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quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Agências, empresas e tal (3)

Voltando ao assunto, que, aliás, não tem fim, uma das razões pelas quais não gosto de repassar serviço é a questão da responsabilidade pelo pagamento.

Penso assim: quando traduzo, faço questão de, antecipadamente, acertar com meu cliente uma data de pagamento e de receber nessa data. Quando repasso serviço a um colega, fico eu sendo o cliente dele e acho que tenho a obrigação de garantir uma data fixa para o pagamento e de cumprir essa promessa. Para isso, precisaria ter capital de giro que me permitisse pagar no prazo combinado independentemente do que fizesse o cliente. Tenho lá algum dinheiro, é fato, mas não é coisa que possa ser usada como capital de giro do escritório. O cliente final pode atrasar, atrasar muito e mesmo não pagar e como é que fica o tradutor?

Sei de tradutores desesperados que aceitaram a história de “quando o cliente pagar você recebe” e, como não recebiam, cansados de ligar para o intermediário sem obter resultados, em desespero de causa, ligam para o cliente, o que causa sempre muito mal estar, porque o intermediário reclama que é falta de ética. Quer dizer, tem que esperar, quietinho, e ainda dizer obrigado quando o pagamento chega.

Alguns intermediários relutam em pressionar o cliente pelo pagamento, para não parecerem chatos. Estão, na verdade, fazendo cumprimentos com chapéu alheio, porque estão fazendo concessões com o dinheiro que pertence ao tradutor, não a eles próprios.

Outros, aceitam todo tipo de serviço, sem procurar ver se o cliente final é de confiança.

O pior, mesmo, é quando o tradutor liga para o cliente final, para suplicar pagamento, e descobre que já foi feito há muito tempo. Mas isso já é outra conversa.

Obrigado pela visita e volte sempre.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A ilusão de segurança

De vez em quando aparece um cliente com uma grande oferta de serviço. Grande quantidade, serviço firme. Claro, como é seguro e tal, um verdadeiro emprego, vem lá aquele pedido de um descontinho amigo. Coisa pequena, 30% é suficiente.

Pule fora.

Durante algum tempo, vão te mandar montes de serviço, nas horas mais estranhas, pedindo as coisas mais estranhas e você jamais vai ter coragem de recusar. Pode ser até demais para você, mas você não quer se arriscar a ver um concorrente no pedaço. O serviço vai crescer, até que você vai abandonar seus outros clientes, conquistados com tanto esforço. Lá pelas tantas, praticamente todo o seu serviço é para aquele cliente.

Um dia, mudam os ventos. Alguém é demitido, promovido ou transferido e o novo encarregado acha um absurdo o que se está fazendo. Ou não gosta do teu serviço. Ou acha que você ganha demais. Ou tem um amigo tradutor. Ou mudam os planos da empresa. Ou a empresa é vendida.

E param de te dar serviço. Para, simplesmente, param.

Aí você vê que esse “verdadeiro emprego”, de emprego, não tem nada. Não tem férias, não tem 13º, não tem FGTS, não tem aviso prévio, não tem convênio. A rigor, não tem nada. Acabou e você não recebe um tostão. E perdeu seus outros clientes. E, durante meses, recusou serviço. E, durante meses, não cultivou novos clientes.

Mas aí já é tarde. Se, com isso, você entender que a segurança não está no grande cliente, mas sim numa boa quantidade de gente que te mande pouco serviço, de tal modo que nenhum cliente signifique mais que 20% do seu faturamento, menos mal.

Estou escrevendo isto tudo porque já aconteceu comigo.

Até amanhã.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Wordfast, Trados, DéjàVu, StarTransit (2)

(Veja a parte inicial deste artigo mais abaixo)

O curioso é que tem gente que acha que vai virar tradutor com um programa desses. O sujeito baixa um demo do programa, entra na lista de usuários e depois reclama que o programa não faz nada. Não faz mesmo. Ajuda a fazer mais e melhor, mas não faz nada. Essa é a realidade. É programa para quem sabe traduzir.

Outros, pegam o demo e perguntam onde é que a gente baixa as memórias. Um dia, eu estava a fim de zuar e respondi assim:

  • There are no downloadable memories.
  • If there were, they would be password-protected.
  • If they were not password protected, they would cost a fortune.
  • If they did not cost a fortune, they would not be in your language pair.
  • If they were in your language pair, they would not be in one of the areas you work with.
  • If they were in one of the areas you work with, you can bet your sweet behind that they would be full of errors.
  • If they were not full of errors, they would use terminology that your most important client finds unacceptable.
Life is hard, pal, and the world is far from fair, but that is the way it is. Let's be brave and face it.

Aliás, é por isso que os programas são bons: porque potencializam a capacidade de cada um de nós. Em outras palavras, se você for bom de tradução, com um desses programas vai ficar melhor ainda. Se for ruim, vai fazer bobagens nunca vistas.

É certo que, de vez em quando, o cliente (geralmente uma agência) tem uma memória e obriga a gente a trabalhar com essa memória. A memória pode ser boa e pode não ser. Quando não é, a encrenca é grossa, mas isso já é assunto para outro comentário.

Por hoje é só. Espero que tenha gostado. Se gostou, deixe um comentário dizendo que gostou e volte amanhã, que tem mais. Se não gostou, deixe um recado metendo o pau e volte amanhã, para ver se melhorou.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Roubaram seu cliente?

De vez em quando, o cliente de algum colega nos procura. Isso é normal. Afinal, o cliente tem o direito de procurar o tradutor que quiser, da mesma forma que você muda de médico ou de mecânico na hora que bem entende. Trate esse cliente do mesmo modo que você trataria se ele tivesse saído do nada.

Parece contrário à ética profissional Então, me responda o seguinte: você está em tratamento médico com o Dr. X e, lá pelas tantas, resolve mudar de médico e consultar o Dr. Y. O que você diria se o Dr. Y se negasse a atender alegando que não pode roubar cliente de colega?

Isso não significa que você tenha o direito de copiar o caderno de endereços de seu colega e abordar os clientes dele, oferecendo um desconto. Concorrência é uma coisa, pirataria é outra.
Agora, se o cliente do seu colega vier procurar você, o seu colega pode não vai gostar, mas isso também é outra coisa e prova de imaturidade profissional. Lembre-se de que um cliente só vai procurar um novo fornecedor se estiver insatisfeito com o fornecedor atual e fique em paz com sua própria consciência, como eu estou com a minha.

Por outro lado, se um cliente seu passar a procurar um de seus colegas, nem por isso considere o colega seu inimigo. Faz parte da vida.

Antes que eu me esqueça, já perdi mais de um cliente para colegas e já ganhei mais de um cliente deles – e nunca deixei que isso prejudicasse a amizade que nos une.

Amanhã tem mais. Obrigado pela visita.

domingo, 26 de novembro de 2006

Qualidade (2)

Esta nota é continuação do artigo de mesmo nome, abaixo.

Voltei do cliente arrasado. Não só tinha perdido o serviço, o que me fez falta na época, mas, principalmente, estava com minha dignidade no chão. Um serviço que nem para “má qualidade” serve é, de fato, um horror.

Pouco a pouco, entretanto, fui entendendo o que tinha acontecido.

Vou poupar você dos detalhes, porque pouco interessam e quero ser breve. O cliente tinha resolvido abandonar o projeto, meu contato tinha sido demitido e o novo encarregado da área estava querendo reduzir os prejuízos. Um dos meios era parar de pagar o tradutor. O caminho mais simples era alegar que a “má qualidade” do serviço tinha ficado aquém do desejado, esperado e combinado: um excelente pretexto, porque incontestável.

Não tinha um contrato, falha minha, falta de experiência. Para serviços pequenos, do tipo bate-e-volta, dos quais tenho muitos, nem sempre dá para fazer, mas se não pagarem a perda é pouca. Em muitos casos, temos, ao menos, um e-mail. Naquele época, não havia isso. Tínhamos nossa palavra. O melhor, eu tinha a minha, porque a dele não havia. Para grandes trabalhos, entretanto, pelo menos uma boa carta de especificações é essencial.

Mas mesmo que tivesse contrato, seria impossível provar que a “má qualidade” estava no nível esperado. E ia exigir uma verdadeira batalha judicial, contra os advogados de uma grande empresa, que poderiam me infernizar a vida com mil recursos protelatórios que iam me custar uma fortuna.

Desse fracasso, tirei muitas lições. Delas, gostaria de compartilhar com vocês as duas mais importantes:

Primeiro, cuidado com os projetos grandes e longos. A segurança financeira de cada um de nós está nos pequenos projetos, não nos grandes. O vendeiro ali da esquina vai te explicar que o importante é ter muitos clientes, não ter um cliente que seja responsável por 90% das tuas vendas. Você vira refém desse cliente e isso é péssimo para sua segurança.

Segundo, jamais aceite entregar serviços “mais ou menos”. Sempre, sempre, sempre faça o melhor serviço que puder. O cliente, muitas vezes, pede para sacrificar a qualidade em favor do prazo ou do preço. Depois de três meses, ninguém se lembra de que você deu conta de 300 laudas num fim de semana. Abrem o texto, encontram as falhas e perguntam quanto foi pago por aquele lixo e quem foi o porco que fez.

sábado, 25 de novembro de 2006

Uma questão de qualidade

Num canto do escritório do cliente, uma caixa cheia de manuais xerografados. Naquele tempo, a gente ainda ia pessoalmente ao cliente, pegar e entregar serviço. Estava em início de carreira e com um fluxo de serviço ainda muito irregular e, por isso, cada vez que via a caixa, babava. O cliente dizia que estava aguardando autorização para mandar traduzir.

Um dia, me avisou que o serviço tinha sido liberado. Três meses para fazer tudo. Por que três meses? Porque sim e pronto: essas coisas não se discutem. Não precisava ser coisa muito boa, era só, realmente, um rascunho, para o pessoal dele entender do que se tratava.

Aliás, como não precisava revisar e como era um serviço grande, esperava um bom desconto. Dois, para dizer a verdade, um pela falta de revisão, outro pelo volume de serviço. Aceitei, todo satisfeito, levei a caixa para casa, dividi o trabalho com um colega e fui em frente.

Um mês depois, fui chamado de novo. O responsável pela área tinha mudado e o novo responsável tinha cancelado o serviço, dada a má qualidade da tradução. Não adiantou argumentar que o combinado era entregar sem revisão. O cliente disse que até para má qualidade há um limite, que ele entendia que era sem revisar, mas que estava, realmente, ruim demais. Pagaram o entregue e ponto final.

A segunda parte da história, conto amanhã. Posso garantir que foi uma lição importante.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Cliente ladrão

De vez em quando, aparece alguém na Internet, irado porque não foi pago por algum cliente e se refere a o mau pagador como "ladrão".


Quem deixa de pagar conta não é ladrão nem vai para a cadeia. Quem deixa de pagar uma dívida é inadimplente e, no máximo, pode ver a dívida sendo executada, quer dizer, ver um juíz forçando o leilão de seus bens para pagar a dívida.

No entanto, dizer que alguém é “ladrão” porque deixou de pagar uma conta (por exemplo, a fatura do tradutor) é crime de contra a honra e dá cadeia. Portanto, se alguém deixar de pagar sua fatura, não vá acusando de ladrão nem dizendo que vai pôr na cadeia, porque desse jeito quem acaba na cadeia é você.

E isso vale para a maioria dos países do mundo, não só para o Brasil.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

WordFast, Trados, DéjàVu, StarTransit...

Não me canso de dizer que o domínio das ferramentas de tradução assistida por computador é essencial para o tradutor. As exceções são poucas, muito poucas. Por exemplo, não dá para usar essas ferramentas para dublagem e legendagem. Mas o resto, fica melhor e mais fácil com elas. Não importa se você traduz inglês, alemão ou turcomano; se faz técnica, literária ou religiosa: funciona do mesmo jeito e ajuda muito.

Mas é importante não confundir ferramentas de tradução assistida por computador com ferramentas de tradução automatizada.

Ferramentas de tradução assistida por computador são programas como Wordfast, Trados, DéjàVu, StarTransit e mil outros que ajudam o tradutor em suas tarefas. Para mim, trabalhar sem elas é como apertar parafuso com faca de cozinha. São chamadas, muitas vezes, de ferramentas de memória de tradução, mas esse é um nome enganoso, porque dá a entender que a única coisa que eles fazem é tratar de memórias e repetições, o que não é verdade.

Tem muita gente que diz que é bobagem, que na área deles ou para o par de línguas que traduzem não ajuda nada, mas e mera falta de conhecimento ou medo da mudança. A pressão pelo uso desses programas aumenta constantemente e logo vai ser impossível viver sem eles.

Não acredita? Então espere. Quando eu comecei, tinha gente que dizia que não precisava de máquina de escrever, porque era tradutor, não datilógrafo. Depois vieram os que diziam que quem sabia escrever à máquina direito não precisava de computador. Depois vieram os que diziam que não precisavam dessa coisa de Internet. Hoje, dizem que não precisam de ferramentas de tradução assistida por computador.

Do outro lado, há os programas de tradução automática, tipo BabelFish e PowerTranslator, que procuram substituir o tradutor. Mesmo os melhorzinhos deles ainda têm graves limitações e há mais de 30 anos que estou ouvindo dizer que tem aí um programa que está para sair que vai acabar com os tradutores. Quando sair, aí eu acredito.

Obrigado por ter lido este comentário. Comente, se quiser, e volte amanhã, que tem mais.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Agências, empresas e tal (2)

Este artigo é continuação do artigo do mesmo nome, aqui abaixo.

A minha colega tem carradas de razão, mas detesto terceirizar, não importa o nome que se dê ao processo. Terceirizar me obriga a assumir mais obrigações administrativas, o que não quero. E tem as responsabilidades: perante o colega, sou responsável pelo pagamento; perante o cliente, sou responsável pela qualidade da tradução. Se eu pedir a um colega que faça uma tradução por mim, vou me sentir na obrigação de revisar – e revisar toma tempo. Além de tomar tempo, se o texto tratar de um assunto que não conheço, é bem possível que eu não consiga fazer uma boa revisão.

Tudo isso toma tempo que eu poderia usar para traduzir, que é o que gosto de fazer. Sem falar na dor de cabeça.

Tem, também, a questão dos impostos. Ou peço nota ao colega, ou trabalho “informalmente”. Se for um negócio informal, não tenho como dar saída na despesa e vou pagar uma fortuna de imposto de renda, porque o cliente faz absoluta questão de nota. Se pedir nota ao colega, ambos vamos ter que pagar ISS, que é cumulativo. Se o colega me der um RPA, então, é um Deus-nos-acuda. E tem mais uma porção de outras coisinhas.

Quer dizer, o custo de repassar um serviço a um colega é alto, bem mais alto do que se pensa e geralmente, bem mais alto do que a comissão que o colega consideraria “justa”.

Volto ainda ao assunto, que, a rigor, não tem fim. Espero que você tenha gostado. Deixe seu comentário e volte sempre.

Sobre comentários

Gosto que deixem comentários, mas é bom lembrar que, perante a lei, o responsável pelo que se diz aqui sou eu. Quer dizer, se alguém deixar um comentário dizendo que alguém cometeu um crime, por exemplo, aceitou suborno para aprovar um candidato no concurso para juramentado ou para aprovar um aluno na faculdade, ou reprovou uma moça bonita que se recusou ao exame no divã, eu é quem fico sujeito a processo por calúnia, como diz o Artigo 138 do Código Penal, por mais verdadeira que possa ser a denúncia. Situação cômoda para o denunciante, mas não para mim.

Por isso, esse tipo de comentário vai ser sempre barrado.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Convocação geral

Nove de dezembro de 2006 é dia de Reunião na Sala 7, as 14 horas.

A reunião é virtual, quer dizer, não importa onde você estiver, pode participar tranqüilamente.

O assunto, como sempre, é a nossa profissão. Coisas como preços, mercado, clientela, formas de atendimento, enfim, todas aquelas coisas que interessam a quem é ou pretende ser tradutor profissional. O formato agora está mais dinâmico e interativo, com mais oportunidades para discutir as questões propostas no chat.

A participação é grátis: não fazemos coleta, não passamos rifa, não cobramos jóia, não pedimos o número do seu cartão de crédito, não ficamos empurrando curso, nada.

É necessário inscrever-se antecipadamente. É permitida a inscrição de grupos. Compareça e avise seus colegas.

Para saber como funciona, clique aqui. Aqui abaixo, na área dos comentários, você pode já fazer alguma pergunta ou sugerir algum tema para discussão

Regulamentação

A regulamentação significaria que, para traduzir, seria necessário diploma de tradutor, o que seria excelente para as faculdades, que teriam um público cativo. Entretanto, não significaria que quem tivesse curso superior iria ter serviço, quer dizer, para os tradutores não ia adiantar muito. Nem muito menos significaria que as faculdades iam ser obrigadas a ensinar as coisas que é necessário saber para conseguir se firmar no mercado.

Se a profissão regulamentada, a porteira ia ser fechada para os que não tivessem curso superior, mas quem já estivesse atuando como tradutor, teria seus direitos adquiridos respeitados. Há tanta gente atualmente nessa situação de “direitos adquiridos” (incluindo eu) que os efeitos iam começar a ser sentidos somente depois que boa parte dessa gente morresse ou se aposentasse.

Isso, evidentemente, se a regulamentação “pegasse”. A regulamentação das secretárias, por exemplo, não pegou: para contornar a lei, foi criada a “assistente administrativa” e nós todos conhecemos casos de “pessoa que assina” em outras profissões.

Entretanto, mesmo que todos os que hoje exercem a profissão sem serem diplomados fossem impedidos de traduzir, não haveria serviço suficiente para todos os formados em cursos superiores de tradução. Curso superior de tradução virou moda e o mercado está saturado.

Aliás, não há absolutamente lugar algum no mundo em que a profissão de tradutor seja regulamentada. Existem, sim, países onde o diploma é mais valorizado. Mas essa é outra história.

Espero que tenha achado este artigo interessante. Deixe seu comentário e volte amanhã, que tem mais.

(amanhã volto ao assunto da terceiriação)

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Falsos cognatos (2)

O colega Francisco Fabiano deixou um comentário, que discuto aqui, com alguns cortes para simplificar. O texto dele vai em itálico, os meus adendos em redondo.

Sobre falsos cognatos, registre-se também o Vocabulando, da Isa Mara Lando (que foi bastante ampliado recentemente).

O livro da Isa Mara Lando é essencial, mas sua tônica não são os falsos cognatos, mas sim aquelas palavras que são diabólicas para taduzir. É sempre a primeira fonte de consulta que abro.

O vetusto "Arte de traduzir" do Breno Silveira, que foi relançado em 2004, contém lista de falsos amigos em inglês e espanhol.

Sim, mas carece do tratamento que lhes dá o Agenor.

Há um livro do Ulisses W. de Carvalho que trata do assunto com qualidade. Nenhum supera o grande Agenor, que para tristeza geral não teve uma terceira edição. O livro se chama Dicionário das palavras que enganam em inglês, autor Ulisses Wehby de Carvalho, Editora Campus/Elsevier, 2004.

E eu que não sabia! Vexame.

Na bibliografia do Vocabulando há referência à obra 280 erros comuns na tradução da língua inglesa, de autoria de Ronaldo Alves de Oliveira, Ed. Edicta, 2004, que trata do tema (esse eu não conheço "ao vivo e em cores", só a referência da Isa Mara).

Nem eu tampouco. Tem o Mascherpe e Zamarin, vetusto, também, que só se encontra em sebos. Deve haver outros.

Agências, empresas e tal

Jamais repasso trabalho a terceiros. Se não puder fazer, porque o prazo é curto demais, porque o assunto me escapa, ou porque exige uma língua que não conheço, recuso o serviço. Às vezes, recomendo um colega, quando conheço alguém com o tipo de competência apropriada.

Tenho sido muito criticado por esse procedimento. Uma colega e amiga diz que aceita tudo o que lhe mandarem, faz o que pode e repassa o resto a algum colega. Diz ela, e não se razão, que, dessa forma, atende o cliente e direciona o serviço para um tradutor cuja capacidade ela conhece. Agrega que se meramente recomendar o colega, como faço eu, existe uma grande possibilidade de o cliente enviar o serviço a alguém diferente do indicado e até, com perdão da palavra, a uma agência.

Quando repassa serviço, a minha colega retém uma porcentagem, como reembolso pelo tempo gasto em contatos e conversas, tempo que ela normalmente estaria usando para fazer traduções remuneradas. Diz que ficaria satisfeitíssima se eu repassasse a ela as minhas sobras de serviço, também retendo uma taxa de repasse, ou como quer que se prefira chamar a diferença entre aquilo que o cliente final paga e o que o tradutor recebe.

É uma discussão interessante, com ramificações importantíssimas, à qual pretendo retornar amanhã e, creio eu, em diversos outros artigos.

Obrigado por sua visita e deixe seu comentário abaixo.

domingo, 19 de novembro de 2006

Falsos cognatos

Duas palavras se dizem cognatas quando têm a mesma etimologia. Por exemplo, semear, semente, seminário, disseminar são palavra cognatas, todas elas derivadas do latim semen. Muitas dessas palavras encontram cognatas em outras línguas: disseminate em inglês, por exemplo, ou seminário em espanhol e italiano, ou séminaire em francês, pertencem todas à mesma família do semear, semente, seminário, disseminar e, por isso, são todas cognatas.

Para saber se duas palavras são cognatas, é necessário saber um bocado de lingüística diacrônica ou consultar dicionários etimológicos. Ser “parecida”, não é suficiente. Por exemplo, haver e have são parecidíssimas, nas não são cognatas, porque, a despeito da semelhança, as duas palavras têm origens totalmente diferentes. Quer dizer, não se arrisque a dizer que suas palavras são cognatas sem uma boa pesquisa em dicionários.

O sentido das palavras muda com o tempo. Paedagogus, que deu nosso pedagogo, era o escravo encarregado de conduzir as crianças à escola. Aos poucos, o sentido foi se estendendo para o atual e se perdeu o sentido original. Isso é normal em todas as línguas, não só no português. Quando duas palavras cognatas em duas línguas evoluem em direções diferentes, lá pelas tantas, a despeito da forma muito parecida, os seus sentidos se tornam tão diferentes que já na se pode traduzir uma pela outra.

O exemplo clássico é o actual inglês, que não pode mais ser traduzido automaticamente pelo português atual, embora ambos tenham a mesma origem, o latim actualis. Os tradutores chamam esses casos de falso cognatos. Confesso que não gosto do termo: dá a impressão de que não são cognatos de verdade, mas são e não vão deixar de ser. São falsos porque se fingem de amigos mas nos traem. Por isso, os franceses chamam esses casos de falsos amigos, o que é uma saída bem melhor. Muitas vezes, a falsidade é parcial: por exemplo, actual como termo técnico de filosofia aristotélica, é atual mesmo e é assim que se traduz.

Existe um monumental trabalho sobre falsos cognatos inglês-português, que é o Guia Prático da Tradução Inglesa, do Agenor Soares dos Santos, que, lamentavelmente, está esgotado há muitos anos. Se encontrar em algum sebo, não deixe de comprar.

Claro que é importante não cair nas armadilhas dos falsos cognatos, mas é mais igualmente importante não cair em outras armadilhas da tradução. Quem sabe volto ao assunto.

Obrigado por sua visita e espero que tenha gostado do que viu. Deixe seu comentário e volte amanhã, que tem mais.

sábado, 18 de novembro de 2006

Trabalhar para pesoas físicas

Trabalhar para pessoas físicas é sempre um problema. A maioria das pessoas físicas não entende por que tem de pagar para traduzir – e, mais ainda, por que tem de pagar tanto. Acham “um roubo” ou esperam que a gente trabalhe grátis para maior glória delas. Quer dizer, por exemplo, eu traduzir barato para facilitar a elas o acesso ao título de "doutor" em alguma coisa.

Tradutores públicos, que têm de tratar freqüentemente com pessoas físicas, sofrem muito com isso. Quando o serviço é grande, é pior ainda: a maioria das pessoas não se dá conta de quanto tempo se gasta para traduzir um livro. Então, o sujeito precisa ler o livro para sua tese de mestrado e vai procurar um tradutor – e fica surpreso com o preço.

No início de carreira, todo mundo faz tudo e eu não tinha medo algum de traduzir um livro sobre engenharia. Quando um engenheiro me pediu um orçamento, fiz lá minhas contas e cotei o preço. O engenheiro caiu das nuvens, afirmando que era o salário dele de um mês.

Eu retruquei que ele era um homem de sorte, porque eu precisaria de dois meses para fazer a tradução e ganhar aquele tanto – e não tinha férias, décimo terceiro, essas coisas. E, por cima, ainda tinha que comprar meu próprio equipamento. A resposta, sem dúvida, foi boa, e o próprio engenheiro concordou, mas acabei não ficando com o serviço: o homem não tinha como desviar um mês do seu salário para mim, não importa de quanto tempo eu necessitasse para fazer a tradução.

Provavelmente encontrou outra pessoa que fizesse o serviço “mais em conta” – mas isso não é problema meu: e problema de quem aceitou o trabalho por preço baixo demais.

Espero que você tenha gostado deste artigo. Amanhã tem mais.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Revisão, revisores, proofreading, etc. (3)

Este artigo é continuação e encerra uma série de três

Dois problemas: primeiro, o das editoras/agências que simplesmente contratam o tradutor mais barato que encontrarem e exigem o trabalho pronto em prazos breves demais, condições que os tradutores costumam aceitar sem pestanejar, de acordo com a idéia de que “se eu não aceitar, alguém aceita”; segundo, o da confusão “sem querer querendo” entre revisão de originais e leitura de provas.

A conjunção desses dois fatores criam problemas graves para revisores e leitores de provas: o tradutor faz porcaria, porcaria esta que é entregue a alguém para um “proofreading”. O leitor de provas se prepara para concentrar atenção em minúcias e no eventual pronome mal colocado, mas topa com um horror tradutório, cheio de frases sem sentido, anglicismos de freqüência, quando não com dúvidas do tradutor indicadas por pontos de interrogação – falhas que não deveriam ter passado pelo revisor e, provavelmente, nem pelo tradutor. Mas chegam não mão do revisor de provas / leitor de provas / proofreader, com o pedido de “dar uma olhada final, já passou inclusive pelo revisor.

Por essas e por outras, antes de aceitar um trabalho é bom examinar primeiro, salvo se a relação de confiança com o cliente for tão forte que permita discussões sobre prazo e preço depois de iniciado o trabalho.

Para terminar, vou contar uma historinha. Uma agência mandou um serviço de proofreading, com o aviso de que era só para examinar alguma falha de diagramação, porque o serviço já tinha passado por revisão e as provas tinham sido lidas pelo leitor de provas do cliente. Leitura de provas, aqui, é função da Vera, minha mulher e exímia catadora de erros em serviço alheio (principalmente no meu). A intuição feminina dela exigiu que ela fosse conferir uma data com o original e, evidentemente, a data estava errada. Passamos o serviço, motu proprio, para revisão de tradução / editing e conferimos tudo, tendo encontrado dúzias de erros factuais, por exemplo, datas erradas, listas de nomes que não conferiam com o original e mil outros problemas. Como isso foi acontecer, já é outra história. Como também é outra história o caso dos metidos a revisor.

Obrigado pela visita, deixe seu comentário e volte amanhã, que tem mais.


quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Revisão, revisores, proofreading, etc. (2)

Este artigo é continuação do anterior.

Revisar é tarefa árdua e exige uma atenção enorme e conhecimento de mil coisas. Mas poucos são os clientes que gostam de pagar revisores, essa é a verdade. Então, vêm com o velho golpe do “João sem braço”, pedindo para “dar uma revisada, ver se tem alguma coisinha”. Isso não existe. Ou você revisa ou não revisa. Se revisar, cobre e faça direito. Aceite “dar uma olhada” e pode ter certeza de que, depois, todos vão dizer que você fez serviço porco.

Outro problema para quem faz revisão de originais é o hábito, que se instala no exterior e no Brasil, de usar proofreading assim, meio que “sem querer, querendo” para uma única fase de trabalho, após a tradução, que deveria ser o editing, no caso de termos um trabalho que vá ser entregue sem diagramação especial. O velho truque de procurar minimizar o trabalho necessário, para obter um desconto.

Proofreading é leitura de provas de impressão, de trabalho diagramado depois de revisto, jamais a revisão do que acaba de ser entregue pelo tradutor.

Se cada um fizer seu trabalho direitinho, o revisor de originais trabalha mais depressa que o tradutor e o leitor de provas mais depressa que o revisor. Isso significa que o preço por palavra (ou lauda, ou o que for) cobrado pelo revisor de originais é menor que o cobrado pelo tradutor e o preço do leitor de provas é ainda mais baixo. No fim do dia, como as produções são diferentes, deveriam ganhar todos a mesma coisa.

Amanhã, termino esta história de revisão. Espero que gostem. Os comentários são bem-vindos.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Revisão, revisores, prooferading, etc.

Toda tradução deveria passar por uma revisão, por competente e cuidadoso que seja o tradutor. A revisão inclui duas tarefas: a primeira é garantir que original e tradução dizem a mesma coisa, quer dizer, que não há “erros de tradução”; a segunda é garantir que a tradução está escrita em linguagem isenta de tradutorês, quer dizer, sem aquelas construções e expressões que só aparecem nas traduções mal feitas.

São tarefas conflitantes. A primeira, exige um cotejo da tradução com o original; a segunda exige que a tradução seja lida separadamente, sem nem pensar no original. Na verdade, para que uma tradução ficasse realmente boa, deveria haver dois revisores, cada um encarregado de uma das tarefas de revisão, com uma reunião final entre ambos, para que um aprovasse as emendas do outro. Já me aconteceu, e terá acontecido a outros, que, a para melhorar minha redação, um revisor inseriu em meu texto um erro de tradução. Prova de que era necessária uma alteração, claro, mas ainda bem que eu validei a revisão e pude apontar a falha. Não era tarefa minha: deveria, realmente, haver dois revisores. Não há – e o revisor tem de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.

O trabalho descrito acima se chama propriamente revisão, ou revisão de originais, em português e, em inglês, editing. Não deve ser confundido com leitura de provas, que também se chama revisão de provas, e, em inglês proofreading. A leitura de provas/proofreading é algo que se faz somente quando a tradução vai ser impressa e, atualmente, muitas vezes já em formato pdf, quer dizer, com a diagramação final. Nessa fase, o profissional não olha mais o texto original. Concentra-se no arquivo que tem à sua frente, procurando o que se chama “gralha”, quer dizer, um acento fora de lugar, um número com vírgulas onde deveria haver pontos, um parágrafo quebrado, um hífen faltando ou mal colocado, essas coisas. Tem que ser alguém de grande competência na língua de chegada. Se for monoglota, não faz grande diferença. Os problemas de tradução já foram eliminados pelo revisor de originais, esse sim, com competência em duas línguas.

Amanhã, volto a este assunto. Por hoje, chega. Espero que você tenha gostado. Deixe seu comentário e volte amanhã, que tem mais.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Você conhece um bom glossário?

A Internet está cheia de glossários de diversos tipos, páginas com links para glossários e páginas com links para páginas de links para glossários, sem falar nos mil glossários que estamos sempre compartilhando uns com os outros. Tenho até um programa grátis, o xBench, que me permite consultar todos os meus glossários ao mesmo tempo.

Mas é preciso tomar muito cuidado com esses glossários. Por exemplo, circula por aí uma alma penada de glossário, cuja criação é atribuída a dois grandes escritórios de advocacia e a uma grande firma de consultoria, conforme a história que contam quando nos mandam uma cópia. Entretanto, esse glossário nada mais é que uma compilação de diversos outros glossários, sem análise nem crítica alguma e, de par com soluções corretas, contém erros monumentais. A primeira vez que me mandaram, foi há uns dez anos. Deste então, recebi várias outras versões, sempre com mais e mais acréscimos, cada um mais esquisito que o anterior.

Entretanto, como é distribuído como “o glossário do/da _____” goza de grande crédito entre alguns tradutores e, conseqüentemente, é a fonte de algumas das mais terríveis bobagens tradutórias que já se fizeram. Se você tem um desses, cuidado: ele jamais foi validado por alguém que tivesse bons conhecimentos da área e foi sofrendo adições de diversos tipos, muitas delas bisonhas. Quer dizer, nenhuma das três conhecidas e respeitáveis firmas cujos nomes normalmente são associados com o texto tem alguma coisa que ver com ele.

Caso semelhante se dá com uma coletânea de glossários disponibilizada por uma universidade conhecidíssima, que não são pesquisas acadêmicas feitas profissionais tarimbados, como muitos pensam, mas sim trabalhos de alunos inexperientes, muitas vezes, feitos às pressas. Não tenho conhecimento de todas as áreas cobertas por esses glossários, mas, nas áreas que conheço, posso dizer que são muito fracos.

Considere tudo que encontrar em um glossário como uma sugestão, uma sugestão que precisa ser confirmada e validada de alguma outra forma, usando um documento monoglota. Conferir um glossário bilíngue com outro bilíngüe não vale: é bem possível que um tenha sido copiado do outro, como o tal do glossário jurídico que aparece com três nomes e os mesmos erros.

Obrigado pela visita, deixe seu comentário, e volte amanhã, que tem mais.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Descontos

Muitos clientes pedem descontos. As desculpas são muitas, mas não importa: para pedir desconto, qualquer desculpa serve e a maioria delas não tem pé nem cabeça. Por isso, acho desperdício discutir as “razões” do cliente para pedir desconto: logo de cara nego o desconto, sempre brincando, amável, cortês. brincalhão. Mas nego. Nego e não explico por quê. Se o cliente me perguntar por que eu não dou o desconto, digo que é política da casa não dar descontos e não discutir essa política.

É vício. Não importa quanto você cote, certos clientes sempre pedem desconto. Tenho colegas que adicionam um tanto ao preço cotado e, assim, se o cliente pedir desconto, podem dar o desconto sem grande perda. Mas acho injusto. Injusto porque acaba o cliente chato pagando menos que o cliente bom. Então, não dou desconto. Há clientes que ficam surpresos, insistem e, lá pelas tantas, dizem que eu sou inflexível. Eu sempre respondo “inflexível é você, que acha que todos tem que dar desconto”. E não dou o desconto.

Se você der desconto uma vez, vai ter de dar sempre e depois fica parecendo um mercado oriental, aquela turma pechinchando preço de camelo.

Mas dar desconto quando o cliente pede não é o pior. Ruim mesmo é quando o tradutor dá o desconto sem o cliente pedir. Sabe, aquela coisa de atender o telefone pensando em 10 e quando o cliente pergunta o preço dizer, “eu cobro 8, mas como é primeiro serviço, faço por seis”.

Depois, a turma se queixa de que ganha pouco.

Obrigado pela visita. Deixe seu comentário: qualquer um pode comentar e eu não vou inundar você de spam. Volte amanhã que tem mais.

domingo, 12 de novembro de 2006

O cliente pede uma cotação e o que você faz?


Alguns clientes, como as editoras, têm uma tabela de preços e você pode aceitar ou rejeitar. Outros clientes, entretanto, não têm uma tabela e vão perguntar quanto você cobra. Esse é um momento crucial. Prepare-se para ele estabelecendo uma tabela de preços. Só você pode determinar quanto você vai cobrar. Muitos clientes têm um certo receio de perguntar quanto vai custar o serviço, mas você, como profissional não pode ter esses problemas. Se o cliente começar a dar voltinhas, assuma o comando e diga, com clareza, como funciona o serviço e quanto você cobra. Quer o cliente pergunte, quer você tome a iniciativa, é importante dar as condições de preço e pagamento com firmeza. Por exemplo:

Eu cobro com base no número de palavras do original. X centavos por palavra. Se o documento não tiver figuras, é só abrir no Word for Windows e ir no ferramentas, contar palavras, ver quantas palavras tem e multiplicar por [seu preço por palavra]. Podemos até ver isso agora, se o documento estiver aí à mão. Que tal? Sem compromisso, claro!

Fale com firmeza, não se acovarde, não se desculpe por seu preço. Não diga sabe, tivemos de dar um reajuste; o pessoal está cobrando X___; a tabela do sindicato é Y, mas a gente está cobrando um pouco menos, sabe como é, a situação não está boa para ninguém; posso fazer um precicinho camarada para vocês ____. Jamais diga que cobra menos do que os outros, jamais diga que foi forçado a aumentar os preços, jamais diga quanto os outros estão cobrando, jamais diga que quer cobrar “o justo”. Jamais descarregue a responsabilidade pelos preços nas costas dos outros. Esses modos de proceder demonstram que você está com medo. Percebendo que você está com medo, o cliente dá o bote e te arranca um desconto.

sábado, 11 de novembro de 2006

Comentários da semana

A Luciene Lima comenta

Puxa, quanto tempo para se abrir um concurso [para TPIC], não? E será lícito que um tradutor que more no Rio de Janeiro, por exemplo, preste concurso para tradutor juramentado na Bahia e, se aprovado, exerça tal função no Rio de Janeiro? Obrigada!

Luciene, é necessário comprovar residência para ser nomeado. Quer dizer, você só pode ser nomeada na Bahia se tiver residência na Bahia. Depois, se mudar para o Rio ou outra cidade, pode pedir transferência. Dizem que alguns dos nomeados no último concurso em São Paulo de repente decidiram mudar para outros estados, causando, digamos, certa curiosidade. Mas o problema principal, creio eu, é que muita gente espera que a nomeação como TPIC lhes traga pronta segurança financeira e isso, pode ter certeza, não é verdade. É um título, é mais uma porta, mas não é nenhuma solução maravilhosa.

Lembre, por favor, que eu nunca prestei o concurso e que, por isso, nem de longe se possa dizer que estou dizendo essas coisas para desencorajar a concorrência.

O Fabio M Said diz, entre outras coisas,

Discordo que o exercício de tradução de autor brasileiro para um idioma estrangeiro seja absolutamente inútil. […] pensando bem, faz sentido, pois na tradução do vernáculo para idioma estrangeiro o aspirante a tradutor é obrigado a pensar mais criticamente a sua própria cultura para poder verter seus elementos para a cultura alheia. Porém, é horripilante constatar que seja exigida versão literária em um concurso para tradutor público, como aconteceu no último concurso na Bahia.

Fabio, mas é o que eu disse no meu artigo. Só serve para ter uma visão mais aprofundada do português, a partir de um ponto de vista mais distanciado. Dê uma olhada que você vai ver. O problema é que essa visão exige do professor um posicionamento que, no caso que eu mencionei, não existia. O professor pediu a tradução porque achava o autor interessante e nunca explicou aos alunos que a possibilidade de eles traduzirem literatura brasileira para o inglês era praticamente zero. Quanto à versão literária em concurso para juramentado, concordo com você plenamente.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

NOVAS CONFIGURAÇÕES DO BLOG

Por falha minha, os comentários estavam restritos aos outros blogueiros. Agora, foram liberados para quem quiser. Estão sujeitos a moderação, para evitar os spammers e gozadores, mas também é só.

Desculpem os que quiseram comentar e não puderam. Diálogo é essencial.

Atrasos e calotes

Por que a gente não recebe no dia combinado?

Alguns clientes são desonestos: devem, sabem que devem, podem pagar, mas não têm intenção de pagar ou acham que primeiro você tem que esperar até o momento em que eles acharem conveniente fazer o pagamento. Como tiveram toda pressa do mundo para receber a tradução, ficaram sem pressa nenhuma para pagar o tradutor.

Outros são desorganizados: sabem que devem, podem pagar, têm intenção de pagar, mas perderam o número da tua conta bancária, não se lembram quando foi combinado pagar, não acham a nota fiscal.

Um terceiro grupo simplesmente deu o passo maior que a perna: pegou um serviço grande, cotou baixo, para pegar, repassou uma parte a outros tradutores, ofereceu pagamento maior do que podia, o cliente final atrasou – e está feita a confusão.

Muitas vezes, o que deu o passo maior que a perna é também desorganizado e/ou desonesto e aí, então, a situação fica realmente muito complicada.

É melhor prevenir que remediar e há três medidas que reduzem muito a probabilidade de um calote:

Limite seus riscos

Sabe por que você tem limite no cartão de crédito? Porque, se você não pagar, a operadora não perde muito. Aprenda com eles e nunca dê muito crédito a nenhum cliente nem muito menos aos "colegas" ou os que se apresentam como tal. Alguns dos mais espetaculares calotes que conheço foram dados por tradutores: acredite se quiser, as agências e os clientes diretos podem atrasar, o que é mau, mas geralmente acabam pagando. Os "não pago, não pago e não pago" costumam ser os "colegas". De um modo ou de outro: limite o crédito — e, conseqüentemente, o risco.

Se for um serviço para vários meses, peça pagamentos quinzenais, a partir do primeiro mês, pelo menos. Não aceite serviços que ocupem 100% do seu tempo: o risco é grande demais e você fica sem poder atender outros clientes. Mesmo que receba, quando acabar o serviço fica sem saber o que fazer da vida.

Se o pagamento estiver atrasado, só continue a trabalhar se não tiver absolutamente nada que fazer. Um dos melhores meios de receber é dizer, "desculpe, se não receber, não posso trabalhar e o fluxo do prazo fica suspenso". E não se constranja com argumentos do tipo mas você desconfia de mim? Simplesmente, pare e avise que parou.

Explique tudo direitinho

O cliente quer uma cotação e você tem obrigação de dar. Faça a cotação por escrito e explique tudo com o máximo de clareza. Se você cobrar por lauda, explique exatamente o que você define como lauda. Muitos clientes crêem que lauda é uma página do trabalho deles e se recusam a pagar, porque mandaram um texto de dez páginas e receberam uma fatura de cinqüenta laudas. Não adianta depois você dizer que a Junta Comercial, o SINTRA, ou quem quer que seja, definiu a lauda como X. A lauda que vale é aquela que você combinou com o cliente por escrito e isso quando você tem prova de que o cliente entendeu e aceitou a definição.

Esse é um dos motivos pelos quais eu prefiro cobrar por palavra do original: o cliente já sabe quanto vai pagar quando envia o serviço e assim não há problemas posteriores. A tradução costuma sair mais comprida que o original? Tudo bem. Então, se você cobra 10 por palavra contada na tradução, deve cobrar 12 por palavra contada no original. Só isso. Se possível, faça uma cotação fechada, do tipo "honorários para a tradução do documento xpto.doc: R$ X". Assim, não tem discussão.

Faça uma cotação escrita, indicando não só o preço, mas também prazo e forma de pagamento. Você não pode reclamar que o cliente está atrasado se não tiver combinado um prazo antes. E finalmente, explique como vai ser cobrado o serviço. Para o cliente, RPA é uma coisa, nota fiscal de autônomo é outra e nota fiscal de pessoa jurídica é ainda outra. Se o cliente espera NF de pessoa jurídica mas você aparece com RPA ou com nota fiscal de autônomo comprada na prefeitura, as coisas podem se complicar. Não caia na história da nota fiscal comprada da prefeitura: essa nota é de pessoa física e não exime o cliente do pagamento de uma barbaridade de INSS.

Exija confirmação escrita

Não inicie o serviço sem o cliente confirmar, por escrito, que aceita suas condições. Pode ser num fax, pode ser num e-mail. Mas tem que ser por escrito e na aprovação é necessário constarem as condições. Sua proposta foi aprovada, não resolve nada. Mas um "de acordo" e uma assinatura numa cópia do seu fax, ou um e-mail onde conste toda a sua proposta resolvem muito. Um fax desses já me tirou de uma boa encrenca, com um cliente que simplesmente se recusou a quitar minha fatura, sob a alegação de que não podia pagar uma barbaridade dessas por uma tradução. Confrontado com um fax de sua aprovação, pagou em 24 horas.

Se o cliente não pagar na data…

Não entre em pânico. Dois dias depois telefone e, educadamente, sem ironias, sem indiretas, diga que o pagamento ainda não apareceu na sua conta. Peça para ele investigar. Não assuma você o compromisso de falar com o Departamento de Contas a Pagar: peça a seu contato no cliente que faça isso. Se não receber em uma semana após o vencimento combinado, escreva um e-mail educado, informando que não consta pagamento e pedindo recibo do depósito. Não telefone: escreva. Solicite recibo de entrega. Se não receber resposta, escreva depois de dois dias, sempre educadamente, sem insultos nem acusações. Se não receber pagamento ou resposta satisfatória em quinze dias, converse com seu contador, que pode orientar sobre o saque de uma fatura e aponte para protesto. Antes de apontar para protesto ou executar a dívida, avise o cliente. Muitos clientes pagam imediatamente só de ouvir a palavra "protesto".

Na pior das hipóteses, você vai ter de ingressar em juízo. Temos diversos colegas que ingressaram e ganharam. Não tenha medo: o dinheiro é seu.

Jamais…

Por falar em "o dinheiro é seu", ao cobrar o cliente jamais chore as mágoas, dizendo que está precisando do dinheiro porque isto ou aquilo. Você prestou o serviço e tem de ser pago no prazo, mesmo que não esteja necessitando do dinheiro. Se disser que está precisando, o cliente ainda é capaz de te oferecer um pagamento parcial e dizer "resolve o teu caso?", como se estivesse te prestando um favor.

Ainda não recebi do cliente…

Uma das desculpas mais comuns para atrasos no pagamento é a famosa ainda não recebi do cliente. Geralmente, quem dá essa desculpa, são os colegas, não as agências. Mas você não tem nada, nada mesmo, que ver com isso. Quem te passou a tradução é quem te passou a tradução é o responsável pelo pagamento. Além disso, você não tem como saber com certeza se o cliente final pagou ou não.

Jamais…

Divulgue o nome do cliente na Internet. Jamais chame o cliente de ladrão. Deixar de pagar uma dívida é inadimplência, não roubo, e chamar alguém de ladrão porque atrasou um pagamento é crime contra a honra, previsto no código penal. Se chamar o cliente de ladrão porque não pagou a sua fatura ou disser alguma coisa do tipo "fui roubada", ainda pode ser processada e perder a ação, o que é pior.

“Atendimento informal”

Atendimento sem nota fiscal nem RPA, nem pensar. Nota Fiscal de terceiros, então, pior ainda.

Gostou deste artigo? Deixe seu comentário. E volte amanhã, que tem mais.


quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Está na hora de "reajustar"?

Um dos eufemismos mais divertidos do português é reajustar. Os outros aumentam os preços; eu reajusto. Mas, que seja, tanto faz. Quando é hora de passar do meu preço atual para um preço maior? Os preços, em qualquer lugar do mundo, são determinados pela lei da oferta e da procura. Quando a procura pelos meus serviços é tão grande que já não posso mais dar conta das encomendas, está na hora de cobrar mais, só isso. Não tem nada que ver com os custos, o preço do colégio das crianças, o ter passado no exame disto ou daquilo, o que o mecânico cobrou para trocar o cabo da embreagem. Tem que ver com a relação entre o serviço que me oferecem e a produção que eu posso dar, só isso.

Quer dizer, se você está com pouco serviço, nem pense em preços maiores, por mais justo que possa parecer o tal do reajuste. Por outro lado, trabalhar adoidado para dar conta do excesso de serviço é bobagem: a qualidade cai e, cada vez mais, só vão procurar você para os apaga-fogo. Tipo a tradução dela não é boa, mas é a única pessoa que aceitaria fazer duzentas laudas no fim de semana. Quer dizer, você cava a sua própria sepultura.

Na maioria das vezes, não vale a pena dividir o trabalho com colegas, salvo quando o preço for suficientemente alto para pagar um extra satisfatório para quem fica com o encargo de coordenar o serviço, cobrar do cliente, pagar os impostos, receber o pagamento e repassar a cada um a sua parte. São atividades que tomam tempo e, por isso, exigem remuneração. E você pode ter certeza que, se for coordenar, qualquer taxa de gerenciamento que valha a pena para você vai ser considerada exagerada pelos colegas que fizeram a tradução propriamente dita.

Também não se esqueça de que o que você ganha não depende exclusivamente do preço cobrado. Por exemplo, imagine duas editoras que pagam exatamente o mesmo valor por lauda e definam a lauda exatamente do mesmo modo. Mas a Editora A paga quase que em seguida a entrega e não cria caso com nada. A Editora B demora um tempão para pagar e telefona duzentas vezes para fazer perguntas idiotas ou implicar com picuinhas. Embora o valor por lauda seja o mesmo e a lauda seja a mesma, podemos dizer tranqüilamente que a Editora A paga bem mais que a Editora B. Essa consideração se torna mais importante quando você atinge o teto que um determinado segmento paga. Por exemplo, trabalho muito com agências americanas e meu preço está mais ou menos no máximo que elas pagam. Procurar aumentar o preço agora, seria perder o cliente e não ter como repor. Como estou com bastante serviço, estou simplesmente recusando atendimento aos chatos, para me concentrar nos bons.

Moral da história: a alma do negócio é insistir na busca de clientes. O aumento nos preços e a possibilidade de dispensar os chatos é conseqüência natural do aumento na demanda pelos seus serviços. Espero que você tenha gostado deste artigo. Deixe sua opinião nos comentários e volte amanhã, que tem mais

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Por que os tradutores fracassam? (1)

Uma estudante de tradução me escreveu, dizendo que é voz corrente que não se pode viver de tradução. Ela não disse, mas a frase corrente é “No Brasil, não é possível viver de tradução”, com ênfase em "no Brasil”. Como se viver de tradução no exterior fosse um mar de rosas e aqui fosse o inferno dos infernos, entende? Tenho uma ojeriza particular por esse “no Brasil”, porque, na maioria das vezes, é dito por quem não faz a mais remota idéia de como são as coisas fora daqui. Também tenho ojeriza do “de uns tempos para cá" dito por gente que não sabe como as coisas eram antigamente, mas isso é outra coisa. O fato é que, entretanto, aqui e alhures muita gente tenta viver de tradução e não consegue. Por quê?

Um dos motivos é saturação de mercado. Tradução é e sempre foi a tábua de salvação de muitos que não deram certo em outras áreas e, como sabiam alguma coisa de uma língua estrangeira, geralmente o inglês, “pegaram umas traduções para fazer”. Mesmo entre os estudantes dos cursos de tradução tem muita gente que “gosta de inglês mas não tem saco para ser professor”, fora a turma do “sei lá”: “Ia fazer propaganda, sabe, mas, sei lá, resolvi fazer tradução!”.

Entretanto, o mercado é cada vez mais exigente conosco e a vida dos para-quedistas, dos biqueiros e da turma do “sei lá” está cada vez mais difícil. Tradução, cada vez mais, exige dedicação plena e um grande investimento de tempo e dinheiro. Quando comecei, em 1970, tinha uma máquina de escrever semiportátil, menos de meia-dúzia de dicionários e nem sequer telefone. Meu equipamento cabia no tampo da minha escrivaninha. Tudo o que eu fazia era datilografar traduções, o que já não é pouco, mas é bem menos do que se exige hoje. Muitos traduziam exclusivamente depois do expediente ou nos fins de semana, para fazer um dinheirinho extra.

Hoje, mesmo as editoras, tradicionalmente as mais tolerantes com prazo, exigem traduções a toque de caixa, impossíveis de encarar por quem “tem um emprego”: ou você é profissional da tradução ou não é. Nem pense em ser tradutor se não pode manter uma média de pelo menos 3000 palavras por dia.

Além disso, até mesmo as editoras estão começando a exigir que o tradutor seja estabelecido como pessoa jurídica. (Se você não sabe o que é isso, clique aqui). Não vale a pena ter uma firma de traduções para traduzir somente “depois do expediente”.

Em vez de “bater” a tradução em folhas de papel ofício, você tem que digitar num computador e, em vez de ir simplesmente escrevendo o texto, tem que saber lidar com coisas tais como html, trados, PowerPoint, pdf e mil e um outros formatos. Não me diga, por favor, que você quer ser tradutor literário. A tradução literária tem um volume ínfimo em relação aos outros ramos da tradução. E não me diga que “no Brasil…”, porque nos Estados Unidos e na Inglaterra a participação da literatura no bolo total é infinitamente menor que no Brasil. E mesmo os tradutores literários estão sob pressão cada vez maior de prazo e informatização. Já tem muita gente fazendo tradução literária com Wordfast. E não se esqueça que legendagem também está cada vez mais informatizada. Por enquanto, sobra, que eu me lembre, a dublagem, como área que não foi informatizada.

Quer dizer, o mercado e as suas exigências estão transformando o traduzir em profissão. Pretendo voltar ao assunto. Espero que seja interessante para você. Seus comentários são bem-vindos e, antes que me esqueça, muito obrigado pela visita.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Tradução de autor brasileiro para o inglês

Antes da palestra que ia fazer para os alunos de uma faculdade, estava fazendo conversa social com os professores. Uma me contou, orgulhosa, que estava fazendo mestrado ou doutorado, não me lembro, em literatura, e seu tema era um determinado autor brasileiro. No seu entusiasmo pelo assunto, contou que inclusive tinha encarregado seus alunos de traduzir alguns trechos desse autor para o inglês, como trabalho do semestre.

Acho que ocultei bem minha surpresa perante a absoluta inutilidade de fazer alunos de bacharelado em tradução numa faculdade brasileira traduzirem literatura brasileira para o inglês. A chance de algum tradutor brasileiro ser convocado para uma tarefa dessas é próxima de zero. A pouca literatura brasileira que se traduz para línguas estrangeiras é sempre traduzida por falantes nativos da língua de chegada. Essas traduções são sempre publicadas por editoras estrangeiras e, no exterior, tem-se como norma que cada um traduz exclusivamente para a sua própria língua. Conheço raríssimas exceções a essa regra.

Tradução técnica, comercial e jurídica para o inglês, faz-se muito, aqui no Brasil mesmo, por falta de falantes nativos que se encarreguem do serviço, mas isso não parecia importante para os professores. A literatura, para eles, era a mais elevada manifestação do espírito humano e, portanto, era dela que a faculdade tinha de se ocupar.

A tradução literária para uma língua estrangeira num estabelecimento de ensino brasileiro somente vale se for feita como exercício para procurar construir uma sintaxe contrastiva, a ser usada para melhor traduzir do inglês para o português. Mas não era isso o que estava acontecendo. Os alunos estavam sendo conduzidos a imaginar que algum dia eles iriam estar alegremente traduzindo os clássicos da nossa literatura para o inglês. Durante a palestra, confirmei minha suspeita de que o inglês da turma deixava a desejar, o que tornava o exercício ainda mais inútil: tanta coisa a aprender, e eles ficavam lutando com o estilo complicado de um autor regionalista, com seus dialetalismos todos.

Mas, antes de começar a palestra, perguntei se havia algum treinamento em uso de programas de memória de tradução, que, afinal de contas, são ferramentas cada vez mais essenciais para os tradutores. Olharam-me como se eu tivesse dito algo de impróprio e deixaram claro que, para eles, essas coisas eram irrelevantes, de certo modo indignas de um estabelecimento de ensino superior dos sérios, como aquele. Se não fossem tão educados e formais, teriam me mandado lavar a boca.

Podia ser pior: em outra faculdade, na mesma época, usavam PowerTranslator e diziam que era ferramenta de memória de tradução.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Nós e a imprensa

Cada vez que leio um artigo sobre tradução na imprensa, diminui minha fé nela, na imprensa, quero dizer – não na tradução.

O que vende jornal é a reclamação, a esculhambação, evidentemente. Imprensa é oposição, como já disse o Millôr, há muitos anos. Por isso, a maioria dos artigos sobre tradução na imprensa se resume a divulgar erros, principalmente os cômicos. Isso não me preocupa, desde que o que apontem como errado esteja errado mesmo. Não façam como a Veja, que, há anos, meteu o pau de rijo no colega que tinha traduzido "The Physician" por "O Físico", sem saber que os médicos antigamente eram chamados "físicos" em português e que quem fez a tradução usou o termo antigo propositadamente. Acho que quem escreveu a diatribe jamais tinha lido o "Auto dos físicos" de Gil Vicente. Mas mesmo isso é de relevar.

O que me preocupa e irrita, de fato, é a confusão geral que a imprensa faz, entrevistando somente as pessoas que fazem tradução literária ou de filmes e dando as opiniões delas como se referindo à tradução como um todo.

Na verdade, o mercado de tradução literária e de filmes, embora apareça muito nos cadernos de cultura dos nossos jornais de domingo e tenha uma grande importância para nossa vida intelectual, responde por uma pequena parcela do mercado como um todo. Por exemplo, eu, que vivo de tradução desde 1970, jamais traduzi um filme e não traduzo um livro há mais de 30 anos. E, aliás, jamais traduzi literatura.

Além disso, geralmente a imprensa entrevista quem é tradutor amador, gente que não quis ou não conseguiu transformar tradução no seu ganha-pão. Muitos são extremamente competentes como tradutores, mas não são profissionais. Se você pretende ser profissional, decididamente não é a sua turma. Você pode até admirar as traduções deles, muitas vezes excelentes, mas não os utilize como modelos enquanto profissionais, porque, a rigor, profissionais é que não são.

Por isso, quando ler alguma daquelas jeremiadas lamuriosas sobre a impossibilidade de se viver de tradução, sobre gente que trabalha com máquina de escrever porque não tem dinheiro para computador, gente que traduz de noite e trabalha de dia em alguma outra coisa para não morrer de fome, saiba que muito provavelmente não vai ser essa a sua vida.

Aliás, há vários tradutores de editora vivendo decentemente. Ganham menos do que os outros, mas conseguem viver de sua tradução, estão felizes com o que fazem e não trocariam de profissão por nada deste mundo.

Taxa de urgência

Existem duas concepções de “taxa de urgência”: a primeira é a remuneração extra por um esforço extra, necessário para entregar o serviço no prazo desejado pelo cliente; a segunda, uma taxa cobrada para fazer o serviço de um cliente antes do serviço dos demais. Nenhuma das duas é fácil de aplicar.

Se você está de serviço até os olhos, 1000 palavras para daqui a dez dias podem significar ter de trabalhar até de madrugada mais um dia em uma semana enlouquecida. Se você está sem o que fazer, 4000 palavras para amanhã podem não significar nada.

Tem também a questão dos feriados religiosos: se você for católica praticante, trabalhar na sexta-feira santa pode ser impensável e uma tradução para depois da semana santa pode exigir virar a noite do domingo de páscoa. Se você não for católica, pode não fazer a menor diferença.

“Tirar o serviço do cliente da fila”, por outro lado, pode não significar nada quando você está com pouco serviço, mas pode ser altamente antiético quando fosse resultar em atraso na entrega de outros serviços para outros clientes.

Por isso, taxa de urgência é algo muito flexível, que se cobra quando se acha que o cliente vai pagar.

A taxa de urgência também tem um valor dissuasório-probatório: se o cliente liga ás seis da tarde e diz que quer o serviço para as nove da manhã do dia seguinte e você não é do tipo coruja, diga que trabalho à noite custa o dobro, assim você fica sabendo se o serviço é urgente mesmo. Se for, o cliente paga. Mas minha experiência indica que, geralmente, nesses casos, o cliente depois de algumas interjeições mais ou menos delicadas opta por aceitar um prazo de 48 horas para o serviço e você vai dormir em paz com sua consciência.

Então, na verdade, cobra-se taxa de urgência quando se acha que pode, o que inclui um elemento de risco, porque você pode exigir taxa de urgência e o cliente enviar o serviço para outro.

Quanto cobrar de taxa de urgência é outro problema. Não me venha, por favor com “o justo”. Isso não existe. Você cobra o que quer, o cliente aceita se quiser.

Quem não arrisca, não petisca; mas também não vira petisco.

domingo, 5 de novembro de 2006

Tradutor juramentado

Primeiro, saiba que o nome correto é Tradutor Público e Intérprete Comercial (TPIC). Embora "juramentado" seja comum, mesmo entre os TPICs, juramentada é a tradução, não o tradutor.

O TPIC é o único que pode fazer uma tradução juramentada e a tradução juramentada é a única que conta com “fé pública”. Gozar de “fé pública” significa que as autoridades são obrigadas a aceitar a tradução como correta, salvo prova em contrário. Em verdade, as autoridades somente podem aceitar documentos em português. Se o documento estiver em outra língua, tem de ser apresentado juntamente com uma tradução feita por TPIC, mesmo que a autoridade que o receber tenha condições intelectuais para entender o original perfeitamente bem.

Ocorre situação homóloga com as declarações e depoimentos verbais. O estrangeiro tem todo o direito de depor em sua língua e o juiz, por mais que entenda a língua do depoente, é obrigado a decidir com base na tradução feita por TPIC.

O TPIC não é servidor público e, portanto, nada recebe dos cofres públicos. Também, ao contrário do que muita gente pensa, não é obrigado a prestar serviços grátis a nenhum órgão público. O TPIC tem que ir atrás do trabalho, como todos os outros tradutores, tarefa em que uns são mais bem-sucedidos do que outros.

Para conquistar o título de TPIC, é necessário passar em um concurso promovido pela Junta Comercial do estado em que o tradutor reside. Acontece que as Juntas Comerciais raramente promovem esses concursos. Em São Paulo, onde são relativamente freqüentes, o intervalo médio entre um concurso e outro está em torno de 25 anos. À medida que os TPICs se aposentam, o quadro fica desfalcado e as diversas Juntas Comerciais se valem de diversos artifícios para manter quem atenda às necessidades de seus respectivos estados.

O concurso, pelo menos em São Paulo, costuma ser rigoroso e não são todos os que são aprovados. Além disso, são honestos. Se houve alguma desonestidade, alguma proteção, em algum concurso, pode ter sido em alguma daquelas línguas em que só havia um examinador e um candidato e o examinador sabia, de antemão, que não poderia haver outro. Nas línguas de grande e média demanda, não há chance de desonestidade.

Por outro lado, o tradutor juramentado não é um supertradutor. É simplesmente um tradutor competente. Se você precisar de uma boa tradução de algum documento que não vá ser entregue a uma autoridade e resolver contratar um juramentado porque entende que, tendo sido aprovado em concurso, há de ter competência, está usando um critério de seleção válido. Por outro lado, grande parte de nossos melhores tradutores jamais prestou concurso e é errado partir do princípio de que um TPIC é sempre mais competente que os outros tradutores.

É segredo de polichinelo que muitos TPICs têm muito mais serviço do que podem fazer pessoalmente e terceirizam o excesso, mantendo equipes numerosas de subcontratados, procedimento firmemente contestado por outros. A discussão levanta alguns problemas extremamente interessantes, que não vão ser discutidos aqui.

Uma coisa é certa: tornar-se TPIC não é fácil nem garantia de sucesso financeiro. O TPIC é obrigado a cobrar de acordo com uma Tabela de Emolumentos baixada pela Junta Comercial do seu estado. Para o leigo, a tabela parece ser uma verdadeira cornucópia. Quem é do ramo sabe que não é bem assim e que manter um escritório de tradução juramentada lucrativo não é tarefa simples.

Por fim, é bom lembrar que na maioria dos países, não existe o ofício de Tradutor Público e Intérprete Comercial e enviar “traduções juramentadas” para esses países não faz muito sentido. Por outro lado, de tanto lidar com as peculiaridades de cada país estrangeiro, muitas vezes é o TPIC o mais indicado para preparar uma documentação para uso no exterior.

Em tempo, e antes que me entendam mal: não sou TPIC, nunca prestei o concurso nem trabalho como subcontratado de TPIC nenhum. Quer dizer, se alguém pensa que estou defendendo meu terreno e minhas regalias, engana-se.

Entidades de classe dos tradutores

Há duas entidades de classe para os tradutores: SINTRA e ABRATES. Ambas são alvo das mesmas críticas, as quais discuto abaixo.

São entidades puramente cariocas


O fato de que ambas têm sede no Rio de Janeiro tem motivos históricos e não me incomoda em nada. Em algum lugar têm de ter sede, pode ser no Rio ou em Boca do Acre. Já que estão no Rio, que no Rio fiquem. O fato de que a estrutura de ambas as entidades é tal que torna impossível a participação de tradutores dos outros estados pari passu com quem mora no Rio, me incomoda muito e já levantei o problema várias vezes.

Não me parece que alguma diretoria de qualquer das entidades tenha se preocupado com a questão. Todas quererem organizar uma "seção" ou "delegacia" paulista forte, mas nenhuma quer segregar os assuntos nacionais dos ligados especificamente ao Rio de Janeiro.

Quer dizer, a solução começa com a separação entre a "nacional" e a "carioca". Parece o famoso "departamento feminino" que há, ou havia, em alguns clubes e grêmios. Conta-se que um dia convidaram uma mulher consciente de sua igualdade com os homens para que dirigisse o "departamento feminino" de uma agremiação e ela respondeu que, antes de aceitar a honra, queria saber quem ia cuidar do departamento masculino. Nem SP nem nenhum outro lugar deve aceitar ser o "Departamento Feminino" das nossas agremiações. Quer dizer, sou frontalmente contrário à criação de uma "delegacia paulista" ou "seção paulista" enquanto não for criada a "delegacia carioca". Ou o Rio de Janeiro não é um estado? E tem que haver um modo de fazer com que quem mora fora do Rio possa participar ativamente das discussões e decisões. Ou será que alguém espera que todos compareçamos às reuniões no Rio de Janeiro?

Enquanto viger a situação atual, ou você está no Rio, ou é sócio de segunda classe. O statu quo parece convir.

Não fazem nada pela classe

Fazer, fazem, mas pouco, muito pouco, quase nada. Não fazem mais porque não têm recursos. A ATA faz mais porque tem mais recursos. Americanos são "born joiners": entram para a sociedade, pagam, comparecem à assembléia, montam chapa, elegem diretores, pagam anuidade, fazem a entidade crescer e partem para a briga. No Brasil, a turma quer que primeiro a entidade faça alguma coisa para depois se associar, paga a anuidade com atraso, não vai à assembléia, se nega a participar de chapa e depois fica reclamando que "eles não fazem nada". Não existem "eles", existimos "nós".

A turma parece crer que entidade profissional é como convênio de assistência médica. No convênio, um grupo de capitalistas junta recursos para oferecer serviços a um público pagante, na expectativa de que a receita exceda a despesa e os donos possam auferir lucro. Na entidade profissional, os profissionais se juntam e juntam seus recursos para criar uma associação que os represente e defenda.

Quando acontece algo errado, a turma reclama "e o que faz o SINTRA?". Nada. O SINTRA, não faz praticamente nada e a ABRATES faz, mas pouco e devagar. Não tem poder de resposta rápida. Mal-e-mal as entidades conseguem se manter vivas e ainda por muito favor.

Uma associação profissional é como o que os americanos chamam "bucket brigade", aquela turma que fazia uma fila para ir passando balde de água de mão em mão e apagar um incêndio. Todo mundo comparece e dá uma mãozinha. Ficar de fora e reclamar que a "bucket brigade" não funciona, pega mal.

São entidades fechadas em si próprias

Acho absolutamente ridículo o fato de que nenhuma das duas entidades faz das listas de tradutores em o Orkut um veículo de comunicação com a classe. Participo de pelo menos cinco listas brasileiras de tradutores (isto se não participar de mais) e ainda de um grupo de tradutores ativíssimo no Orkut. Rolam conversas importantes, discussões interessantes mas não aparece nenhuma das duas entidades para participar nem para dizer "juntem-se a nós". Quer dizer, as entidades se fecham em si mesmas, só se comunicam com a categoria para se defender e para reclamar que ninguém colabora. Não há uma, uma só, uma única iniciativa organizada de comunicação com a categoria. É de se perguntar se realmente querem ampliar a representatividade da entidade ou preferem manter o stato quo, embora publicamente lamentem a pouquidão dos associados.

Aliás, também não há uma lista de discussão de assuntos profissionais patrocinada por uma ou ambas as entidades. O isolamento é total. Saem boletins esporádicos, vez que outra uma mensagem eletrônica circular, convocando para uma assembléia. Mas nenhum, nenhum mesmo, esforço de comunicação com a classe, exceto os dois congressos da ABRATES.

Os congressos


A iniciativa de maior impacto das entidades foram os congressos da ABRATES. O primeiro foi um sucesso; o segundo foi muito criticado. O fato é que, bem ou mal, fizeram. Antes pouco que nada. Espero que alguém, que tenha talento organizador, promova o terceiro.

Participar ou não?

Sou associado de ambas as entidades. Quem me convenceu foi o Paulo Wengorski. Convenceu-me de que não me assistia o direito de reclamar sem participar. A ABRATES me fez três pedidos: um artigo e duas participações em congressos. Atendi os três. Quando começou a história do credenciamento, participei dos prolegômenos, mas me afastei porque achei que iria surgir um conflito de interesses, dado o fato de que, na época, eu era ativíssimo como instrutor na Via Rápida. Não me arrependo. Não ia faltar quem alegasse que estava participando da equipe em proveito próprio. O SINTRA não me pediu nada nem tinha razão para pedir. Se pedisse, teria procurado ajudar, dentro de minhas limitações.

Gostaria de participar das discussões e assembléias das duas, mas não tenho condições de ir ao Rio de Janeiro para isso. Só poderia participar via Internet.

Participar da diretoria ia ser mais difícil ainda, dado que sou mau administrador nem moro no Rio. Minha colaboração há de limitar-se ao que eu sei fazer, para não fazer besteira. Cada um tem sus limitações e problemas, mas me parece extraordinário que a esmagadora maioria de nós não possa contribuir com nada, nada, absolutamente nada para com a profissão, salvo reclamar que "ninguém faz nada".

O que é uma lauda

Antigamente, as traduções eram entregues em folhas de papel formato ofício (22 cm X 32 cm), datilografadas em espaço duplo e com umas margens generosas. Tinha lá sua razão de ser, em virtude do modo como os livros eram compostos na época, à força de linotipo, uma máquina que ganhou esse nome em português porque era chamada Linotype em inglês. Agora, que a traquitana foi aposentada e que todos nós usamos computador, lauda é coisa que não faz mais sentido.

Entretanto, alguns setores do mercado se apegaram tanto ao nome lauda que ainda mantêm a unidade de cobrança, embora não se tenha jamais chegado a um acordo quanto ao que seja uma lauda feita no computador e as definições variem de algo como 1000 a até 2500 caracteres – com ou sem espaços. Então, é necessário fazer uma contagem, geralmente com a ferramenta de contagem de palavras do próprio Word e depois converter em laudas. Como se não fosse mais simples cotar por milhar de caracteres de uma vez. Mas a tradição demora a morrer.


As laudas são contadas, tradicionalmente, com base no texto traduzido, algo que os clientes aceitavam antigamente, mas cada vez os irrita mais. O cliente quer saber o preço total antes de aprovar o pedido e, por isso, prefere cobranças baseadas no texto de partida, quer dizer, no original e não são poucas as vezes em que o cliente se surpreende, ou pelo menos se declara surpreso, com a quantidade de laudas que deu “aquela meia dúzia de pagininhas de texto” e pede uma “reconsideração da contagem” porque está “acima do orçado”.


Para evitar esse problema, alguns tradutores estão começando a cotar um número de “laudas garantidas”. Quer dizer, contam os caracteres do original, multiplicam por 1,3, presumindo que a tradução seja 30% mais longa que o original, dividem pelo número de caracteres que constitui a sua “verdadeira lauda” e, assim chegam um número de laudas. O curioso é que esses profissionais acham o meu modo de cotar complicadíssimo: coto um preço por palavra do original. Fiz os outros cálculos antecipadamente e determinei um preço por palavra do original que me pareceu aceitável.


Aprendi a cotar assim trabalhando para o mercado americano e inglês, onde esse é o padrão. Parece que essa tendência está se espalhando, como tantas coisas que se tornaram padrão nos Estados Unidos. Hoje, até o SINTRA anda falando em cotação por palavra.

Profissão: Tradutor

Cada vez que me perguntam minha profissão e eu respondo que sou tradutor, vêm logo a mesma surpresa e perguntas:
  • Todas as línguas?
  • Por que as traduções dos filmes são tão ruins?
  • Livros, assim?
  • Minha filha está estudando inglês, o senhor não podia dar umas traduções para ela fazer?
  • O senhor dá aulas?
Mesmo entre estudantes e iniciantes a desinformação reina. Antigamente, quase todo estudante de tradução pensava que ia traduzir poesia e investia um tempo enorme para aprender uma técnica que nunca ia usar na vida. Hoje, a grande maioria espera viver de traduzir filmes, sem se dar conta de que o mercado de dublagem e legendagem, embora importante e de alta visibilidade, responde por uma parte ínfima do mercado total de tradução e, portanto, acolhe um número muito pequeno de tradutores.

Foi para apresentar minhas opiniões sobre a profissão de traduzir que criei este blog. Muito do que vai aparecer por aqui é mera reformulação de opiniões que já venho expressando há anos em palestras que fiz em faculdades ou congressos, ou em algum dos ciberpontos de encontro mencionados na área de links. Aqui vão ficar todos juntos. Espero que sejam úteis.

sábado, 4 de novembro de 2006

Contato

Quem somos?

Nós somos Danilo Nogueira e Kelli Semolini. A criação da dupla é idéia minha e desse mérito não abro mão. A Kelli jura que não esperava o convite.

Kelli Semolini nasceu em São Carlos, em 1983, e desde muito nova se interessa por inglês, que começou a ensinar antes de entrar na UNESP, em Araraquara, em 2002. Na faculdade, além de se aprofundar no inglês e no português, aprendeu a jogar truco. Ao se formar, continuou com as aulas de inglês, mas começou a procurar serviços de tradução e revisão.

Danilo Nogueira nasceu em São Paulo, em 1942 e, também desde muito jovem se interessa por línguas, porém nunca fez faculdade. Teve uma vida confusa e atribulada demais para ser narrada aqui. Em 1970, aproveitando uma oportunidade promissora, resolveu se dedicar inteiramente à tradução, especializando-se em contabilidade, finanças, tributação e direito societário. Um dos pioneiros da informatização da tradução, usa programas de tradução assistida por computador desde cerca de 1995.

Nosso encontro se deu em uma comunidade do Orkut. A parceria, até porque as personalidades, formações e experiências são bem distintas e complementares, parece que vai dar mais certo do que nós esperávamos.