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segunda-feira, 17 de março de 2008

Catástrofes tradutórias

Então, como eu vinha prometendo, a catástrofe tradutória.

Catástrofes profissionais raramente têm um só motivo. É uma porção de coisas que se junta.

Começou com o efeito conjunto de vários serviços complicados que foram comendo a folga que mantenho para desgraças em geral: meia hora aqui, uma hora lá, e a folga se foi. Estava, então apertado, justo.

Dava para fazer o serviço, se tudo desse certo, mas uma porção de coisas deu errado. Não estou me justificando: profissional tem que trabalhar direito e, quando as coisas dão errado, azar meu, não tem nada que ficar se justificando. Mas, embora nem tudo tenha uma justificativa, tudo tem uma explicação: justificativas exoneram da culpa, explicações, quando muito, indicam o caminho para evitar a repetição do erro.

Além de problemas extraprofissionais, coisas do tipo fadiga aqui e doença lá, interrupções e mais mil coisas, houve os estritamente profissionais: arquivos esquisitíssimos, digitados por gente que não conhecia MSWord e que deram um trabalhão, porque programas de memória de tradução, que meu contrato me obrigava a usar, nem sempre perdoam textos digitados por incompetentes. Arrumei o texto, mas o arquivo ficou muito pesado e nem Trados nem WF davam conta. Simplifiquei a diagramação, de modo a poder trabalhar, para depois arrumar de novo. Tudo isso leva tempo – e o tempo não dá marcha a ré.

Para finalizar, acho que eu estava num dia triplo negativo, como se dizia no tempo em que falar em biorritimo era moda, um daqueles dias em que teria sido melhor ficar na cama, quietinho e quentinho, em vez de me meter a tradutor.

Para encurtar a história: a tradução saiu uma porcaria, fato que a revisora, amiga de muitos anos, mas que nunca tinha feito uma revisão de texto meu, não deixou de me apontar, aliás, com toda a razão. Numa das mensagens, manifestou sua surpresa e decepção por ver uma tradução tão mal feita saindo da minha mão.

A bem dizer, nada de admirar: não existem bons tradutores, existem boas traduções. Qualquer um de nós, por experiente e capaz que seja, pode ter um mau momento, seja lá por que motivo for, e fazer uma meleca tradutória de terceiro grau com cobertura de patê de lacraia. Ninguém está livre disso, muito menos eu. Por isso, contratar um tradutor experiente aumenta as probabilidades de se receber uma boa tradução, mas não garante nada. Tradução é como pudim: a gente sabe se ficou bom só quando prova.

Esses maus momentos devem sempre levar a reflexão e medidas corretivas. Não adianta ficar histérico e começar a gritar – Eu tenho X anos de experiência, fiz isto, aquilo e aquele outro!Sou isto e mais aquilo! Quem é você para me criticar? – todos nós, de vez em quando, fazemos uma grande besteira, por que iria eu ser a exceção? Se começar a acontecer muito, está na hora de tirar o time de campo, claro.

E só agora, quando a fervura baixou, é que, examinando o serviço que mandei para a revisora, vi a extensão do problema. De fato, eta serviço porco, meu São Jerônimo! Mas, quando entreguei, parecia até que direitinho. Não brilhante, mas bonzinho. Quer dizer, ninguém é bom juiz de sua própria obra – pelo menos no momento em que a termina. Um tempo depois, ainda pode ser. Mas na hora que terminou, acha que está uma beleza e entrega com o peito estufado de orgulho. Por isso é sempre bom alguém examinar o documento, seja com o propósito específico de revisar, seja simplesmente para ver se está bom. Às vezes, não está.

Um comentário:

Stephan Hughes disse...

Falou e disse, Danilo. Pensando bem o que você escreveu aqui, não concordaria em dizer que não existe bom tradutor mas apenas uma boa tradução. Como tradutores, temos que procurar fazer o máximo de reler, de revisar, de procurar o verbete certo, ou como dizem os franceses, 'le mot juste'. Isso deve ser feito à exaustão.