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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A História não Grudou

Falando da má conta em que as agências costumam ter os tradutores, falei da acusação de ganância, que me parece injusta. Agora, falo de uma acusação justa: a de que muitos tradutores são bichos roleiros. E são mesmo. Deixa contar um caso para você. Não é o único, mas é um de que me veio à cabeça agora.

Recebemos, eu e uma colega, uma encomenda para um feriadão. A encomenda veio do exterior e o cliente não tinha a mais remota ideia do que acontecia aqui. Ela aceitou entregar a tradução na quarta de noite, eu aceitei revisar durante o feriado. Entrega direta para mim, na noite da véspera do feriado, com cópia para o cliente.

No dia da entrega, nada. No dia seguinte, cliente me escreve perguntando se tinha recebido. Não, não tinha. Prazo apertado, essas coisas, que você já conhece. Cliente liga da Europa para a casa da tradutora, ninguém atende. Começou, então, um diálogo surrealista por e-mail. Vou resumir, aqui.

A moça jurou que tinha mandado, na hora prometida. Se o serviço não tinha chegado nem ao cliente nem a mim, era por algum problema de internet, pelo qual ela não podia se responsabilizar. Só podia mandar de novo quando terminasse o feriadão, no domingo, porque o arquivo estava no computador doméstico, e ela estava num hotel, a 400 km de SP. Não podia re-enviar a mensagem porque tinha sido mandada de uma conta de gmail cuja senha não lembrava e que estava anotada em casa. Quer dizer, não dava de jeito algum.

Mandou no domingo de noite, faltava um pedaço. Avisei, respondeu horas depois, pedindo desculpas, dizendo que não entendia por que o arquivo tinha ficado incompleto, enviando agora o arquivo inteiro. Arquivo cheio de erros e problemas, serviço picaretado a mais não poder.

Jamais o cliente e eu vamos saber ao certo o que aconteceu. Temos nossas suspeitas. Na história da moça nenhum de nós dois acreditou — nem você está acreditando agora. A história era perfeita, totalmente plausível, não havia como provar que ela estivesse mentindo, mas não grudava. Simplesmente, não grudava.

4 comentários:

Wildcat disse...

Difícil acreditar na história dela. Eu estou enrolado com uma transcrição. Combinamos um prazo e, logo em seguida, apareceu uma tradução, que ia engolir o feriado, já um tanto comprometido. Peguei a tradução, pois precisava do dinheiro, e atrasei a transcrição. Mas fui honesto - ou quase honesto - com a cliente da transcrição. Disse a ela que não conseguira trabalhar o quanto esperava no feriado, de modo que ia precisar de mais tempo, mas não disse que foi porque peguei uma tradução. Pedi desculpa, ela disse que estava tudo bem, que podíamos jogar o prazo pra o fim do mês. Agora nesse caso aí, fica difíci. Ser honesto seria "Desculpa, mas surgiu uma viagem no feriadão..." Ou é calúnia minha?

Danilo Nogueira disse...

No devido tempo, você aprende a dizer sempre a verdade, sem meias verdades. Mas é um caminho árduo. No dia em que você ligar para o cliente e disser "dá para esticar esse prazo uma semana porque apareceu um outro serviço aqui e eu não gostaria de perder?", vai se sentir muito feliz.

Anônimo disse...

Desculpe, Wildcat, mas para mim isso é um no-no total. Só pegaria o 2º trabalho d-e-p-o-i-s de consultar o 1º cliente sobre uma eventual flexibilidade de prazo. E o 2º cliente já ouviria de cara "estou com outro compromisso, vou ver se é possível alterar a data de entrega do outro cliente e aí lhe confirmo se posso fazer no prazo solicitado ou não".
Meus dois tostões.
Raquel Schaitza

Julia disse...

O mínimo a fazer quando se tem uma entrega para antes de uma viagem ao meio do nada é conferir *bem conferidinho* se o cliente/colega recebeu seu e-mail, pedir para abrir o anexo, ver se está tudo lá, no idioma certo, etc., etc. Por isso, também não acredito na história dela.

E que espécie de pessoa tem uma conta de e-mail de trabalho da qual não lembra a senha?