As agências brasileiras que vivem de repassar serviço, como disse ontem, entraram em crise com a queda do dólar: receber em dólar e pagar em real deixou de ser bom negócio. Quem intermediava essas coisas tinha duas saídas: aumentar os preços ou reduzir as pagas. Claro que reduziram as pagas. Há algum tempo recebi uma circular de uma agência (para a qual jamais trabalhei), simplesmente baixando as taxas de pagamento dos tradutores. Quer, quer; não quer, tem quem queira. Dizem que não podem subir os preços, porque perderiam os clientes, já que eles, bonzinhos que são, são vítimas da concorrência geral dos outros. O culpado, como você sabe, são sempre os outros. A maioria dessas agências se esquece ou finge se esquecer, que elas são os outros dos outros.
Os clientes no exterior, evidentemente, ou não entendem o que está acontecendo ou fazem que não entendem. Pedem uma cotação, recebem uma cotação, escolhem a mais baixa e acabou a história.
O impacto no mercado foi terrível. Lamentavelmente, veio acompanhado de um problema ainda mais grave: as empresas começaram a transferir a compra de traduções para seus departamentos de compras. Antigamente, comprava traduções quem usava e o comprador procurava comprar de alguém que prestasse. Agora, compra o departamento de compras e sempre compra de quem cobra menos. A isso, se chama "commoditização da tradução". Commodity, para quem não sabe, é um produto padronizado. Por exemplo, ouro de 23 quilates é ouro de 23 quilates e acabou: tanto faz comprar de um como de outro, o ouro é igual. A commoditização é o tratamento de um serviço como se fosse uma mercadoria padronizada, como se todas as traduções fossem iguais. Então, evidentemente, vende quem aceita receber menos. Por que pagar dez, quando você pode comprar por nove? Como se tradução fosse Coca-Cola.
Mesmo editoras, algumas, nem todas, têm feito concorrências para ver quem traduz certos livros. Curiosamente, a revolta do público tem levado algumas editoras a tratar com maior carinho suas traduções e a pagar melhor os tradutores. Quem sabe a moda pega.
Como tem gente disposta a trabalhar por metade de quase nada, alguns por falta de opção, outros porque simplesmente têm outra fonte de renda e não querem ficar sem fazer nada, outros porque adoram ver seus lindos nomes adornando a capa de livros, não falta quem aceite o serviço, não importa quão baixo seja o preço.
Então, tem gente falando em "piso" para a profissão. Mas disso vamos tratar amanhã. Por hoje, chega. Por favor, dê uma olhadinha nos cursos da Aulavox. Tem Trados no sábado agora e tem a Reunião na Sala 7 no início do mês que vem. A Reunião é inteiramente grátis e todos são bem-vindos.
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