A primeira parte desta novelinha está aqui. O assunto ficou abandonado, como tantas outras novelinhas ficaram durante algum tempo, mas é importante é quero completar a conversa.
A terceira habilidade é conhecimento do assunto. Há algum tempo, uma tradutora amiga, num momento em que lhe faltou algo mais interessante para traduzir, "pegou" uma tradução no âmbito dos negócios. Encontrando comigo, perguntou se eu tinha um glossário bom, com os termos, porque ela não estava interessada em entender essas coisas. Acho que, como tradutora literária, ela pensava que tradução técnica é só X = Y e acabou a história. Não, não é: cada termo técnico de uma língua tem várias traduções na outra e a tradução correta depende do contexto. Não adianta dizer que em economês shares é ações, porque muitas vezes simplesmente não é.
O único modo de saber qual é a tradução correta é entenendo o original e para entender o original é necessário, além de entender a língua, enteder o assunto. Se não entender o assunto, não há dicionário bilíngüe que nos salve. Esse aspecto foi desprezado durante muito tempo, porque os teóricos só se ocupavam de tradução literária e humanística e, como todos eles tinham sólida formação literária e humanística, não se davam conta de que, para traduzir um livro de engenharia, não adianta muito a solidez da formação literária e humanística. O problema do assunto era rapidamente varrido para baixo do tapete dando à tradução não literária ou humanística uma posição inferior, bem inferior à literária. Os livros de teoria simplesmente não mencionavam nada que não fosse literatura ou humanidades e pronto, acabou. Até hoje, muitos dos teóricos acham a tradução "não literária" pouco digna de atenção, o que é uma pena.
Entretanto, aos poucos, os clientes foram se dando conta de que, para traduzir um texto há que entendê-lo e para entender um texto, há que entender do assunto. Quer dizer, não adianta muito pedir a um tal de Danilo Nogueira que traduza um texto sobre baseball pela simples razão que esse sujeito não entende nada da baseball e, portanto não vai entender patavina do texto.
De certo modo, esta terceira habilidade está intimamene ligada às duas primeiras: a linguagem do basseball, tanto em inglês como em português, me é tão alheia, que pedir que eu traduza uma crônica sobre baseball do inglês para o português é como se me pedissem para traduzir algo do cartaginês para o turco.
Da consciência de que é necessário entender do assunto para traduzir o texto, surgiu a idéia de contratar "gente da área" para as traduções. Quer dizer, contratar engenheiros para traduzir textos de engenharia, médicos para traduzir textos de medicina e assim por diante. Esse procedimento tem lá suas vantagens, mas traz também uns quantos probleminhas, que espero analisar amanhã.
Por hoje, é só. Obrigado pela visita.
Não esqueça da Reunião na sala 7. Grátis, como sempre.
sábado, 7 de abril de 2007
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