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terça-feira, 17 de abril de 2007

História antiga

Há muitos anos, lá pela década de 1970, a ABRATES, que não era a ABRATES de agora, o que não vamos discutir no momento, tinha uma "seção paulista". A "seção paulista" era como o "departamento feminino" dos grêmios estudantis, mas isso é coisa de que falo outra hora. Acontece que eu era o "vice-diretor" da tal seção e, um dia, estava presidindo uma assembléia. Presente a meia dúzia de gatos-pingados habitual. Comigo, sete, digamos.

Uma das associadas era do tipo que faz discurso inflamado. Sempre tem um em qualquer reunião. Os mais legítimos interesses desta laboriosa categoria, explorada pelos clientes.... sabe como é. Pediu a palavra e derramou o candente verbo contra tudo e contra todos. Ser contra é uma atitude muito popular em assembléias, inclusive nas de tradutores. Ser contra quem dirige a entidade, embora possa ser perigoso em alguns ambientes, é ainda mais popular. A diretoria, isso é consabido, não faz nada. Abandona a classe. Não sei por que quiseram ser diretores. E por aí vai. Lá pelas tantas, falou da abençoada regulamentação da profissão, que, para ela, era a perfeita panecéia.

Sabe aquela história que aparece nos desenhos animados, o diabinho de um lado e o anjinho do outro? Naquele dia, venceu o diabinho e eu, cansado da flamejante logorréia da moça, resolvi colocar em votação a proposta de, ali, prepararmos um documento, a "Carta de São Paulo", com os parâmetros de ação para alcançarmos a tão almejada regulamentação, para envio à sede, no Rio de Janeiro. A idéia foi achada maravilhosa e aprovada na hora. Finalmente, íamos agir! A moça, rutilante de satisfação, dominava a assembléia com a cara triunfante de quem tinha descoberto a pólvora.

Começada a redação, não se conseguiu chegar a uma conclusão nem sobre o artigo primeiro da tal "Carta". Das sete pessoas que havia na sala, quase saem oito mortas. A briga, evidentemente, começou entre uma associada que tinha diploma de tradutor e um que não tinha. Ensanduichada entre ambos, uma que tinha licenciatura em letras e era considerada bicona pelos dois. Foi muito divertido, embora um pouco assustador. Depois de meia hora de animado bate-boca, decidiu-se marcar uma nova reunião e os participantes se comprometeram a remeter a mim suas sugestões por escrito, de modo a permitir a formulação de uma proposta discutível em reunião e ficou por isso mesmo.

Até agora, estou esperando as sugestões. Da moça que tinha recebido o espírito de Demóstenes, nunca mais ouvi falar. Acho que mudou de profissão.

Até amanhã.

2 comentários:

Anônimo disse...

Para poupar tempo, ela devia ter escolhido logo uma da cartas de São Paulo. Tem treze.
Stella Machado

Anônimo disse...

Pensando melhor, uma carta do do São Paulo ao Corinthians...
Stella