Um dos eufemismos mais divertidos do português é reajustar. Os outros aumentam os preços; eu reajusto. Mas, que seja, tanto faz. Quando é hora de passar do meu preço atual para um preço maior? Os preços, em qualquer lugar do mundo, são determinados pela lei da oferta e da procura. Quando a procura pelos meus serviços é tão grande que já não posso mais dar conta das encomendas, está na hora de cobrar mais, só isso. Não tem nada que ver com os custos, o preço do colégio das crianças, o ter passado no exame disto ou daquilo, o que o mecânico cobrou para trocar o cabo da embreagem. Tem que ver com a relação entre o serviço que me oferecem e a produção que eu posso dar, só isso.
Quer dizer, se você está com pouco serviço, nem pense em preços maiores, por mais justo que possa parecer o tal do reajuste. Por outro lado, trabalhar adoidado para dar conta do excesso de serviço é bobagem: a qualidade cai e, cada vez mais, só vão procurar você para os apaga-fogo. Tipo a tradução dela não é boa, mas é a única pessoa que aceitaria fazer duzentas laudas no fim de semana. Quer dizer, você cava a sua própria sepultura.
Na maioria das vezes, não vale a pena dividir o trabalho com colegas, salvo quando o preço for suficientemente alto para pagar um extra satisfatório para quem fica com o encargo de coordenar o serviço, cobrar do cliente, pagar os impostos, receber o pagamento e repassar a cada um a sua parte. São atividades que tomam tempo e, por isso, exigem remuneração. E você pode ter certeza que, se for coordenar, qualquer taxa de gerenciamento que valha a pena para você vai ser considerada exagerada pelos colegas que fizeram a tradução propriamente dita.
Também não se esqueça de que o que você ganha não depende exclusivamente do preço cobrado. Por exemplo, imagine duas editoras que pagam exatamente o mesmo valor por lauda e definam a lauda exatamente do mesmo modo. Mas a Editora A paga quase que em seguida a entrega e não cria caso com nada. A Editora B demora um tempão para pagar e telefona duzentas vezes para fazer perguntas idiotas ou implicar com picuinhas. Embora o valor por lauda seja o mesmo e a lauda seja a mesma, podemos dizer tranqüilamente que a Editora A paga bem mais que a Editora B. Essa consideração se torna mais importante quando você atinge o teto que um determinado segmento paga. Por exemplo, trabalho muito com agências americanas e meu preço está mais ou menos no máximo que elas pagam. Procurar aumentar o preço agora, seria perder o cliente e não ter como repor. Como estou com bastante serviço, estou simplesmente recusando atendimento aos chatos, para me concentrar nos bons.
Moral da história: a alma do negócio é insistir na busca de clientes. O aumento nos preços e a possibilidade de dispensar os chatos é conseqüência natural do aumento na demanda pelos seus serviços. Espero que você tenha gostado deste artigo. Deixe sua opinião nos comentários e volte amanhã, que tem mais
3 comentários:
Danilo, por favor, quando tiver tempo, dê uma lida neste texto do meu blog, até para confirmar se aquela afirmação inicial é sua mesmo. Se não for, eu faço a correção:
http://emiliopacheco.blogspot.com/2006/02/eufemismos.html
Lembrei desse texto em razão do título desse seu comentário.
Danilo, você tocou numa questão que muito me interessa: encontrar novos clientes. Eu me considero uma boa profissional, embora tenha grande admiração por um grande número de profissionais bem melhores e mais experientes do que eu, e com quem tenho grande prazer em aprender, seja "na moita" ou fazendo perguntas diretamente a eles. Entretanto, hoje em dia vejo uma dificuldade muito grande em expandir a carteira de clientes. Os que chegaram a mim vieram sempre por indicação (e ficaram, o que é um bom sinal). Mas hoje em dia vejo que está cada vez mais difícil conseguir essas indicações -- em parte porque algumas pessoas não têm a menor idéia do que seja a tradução e da importância de um bom profissional, em parte porque os colegas estão se esforçando para não indicar outros colegas para não correrem o risco de perder clientes.
Eu adoraria ver um post com dicas de como conseguir novos clientes.
Abraços e latidos,
Silvia D. Schiros, péssima de marketing
Olá, Danilo.
Concordo com o comentário da Silvia, apesar de me encontrar numa situação um pouco diferente: sou iniciante na profissão. Comecei há algumas semanas a faculdade de Tradução/Interpretação. Até agora minhas traduções somam uma meia duzia de gatos pingados- só fiz mesmo algumas traduções para grupos de alunos de outros cursos, desesperados na construção de seus TCC's.
Também tenho essa curiosidade quanto a clientes: quais os possíveis clientes, onde procura-los, e por aí vai... talvez eu não tenha vasculhado o suficiente a internet atrás dessas informações, mas gostaria de ver um post sobre isso aqui.
Obrigado, grande abraço!
Filipi
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