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domingo, 26 de novembro de 2006

Qualidade (2)

Esta nota é continuação do artigo de mesmo nome, abaixo.

Voltei do cliente arrasado. Não só tinha perdido o serviço, o que me fez falta na época, mas, principalmente, estava com minha dignidade no chão. Um serviço que nem para “má qualidade” serve é, de fato, um horror.

Pouco a pouco, entretanto, fui entendendo o que tinha acontecido.

Vou poupar você dos detalhes, porque pouco interessam e quero ser breve. O cliente tinha resolvido abandonar o projeto, meu contato tinha sido demitido e o novo encarregado da área estava querendo reduzir os prejuízos. Um dos meios era parar de pagar o tradutor. O caminho mais simples era alegar que a “má qualidade” do serviço tinha ficado aquém do desejado, esperado e combinado: um excelente pretexto, porque incontestável.

Não tinha um contrato, falha minha, falta de experiência. Para serviços pequenos, do tipo bate-e-volta, dos quais tenho muitos, nem sempre dá para fazer, mas se não pagarem a perda é pouca. Em muitos casos, temos, ao menos, um e-mail. Naquele época, não havia isso. Tínhamos nossa palavra. O melhor, eu tinha a minha, porque a dele não havia. Para grandes trabalhos, entretanto, pelo menos uma boa carta de especificações é essencial.

Mas mesmo que tivesse contrato, seria impossível provar que a “má qualidade” estava no nível esperado. E ia exigir uma verdadeira batalha judicial, contra os advogados de uma grande empresa, que poderiam me infernizar a vida com mil recursos protelatórios que iam me custar uma fortuna.

Desse fracasso, tirei muitas lições. Delas, gostaria de compartilhar com vocês as duas mais importantes:

Primeiro, cuidado com os projetos grandes e longos. A segurança financeira de cada um de nós está nos pequenos projetos, não nos grandes. O vendeiro ali da esquina vai te explicar que o importante é ter muitos clientes, não ter um cliente que seja responsável por 90% das tuas vendas. Você vira refém desse cliente e isso é péssimo para sua segurança.

Segundo, jamais aceite entregar serviços “mais ou menos”. Sempre, sempre, sempre faça o melhor serviço que puder. O cliente, muitas vezes, pede para sacrificar a qualidade em favor do prazo ou do preço. Depois de três meses, ninguém se lembra de que você deu conta de 300 laudas num fim de semana. Abrem o texto, encontram as falhas e perguntam quanto foi pago por aquele lixo e quem foi o porco que fez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Danilo.

Meus parabéns pela bela iniciativa de criar este blog. Estávamos precisando disso!

Esse é um tema de extrema relevância para nós tradutores, principalmente nos dias de hoje, em que os prazos andam cada vez mais apertados e as exigências, cada vez maiores.

O que fica da leitura é o inquietamento de não poder seguir seu conselho de nunca em hipótese alguma pegar um trabalho para "ficar mais ou menos"!
Acho que esse conselho pode ser seguido (não mais facilmente, que fique claro) por quem trabalha por conta própria; infelizmente, esse *ainda* não é o meu caso. Quem trabalha em empresa (me included) está sujeito a todas essas exigências que, na nossa visão são absurdas, mas não o são na visão do Comercial, que faz seu papel de vender, vender e vender (será que com taxa de urgência?) a tradução-relâmpago aos clientes (As 300 laudas num fim de semana que você falou) sem pestanejar.

Numa empresa, ou você cumpre a ordem ou é demitido. Infelizmente algumas empresas têm trabalhado nesse esquema de "vamos pegar e entregar ontem, mesmo que fique uma bomba", em detrimento até das condições de trabalho dos tradutores e evidentemente da qualidade do seu trabalho. Sabe aquele esquema "eu finjo que traduzo bem e vc finge que acredita"? Pois é, tem funcionado nesse esquema. O problema aconteced quando o cliente se dá ao trabalho de ler o que pagou e manda devolver: sobre quem você acha que vai recair a culpa? :/

Não sei também de quem é a culpa disso, e acho que no fim das contas nunca vou saber: se das empresas, que com medo de "se eu não pegar, outra pega" ou dos clientes, que querem transferir o problema de sua desorganização para terceiros "desovando" uma versão de 50 laudas na sexta-feira às 17h para ser entregue segunda-feira ao meio-dia...

Deixo meu abraço e meu agradecimento pela, repito, bela iniciativa de criar este blog.
Carla