Toda tradução deveria passar por uma revisão, por competente e cuidadoso que seja o tradutor. A revisão inclui duas tarefas: a primeira é garantir que original e tradução dizem a mesma coisa, quer dizer, que não há “erros de tradução”; a segunda é garantir que a tradução está escrita em linguagem isenta de tradutorês, quer dizer, sem aquelas construções e expressões que só aparecem nas traduções mal feitas.
São tarefas conflitantes. A primeira, exige um cotejo da tradução com o original; a segunda exige que a tradução seja lida separadamente, sem nem pensar no original. Na verdade, para que uma tradução ficasse realmente boa, deveria haver dois revisores, cada um encarregado de uma das tarefas de revisão, com uma reunião final entre ambos, para que um aprovasse as emendas do outro. Já me aconteceu, e terá acontecido a outros, que, a para melhorar minha redação, um revisor inseriu em meu texto um erro de tradução. Prova de que era necessária uma alteração, claro, mas ainda bem que eu validei a revisão e pude apontar a falha. Não era tarefa minha: deveria, realmente, haver dois revisores. Não há – e o revisor tem de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.
O trabalho descrito acima se chama propriamente revisão, ou revisão de originais, em português e, em inglês, editing. Não deve ser confundido com leitura de provas, que também se chama revisão de provas, e, em inglês proofreading. A leitura de provas/proofreading é algo que se faz somente quando a tradução vai ser impressa e, atualmente, muitas vezes já em formato pdf, quer dizer, com a diagramação final. Nessa fase, o profissional não olha mais o texto original. Concentra-se no arquivo que tem à sua frente, procurando o que se chama “gralha”, quer dizer, um acento fora de lugar, um número com vírgulas onde deveria haver pontos, um parágrafo quebrado, um hífen faltando ou mal colocado, essas coisas. Tem que ser alguém de grande competência na língua de chegada. Se for monoglota, não faz grande diferença. Os problemas de tradução já foram eliminados pelo revisor de originais, esse sim, com competência em duas línguas.
Amanhã, volto a este assunto. Por hoje, chega. Espero que você tenha gostado. Deixe seu comentário e volte amanhã, que tem mais.
Um comentário:
Já sofri com gente que quis "melhorar" trabalho meu.
Para traduzir um capítulo sobre Jung, usei um termo que sabia ser empregado em inglês. Quis tirar qualquer dúvida e telefonei para uma analista junguiana: "Este termo continua sendo usado em inglês ou foi traduzido?" Ela me grantiu que continuava em inglês. Pois acreditam que ele apareceu traduzido -- e errado? Coisas de revisor técnico. Pensei em escrever à pessoa, que não era especialista em Jung, mas o mal já estava feito e publicado. Se um dia a editora der sorte de precisar reeditar o livro (quantos ficam só na primeira edição!), aviso e corrijo.
Dá raiva, né, Danilo? A gente se prepara e...
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