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domingo, 19 de novembro de 2006

Falsos cognatos

Duas palavras se dizem cognatas quando têm a mesma etimologia. Por exemplo, semear, semente, seminário, disseminar são palavra cognatas, todas elas derivadas do latim semen. Muitas dessas palavras encontram cognatas em outras línguas: disseminate em inglês, por exemplo, ou seminário em espanhol e italiano, ou séminaire em francês, pertencem todas à mesma família do semear, semente, seminário, disseminar e, por isso, são todas cognatas.

Para saber se duas palavras são cognatas, é necessário saber um bocado de lingüística diacrônica ou consultar dicionários etimológicos. Ser “parecida”, não é suficiente. Por exemplo, haver e have são parecidíssimas, nas não são cognatas, porque, a despeito da semelhança, as duas palavras têm origens totalmente diferentes. Quer dizer, não se arrisque a dizer que suas palavras são cognatas sem uma boa pesquisa em dicionários.

O sentido das palavras muda com o tempo. Paedagogus, que deu nosso pedagogo, era o escravo encarregado de conduzir as crianças à escola. Aos poucos, o sentido foi se estendendo para o atual e se perdeu o sentido original. Isso é normal em todas as línguas, não só no português. Quando duas palavras cognatas em duas línguas evoluem em direções diferentes, lá pelas tantas, a despeito da forma muito parecida, os seus sentidos se tornam tão diferentes que já na se pode traduzir uma pela outra.

O exemplo clássico é o actual inglês, que não pode mais ser traduzido automaticamente pelo português atual, embora ambos tenham a mesma origem, o latim actualis. Os tradutores chamam esses casos de falso cognatos. Confesso que não gosto do termo: dá a impressão de que não são cognatos de verdade, mas são e não vão deixar de ser. São falsos porque se fingem de amigos mas nos traem. Por isso, os franceses chamam esses casos de falsos amigos, o que é uma saída bem melhor. Muitas vezes, a falsidade é parcial: por exemplo, actual como termo técnico de filosofia aristotélica, é atual mesmo e é assim que se traduz.

Existe um monumental trabalho sobre falsos cognatos inglês-português, que é o Guia Prático da Tradução Inglesa, do Agenor Soares dos Santos, que, lamentavelmente, está esgotado há muitos anos. Se encontrar em algum sebo, não deixe de comprar.

Claro que é importante não cair nas armadilhas dos falsos cognatos, mas é mais igualmente importante não cair em outras armadilhas da tradução. Quem sabe volto ao assunto.

Obrigado por sua visita e espero que tenha gostado do que viu. Deixe seu comentário e volte amanhã, que tem mais.

5 comentários:

Danilo Nogueira disse...

O colega Francisco Fabiano deixou este comentário no artigo sobre pessoas físicas:
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Tentei comentar sobre os falsos cognatos, logo abaixo do seu texto, mas não consegui. Então, aqui mesmo vai. Sobre falsos cognatos, registre-se também o Vocabulando, da Isa Mara Lando(que foi bastante ampliado recentemente). O vetusto "Arte de traduzir" do Breno Silveira, que foi relançado em 2004, contém lista de falsos amigos em inglês e espanhol. Há um livro do Ulisses W. de Carvalho que trata do assunto com qualidade. Nenhum supera o grande Agenor, que para tristeza geral não teve uma terceira edição.
Francisco Fabiano
ffm@fmfp.adv.br
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Preciso ir atrás do livro do Ulisses, que não conhecia. O da Isa Mara é magnífico (tenho exemplar autografado) mas não é, realmente sobre falsos cognatos. É sobre tudo o que não está nos dicionários comuns.

Obrigado pela colaboração!

Danilo

Anônimo disse...

O livro se chama Dicionário das palavras que enganam em inglês, autor Ulisses Wehby de Carvalho, Editora Campus/Elsevier, 2004.
Na bibliografia do Vocabulando há referência à obra 280 erros comuns na tradução da língua inglesa, de autoria de Ronaldo Alves de Oliveira, Ed. Edicta, 2004, que trata do tema (esse eu não conheço "ao vivo e em cores", só a referência da Isa Mara).
Francisco Fabiano
ffm@fmfp.adv.br

Anônimo disse...

Pesquisando no Google sobre "falsos amigos", encontrei referência ao livro Amigos Traiçoeiros, cujo autor é Sérgio Bath, publicado pela Editora Universidade de Brasília. Também no Google descobri que Sérgio Bath é diplomata aposentado e tradutor atuante.
Francisco Fabiano
ffm@fmfp.adv.br

Anônimo disse...

Foi bom fazer essa pesquisa adorei !

Danilo Nogueira disse...

A história dos "falsos cognatos" é fascinante, porque mostra a evolução das línguas. "Actual" e atual, "cynic" e "cínico" tem sentidos diferentes porque inlgês e porque inglês e português não evoluiram paralelamente.

Aliás, como atualização, saiu de novo o livro do Agenor, um calhamaço enorme, cheio de informações precioss.