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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não se usa mais dicionário!

Quando comecei (lá vou eu de novo!) nem se pensava em Internet. Mesmo telefone, era uma raridade. Uma linha telefônica custava 5.000 dólares — e dólares daquele tempo, não essa porcaria de hoje que não vale nada. Então a gente tinha dicionários, quem era mais atilado tinha uma ou mais enciclopédias, essas coisas. Tudo em papel, claro, porque computador chamava cérebro eletrônico, ocupava um galpão inteiro, custava uma fábula, só tinha em filme e só servia para fazer continhas.

E a gente consultava, fuçava, xeretava os dicionários e enciclopédias até achar a resposta para as nossas dúvidas tradutórias. Às vezes, não achava e tinha que dar uma contornada no problema.

Por isso, quando começou essa coisa de Internet, foi uma beleza. Quando a gente não sabia, procurava na Internet, que era lenta e não tinha quase nada, mas parecia uma maravilha. Outra coisa do outro mundo foi a criação dos fóruns de tradutores. Maravilha você poder pedir o conselho de um colega, ou de uma porção deles ao mesmo tempo. Lembro de um dia em que, no meio de um balancinho daqueles que eu fazia com um pé nas costas, me aparece um parágrafo falando de um produto maldito de cujo proveito ou finalidade eu mal desconfiava. Botei na trad-prt, logo veio um colega com experiência em engenharia, destrinchou o problema num instante. Glória!

Foi um salto de qualidade. Minhas traduções melhoraram muito com as discussões das listas e, posteriormente, do Orkut.

Mas tenho notado uma tendência negativa, maligna: a tendência de criar grandes discussões terminológicas em que todos falam, todos dão palpite, pedem contexto, dão opiniões, falam que têm um amigo da área e tal, ficam horas discutindo o assunto, quando não se pegam numa briga, sem que alguém se dê ao trabalho de abrir um dicionário. Isso irrita, irrita profundamente.

Também me surpreenda a quantidade de pessoas dando palpites nessas discussões. Há tempos que não entro nelas, embora dê vontade de entrar só para dizer alguma coisa antipática.

Um dia, um colega nosso se encheu e disse "na página X do meu Collins Gem, diz que é tal coisa". Acho que só eu percebi a ironia, porque o beneficiário da informação nem deu aquele piti de ofendido que é clássico.

Então, lá vem a sugestão: antes de pedir ajuda, pesquise. Quando não tiver mais onde pesquisar, aí, então, peça ajuda. Consulte um dicionário. Aprenda a usar um dicionário. É fácil e agradável. Leia prefácio de dicionário, para saber tudo o que ele ensina. É uma delícia.

E, amanhã, vou contar a história do Alaor, porque por hoje, chega. Obrigado pela visita e volte sempre.

3 comentários:

Bete disse...

Danilo, tem também o outro efeito da internet. Hoje me aconteceu essa: surgiu um termo que eu não conhecia bem e a primeira reação foi fuçar na rede. Google, Wikipedia, sites de empresas, cruzar sites em diferentes línguas, tudo isso e mais um pouco. Nada adiantou. Aí me lembrei de um glossário que andava meio esquecido, abri o arquivo e não é que o termo estava lá? E com tradução para quatro línguas!
De tanto usar as maravilhas da internet, a gente também pode se acostumar a complicar.

Bete

Danilo Nogueira disse...

Sim, é verdade. A Internet tem de ser um "mais" não um "em lugar de". E eu acho um horror ficar perguntando aos colegas o que está no dicionário. Sim, você também, eu sei.

Lorena S. P. Leandro disse...

Danilo, acho que alguns tradutores hoje andam realmente preguiçosos... Outro dia estava revisando um texto e o tradutor destacou uma sigla que aparecia várias vezes e a qual ele não havia traduzido. Como se fosse uma coisa de outro mundo, mas eu achei a correspondente em inglês em menos de 5 segundos. Se nem na internet o pessoal se dá ao trabalho de procurar, imagine folhear um dicionário (por mero prazer, então, jamais...)