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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Mau blogueiro

Sou péssimo blogueiro. Há mil coisas que poderiam ser feitas para melhorar este blog e não dou conta e, às vezes, nem descubro como se faz. Estou tentando manter os textos interessantes, para compensar.

Também, na medida do possível, procuro responder às perguntas que me fazem, embora nem sempre sejam sobre coisas de que eu entenda. Mas até que as coisas andam bem.

Se você tiver alguma sugestão, pode mandar que agradeço, como também agradeço qualquer divulgação entre colegas.

Agora, tem dois artiguinhos novos aí abaixo. Leia e volte amanhã, que tem mais.

Traduzir para editoras

Uma comentarista disse que pretendia publicar algumas de suas traduções.

Não sei se estou dizendo o óbvio para ela, mas tem muita gente que não entende como funciona o processo de tradução para publicação, então, vale a pena explicar.

O interessado na publicação, quer dizer, a editora brasileira, escreve ao detentor dos direitos autorais de tradução, que pode ser o autor ou sua editora, pede permissão para traduzir e ajusta quanto vai pagar ao detentor dos direitos de tradução por tal permissão. Se a negociação chegar a bom termo, a editora brasileira procura alguém para traduzir.

Levar a uma editora uma breve tradução, como amostra de serviço, pode até ser útil. Traduzir um livro inteiro e procurar um editor não é nada recomendável. Recentemente, uma professora universitária traduziu um livro inteiro com essa intenção e, quando terminou, descobriu que o livro já tinha sido traduzido e publicado.

Finalmente, nada impede que você traduza o que quer que seja, mas publicar uma tradução sem ordem do detentor dos direitos é crime.

Intermediação e intermediários

Continuando a conversa de ontem, não acho a situação do intermediário nada fácil. Intermediários sempre correm o risco de que o tradutor atrase ou simplesmente suma sem entregar o serviço. Aparece, depois, rabo entre as pernas, com mil desculpas, mas as desculpas não resolvem nada. Outras vezes, o tradutor apresenta um lixo enorme, muitas vezes com trechos por traduzir. Também tem os que pegam serviços de intermediários e repassam a colegas menos experientes, evidentemente retendo uma fatia do preço. A coisa pode se complicar e o tradutor mesmo, de fato, o cara que "fez", pode estar no quarto subsolo do prédio, se me faço claro. Aí, quando estoura, é sempre na mão do intermediário. E haja sorriso amarelo para se entender com o cliente. Espera-se que o intermediário escolha bem com quem vai trabalhar e corra os riscos associados à sua escolha. A Grande Empresa S/A não quer saber se o Trasíbulo Tradutor Trapaceiro fez besteira: tudo o que eles querem é uma tradução de qualidade na data prometida e o responsável por isso é o fornecedor deles, a saber o Intermediário. Só isso. Quer dizer, precisa escolher com cuidado.

Por outro lado, a questão do pagamento pode chegar a ser um problema maior. Vamos por partes. Como disse ontem, um dos motivos pelos quais alguém aceita intermediar um serviço é para impedir que a Gande Empresa S/A entre em contato com algum outro tradutor – eventualmente até o tradutor que acabou fazendo o serviço. Sendo assim, não se espera, aliás, não se admite que o tradutor entre em contato direto com a Grande Empresa S/A: o cliente do Tradutor é Intermediário. É, mas quando chega na hora de pagar, o Intermediário avisa que só pode pagar quando receber do cliente. Quer dizer, aí, o Intermediário deixa de ser o Cliente e o cliente passa a ser o Cliente, se me faço claro. Mas não está certo. Essa troca de posições quando as coisas dão errado é ilegal e imoral.

Volto amanhã ao assunto. Antes de encerrar o expediente blogueiro de hoje, queria falar sobre mais umas coisinhas.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

De intermediários e intermediação

Alguns incidentes de que tomei conhecimento nos últimos dias me fazem voltar ao assunto da intermediação e intermediários.

Vamos ver se consigo ser claro. A Grande Empresa S/A precisa de uma tradução e consulta X, quer resolve aceitar o serviço e repassar ao Tradutor A. "X" pode ser qualquer coisa desde um pequeno tradutor iniciante que opere como pessoa física até uma megaempresa de traduções, com escritórios em diversos países. Tanto faz: uma vez que aceite um serviço para repassar a mais alguém, X se torna um Intermediário.

Por que X resolveu intermediar? Primeiro, porque espera ter lucro com isso; segundo porque quer impedir que a Grande Empresa S/A estreite relações com outro prestador de serviços de tradução, que pode ser um outro Intermediário, ou um tradutor independente, por exemplo, o Tradutor A. Isso cria uma situação anômala: o Intermediário é, ao mesmo tempo, cliente e concorrente do Tradutor A.

Cria, também, para o Intermediário, uma dupla responsabilidade: a Grande Empresa S/A vê o Intermediário como fornecedor, o Tradutor A vê o intermediário como cliente. Com a Empresa, o Intermediário assume o compromisso de entregar o serviço no prazo ajustado; com o Tradutor, o Intermediário assume o compromisso de pagar pelos serviços no prazo ajustado.

É aí que bate o ponto, como se dizia antigamente. É comum o Tradutor não receber no prazo ajustado. O Tradutor grita calote!, o intermediário grita calúnia! e alega que não recebeu do cliente e, portanto, não pode pagar.

... mas esse não é o caso pior. Entretanto, do resto falamos amanhã, que por hoje é só. Obrigado pela visita. Se gostou do blog, divulgue, se não gostou, me escreva descendo a lenha.

Um minuto para nossos comerciais

Próximos eventos a distância para tradutores:

3 de março de 2007 14h – 18h Introdução ao Wordfast
10 de março de 2007 14h – 16h Reunião na sala 7 (grátis)
13 de março de 2007 19h – 21h ...e vice-versa: Oficina de Tradução Inglês<>Português para tradutores iniciantes e de nível médio
24 de março de 2007 14h – 18h Introdução ao Trados
10 abril de 2007 19h – 21h ...e vice-versa: Oficina de Tradução Inglês<> Português para tradutores iniciantes e de nível médio

para mais informações, clique aqui e procure os eventos Texto&Contexto ou escreva para mim diretamente.

Todos são bem-vindos à Reunião na sala 7, inclusive os muito iniciantes. O evento é grátis, não passamos rifa, não fazemos coleta, não cobramos dízimo. O assunto do próximo encontro é Quando toca o telefone e vamos conversar sobre como atender os clientes e como lidar com todos os problemas e dificuldades que surgem nessas situações.

As Oficinas de tradução são uma novidade. São pagas, mas, que se há de fazer? Nem tudo é perfeito neste mundo. Nas oficinas, vamos fazer uma série de exercícios para resolver problemas de tradção do inglês para o português e, curiosamente, também do português para o inglês. Não se trata nem de aprendizado de expressões nem de terminologia técnica, mas sim de técnicas de tradução.

Até lá.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Limites do trabalho tradutório

O cliente manda um servicinho, pede orçamento, você apresenta, ele aprova. Depois, diz, assim, meio de banda, olha, me faz um favor… e, aí, vem a cacetada. O favor pode ser:
  • Dar uma arrumada no texto, que foi escrito às pressas pelo engenheiro mais competente da empresa mas está pouco claro.
  • Resumir o texto, que está muito longo.
  • Adaptar o texto para o público brasileiro, infantil, semi-analfabeto, ou o que seja.
  • Conferir a bibliografia, adicionando informações sobre os livros que foram traduzidos para o português ou os nomes corretos dos livros em inglês.
  • Entregar no pdf, um eufemismo para dizer que querem que você imponha ao texto a diagramação do original, feita por um experiente profissional de editoração eletrônica, usando Quark Express.
  • Criar um slogan de impacto de um dia para outro, como tradução de algo que a dupla de criação de uma agêcia de publicade levou uma semana para criar, tendo cobrado pelos seus esforços mais do que vai custar sua tradução de cem laudas de texto.
O cliente é muito inteligente (se não fosse, não seria seu cliente, seria cliente de algum concorrente) e apela para a tua vaidade, elogiando teus conhecimentos de informática, redação, filosofia renascentista, mecânica quântica, sem falar nas prosopopéias metafísicas do climatérico clavicórdio e o que mais seja, ainda acenando com mais serviço no futuro. Inchada de orgulho, você cai na esparrela.

Vamos cair na real?

Primeiro, que você é tradutor e precisa, antes de tudo, estabelecer um limite para os serviços que pode e deve prestar. Vá ao médico, consulte, peça orientação e tal e, em seguida, pergunte ao médico se ele poderia fazer o favor de trocar o pneu do carro para você. Vai ouvir um não redondo, certo? Eis aí um ponto para meditação.

Segundo, que essas coisas se pedem antes de pedir a cotação. Quer dizer, mesmo que você tenha QuarkExpress e saiba lidar com aquela traquitana diabólica, quarquear toma tempo, tempo que você poderia estar dedicando a outra tradução, a procurar serviço ou a dormir. Portanto, são serviços que devem ser cobrados em separado. O mesmo se aplica a coisas como pesquisas bibliográficas e o que mais seja. Sua cotação foi para traduzir. Extras são extras. Não tenha receio de dizer faço com prazer, leva tantas horas, custa tanto.

Terceiro, que é uma responsabilidade que eu me pergunto se você pode assumir. Você pega um bruto de um texto sobre engenharia, o cliente diz resume isso para mim e vai que você corta exatamente o parágrafo que ele considera mais importante. Outro dia, me aparece um sujeito com uns tantos contratos para "localizar" de acordo com a lei brasileira. Lá tenho eu competência para fazer isso? Isso é coisa para advogado. Eu posso traduzir. O advogado que adapte ao direito brasileiro.

Nunca se esqueça que o cliente que te pede pelo amor de Deus para fazer alguma coisa é o mesmo que depois, quando as coisas dão errado, diz que quem não tem competência não se estabelece e você não deveria ser gananciosa a ponto de aceitar um trabalho para o qual não estava preparada.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

O retorno

Cá estou eu de novo. Foram semanas muito complicadas, que me forçaram a deixar este blog para "amanhã". Bom, amanhã é hoje e estou começando com um agradecimento a todos os que me escreveram perguntando se eu ainda estava vivo. Sim, estou. Vamos, agora, ao que importa. Aqui abaixo, dois artigos dirigidos aos principiantes. Amanhã, tem umas coisas que podem interessar a grupos mais amplos.

Se você gosta deste blog, divulgue. Se não gosta, escreva para mim reclamando. De ambos os modos, fico grato.

Agora, aproveite que está aqui, e leia os dois artigos abaixo e volte amanhã.

Mensagem aos iniciantes

Um recado especial para a turma dos Iniciantes & Principiantes. É raro o dia em que um de vocês não me escreve pedindo "umas dicas", fundamentalmente sobre como entrar no mercado.

Nada contra, para alguém vocês tem que perguntar. Mas é bom lembrar do seguinte:

Não há uma receita do bolo que eu possa resumir em vinte linhas. Se houvesse, este blog seria absolutamente desnecessário.

Não há caminho que sirva para todos. O que é funciona para você pode não funcionar para os outros e vice-versa. Não tenho condições de fazer um plano de carreira específico para cada um que me escreve. Seria até divertido, mas há um limite para o meu tempo.

No entanto, tenho dois conselhos fundamentais, que devem servir para todos os principiantes e para muita gente que não é tão principiantes assim:

Ingresse na comunidade Tradutores e Intérpretes BR do Orkut. Uma das poucas comunidades sérias daquela gigantesca esculhambação que o Orkut é. Antes de postar a famosa mensagem pedindo "dicas para principiantes", entretanto, leia cuidadosamente as FAQ da comunidade, onde há links para discussões riquíssimas sobre o mercado de tradução em suas diversas modalidades. A turma é boa e ajuda a todos, mas espera que cada um faça a sua parte e primeiro leia as FAQ.

Aqui, neste blog, lá em cima, tem uma caixinha para buscas. Escreva lá principiantes e vão aparecer todos os artigos que escrevi tendo com foco nos principiante. Tente também iniciantes, currículo, preços.

E, para terminar, é bom lembrar que, tradução não é profissão regulamentada, e que, por isso, não é necessário curso algum de coisa alguma para trabalhar como tradutor. Por outro lado, uma boa formação acadêmica ajuda bastante, tanto na hora de conseguir emprego como na hora de fazer o serviço.

Meu inglês (francês, espanhol...) é suficiente?

De vez em quando alguém pergunta se já sabe inglês (ou espanhol, ou francês, ou alemão ou o que seja) para ser tradutor, às vezes adicionando que está no talgésimo estágio de uma determinada escola, ou que tem o certificado disto ou daquilo.

As escolas que conheço se dividem em duas categorias: as que se preocupam muito mais com conversação do que com a língua escrita, que, no fim das contas, é a base do trabalho do tradutor de texto, e as que dão alguma base da língua escrita, mas se atêm fundamentalmente, ao "bom inglês" ("bom francês…"), ao passo que o tradutor de texto lida com um pouco de tudo e muito pouco "do bom".

Isso significa que, independentemente de qualgésimo ano, semestre, estágio ou o que seja, que você esteja freqüentando, em qualquer escola, precisa suplementar seus conhecimentos lendo, lendo, lendo, compulsiva e desesperadamente, textos de todos os tipos, desde trechos da Bíblia até bula de remédio, desde obras de arte até obras de lixo. Aos poucos, como profissional, você vai afunilar suas leituras para dois canais: o canal do que você lê por prazer e o canal do que você lê por dever. Mas, até chegar lá, quanto mais variado for o prato, melhor.

Se você pretende se dedicar à tradução da língua falada (simultânea, dublagem, legendagem) aprenda, também a ouvir e entender o "mal falado". Não adianta aprender a falar inglês com pronúncia que engane os próprios nativos se não for capaz de entender o inglês de um chinês gago ou de um alemão bêbado. Mesmo os "falantes nativos" têm uma variedade de acentos extraordinária. A BBC escocesa tem uma séries num escocês muito diluído, para consumo externo, que deixam muita gente boa com cara de ponto de interrogação. Para não falar nos galeses, australianos e o que mais seja. Entender somente inglês de locutor da CNN não resolve nada

Mas o pior é que nenhuma dessas escolas ensina português. E, fundamentalmente, é português que você vai escrever. O que se encontra de mensagens de gente querendo saber como entrar para o mercado de tradução, diz que sabe inglês (francês, espanhol...) e o escambau, mas não conhece a diferença entre a, à, há e ah e me sai com uns "estudo inglês a dez anos" que dão dó é uma barbaridade. Fora os que dizem que na sua faculdade haviam bons professores – o que certamente não deve ter incluído o professor de português. Quer dizer, uma boa conversa com uma gramática não faz mal a ninguém. Principalmente a quem quer ser tradutor na vida.

Até amanhã. Agora, voltei mesmo.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Quanto ganha um tradutor

Foi a pergunta que um jovem fez na comunidade do Orkut outro dia. Está pensando em se tornar tradutor, ouviu de muita gente que tradutor ganha pouco, que não se pode viver de tradução, aquela bobajada de sempre.

Mas o rapaz ouviu e quis tirar a limpo e, por isso, fez a pergunta a quem poderia responder, quer dizer, aos profissionais da área, não aos "entendidos". A pergunta é indiscreta e a turma não gostou. Entretanto. o assunto é importante e merece uma boa análise. A bem dizer, quanto ganha um tradutor?

Geralmente, quem faz a pergunta agrega um em média para suavizar a indiscrição, como quem diz, não quero saber quanto você ganha, não sou bisbilhoteiro.

Média, dizem os estatísticos, seria a soma de tudo o que ganham os tradutores, dividida pelo número de tradutores. O fato é que não sabemos. Se você for investigar quanto ganha, digamos, um digitador, vão te dizer que numa faixa de x a y. Não é uma média, mas é uma faixa que, digamos, engloba os salários mais comuns. Acima de x é raro, abaixo de y, igualmente raro. Pronto, você está razoavelmente informado. Mas com tradução, a variação é muito grande.

Começa que tradução é um termo genérico, que engloba dúzias de profissões e especialidades diferentes. Por exemplo, tem desde o sujeito que traduz poesia por esporte e geralmente não ganha nada pelo seu trabalho, até o TPIC, conhecido vulgarmente por juramentado, que é obrigado a cobrar e obrigado a cobrar de acordo com uma tabela estabelecida pela Junta Comercial. Quem trabalha com dublagem geralmente ganha menos do que quem trabalha com legendagem, as editoras pagam menos que as agências e as agências menos que o clientes finais. As agências americanas, canadenses e européias pagam mais que as brasileiras. Tem tudo isso.

Depois, tem o fato de que alguns simplesmente produzem mais que os outros. Como na maioria dos casos, trabalhamos sem vínculo empregatício, ganhamos por produção. E, portanto, quem produz mais ganha mais. Alguns produzem mais porque ficam mais horas no computador; outros produzem mais porque trabalham mais rápido, ou por serem naturalmente mais velozes, ou porque aprenderam a usar ferramentas de trabalho mais avançadas. Tem gente muito disciplinada, que estabelece para si uma meta de produção diária ou semanal e cumpre essa meta religiosamente. Outros só realmente se empenham quando o prazo já estourou: a vida tem tanta coisa mais divertida para fazer do que ficar traduzindo!

Alguns têm facilidade para conseguir serviço. Aprendem a procurar. Aprendem a tratar os clientes. São agradáveis, educados, pontuais. Para cada problema, têm uma solução rápida e eficiente. Outros fazem questão de manter uma guerra constante com os clientes e fazem de cada serviço uma experiência traumática. São capazes de desafiar o cliente para um duelo por causa de uma palavra trocada. Reclamam amargamente de uma diferença de dez palavras numa contagem. Nasceram negativistas: são capazes de ver problemas insolúveis em qualquer serviço. Raramente entregam serviço no prazo. Outros, simplesmente, são porcos para trabalhar: entregam serviços mal revisados, com trechos por traduzir e mesmo o que está traduzido foi feito meio que no chute. A esses, por competentes que sejam, só se dá serviço em última instância.

Tem também o problema da irregularidade dos fluxos de trabalho e caixa.

Em certos meses, entra mais serviço que em outros. O que vai ser o mês gordo para você depende de sua especialidade, entre outros fatores. Por exemplo, eu trabalho com finanças e, há anos, tenho um monte de serviço entre 20 de dezembro e 20 de fevereiro. Para outros tradutores, essa é uma época de pouco ou nenhum trabalho: para eles, a vida começa após o carnaval. Também tem os "grandes eventuais": recentemente, uma alteração na regulamentação gerou uma quantidade enorme de serviço para muitos juramentados que quase deixa todos loucos. Tudo com prazo apertado. Acabou, voltou ao normal. Então, num mês você ganha mais, em outro ganha menos. É preciso aprender a usar o tempo nos meses de esbelteza bovina: estudar, pesquisar, arrumar o escritório, aprender a usar ferramentas especializadas, botar ordem nos glossários, fazer marketing. O que não pode é desesperar.

Mas muito serviço não significa muito dinheiro no bolso: há serviços de todos os tamanhos e muitas vezes só se pode faturar depois da entrega do serviço todo; além disso, cada cliente tem condições de pagamento diferentes: uns pagam em uma semana, outros demoram mais de um mês. Isso significa que, por exemplo, no mês de janeiro, durante o qual trabalhei feito um escravo, recebi quase nada. Em compensação, em março, que deve ser um mês menos ativo, vai jorrar dinheiro na minha conta. É necessário um bocado de habilidade para lidar com essas coisas.

Finalmente, não se pode confundir a receita do tradutor independente com o salário de quem trabalha com vínculo empregatício. Se você tem um emprego "de carteira assinada", no fim do mês, recebe um tanto de "salário líquido" e esse é para sua manutenção pessoal. Sim, tem INSS e IRRF, eu sei. Mas, no contracheque, vem o valor líquido, certo?

Além disso, tem provavelmente, alimentação, transporte e assistência médica subsidiados, fora FGTS, 13º e férias. Se você trabalhar como independente, como trabalho eu e a maioria de nós, do que recebe, tem que deduzir os impostos, pagar contador e comprar suprimentos para o escritório. E, claro, INSS, assistência média, férias, tudo isso por sua conta. De FGTS, nem se fala. Dá para separar as despesas do escritório das nossa despesas particulares? Não, não dá. Para fins de imposto de renda, até que é fácil. Mas, para a gente saber, não dá. Por exemplo, este computador foi comprado para o escritório, mas é nele que me comunico com uma boa amiga que atualmente mora na Suécia e que uso para mil coisas particulares. Tenho um aposento separado na minha casa para o escritório, mas ele inclui uma "sala íntima" onde minha mulher (também tradutora) e eu passamos quase todo nosso tempo de lazer, lendo, ouvindo música (via computador) e ela, muitas vezes, fazendo trabalhos de agulha (eu bem que faria – se fosse capaz). Quer dizer, separar a vida profissional da pessoal é impossível.

Quer dizer, mesmo que eu dissesse a você exatamente quanto ganhei no ano passado, nada indica que esse valor fosse típico da categoria nem que você fosse ganhar algo de semelhante. Além disso, se você quiser fazer uma conta do tipo "meu pai ganha X por mês e nós temos um padrão de vida assim e assim, o Danilo ganha Y por mês, logo ele deve ter um padrão de vida assim e assado, vai se enganar, em razão das diferenças entre receita e salário de que falei acima.

Lamento não poder dar a resposta que você quer. Espero que você tenha entendido o problema e que, principalmente, tenha aproveitado as sugestões embutidas neste texto para alcançar um padrão de vida material melhor.

Talvez possa dizer que há muita gente vivendo bastante bem de tradução no Brasil. Gente que trabalha muito, mas vive em casa própria, tem seu carro, faz suas viagens, se veste decentemente, tem seus filhos em boas escolas. E, para finalizar, a maioria de nós está bem gorducha.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Aviso aos navegantes

Este blog ficou abandonado estes dias, porque as coisas andaram pretas por aqui. Mas já está tudo em ordem e, logo que dormir um pouco mais, volto a escrever. Obrigado pela paciência e até de noite.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Do caderno de notas de um velho tradutor

Colega escreve, dizendo que onde ele mora há gente trabalhando por muito pouco e prestando serviços ruins. Na verdade, os tradutores se dividem em três catetgorias:
  1. Os que cobram menos que eu, prestam serviços ruins e aviltam nossa profissão.
  2. Os que cobram o que eu cobro, mas prestam serviço pior que o meu.
  3. Os que têm a sorte de conseguir cobrar mais que eu, mas não merecem o que ganham.
Todo tradutor acha que quem cobra menos que ele avilta, mas costuma se esquecer de que ele também cobra menos que muita gente e, quando defrontado com essa realidade, se desfaz em desculpas e explicações.

Mas tarde escrevo mais alguma coisa. Este aqui foi só uma brincadeira.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Nosso mercado

Curioso como tanta gente que está se preparando para ser tradutor na vida ignora o que seja o mercado de tradução. Há um grande mercado visível, composto da literatura, interpretação simultânea e a famosa dupla dublagem e legendagem. E tem "o resto".

As editoras brasileiras traduzem muito. Muita literatura, o que irrita os escritores patrícios, que reclamam que se traduz muita bobagem enquanto grandes textos brasileiros jamais são publicados. Em muitos países, a tradução literária é praticamente inexistente. Na Inglaterra, por exemplo, os tradutores vão de editora em editora, com um trecho de uma tradução debaixo do braço, tentando convencer algum editor a publicar o livro.

Parece muito bonito, o tradutor escolher o que vai traduzir e tal. Mas é terrível. A resposta normal é "tem tanta coisa em inglês para publicar, para que traduzir?" Às vezes, até conseguem convencer o editor a publicar o livro, embora muitas vezes o encarregado da tradução seja um figurão qualquer mais conhecido e o infeliz que propôs a aventura a fica ver navios.

Quando digo que temos aqui tradutores literários que não fazem outra coisa na vida, embora não ganhem muito, a turma lá baba. Quando digo que aqui as editoras têm um grupo de tradutores e telefonam para eles, oferecendo tradução, a turma lá também baba.

Há, certamente, grandes tradutores literários por aí. Mas muito raro é aquele que traduz um livro atrás do outro, como aqui acontece tanto.

E, mesmo assim, segundo um levantamento informal feito por alguns colegas há tempos, o número de livros (incluindo tudo, não só literatura) traduzidos em um ano é inferior ao número de alunos que as faculdades de tradução despejou no mercado no mesmo ano. Isso, sem contar o pessoal que fez licenciatura. Quer dizer, mesmo que as editoras fossem forçadas por lei a só entregar livros para recém-formados em tradução, não haveria trabalho para todos eles.

Ainda bem que o conjunto de todas as traduções contratadas por editoras é uma gotinha no nosso oceano profissional. Dos outros mercados visíveis, falo depois, porque por hoje chega.

Amanhã tem mais, se eu estiver vivo.

Aviso aos navegantes

Parece que o artigo sobre as dicas de CV para iniciantes teve lá seu impacto. Não vai parar por aí. Inclusive, alguns leitores mandaram perguntas e sugestões, que vão ser aproveitados na continuação. Lembro que ao primeiro artigo era para quem tinha pouca ou nenhuma experiência e estava procurando serviço no exterior. Outros virão, com umas discussões mais avançadas.

Estou de serviço até às orelhas e escrevendo no blog, por assim dizer, por amor à firma. Se tivesse juízo, ia ler um romance, ou uma edição bem antiga de "O Pato Donald".

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Dicas para os iniciantes: o CV

Dê a quem ler o seu CV uma boa razão para chamar você para um teste ou entrevista. Quer dizer, na mesa da selecionadora há cinco dúzias de CVs, incluindo o seu. Por que você vai ser chamado?

Vamos começar pelo óbvio: antes de mandar um CV, leia várias vezes, em vários dias diferentes. Ler três vezes no mesmo dia, não vale. Tem que ler em cinco dias diferentes. Pese e meça cada uma das palavras, cada construção. Não use gíria, mas também não seja empolada. Ortografia perfeita. Use só uma fonte, ou no máximo duas. E CV em preto e branco. Você está se candidato a tradutora, não carnavalesca. Coisas assim. Mas isso é o óbvio, algumas coisas não são tão óbvios. Vamos ver algumas delas

Vamos começar com CV para empresas brasileiras, imaginando que você seja iniciante de tudo.

No alto, seu nome profissional. Nome profissional significa que se você se chama Ana Rita Umeki Kirigawa Numes Biancalana de Vasconcellos, mas costuma ver a si própria como "Rita Vasconcellos" é esse o nome que deve estar no alto do CV. Tenho uma amiga com um longo prenome que ela odeia. Sempre, desde o colégio, se apresentou como "Ane". Se esse for o seu caso, colocar no alto do CV Ane Vasconcellos, por exemplo, é perfeitamente correto. Quando apropriado, na hora de fazer a fatura, por exemplo, você dá nome completo e CPF e pronto. Nada de CPF, Identidade, filiação, essas coisas. Se alguém quiser saber como se chama seu pai, vai perguntar.

Em seguida, suas línguas. Geralmente, é inglês-português, mas ninguém tem obrigação de adivinhar.

Em seguida, as informações para contato. Não precisa escrever "Informações para contato:" simplesmente coloque endereço completo com cidade e CEP. E-mail (ter dois é útil, desde que você abra os dois o tempo todo) e telefone. Telefone sempre com DDD. Celular também. Não faça "11-xx-4444-4444", todo mundo já sabe que tem que discar o número da operadora. Skype, Microsoft Messenger, essas coisas.

Data de nascimento tem sua importância. Não precisa informar sexo, principalmente se seu nome indicar claramente de que lado você está. Mas se houver possibilidade de dúvida, indique. Há poucas coisas piores do que um entrevistador que quer marcar uma entrevista com alguém que ele não sabe se e homem ou mulher. Se você se chamar João José Sebastião Augusto de Almeida, dizer que é do sexo masculino é supérfluo.

Formação acadêmica. Comece pelo curso mais recente e não diga nada sobre curso médio, salvo se feito no exterior. Não diga nada sobre a pré-escola, por favor. Ninguém se importa se você fez pré-escola no Turminha levada ou no Império dos peraltas.

Ganhou algum prêmio na escola? Teve destaque em alguma coisa? Sempre entre as cinco melhores alunas da turma, desde o primeiro ano da faculdade. Primeiro lugar em língua portuguesa no quarto ano. Se você foi a maior CDF da classe e alvo da gozação de todos, chegou a tua hora de dar o troco. Ri melhor… Se for tricampeã universitária de halterocopismo, talvez seja melhor esquecer.

Sobre que foi seu TCC? Se foi preparação de glossário sobre veterinária, com 400 termos, deve ser mencionado. Se foi As metáforas de Chaucer em traduções da primeira metade do século XX, provavelmente é melhor ficar quieta, salvo se o CV for para uma editora..

Fez algum curso de informática? Se fez, mencione. Se não fez, pense em fazer. Salvo se você for trabalhar com editoras ou audiovisuais, saber se virar em Word, Excel e Powerpoint é essencial.

Fez algum curso extra? Lá sei eu, aqui vai desde Cultura Inglesa até curso para aperfeiçoamento de professores de inglês na escola onde você foi proressora, ou cursos de redação, revisão, qualquer coisa ligada a línguas.

Conhece ferramentas de tradução? Se conhece, mencione: Conhecimentos elementares de Trados e Wordfast. Se for PowerTranslator, é melhor esquecer.

Experiência em tradução. Tudo ajuda. Várias traduções informais para outros tradutores ou traduções particulares e informais para pessoas físicas principalmente na área de medicina por exemplo, fazem uma diferença. Não tem experiência nenhuma em tradução? Paciência, a gente tem que começar algum dia. Mas você sempre pode colocar as outras experiências. Pode parece que não, mas secretária júnior é uma experiência válida. Programadora, então, melhor ainda. Entre duas inexperientes, a menos inexperiente ganha.

Foi professora? Professora na Escola XPT de ___ a __ e não se esqueça de adicionar o estágio da turma mais adiantada de que você foi encarregada. Por exemplo para turmas até o 6º estágio de um curso que totalizava 9 estágios.

Algum desses certificados de estudo de inglês de organizaões estrangeiras? Sempre é bom adicionar.

Fez viagens ao exterior? Viagem a Inglaterra, com duração de um mês, em 2001, por exemplo, é uma indicação

Equipamento. Que versão de Windows e Office você tem? Tem scanner, sabe usar? Tem laptop? Wordfast? Trados?

Tem empresa própria? Estabelecida como pessoa jurídica faz uma grande diferença.

Tudo o que eu disse acima, você pode esquecer. Mas lembre disto: jamais diga uma mentira.

Ainda volto ao assunto. Por hoje, entretanto, é só.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Vida de tradutor

Estou lotado de serviço, atendendo uma porção de gente ao mesmo tempo. Até, depois, conto a história. Hoje, não dá. Em vez do artigo sobre técnicas de tradução, uma coisinha mais leve, para iniciantes. Desculpem, mas baixou o santo na clientela. Adrenalina pura, como se diz.

Dicas para tradutores iniciantes

Fala sério: você já pensou na importância do e-mail? Antigamente, a gente mandava cartas (e, muitas vezes, era obrigatório ser do próprio punho. Hoje a gente manda e-mail.

Vamos começar pelo endereço. Qual é o seu endereço? Se você tem uma coisa tipo maluquinha85@ig.com.br, está na hora de arranjar outro, mais sóbrio. Sugiro criar uma conta no gmail, por exemplo. Por quê? Porque há muitos provedores de Internet que automaticamente barram mensagens de provedores brasileiros, tais como Terra e Uol, por causa do excesso de spam. E você quer que suas mensagens cheguem, certo?

Segundo, se você quer ser profissional, saiba que a hora do recreio acabou. Não tem mais internetês. Nada de achu ki da pra faze. É acho que dá para fazer. Smileys, só depois de adquirir um pouco de intimidade com o cliente. Melhor deixar que ele comece a usar. aQuElA cOIsa de alternar aleatoriamente maiúsculas e minúsculas, nem pensar. Na linha de assunto, não use acentos nem cedilhas, porque muitos servidores se perdem com essas coisas. Mas no corpo da mensagem, escreva direito, com acentos, cedilhas, como manda a ortografia. Sem gíria nem palavrões. Ou, ao menos, espere que o cliente comece a se comunicar assim.

Aprenda a não escrever TUDO EM MAIÚSCULAS, também.

Seu e-mail é seu cartão de visitas, algo que o cliente lê antes de seu currículo. Então, cuide da gramática. Em muitas agências, os e-mails com erros de crase ou de uso do verbo haver são apagados imediatamente, sem maiores atenções.

Deixe o cliente dar o tom da conversa. Se o cliente usa atenciosamente como fecho, não vai fechar tua resposta com um beijo!

Não instale no seu programa de e-mail aqueles extras que botam linhas de smileys em toda a correspondência.

Por hoje é só. Amanhã, e eu estiver vivo, falamos de currículos.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Como conseguir serviço de tradutor

Este é o início de mais uma de nossas novelas. Vai dar muitos artigos para o blog. Algum dia, tenho que começar com isto.

Quer na comunidade do Orkut, quer em mensagens particulares, pelo menos duas vezes por semana aparece alguém querendo saber como conseguir traduções.

A resposta mais precisa que posso dar é que não sei. Se você está procurando serviço de tradução, acho que deveria começar a busca pelas próprias FAC da comunidade, onde há um tesouro de informações sobre o assunto. Mas não há uma receita, lamentavelmente. Nosso mercado sempre foi muito confuso: há serviço, mas a confusão é tanta que a gente tem sérias dificuldades em achar e não há um caminho seguro para conseguir serviço e mesmo um símio senescente como eu tem que pular miudinho para achar o que fazer.

A situação se agrava por dois motivos: um que todo mundo que sabe um tostão de uma língua estrangeira quer ser tradutor; outro que "tradutor e intérprete" virou curso da moda e há dúzias de faculdades diplomando centenas de bacharéis por ano. O mercado está túrgido.

Uma festa para aquelas agências e empresas de legendagem e dublagem que só querem saber de preço, porque com tanta oferta de mão-de-obra conseguem quem trabalhe por qualquer ninharia. Um problema para os iniciantes, porque junto com o currículo de cada recém-bacharelado, apareceram outros 400, quase iguais. Um pesadelo para as agências e empresas honestas, porque, na pilha de currículos, é impossível achar quem, realmente, tenha potencial para progresso e deve ser entrevistado. Teste é muito bom, mas como quem faz é geralmente um amigo do candidato, não merece muita fé. E analisar 400 testes não é pouca coisa.

Vamos voltar ao assunto várias vezes. Por hoje, é só. Que meu computador é bom, mas não trabalha sozinho.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A agência não quer pagar

Problema sério levantado por uma colega do Orkut. Mas é um problema comum e, por isso, estou analisando aqui. Como a resposta não é específica para ela, estou generalizando vários pontos. Não analisei a tradução da colega, não teria como, porque é numa área que não conheço e, mesmo que tivesse como, não iria analisar. Meu objetivo, aqui, é discutir o problema in genere. Portanto, o que eu digo aqui não vai necessariamente refletir o caso dela em todos os pormenores.

Em resumo, a tradutora fez um serviço para uma agência, a agência mandou para o cliente final. Tempos depois, a agência disse que o cliente tinha devolvido a tradução, com mil alterações, alegado que o serviço estava mal feito e se recusado a pagar. Como prova, entregou à tradutora um arquivo cheio de alterações. A tradutora alega que as alterações na melhor das hipóteses, trocam seis por meia dúzia e, na pior, introduzem erros na tradução dela.

A agência, nesses casos, não dá sua opinião: se o cliente diz que está ruim, então está ruim. Nesse momento, a agência abandona sua trombeteada condição de especialistas em línguas (que muitas vezes inclusive se irrita com o nome "agência", dizendo que não são agências, mas sim empresas de prestação de serviços lingüísticos ou que raio seja e se reduz a humilde posição de repassadora de serviços, quer dizer, de agência, no pior dos sentidos da palavra.

A primeira coisa a lembrar é que meu cliente é a agência. O cliente final é o cliente da agência, não meu. Prova disso é que eu faturo a agência, não o cliente. Em qualquer momento do processo, a agência vai objetar a qualquer contato entre tradutor e cliente final: o cliente é deles, não meu e, por isso, não temos o direito ao contato. Mas quando dá problema, então o cliente passa a ser também do tradutor.

O serviço entregue pela agência é o serviço da agência, não o meu. Cabe à agência pagar a mim, porque foi a eles que prestei o serviço.

A tática da agência, evidentemente, é evadir essa responsabilidade e dizer "pois é, você tem razão, mas o cliente não quer pagar...". Se você tem um pedido da agência – e deveria ter, porque não se faz serviço sem pedido – pode ingressar em juízo contra eles. Se deu nota fiscal – e deveria ter dado, porque "serviço por fora" é sempre prenúncio de confusão – pode pedir ajuda a seu contador para fazer o protesto como cabe.

Se o serviço tiver sido apropriadamente formalizado, não é necessário nem fazer nada: só ameaçar já é suficiente.

Com a ameaça é possível que essa agência nunca mais te dê serviço, certo? Mas, pense bem, você quer mesmo trabalhar para essa gente, sabendo que pode receber ou não?

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Vida de tradutor

Fim de semana que mais parecia o fim do mundo, credo! Pensei que não ia dar conta do recado. Dei, meio que aos trancos e barrancos, mas deu. Hoje, outro dia maluco e o que me salvou foi um problema em um cliente que teve de suspender um serviço. Se não fosse a suspensão, eu estava frito.

Ainda por cima, tivemos a Reunião na Sala 7, que é muito divertida e tal, mas cansa, porque são duas horas sem parar de falar e responder chat. Animadíssimo, principalmente a parte reservada a falar mal de quem não compareceu.

Como eu sempre digo, antes isso que falta de serviço. Amanhã, imagino, vai ser um dia mais calmo e vou poder voltar a falar sobre coisas como técnicas de tradução. Hoje, simplesmente não tenho coragem. Tem, aqui abaixo, só uma historinha a mais. Tradutor velho tem muitas histórias.

Vingança, como é doce teu nome

Já contei aqui umas histórias em que me dei mal. Agora, vou contar uma em que me sai bem. Que diabo, tem dia que nosso time perde, mas também tem dia que dá de goleada.

Eram dois textos sobre ética empresarial, bastante simples, ambos simples, ambos vinham com a assinatura de sua divindade absoluta o President and CEO da empresa. Traduzi, devolvi. Uma semana depois, o cliente, uma agência americana, devolveu os textos com uma raspança: um advogado da empresa, no Brasil, tinha considerada a tradução useless. Calma lá, que estamos todos com muita pressa. Achar erro em tradução minha é possível, achar que alguma coisa poderia ser dita de outra maneira, é igualmente possível. Mas dizer que um serviço meu não serve para nada, já é um tanto de exagero.

Fui ver, o advogado tinha praticamente reescrito todo o texto. Escrito outro texto. Provar isso a um cliente americano que não sabe português, é difícil. Mas São Jerônimo estava de plantão e percebi que o advogado tinha feito uma adição longa e uns tantos cortes facilmente identificáveis. Coisas como nomes próprios e números, por exemplo; Aí, então devolvi para a agência, com um comentário em estilo educadíssimo, que vou reproduzir de memória e, claro, em português, porque nem todos aqui entenderão inglês. Mais ou menos o seguinte:

Muito obrigado pela oportunidade de tomar conhecimento dos comentários feitos à minha tradução. Gostaria de destacar que o comentarista, ao dizer que a tradução era inútil, não quis dizer que meu serviço estava mal feito, mas sim que o texto que lhe foi entregue era inútil. Tanto que as informações contidas no texto comentado diferem das informações contidas no original. Pode-se notar, por exemplo, o parágrafo X, que tem tal e tal coisa que o original não menciona, bem como o parágrafo Y do original, que foi de todo omitido no texto comentado.

Em outras palavras, o comentarista acha que o original é inútil, presta informações que não deveria prestar e deixa de prestar informações que deveria. Não cabe a mim opinar sobre afirmações desse tipo. O texto vinha assinado pelo Presidente e Diretor Executivo da empresa e não me parecia que me coubesse o direito de alterar o que quer que ele tenha dito.

Não sei em que deu a história, mas acho que não ficou muito boa para o advogado enxerido.

Agora chega. Volte amanhã que temos algo de sério para dizer.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Pagamento adiantado

Uma colega me escreve perguntando se acho certo pedir 50% do pagamento antecipado, para minimizar os riscos de calote. Errado, certamente, não está. Tenho colegas que dizem que trabalham assim. Longe de mim duvidar da palavra deles, mas nenhum de meus clientes atuais poderia me pagar adiantamentos de 50%.

Temos pelo menos dois problemas aí. A ver se consigo me explicar sem muitos volteios.

Em primeiro lugar, se você tem o direito de recear que o cliente não te pague, ele também tem o direito de recear que você suma do mapa com o dinheiro dele, sem entregar a tradução. Ou que demore meses para fazer dez míseras laudas, ou que entregue uma tradução de dar medo. Quer dizer, na testa dele não está escrito que ele é honesto, mas também na tua não está. Eis aí um grande problema.

Um outro, e talvez maior, é que a maioria dos clientes – e a quase totalidade dos bons clientes – é de pessoas jurídicas. Uma pessoa jurídica, por cheia de dinheiro que seja, por honesta que seja, precisa de vários dias para pagar qualquer coisa que seja. As faturas precisam de aprovação, os pagamentos precisam ser colocados na programação de caixa, alguém tem que emitir um cheque ou preparar uma ordem de pagamento, doc ou que seja e, o documento de pagamento, qualquer que seja, precisa normalmente de duas assinaturas, para evitar fraudes internas. É possível, em casos de emergência, num gigantesco corre-corre, fazer tudo isso em poucas horas. Mas isso é caso especial, grande urgência. Não é a praxe comercial. A praxe comercial é prestar o serviço, enviar a fatura e dar um prazo razoável para o pagamento. Nenhum de meus clientes tem condições de fazer um depósito na minha conta em menos de 15 dias e nenhum deles tem condições de esperar quinze dias até que eu comece a tradução.

Isso, numa empresa honesta e bem administrada. Há empresas onde a burocracia é enorme e ultrapassa todos os limites do necessário para manter um bom controle interno. Em outras, segurar pagamentos para fazer caixa é o esporte predileto.

Além disso, a maioria das pessoas jurídicas só faz adiantamentos mediante a assinatura de contratos e a própria preparação e assinatura de um contrato demora vários dias. Mas, muitas vezes, a tradução tem que sair em questão de poucas horas.

Há, claro, as exceções, mas exceções são exceções.

Claro que uma pessoa física pode sacar o talão de cheques e te fazer um na hora. Ou dois, uma para agora e outro para você depositar quando entregar a tradução. Mas as pessoas físicas representam menos de 1% do mercado. Se você conseguir uma clientela dessas, sorte sua, mas duvido que paguem tanto quanto as pessoas jurídicas. Até amanhã . Por hoje, é só.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Vida de tradutor

A Internet facilitou tudo, dizem. Antigamente, era eu e meus dicionários, agora é eu e o mundo. Ontem, tive uma dificuldade terminológica e consultei, via Internet, milhares de tradutores ao mesmo tempo.

Com a Internet, deixei de morar num subúrbio de São Paulo, que muita gente nem sabe onde fica, a despeito do fato de que o Lula mora do outro lado da mesma cidade: agora moro na Internet. Outro dia tinha uma colega comentando na Tradutores/Intérpretes BR, uma das poucas comunidades do Orkut que serve para alguma coisa, que uma das primeiras coisas que aprendeu lá é que hoje moramos na Internet e ela, que mora no nordeste, tem as mesma chances que eu, que moro na Grande São Paulo. Aliás, essa é uma comunidade administrada, sem spam nem a oferta do vídeo da mulher pelada. Não deve ser confundida com outras, que estão algo superabandonadas, se me faço claro.

Esse é o lado positivo.

O lado negativo é que a Internet transformou nossa vida em uma roda viva: os textos voam para cá e para lá, em formato eletrônico, e os prazos estão cada vez mais curtos. Às vezes, dá tudo certo, mas outras vezes a coisa se complica, principalmente em épocas de muito serviço, quando um serviço demora um pouco mais que o previsto – e tradução está sempre sujeita a chuvas e trovoadas – acaba atrasando o seguinte, que atrasa o próximo que atrasa o da frente... causando um engavetamento fenomenal que a gente só resolve trabalhando feito doido e rezando para ter uma folguinha entre dois prazos que possa absorver os atrasos. É nessa situação que me encontro no momento: veio uma montoeira de serviços ao mesmo tempo e um deles deu uma atrasada. Desgraça feita.

Por isso, nem dá para postar meu "artigo do dia" hoje, embora, de certo modo, o que você leu até agora já seja um artigo. Paciência. Volte amanhã que, se eu ainda estiver vivo, a gente conversa de novo.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Formação profissional do tradutor

É rara a semana em que não me escreve alguém perguntando sobre cursos. Como se eu soubesse a resposta! Conheço um que outro curso, outro dia falei aqui de um curso da UNESP, em Rio Preto; devo ter mencionado o curso da Alumni em São Paulo, que goza de excelente reputação e tal, mas certamente deixei de lado excelentes cursos e teria sido melhor se eu não tivesse dito nada. Não sou conhecedor de cursos. Não tenho envolvimento algum com o setor acadêmico nem tenho formação acadêmica alguma: quer dizer, é a pergunta certa para a pessoa errada. Além disso, o que é um bom curso para um será um curso inadequado para outro. Por isso, fazer uma recomendação aqui seria arriscado.

Se você tem dúvidas desse tipo, a melhor coisa a fazer é clicar aqui e ver o que a comunidade dos tradutores do Orkut recomenda. Ao contrário da maioria das outras comunidades do Orkut, esta é séria está sempre disposta a ajudar. Leia com atenção os dois ou três tópicos sobre cursos e ressuscite um deles, se quiser. Se você não sabe, no Orkut há várias comunidades de tradutores e sobre tradução, mas essa aí do link acima é a quente.

Lembre, entretanto, que:

  • O curso bom para você não é necessariamente o curso que foi bom para outra pessoa.
  • Nenhum curso é completo. Há muita coisa que nenhum ensina e você vai ter que aprender ou em outro curso ou na prática. Por isso, não pense que, ao sair da escola, você está pronto para o que der e vier.
  • Nem só nos cursos se aprende a traduzir. Não fique reclamando aí que tem gente sem curso de bacharelado fazendo tradução e isso é uma vergonha. Pelo menos onde eu estiver ouvindo, para não me deixar triste.

O mercado exige cada vez mais de nós. Antigamente, para ser tradutor, você precisava saber bem sua própria língua e uma língua estrangeira e ter uma boa cultura.

Aos poucos, o pessoal foi se dando conta de que havia uma coisinha chamada técnica de tradução e que não bastava saber bem duas línguas, era necessário saber traduzir, o que era uma coisa diferente.

Houve época em que tradução era coisa que se fazia nas horas vagas e as traduções técnicas eram feitas pelos técnicos na área. Hoje, com a profissionalização do mercado, cada vez mais as traduções técnicas, ficam na mão de tradutores, o que significa que os tradutores têm que adquirir conhecimentos específicos em disciplinas alheias à tradução. Ou, reduzindo a uma frase mais inteligível, significa que gente como eu teve de aprender um bocado de contabilidade para escrever pouca bobagem.

Finalmente, cada vez mais temos de conhecer informática: programas de memória de tradução, formatos esquisitos e quetais. Mesmo a turma da legendagem agora usa intensamente programas especializados. Creio que o último bastião da tradução feita sem software específico ainda é o serviço para dublagem. Cada vez mais, nas outras áreas, o conhecimento de programas de tradução assistida por computador e formatos esquisitos é pré-requisito. Não vai demorar muito, e as editoras vão acordar, exigindo que seus tradutores trabalhem em cima dos arquivos InDesign e devolvam arquivos do mesmo tipo.

Você duvida? Pois é, também – e não há tanto tempo assim – duvidavam que alguém fosse pedir arquivo eletrônico em vez de aceitar tradução em papel e conheço muita gente boa que jurava que jamais ia comprar computador.

Por hoje é só. Escrever é bom, mas trabalhar é indispensável. Até amanhã. Não se esqueça da Reunião na Sala 7, amanhã.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Vida de tradutor

Tradutor velho tem muitas histórias e acaba se repetindo muito, mas acho que esta você não conhece.

Fui há muitos anos, ainda no tempo da máquina de escrever, mas ainda me parece válida.

Era uma enorme instituição financeira e várias pessoas me mandavam serviço, tratado separadamente com cada um deles. Sempre na base da confiança mútua. Um dia, um sujeito novo na casa me deu um livrete para traduzir, perguntou o preço, cotei, ele aceitou, fiz, cobrei, recebi. Mandou um segundo, não perguntou o preço, era do mesmo tamanho que o primeiro, fiz, cobrei, recebi. Mandou um terceiro, que era maior que os outros dois juntos. Não perguntou preço, fiz, cobrei o dobro do que tinha cobrado os outros, ele esperneou. Disse que era X por livro e ele não ia pagar agora o dobro do que tinha pago pelos outros. Expliquei que tinha o dobro do tamanho do anterior. Ele disse que não via razão para isso dobrar o preço. Um livrete era um livrete e pronto: o porte não fazia diferença e eu tinha dito que era X por livrete. Estava mentindo, claro, mas eu não tinha provas nem argumentos. Evidentemente ele tinha dado os pequenos primeiro de propósito.

Podia reclamar com o chefe dele (como me recomendaram), mas corria o risco de me encrencar com um bom cliente. Resolvi dizer que, então, era grátis: no meu serviço, ele não punha preço. Ou eu cobrava o que queria, ou era grátis. Ele argumentou que, por segurança, ia me fazer assinar uma cessão de direitos, preparada pelo departamento jurídico da empresa. Me neguei. Lá sei eu o que o raio do advogado da empresa (com o qual eu dificilmente conseguiria falar) ia botar na carta. Ele disse que ia recomendar que eu jamais fosse contratado de novo pela empresa e que quem ia perder era eu.

Irritado, humilhado, emiti uma fatura por valor simbólico. Cobrei, pelo livro, que deveria ter umas boas duzentas laudas (era no tempo da máquina de escrever), o equivalente a uns cinqüenta reais de hoje. Confesso que cheguei em casa e chorei. Chorei de raiva e, também, porque o dinheiro ia fazer falta. Muita falta.

O sujeito sumiu da empresa e espero que hoje esteja ardendo nos quintos dos infernos, compartilhando com gente fedida uma masmorra mal ventilada e cheia de baratas voadoras. Mas, a bem dizer, a lição até que saiu barata. Desde então, jamais aceitei um serviço sem combinar preço antecipadamente e por escrito.

Não vá você fazer a besteira que eu fiz: eu já fiz, você não precisa fazer.

Obrigado por ter lido, volte amanhã que tem mais. Se gostou, divulgue; se não gostou, escreva descendo a lenha.