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quarta-feira, 4 de março de 2009

Professores e tradutores 1/3

Na lista CVL, correu uma discussão interessante sobre professores de línguas atuando como tradutores, da qual já falei aqui. Posteriormente, apareceu uma mensagem de Vera Menezes, que, com a devida permissão, transcrevo e comento aqui. Como a mensagem é longa e meus comentários ainda mais longos, vai dar três artigos. Espero que você goste e volte amanhã para ler a continuação.

Caros colegas,

Não sou tradutora profissional, mas recebo alguns pedidos de ajuda com resumos. Confesso a vocês que apesar de ser professora de inglês, tenho enorme dificuldade em verter para o inglês. Por isso tenho optado, em alguns casos, por escrever meus próprios textos primeiro em inglês e depois traduzir para o português, quando preciso das duas versões. Para mim é imensamente mais fácil escrever direto em inglês do que fazer a versão. Não tenho problemas com a tradução do inglês para o português, mas acho o contrario muito difícil. Não é a toa que na ONU, segundo soube, o profissional só traduz para sua própria língua.

A Vera se dá conta de algo que, para mim, é indiscutível: ensinar e traduzir são atividades diferentes. Nada impede que um tradutor seja também bom professor e vice-versa, mas é igualmente comum um bom professor ser bom tradutor e vice-versa.

A idéia de a Vera, que tem o português por primeira língua, achar mais fácil produzir um texto bilíngüe começando pelo inglês também é muito interessante.

Quando eu era adolescente e a mania do pessoal era ter correspondentes em inglês — para os quais quem escrevia era sempre eu — meus colegas ficavam surpresos de ver que eu escrevia "direto em inglês", enquanto que eles achavam lógico escrever em português primeiro, para depois traduzir. Pode até ser lógico, porém é bem mais difícil. Essa observação, por si, dá mais de metro e meio de discussão.


Em resumo, a Vera sabe mais português que inglês. Isso é normal. As pessoas bilíngües coordenadas, quer dizer, que são igualmente proficientes em duas línguas, são pouquíssimas. Quando escreve inglês, escreve o inglês que sabe. Não deve ser pouco, mas é menos que seu português. Quando traduz para o português, usa todo o seu enorme conhecimento de português para dar conta do recado. Por outro lado, quando escreve português, usa recursos muito mais amplos que os de que dispõe em inglês. Por isso, sofre.


Finalmente (por hoje, quer dizer, porque amanhã tem mais), não é só na ONU que a regra é traduzir só para a própria língua. Essa é uma prescrição praticamente universal, que deve ser violada somente quando não há alternativa. O fato é que, por exemplo, entre francês e inglês, não faltam tradutores, numa direção ou na outra. Mas encontrar um tradutor competente falante nativo de inglês e que traduza bem do português (ou do albanês, entre milhares de outras línguas) é muito difícil e, por isso, quebra-se o galho como melhor se pode. Mas, creiam-me, raro é o brasileiro que escreve inglês "sem sotaque".


Diga-se de passagem, que meu inglês escrito, embora não dos piores, é todo nuançado de verde e amarelo. Até eu percebo.

2 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí, Danilo. Bom ponto.

O que muitas pessoas não percebem é a distância que ainda separa aquele que fala muito bem o inglês como segunda língua, mesmo com fluência (alguém que se expressa e compreende com naturalidade), e o falante nativo.

Para verter é preciso muitos anos de imersão e prática, mas mesmo assim haverá um grau menor de certeza na medida em que o texto se torna mais complexo e a linguagem mais técnica ou específica de uma área.

Infelizmente muitos se metem a verter sem sequer terem dominado a tradução para o português, ficando aquele texto esquisito, com cara de traduzido.

Anônimo disse...

Há sempre um "pato" à disposição dos espertos.

Ciao,

Giovanni