Mudamos para www.tradutorprofissional.com

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Intérprete é Tradutor?

A Jornada na USP começou com o pé direito na escolha do tema: Interpretação. Poderia ser tradução literária, legendagem, mas foi interpretação e quase todos os palestrantes eram todos profissionais da interpretação simultânea.

Quem faz interpretação simultânea não gosta de ser rotulado como tradutor e rejeita o termo "tradução simultânea" — que, aliás, aparece mais de 280.000 vezes no Google. São intérpretes, não tradutores, fazem interpretação, não tradução e sua associação é a de intérpretes de conferência, não de tradutores de conferência.

Mas, se simultânea não é um tipo de tradução, se vamos restringir tradução para "de texto a texto", então aquele pessoal que escreve as legendas em português para os filmes estrangeiros também não faz tradução. Nem os que preparam os textos a serem lidos pelos dubladores. Muito menos ainda os que ficam sinalizando em LIBRAS para os que ouvem.

Na verdade, o problema é que tradução é tanto o gênero, que engloba todas as espécies lembradas acima e provavelmente mais umas quantas, como uma de suas espécies, a tradução de texto para texto. E ter um mesmo termo para o gênero e para uma de suas espécies é contrário à lógica mais elementar.

Nunca conseguir re-encontrar um texto em que um francês preconizava o uso de "translation" como termo genérico, reservando "traduction" especificamente para a tradução de texto para texto. Não pegou, talvez porque os anglófonos não conseguissem uma boa tradução para o termo. Em português, seria translação para o gênero e tradução para a espécie, o que transformaria o 30 de setembro em "Dia do Translator". Mas aqui também não pegou.

A questão é tão momentosa que o professor Dr. Francis Henrik Aubert julgou apropriado abrir a sessão explicando por que interpretação cabia ali, como discussão válida para o dia do tradutor. Conheço o Francis há uns bons trinta anos. É um intelectual meio esquisito: ao contrário de tantos outros, que fazem da abstrusão uma bandeira, ele faz questão se ser claro e preciso, provavelmente por que fala do que sabe e sabe o que está dizendo, o que se não pode dizer de todos. Sua palestra, como de esperar, foi extremamente precisa e clara.

Porém, mais claros ainda foram os profissionais da simultânea que por lá apareceram para falar, porque, com sua participação, nos disseram que, para eles, interpretação é realmente uma das muitas espécies da tradução. Opinaram com seus pés, para parafrasear uma expressão inglesa.

Por hoje, é só. Amanhã tem mais. Obrigado pela visita.

5 comentários:

Felipe disse...

Danilo, até chegar na faculdade, pra mim, tradução e interpretação era quase a mesma coisa, mas aí vi a diferença. No entanto, o que dizer de cursos que dizem que formam tradutores e intérpretes, e pior, em 3 anos? Quase caí nessa armadilha, ainda bem que fui bem sucedido no vestibular.

Danilo Nogueira disse...

Na verdade, Felipe, esse é o assunto do próximo artigo.

Anônimo disse...

D.
Como tradutora e intérprete simultânea é óbvio que tenho plena consciência do enorme fosso que separa as duas atividades. Mas, IMHO, acho impossível querer impor o uso rígido dos termos. Confesso que já empunhei bandeira nessa cruzada e desisti rapidinho da tarefa inglória.
O que eu fui deduzindo ao longo de 20 e muitos anos jogando nos dois times é que a interpretação influencia minhas traduções e vice-versa.

Outro dia fiquei faceira com o elogio de que minhas traduções eram "muito claras e a leitura flui". Acho que isso resulta da prática de cabine onde aprendemos a destrinchar num átimo qual efetivamente é a mensagem a transmitir. Por outro lado, pesquisas de vocabulário calmamente feitas para uma tradução escrita já me salvaram de incêndio na cabine (figurado, já trabalhei em cabine meio alagada, mas nunca pegando fogo.... ôpa, se bem que uma vez, sim, começou a sair fumaça do equipamento! :-) ).
Raquel Schaitza

Danilo Nogueira disse...

Ah, Raquel, eu não quero impor usos, quero que o pessoal se dê conta do que me parece ser a realidade.

A situação me lembra de uma introdução à economia que me caiu nas mãos há anos, onde o autor não distinguia direito os dois sentidos de "moeda" ("dinheiro de qualquer tipo" e "dinheiro em forma metálica") e, com isso, deve ter levado vários leitores ao desespero total. Na semana que vem, vou falar do teu fox paulistinha.

Anônimo disse...

D. não que eu tenha entendido que você queira impor usos. Mas há os que querem.

E meu fox paulistinha beats me ... Nunca tive cachorro, mas se a memória não me falha e a vista não me pisca, já falamos disso em algum lugar do passado. Agora é aguardar o futuro para refrescar as lembranças!
Raquel