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segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Nós e a imprensa

Cada vez que leio um artigo sobre tradução na imprensa, diminui minha fé nela, na imprensa, quero dizer – não na tradução.

O que vende jornal é a reclamação, a esculhambação, evidentemente. Imprensa é oposição, como já disse o Millôr, há muitos anos. Por isso, a maioria dos artigos sobre tradução na imprensa se resume a divulgar erros, principalmente os cômicos. Isso não me preocupa, desde que o que apontem como errado esteja errado mesmo. Não façam como a Veja, que, há anos, meteu o pau de rijo no colega que tinha traduzido "The Physician" por "O Físico", sem saber que os médicos antigamente eram chamados "físicos" em português e que quem fez a tradução usou o termo antigo propositadamente. Acho que quem escreveu a diatribe jamais tinha lido o "Auto dos físicos" de Gil Vicente. Mas mesmo isso é de relevar.

O que me preocupa e irrita, de fato, é a confusão geral que a imprensa faz, entrevistando somente as pessoas que fazem tradução literária ou de filmes e dando as opiniões delas como se referindo à tradução como um todo.

Na verdade, o mercado de tradução literária e de filmes, embora apareça muito nos cadernos de cultura dos nossos jornais de domingo e tenha uma grande importância para nossa vida intelectual, responde por uma pequena parcela do mercado como um todo. Por exemplo, eu, que vivo de tradução desde 1970, jamais traduzi um filme e não traduzo um livro há mais de 30 anos. E, aliás, jamais traduzi literatura.

Além disso, geralmente a imprensa entrevista quem é tradutor amador, gente que não quis ou não conseguiu transformar tradução no seu ganha-pão. Muitos são extremamente competentes como tradutores, mas não são profissionais. Se você pretende ser profissional, decididamente não é a sua turma. Você pode até admirar as traduções deles, muitas vezes excelentes, mas não os utilize como modelos enquanto profissionais, porque, a rigor, profissionais é que não são.

Por isso, quando ler alguma daquelas jeremiadas lamuriosas sobre a impossibilidade de se viver de tradução, sobre gente que trabalha com máquina de escrever porque não tem dinheiro para computador, gente que traduz de noite e trabalha de dia em alguma outra coisa para não morrer de fome, saiba que muito provavelmente não vai ser essa a sua vida.

Aliás, há vários tradutores de editora vivendo decentemente. Ganham menos do que os outros, mas conseguem viver de sua tradução, estão felizes com o que fazem e não trocariam de profissão por nada deste mundo.

Um comentário:

noemi hiraishi disse...

Bom dia Danilo,
Bom dia a você que acessou esse espaço.

Obrigada Danilo, pela inicitiva deste blog. É informativo e esclarecedor. Um bem público e confirma em que eu acredito: ¨There are reasons for hope¨, de Jane Goodall. Quero estar no seu time. Obrigada pelos conhecimentos obrigatórios para qualquer pessoa que se denomina tradutor que os artigos deste blog, publicam e estão assinados.