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domingo, 9 de março de 2008

Meu preço é…

A voz no telefone era educada, de alguém com menos de trinta anos. Conhecia meus glossários, tinha lido meus artigos, isto e aquilo, a empresa dele tinha um serviço na minha área, queriam atender bem o cliente, sabia que eu era especialista, essas coisas. Perguntou se eu topava. São situações constrangedoras: o rapaz me cumulava de cortesias e elogios, mas eu sabia onde ia emperrar o carro: no preço. Elogio faz bem para o ego, mas não paga a conta do supermercado. Então, para adiantar assunto, na primeira oportunidade fui logo cantando a bola dos meus preços.

O rapaz levou um susto: como ele ia fazer para me pagar se o que eu cobrava era o mesmo que a empresa dele? Contou uma história, que eu sei ser bastante verdadeira: ele tinha uma empresa no Brasil (recusava-se, como a maioria, a chamar sua empresa de agência. Agência, como todos sabem, é onde trabalha a mãe de quem falou, porque as agências e tal e coisa, aquela conversa que já se sabe). Sua empresa catava serviço no exterior, geralmente de agências (os outros têm agências, ele tinha uma empresa), e repassava no Brasil. Quer dizer, recebia lá o preço que normalmente se paga aos tradutores, tirava uma fatia para pagar as despesas dele e ficar com algum no bolso, e pagava aqui um preço que era, para os meus padrões, baixo demais. Pediu para que eu entendesse a situação, entendesse que não podia pagar mais e pediu que reconsiderasse minha taxa.

Sim, entendo perfeitamente a situação. Mas o fato é que eu tenho uma linha direta com as agências lá fora e, por isso, recebo a taxa integral, sem a fatia do intermediário. Cada vez que aceitasse um serviço dele, estaria rasgando dinheiro, num valor exatamente igual à parcela que ele retinha – que não era pequena. Há quem diga que sou maluco, mas maluco de rasgar dinheiro, já é pior do que sou.

Um ponto aqui fica meio frouxo: essa postura só vale porque tenho bastante serviço. Se tivesse pouco, poderia encaixar o serviço dele na folgas, de acordo com a filosofia de que ganhar pouco é bem melhor que ganhar nada.

Por isso é que fica sempre o conselho: procure serviço sempre, intensamente. Com o tempo, você fica em posição de poder dispensar os que pagam menos. Nada tenho contra quem oferece R$ 0,03 por palavra, mas prefiro trabalhar por quem paga mais pelo meu tempo. Então, peninha, peninha, mas não dá.

O rapaz ficou chateado, comentando que, se todos fossem iguais a mim, ele não teria como manter a empresas aberta. Pois é, talvez não. Mas o fato é que meu problema não é viabilizar a empresa dele, mas sim maximizar os meus rendimentos. Não pedi que ele entendesse isso: seria demais.

Obrigado pela visita. Tomei hoje uma decisões aqui, porque precisava tirar este blog do abandono. Vamos ver se consigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia, Danilo,
Concordo plenamente quando você diz que devemos procurar serviço sempre, intensamente. Estou consolidando minha base de clientes depois de um tempão sem parar de procurar e, felizmente, alegremente, radiantemente, não me falta trabalho. É terminar um e começar outro. Nem lembro que sou "autônoma".
Se algum dia quiser e tiver um tempinho, gostaria de saber o que você tem a dizer sobre a questão da L.E.R. e o que fazer!

Bons trabalhos,

Carolina