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sexta-feira, 20 de abril de 2007

Um serviço que não peguei

Escreve a secretária de um cliente não muito freqüente, em anexo, vêm três pdfs do tipo imagem. Se você não sabe o que é um pdf imagem,, veja aqui.

A mensagem pedia, com urgência, um orçamento para a tradução dos textos anexados, "em forma de resumo". "Em forma de resumo" fez piscar a luzinha vermelha. Em bom português, isso significa "sabemos que é um texto longo e que, por isso, vai custar caro; como não queremos pagar muito, queremos um texto curto, resumidinho, assim sai baratinho".

Bom, o fato é que sou tradutor, t-r-a-d-u-t-o-r, entende? Presto serviços de tradução. T-r-a-d-u-ç-ã-o. Resumo é com outra pessoa. Não sei com quem. Mas não é comigo. Não faço resumo. Não faço resumo porque sou tradutor. Podia fazer resumo? Talvez. Mas minha dermatologista pode fazer café e eu não iria ao consultório dela pedir para ela me fazer um café. Capito?

Depois, digamos que eu aceitasse o serviço. Tinha que gastar tempo resumindo e, evidentemente, apresentar para o cliente três folhinhas, com o resumo, bonitinho. Mas, para fazer essas três folhinhas, ia gastar muito mais tempo do que para traduzir o mesmo tanto de texto. E, por isso, ia ter que cobrar bem mais que por uma tradução, certo? Mas o cliente diz "nossa, três folhinhas, tudo isso?" E ainda corro o risco de que ele diga "mas, Danilo, você cortou exatamente a parte mais importante, a que o professor disse que era crucial!"

Então, eu não faço resumo e pronto. Tem quem faça, claro. Mas não sou eu e, a meu ver, é esse o ponto essencial. Livre arbítrio. Quer resumir? Resume! Mas eu não resumo e acabou a história.

Avisei a secretária que resumo eu não fazia e ela me pediu uma cotação para a tradução integral.

Para quantificar o trabalho, precisei digitalizar o texto, claro, porque estava em imagem. Felizmente, não foi necessário arrumar nada: digitaliza, abre no MSWord, vê quantas palavras são, calcula preço, informa cliente e pronto. Deu cerca de R$ 5.000.


A resposta veio no dia seguinte. "A pessoa achou muito, era para a esposa dele". Deu vontade de dizer "Que esposa esse cara tem que não vale cinco mil reais?", mas achei melhor ficar quieto. Na verdade, o "para a esposa dele" significa, como praticamente tudo o que diz o cliente "queremos um desconto". Talvez nem fosse para a esposa, sei lá. Cliente diz qualquer coisa para conseguir desconto. Não dei desconto coisa nenhuma, diabos! Vou agora dar desconto para mulher dos outros. Capaz!, como diz o gaúcho.

Não morri de fome por causa disso. Logo em seguida, veio outro serviço, de outro cliente, e estou trabalhando do mesmo jeito. A madame lá que queria que eu fizesse um resuminho para ela botar no trabalho dela e ganhar nota às minhas custas teve de ir cantar em outra freguesia.

Desculpe, para usar uma expressão de velho, acordei meio cabreiro hoje. Volte amanhã que vou estar de melhor humor. Chega por hoje.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Danilo,
Voce disse que digitou o trabalho para poder quantificá-lo ?
Ou é possível transformar imagens e fotos em PDF para Word?

Grato,
Dirceu

Anônimo disse...

Acho que pode qd o arquivo em pdf permite, Já fiz isso. Outros bloqueiam a cópia.
Stella

Emilio Pacheco disse...

Parece piada, Danilo. Resumir um texto é um trabalho talvez mais complexo do que traduzir. E não o libera da tarefa de ler o texto todo e trabalhar nele. Eu tenho uma teoria sobre gente assim. Eles não "se fazem de bobos pra passar bem". Por incrível que pareça, eles são realmente bobos. Tão "sem noção" que acham mesmo que não estão pedindo nada de mais. Não me refiro apenas a clientes de tradução, mas a qualquer pessoa "pidona" que não tenha noção de onde termina o plausível e começa o abuso. A todo o momento aparecem pessoas assim em lojas, restaurantes, consultórios médicos, bancos, escritórios e quetais (epa, estou começando a escrever como alguém que eu conheço). E depois de ouvir um não, ainda ficam indignadas com a "má vontade" de quem se recusou. O que custava pra você ter resumido o texto? Tem cada um por aí que não dá pra acreditar...

José Elesbán disse...

Muito divertido este texto. "Um resuminho". Muito bom! :))

Anônimo disse...

Danilo,

você cabreiro é muito cortês, engraçado e simpático. Quem me dera ser assim. Quanto ao tema, concordo, adoro a maneira como trabalha, aprendo bastante como agir profissionalmente e, mais elogio, adoro o seu registro às vezes coloquial outras refinadíssimo. ADORO os teus comentários. Parabéns. Adoro ser tradutora e escolhi atrasada a melhor profissão para mim. Estudei assuntos fora da tradução/letras, que ajudam por sinal mas até se achar é um sufoco, e sei que colegas como você e outros valem comer o pão que o diabo amassou ;)Long Live Mr Nogueira!!