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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Terceirization é a @#@%$¡!¿†‡!!!!!!!

Intervalo para um desabafo.

Você provavelmente conhece o Ulisses Wehby de Carvalho. Se não conhecer, saiba que, entre outras mil coisas, ele mantém o blogue TeclaSAP, com montes de informações úteis sobre a língua inglesa. No Twitter, ele aparece como @teclasap e periodicamente, tuita alguma coisa interessante do seu blogue.

Como ele e eu somos dois bem-humorados, muitas vezes retuito o que ele escreveu, adicionando alguma brincadeira. Outro dia, ele falou em terceirização, que corretamente traduziu para "outsourcing".

Para retuitar a informação, fui procurar "terceirization" na Internet, para ver se conseguia gerar uma brincadeira. E não é que achei? E foram 82 resultados! Pensei que ia achar somente em lugares, digamos "pouco cultos", lembrando do dia em que encontrei "twisted", no sentido de "torcida de clube de futebol", na página de um bocó de mola semianalfaburro que cismou de cantar loas à sua cidade natal em mau português e inglês ainda pior. Mas fiquei de boca aberta ao encontrar "terceirization" no Lattes, Unicamp, USP (também em francês, ainda por cima) Ufba, Ufpg…

Meu São Jerônimo! Será que essa turma não toma um golinho de Simancol de vez em quando? Errar, todos nós erramos, mas escrever "terceirization" em um trabalho desses me parece uma quebra de decoro acadêmico. Sera que ninguém vê? Ninguém lê? Ninguém se importa? Quer dizer, se mete a escrever inglês, tem que escrever direito! Ou será que este pessoal aprendeu inglês aqui?

Também é uma irresponsabilidade, porque propaga a burrice. Vai lá a azêmola tradutora que traduz por obra e graça São Gúgol, sonha que "terceirization" existe, vai consultar o Google e, encontrando a aberração nas páginas de nossas mais respeitadas instituições de ensino, sai, todo pachola, dizendo "encontrei em vários saites de universidades" e usa. Quer dizer, é a anticultura.

Com que direito se fala mal de Joel Santana, quando as páginas de nossas instituições de ensino superior e do respeitadíssimo Lattes seviciam a língua inglesa desse jeito? Ele, ao menos, tem a desculpa de ser um homem inculto, cujos fundilhos nunca foram honrados pelos bancos de nossas melhores instituições de ensino.


14 comentários:

Anônimo disse...

Você encontra esse tipo de coisa nos "Abstracts" das monografias, coisa que só se faz por praxe e pompa já que dificilmente um estrangeiro vai botar a mão naquilo: é a famosa tradução pra português ver.

"The present work was developed to verify the degree of the together compromice the force of work terceirized in relation to the employees of career in the" e por aí vai.

Danilo Nogueira disse...

Explica muita coisa, não justifica nada. Sugiro a instituição do IRA (Imposto sobre o Ridículo Acadêmico)para esses casos.

arte.prosa@gmail.com disse...

Terceirization é o "Ó", mas estando em sites de universidades é o "Ó" à 3ª potência... Mas seja magnânimo e esqueça tanta ignorância!

Anamaria disse...

Você tem toda razão, Danilo, é o fim do mundo ! A vaca ta indo pro brejo faz tempo.....

José Henrique Lamensdorf disse...

Danilo, se procurar outras expressões, sempre irá encontrar traduções feitas por "malfabetos".

Experimentei com ["construir rapport" ".br"] no Google, obtive 807 hits. Já ["construir rapport" ".br"] deu 1.900. Pelo método dos incautos sem noção, a segunda forma deve ser a correta; não se constroi dois rapports de uma vez, um só.

Então em vez de "criar um entrosamento", o sujeito vai se munir de tijolos e argamassa para "construir um rapport". Quiçá isso resolva o problema da habitação. O cara construiu um rapport e vai morar dentro dele!

denise bottmann disse...

pô, mas nem pra ser um "thirdization" ou "thirdation"?

João Vicente disse...

Como disse o anônimo, essas traduções de resumo de dissertação ou tese são apenas para cumprir um requisito. Normalmente são feitas pelo próprio autor, de maneira “intercrural”, ou por um colega que sabe (ou pensa que sabe) um pouco mais de inglês. Não raro a tradução sai porca. Olha, para ser sincero, resumo e currículo são duas das piores coisas que podem aparecer na frente de um tradutor. Sempre procurei me esquivar desses pepinos, mesmo quando estava começando. Mas não era disso que eu queria tratar.

Com relação ao assunto do texto do Danilo, há uma regrinha boa ser seguida: Verifique se a solução encontrada vem de um texto escrito originalmente naquela língua ou de uma tradução. Se vier de uma tradução, é bem possível que o tradutor que a fez tenha passado pelo mesmo apuro que você está passando. De onde será que ele tirou aquela palavra? Será que era um tradutor competente, confiável? Quem traduziu terceirização por terceirization não tinha a mínima ideia do que estava fazendo. Um bom redator em língua inglesa não escreveria terceirization. É o texto de falantes nativos e bons redatores que você tem que tomar como base para confirmar um palpite.

Mas essa história toda me faz lembrar de um outro “causo”, que costumava citar nas minhas palestras. O sujeito estava lá traduzindo e lhe aparecia o termo fiscalização. Desatento, mandava lá um fiscalization. Pausa no causo. E agora? Será que é parente de terceirization? Numa hora dessas, o sujeito vai ao Google e faz uma busca. Mas por favor, nada de simplesmente digitar fiscalization na página inicial e mandar pau. Selecione direitinho os parâmetros da sua busca. Para verificar se o termo existe na língua inglesa, selecione a língua correta, senão vai vir resultado de tudo quanto é língua. Uma das maneiras é ir à Pesquisa avançada e selecionar “Inglês” no campo “Idioma – Exibir páginas escritas em”.

Retomando o causo, nosso tradutor fez sua busca no Google como manda o figurino e encontrou lá milhares e milhares de páginas em língua inglesa com fiscalization. Deu-se por satisfeito e tocou o barco pra frente. Que pena, pulou uma etapa importante. Se tivesse ido além de simplesmente se contentar com o número de páginas resultante da busca e houvesse esmiuçado algumas dessas páginas, teria percebido que havia um problema. A palavra fiscalization existe no inglês, mas tem a ver com a idéia de dar um caráter fiscal a alguma coisa, relacioná-la com tributo, finanças públicas. Ou seja, não tem nada a ver com o significado mais conhecido de fiscalização no português: inspeção, controle, vigilância.

Mas e como é que a gente traduz então essa nossa fiscalização para o inglês? Vai depender do contexto, mas enforcement, palavra pouco lembrada pelos brasileiros que se arriscam a traduzir para o inglês, é uma boa solução em muitos casos. Uma vez eu estava sentado num banco no Washington Square Park, na frente da New York University, e passou uma viatura com “Park Enforcement” escrito na porta. Olha aí! Outro exemplo? Vejo muito nas ruas por aqui uma placa com o limite de velocidade e, embaixo, outra placa com os dizeres “Photo Enforced”. É a nossa fiscalização eletrônica, que, na minha querida Brasília, chamamos singelamente de “pardal”.

Danilo Nogueira disse...

Pois é, JV, essa história de procurar traduções em textos traduzidos é burrada velha, eu sei. Mas você não imagina como essas coisas se reproduzem. Acho que até vou escrever algo sobre isso esses dias. Obrigado pela lembrança.

"Pardal" para "fiscalização eletrônica" é normal em vários locais.

Anônimo disse...

Em Curitiba é lombada eletrônica! :-)

João Vicente disse...

Curioso saber que também é pardal em outros lugares. Já a lombada eletrônica, ao que me parece, é diferente do pardal. Em Brasília, pelo menos, o pardal é pequeno, fica normalmente num poste e é basicamente um dispositivo que tira foto dos carros infratores. A lombada são duas torres de ferro postadas de um lado e do outro da rua que, além de fotografar os infratores, mostram a velocidade do carro no momento em que este passa por determinado ponto. Confere?

Estive em Curitiba em agosto, dirigi bastante pela cidade, mas não prestei muita atenção nos pardais e lombadas. Estava mais atento à beleza da cidade.

Anônimo disse...

JV, confere. Depois que escrevi me toquei que há dois dispositivos. Aqui a "torre" é a lombada eletrônica. Em geral é uma torre só, mesmo, não duas. Ou uma "ponte" por cima da rua e o visor com a velocidade fica lá em cima. E o do poste é simplesmente radar. Aqui pardal só pia, voa, come alpiste.
Raquel Schaitza (a anônima aí de cima)

Anônimo disse...

WehbY, com Y

Emilio Pacheco disse...

Você já experimentou procurar "between in contact" no Google? Encontra vários!

Eu nunca tinha pensado em "twisted", mas você tem razão, tem um vídeo postado em que a descrição diz que o Flamengo tem a maior "twisted" do Brasil! Considerando que eu só me interesso por futebol na Copa do Mundo, quando a próxima estiver chegando eu vou me preparar ao som de Chubby Checker: "come on, let's twist again..."

Engraçado é que todo o mundo na Internet sabe o que é "download". Mas já vi dois casos de brasileiros tentando escrever em inglês que queriam "baixar" um arquivo e escrevendo "lower".

Danilo Nogueira disse...

Seu comentário, Emilio, prova que não há nada tão ruim que não haja algo muito pior.

Mas, o que me preocupa é ver essas cretinices em sites de universidades, de onde deveria vir o exemplo.