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quarta-feira, 20 de maio de 2009

Wordfast Pro Plus

O Wordfast foi criado como reação ao Trados, que custava, e custa, um dinheirão, consome recursos que é uma barbaridade e, principalmente, tem uma política de preços e atualizações que revolta os usuários. Começou grátis, mas ruim. Era de se esperar que fosse melhorando e que viesse a ser pago — de alguma coisa, o Yves Champollion tinha que viver. Não passava de um suplemento para o Word, com macros que o Yves ia melhorando constantemente.  

Ao chegar à versão 5.x, era já um programa maduro. O que tinha começado como o "Trados dos pobres" já era bem melhor que o seu concorrente mais caro.

Tanto o Trados TWB como o Wordfast, entretanto, têm uma limitação séria: como ambos trabalham acoplados ao MSWord, só se dão realmente bem com arquivos no formato exclusivo do MS Word. Para lidar com outros formatos, mesmo com ppt, por exemplo, a coisa fica complicada, mais fácil no Wordfast que no Trados TWB mas, mesmo assim, a tarefa pode ser inglória. 

Então, a Trados saiu com o famigerado TagEditor, que é uma praga de programa, embora tenha melhorado nos últimos tempos e que encara mais ou menos o que vier pela frente. O Wordfast agüentou o que pode, mas, no fim, teve de ceder e apareceu com o Wordfast 6, que, como o Tag Editor é independente do MSWord e, em teoria ao menos, enfrenta o que der e vier. Tem a vantagem de que sendo em Java, é multiplataforma. Os Macqueiros vibraram.

A alegria parece ter sido curta, porque o Wordfast 6 não funciona bem no Mac e, mesmo no Windows, não é lá essas coisas: está muito cru, ainda.

Então, volta a fita: não vai dar para jogar no lixo um programa como o WF5, bom, querido, maduro, para botar no lugar dele um outro que ainda está, assim, meio adolescendo. Alguém, então, teve a brilhante idéia de rebatizar o WF5 de "Wordfast Classic" e o WF6 de "Wordfast Pro", sutilmente sugerindo que o velho era coisa de amadores. Deu uma confusão dos diabos e vai dar ainda muito mais, como vou mostrar agora abaixo.

Os dois programas são vendidos sob uma mesma licença. Quer dizer, se você pagar com cartão de crédito brasileiro, paga 150 euros por uma licença de uso por três anos de algo que se chama Wordfast Studio, que combina o WF5 (Classic) como o WF6 (Pro). Usa o que quiser ou os dois, tanto faz. Ambos vão continuar em desenvolvimento, mas não sei o que vão fazer quando o WF Classic chegar à versão 5.9999zzzzz, porque não dá para ir para o 6.x sem criar mais confusão ainda.

Até aí, tudo bem. Mas eis que agora nos aparecem com um Wordfast Plus Pro, por um preço especial introdutório de 550 Euros.  http://www.wordfast.com/products_wordfast_pro_plus.html  

Ao que se diz, a Transperfect comprou o Wordfast, está no leme e é ela quem dá as cartas. Não justifica nada, mas explica muita coisa. 

Depois desta introdução, que me pareceu indispensável, embora longa, vamos a umas conclusões e sugestões:

1. A licença trienal do WF Studio, por 150 Euros é um excelente investimento para qualquer tradutor, independentemente do gênero que traduza, desde que traduza línguas que se escrevam da esquerda para a direita.

2. O WF Classic é um programa mais estável e, se você trabalha principalmente com arquivos em formato Word, deve ser sua escolha, deixe o "Pro" na espera. Use o Pro somente se o Classic simplesmente não der conta do formato de arquivo que você está usando.

3. Procure aprender a usar tudo o que o WFClassic tem. Aqui, falo meio constrangido, porque ofereço treinamento e consultoria avançados para usuários de Classic, mas a minha experiência mostra que a maioria esmagadora dos usuários de WF não faz uso nem de 5% dos recursos do progama, o que é uma pena. 

3. O "Plus", é um simples suplemento. O WF Classic não precisa dele e o WF Pro não vai funcionar melhor com ele. O tal do Plus tem uma série de funções importantes para agências, mas que dificilmente vão fazer alguma diferença para tradutores. 

Vamos ver o que vem pela frente. Talvez o Wordfast Pro Plus Platinum, com bordas rechedas de Catupiry. 



[Kelli lentamente voltando à ativa no blogue — a qualidade deve começar a melhorar]

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pesquisa sobre ferramentas.

A firma de nosso antigo colega Renato Beninatto está fazendo uma pesquisa entre tradutores, sobre o uso de ferramentas de tradução. Não custa dar uma mãozinha. Demora menos de cinco minutos. Clique aqui. Peça para mandarem os resultados para você.


sábado, 16 de maio de 2009

Cobrar pelo original ou pela tradução?

Escreveu Dani Correa:

Olá, gostaria de tirar uma dúvida. O preço cobrado é por folha traduzida ou por folha gerada? Exemplo: uma folha traduzida, se transformou em duas depois da tradução O que é o certo?
 
Certo, Dani, em qualquer negócio é aquilo que você e o cliente entendem e combinaram entre si. O importante, é que você como profissional entenda as implicações de cada sistema de quantificação do trabalho.

Antigamente, a cobrança era sempre por lauda. A lauda era definida como uma folha de papel formato ofício, com três centímetros de margem esquerda e dois de margem direita, algo que as máquinas de escrever faziam muito bem, e com 32 linhas por folha. Era simples: você entregava o serviço, o cliente contava as folhas, multiplicava pelo preço por lauda definido de comum acordo e estava feita a conta. Como era quase impossível quantificar o trabalho do original e facílimo contar as folhinhas da tradução, era um sistema prático e sensato.

Esse sistema foi caindo em desuso porque, atualmente, só os TPICs entregam serviço em papel e, mesmo eles, deixaram há anos de usar sua formatação habitual (Courier 12, espaço duplo) para acompanhar a formatação do original. A nossa tribo é conservadora, Dani, e tem muita gente que, até hoje, não entende que tradução se possa cobrar de alguma forma que não seja por lauda. Inclusive, gente de menos de 30 anos de idade, que provavelmente nunca viu uma lauda de verdade na vida. Começou uma longa, metafísica e esotérica discussão sobre o que seria uma lauda, em termos de computador, apoiada, inclusive em um parecer preparado pelo Professor Dr. Francis Henrik Aubert, TPIC e professor da USP (e meu amigo há coisa de trinta anos, mas isso é outra conversa). Isto, lá para quem faz juramentada, tem muito significado, porque são obrigados a cobrar por laudas da língua de chegada. 

Para nós outros, não é um problema relevante: o que importa é entendermos o sistema e termos certeza do que o que vamos receber é aceitável.
O sistema de quantificação baseado na língua de chegada tem a desvantagem de que cria insegurança para o cliente, que só sabe quanto vai pagar quando o serviço está completo. Internacionalmente, cada vez mais, por isso, o pagamento é baseado no texto de partida. Por exemplo, o cliente diz "Tenho 10.000 palavras em inglês, para traduzir ao português, quanto você cobra?" Ou, então, "Tenho 10.000 palavras em inglês, para traduzir ao português, pago X por palavra do original. Você aceita?"

Há quem diga que esse método trabalha contra o tradutor, porque o texto em português é sempre mais longo que o texto em inglês. Discordo totalmente. Como profissional, você deve saber disso e de outras coisas e fazer um ajuste apropriado em suas tarifas. 
Por exemplo:

Digamos que sua taxa normal seja R$ 0,10 por palavra da língua de chegada. O cliente vai mandar a você um texto de cerca de 10.000 palavras. O português deve dar uns 20% a mais. Quer dizer, o português vai dar umas 12.000 palavras. Isso significa que, para traduzir esse texto, você vai ganhar coisa de R$ 1.200,00. Certo? Agora, se o cliente quiser cotação pela quantidade de palavras que ele tem lá, sob as vistas dele, tudo bem. A gente cota como o cliente quer. Mas, para você ganhar os mesmos R$ 1.200,00, vai ter de cobrar R$ 0,12 por palavra. No princípio, a gente se sufoca um pouco, mas logo se acostuma. Eu não cobro por texto de chegada desde o século passado e não tenho me dado de todo mal.

Aproveite, já que está aqui mesmo, e clique nos marcadores "TPIC" e "Lauda", aí do lado, que tem muita coisa de interessante para você.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mais uma que acha que não precisa de memória de tradução

Comentário ao artigo anterior:

Sei que sou aguda na hora da crítica mas eu consigo traduzir mais rápido do que passar por essa manipulações eletrônicas...WF + Google Translate + revisão + glossário...o Tempo que isso leva...já ganhei a corrida. A maioria das vezes tradução para mim é "bater" a máquina...Ja-ne...

Ah, bom, mas eles demoram muito menos para fazer tudo isso do que a maioria das pessoas pensa. 

Tenho uma amiga que passou  anos me explicando, meticulosamente, como e porque ela traduzia mais depressa direto do que usando essa tralha toda que eu usava. Até que pegou um WF, testou e hoje é usuária compulsiva. Temos também um colega que várias vezes me explicou, também com grande precisão, que essas ferramentas eram um desperdício de tempo e, depois de aprender WF (poderia ter sido outro programa) agora é um paladino das memórias de tradução. Mas isso, a rigor, não quer dizer muito. 

O que é importante é que programas de memória de tradução fazem muito mais do que simplesmente dar sugestões. Dependendo do serviço, variam de úteis a indispensáveis. 

Só para dar uns poucos exemplos, qualquer ferramenta de memória de tradução ajuda a preservar a formatação do original e me exime da necessidade de digitar números. Só por isso, para mim, já chegava. Mas esses programas são indispensáveis para lidar com esses formatos novos que estão cada vez mais comuns, como html e xml. Mas mesmo para as situações de texto corrido, sem tabelas, sem grandes problemas de formatação, a possibilidade de em um instante ver as sugestões todas já me ajudou muito em várias ocasiões. Finalmente, há as situações de pura repetição, onde a memória ajuda muitíssimo.

Muito depende, também, da capacidade de cada um. Tradução, para mim, não é só "bater a máquina". É um processo penoso de análise de opções para escolha da melhor e a minha memória de tradução enorme me dá inúmeras sugestões úteis, que têm ajudado a melhorar a qualidade de meu trabalho. Talvez eu esteja mais próximo da média dos tradutores.

Quer dizer, para mim, ao menos, o programa ajuda a traduzir mais rápido, mas - e principalmente - ajuda a traduzir melhor. É por isso que uso para todas as minhas traduções.

Mas a sua resistência é compreensível. A resistência à inovação é normal e comum. Nestes anos todos de tradução, lembro-me desde o tradutor que apresentava serviço manuscrito, porque era "tradutor, não datilógrafo", até o que não usava computador "porque era excelente datilógrafo", ao que não precisava de memória de tradução "porque tinha excelente memória". São casos que já contei mais de uma vez, mas que sempre me servem de exemplo.

Quem não se atualiza, fica restrito a nichos cada vez menores e, finalmente, é alijado do mercado. 

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Escreveu a Martha

Oi Danilo,

Participei de sua aula no dia 9 de maio e gostei muito. Queria perguntar uma coisa: trabalho principalmente com tradução de livros do inglês e do francês para o português. Estou interessada em aprender a usar as ferramentas de tradução que vc mencionou. Mas penso não ser possível, pois os livros vêm impressos, e creio que não teria como usar memória de tradução se o texto na língua original não está no computador. Haveria alguma maneira de resolver este problema? Um abraço, Martha 

Muito tradutor de livros já usa essas ferramentas, Martha, e há várias soluções para o problema do arquivo em papel.

  1. Editora pede o arquivo para o editor do original. Se vier em Word, melhor, mas pdf também resolve. Aqui, precisa ter cuidado, porque onze entre dez editores pensa que ferramentas de tradução prejudicam a qualidade. Nesse ponto, as agências estão bem mais adiantadas.

  2. Você tira xerox do livro todo (formato A4) e faz reconhecimento ótico usando um programa comercial de OCR, como, por exemplo, o Abby Fine Reader ou o Omni Page. Esses programas digitalizam tanto papel quanto arquivos pdf.

  3. Você encomenda a uma digitadora a transcrição do livro todo.

Nos primeiros dois dias, você provavelmente vai me amaldiçoar. Mas logo que pegar o jeito, vai se arrepender de não ter começado mais cedo.

 

Que língua estudar, para Tamara, da UNESP

Escreveu a Tamara:

Sou estudante de Letras, estou em meu 1° ano na Unesp/Assis e já no final deste 1° semestre devo optar por qual língua estrangeira estudar até o final do curso. O caso é que eu quero ser tradutora e isso está influenciando na escolha do idioma. Gosto muito mais do espanhol do que do inglês, mas o senhor acha que há muitas oportunidades para a tradução em língua espanhola como há para o inglês? Gostaria muito de trabalhar traduzindo novelas e filmes português/espanhol e vice-versa, sei que essa não é a área na qual o senhor atua, mas o senhor tem mais noção disso do que eu e poderia me ajudar a esclarecer essa dúvida que tanto me atormenta! (não estou exagerando!). 

Tamara, só para argumentar, vamos imaginar que "espanhol" e "inglês", no se caso, não sejam línguas, mas sim as nacionalidades de dois de seus pretendentes. Você pode casar com um ou com o outro, ambos são legais, mas você gosta muito mais do espanhol do que do inglês. Entretanto, no momento parece que o inglês tem um futuro profissional mais brilhante.

Você está perguntando com qual dos dois deve casar. Porque a gente, de certo modo, casa com a língua que traduz, convive com ela e seus falantes, visita o país onde ela é falada, lê jornais e livros escritos nela, essas coisas. Você estar abraçada com o inglês, vendo aquela assanhada da sua maior inimiga toda agarrada com o espanhol, é um sofrimento.

Pior: essas coisas profissionais mudam, Tamara. E, da mesma forma que o espanhol pode ganhar numa loteria qualquer e ficar podre de rico, o inglês pode dar um azar desgraçado na vida, entrar em depressão e estar um trapo de marido aos trinta anos, fazendo a infelicidade da terceira mulher. Prever o futuro é impossível. 

Falando do ponto de vista estritamente profissional, o mercado de inglês é maior que o de espanhol, mas também tem muito mais tradutores. Isso significa que quem é realmente bom, tem iguais chances de se profissionalizar tanto no inglês como no espanhol. Realmente, não vejo problema e tenho muitos colegas de espanhol que estão lotados de serviço. Acabou aquela ideia de que "espanhol todo mundo sabe e qualquer um traduz". Felizmente - e não me parece que isso tenda a mudar.

Dois comentários finais, para você e para todos os que lerem este artigo: 

Primeiro, que, dada a preeminência da TV e do cinema na nossa cultura, onze entre cada dez tradutores iniciantes ou pretendentes a tradutor esperam traduzir filmes, novelas e quejandos. Não estou dizendo que você, especificamente, não consiga chegar lá. Mas cabe dizer que essa é uma fração do mercado e o grosso do serviço, em qualquer par de línguas, é constituído por tradução pragmática (comercial, técnica, jurídica, médica…), em qualquer país do mundo e em qualquer época da história. A tradução de filmes e coisas assim aparece muito e está crescendo, mas ainda representa e, creio, vai sempre representar, um volume menor que o da pragmática. Mais de 90% dos tradutores jamais traduziram um filme ou literatura na vida. Eu nunca fiz nada disso e estou satisfeitíssimo com a profissão. Preciso escrever alguma coisa sobre esse assunto, um dia desses. 

Segundo, que para ser um bom tradutor, aprender a língua estrangeira é essencial, mas nem de longe o suficiente: é igualmente importante dominar a própria língua. Você escreve bem, Tamara, mas, como tradutora, vai ter de aprender a virar o português do avesso, porque vai ter de adaptar o seu português "natural", o jeito que a Tamara escreve, para o estilo do original, que pode ser muito diferente do seu. E, se você se dedicar ao espanhol, o problema é piorado pela semelhança entre as línguas: quanto mais semelhantes as línguas do seu par, maior a chance de contaminação. Quer dizer, estude espanhol como louca e português como louca e meia.

E, assim, você chega lá.

Ah, prefiro ser chamado "Danilo", mesmo, sem "senhor". Por favor.

domingo, 10 de maio de 2009

Apostila de concurso para TPIC

Um colega deixou um comentário perguntando sobre a apostila para concurso de TPIC. A apostila a que me referi mais de uma vez aqui não é minha, é do Professor Dr. Francis Henrik Aubert, da USP, que também é TPIC.  

Os interssados devem escrever para a Sandra Cunha, ou falar com ela pelo telefone  +55 (11) 3091-3764.

A apostila se refere fundamentalmente ao inglês.

sábado, 9 de maio de 2009

Este mundo é cheio de coincidências, não é?

Nosso serviço de inteligência apurou que a matéria da revista Época sobre tradução, em 9 de maio de 2009, com especial destaque para a All Tasks, (com direito a foto sorridente de sua proprietária) a IBM e a Lionbridge é curiosamente semelhante a uma publicada pelo Valor Econômico em 15 de janeiro do mesmo ano.

Aqui estão as duas, para você comparar e tirar suas próprias conclusões. Época e Valor Econômico.  O artigo inicial do blogue sobre o assunto está aqui. Deixe sua opinião aqui abaixo, mas lembre-se de que Honi soit qui mal y pense. 

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Concurso para TPIC em Minas Gerais

Houve lá o tal do concurso para TPIC em Minas.


Muita gente reclamou porque o número de vagas era restrito e a eles parecia que, não sendo o TPIC remunerado pelo Estado, conviria aprovar e nomear todos os que tivessem alcançado nota superior a um determinado mínimo. Nisso, há muito de razão, mas os TPICs atuais (e mesmo os aprovados) hão de julgar que já há TPICs demais para tão pouco mercado.


A outros pareceu estranho o fato de que os textos a traduzir existissem na Internet, achando que lá isso tinha um cheiro de maracutaia, mas em si, não significa muito. Por um lado, há milhões de textos na Grande Teia e não se poderia adivinhar qual seria; por outro, mesmo que o texto tivesse sido escrito pelos próprios examinadores, não se poderia dizer que isso garantisse o segredo. Mas, claro, fala-se, muitas vezes só pelo falar mal das autoridades. Não que nossas autoridades sejam uns santos, mas também nem tudo o que fazem é errado ou desonesto.


No fim das contas, os aprovados comemoraram, os reprovados reclamaram, o que faz parte do jogo e sempre foi assim, desde que o mundo é mundo. Um grupo de tradutores nomeados ad hoc (pronuncia-se "adoque"), treze, ao que se diz, todos reprovados, resolveu contratar um advogado para anular a prova. Isso é absolutamente normal. Mesmo que o concurso tenha se realizado com a maior lisura, quem perde apela para o tapetão.


Aqui em SP, no último concurso, ainda no século passado, houve vários recursos, deu notícia de jornal e tudo. Um dos recurrentes se dizia  competente, tinha estudado e vivido no exterior, o escambau. Foram revisar a prova e notaram que a figura confundia “where” com “were”, entre outras coisas. Vexame geral, mas já passou e caiu tudo no esquecimento, a grande lata de lixo da história.


O interessante, neste caso, é os ad hocs serem os autores da reclamação.  Ad hoc é nomeado sem concurso. Não quer dizer que sejam incompetentes, mas é um absurdo, falha geral do sistema, até porque muitos estão há muito tempo adocando (se me permitem o neologismo) e ad hoc deveria ser realmente para casos excepcionais. 


Os maiores beneficiários do concurso deveriam ser os ad hocs, porque, com sua experiência, deveriam ser os primeiros colocados e regularizariam sua situação. Como foram reprovados, não sei. Mas leva a pensar um pouco sobre muitas coisas, mas duas em especial: que exame é esse, onde treze profissionais experientes são reprovados? Ou, que profissionais são esses, que a despeito de sua experiência, foram reprovados no exame de admissão à profissão que exercem? Quer dizer, alguém tem que explicar alguma coisa.


Estou eu (e muito mais gente) morto de curiosidade por saber o resultado e até mesmo por  saber o que  está acontecendo agora. Mas a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, discreta como boa mineira, está de bico calado. Então a gente espera. Enquanto isso, espera também o concurso em Santa Catarina e, ao que dizem, no Rio de Janeiro. O do Rio deve dar muito pano para mangas, se eu sei como as coisas são. Em outras épocas, daria até marchinha para o carnaval. 


Por hojem, é só. Veja, aí do lado, rolando, o convite para a Sala 7.


O Blogger está brincando comigo hoje. Ah, a Kelli está de volta. Doravante, todos os erros são responsabilidade dela.



Reunião na Sala 7

Sábado que vem, dia 9 de maio de 2009, temos mais uma Reunião na Sala 7. O tema será "O Tradutor Profissional Hoje: Como lidar com as novas tecnologias e seus efeitos sobre nossa situação financeira", aproveitando a deixa da reportagem publicada na Época e comentada no artigo anterior. Vamos discutir como ficam as coisas para o nosso lado, com todas essas tecnologias novas que estão aparecendo por aí e com a evolução da tal da crise financeira mundial. 

A Reunião na Sala 7 é grátis e todos são bem-vindos, desde os veteranos mais cascudos até os pretendentes a tradutor. Para participar, increva-se aqui e apareça no sábado, às duas horas. Para participar, você precisa de um computador que rode Windows, uma conexão com a Internet e fone de ouvido ou altofalantes. Não precisa microfone: você participa via chat. Venha, é divertidíssimo. Ou pelo menos eu acho que é.

Fico muito grato a quem puder repassar a mensagem a outros grupos interessados.

domingo, 3 de maio de 2009

Artigo na revista Época

A revista Época 472, 4 de maio de 2009, traz na página 134, um artigo sobre tradução, com direito a palpite do meu particular amigo Renato Beninatto, fundador da lista trad-prt. Vale a pena ler.

O artigo difere do usual, porque se concentra na aplicação tecnologia, assunto que interessa a todos nós.

Começa com algumas informações genéricas, já conhecidas de todos nós. Mas na terceira coluna, aparece uma informação interessante, falando de tradução de manuais de instruções, contratos de negócios, vídeos institucionais, quer dizer, do mercado onde opera a maioria de nós, o exército oculto, cujo nome raramente aparece nos jornais. Diz lá que essa é a maior fatia do mercado (o que eu venho dizendo aqui desde que comecei esta lengalenga de blogue, quem sabe agora que saiu na revista, acreditam em mim) e que, no último trimestre, cresceu 85% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

Entendeu? Com crise e tal, cresceu 85%! E vem o diabo da agência chorar que, com a crise, falta serviço e é necessário cortar nossa paga. A All Tasks espera vender R$ 7 milhões este ano. Deus que os ajude e não se esqueça de mim, como dizia minha mãe.

Lá pelas tantas,  Sávio Levi, diretor de operações da Lionbridge no Brasil, afirma “O principal desafio no Brasil hoje é encontrar mão de obra qualificada. Em 120 testes que fizemos no ano passado, aprovamos menos de 10% das pessoas” . Isso é uma afronta à categoria, um insulto. Perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Tradutor bom é o que não falta. O que falta é agência disposta a pagar bem. Paguem melhor que chove gente boa. Conheço muito tradutor bom que se recusa a trabalhar para as agências brasileiras, porque encontrou clientes diretos aqui e agências lá fora que estão dispostos a pagar mais. A isso se chama concorrência. As agências concorrem pelo nosso trabalho e fica com ele quem mais paga. Só isso.

Tem um trecho com um tanto de baguncinha intelectual quanto ao uso de ferramentas de tradução. Não sei se proposital ou o simples fruto da tentativa de comprimir o máximo de informações em um espaço insuficiente.

Fiz várias experiências, muitíssimo bem-sucedidas, combinando WF, um poderoso glossário e Google Translate. Fiz com inglês, mas deve funcionar com outras línguas. Mas funciona assim: O WF abre um segmento (quer dizer, um período), procura na memória, se não encontrar nada, pede para o Google Translate, e eu reviso o segmento, com apoio do meu super glossário. Quando está direitinho, eu aprovo o segmento e vamos em frente. Fica, realmente bom e é rápido. Se mandar para um revisor, ele jamais vai saber que eu usei o G-Translate como apoio.

Mas mandar o G-Translate traduzir a meleca toda e mandar para o revisor não dá, porque sai esta meleca. Revisar essa porcaria é impossivel: tem de fazer de novo. Por favor, não me venham de borzeguins ao leito.

O último parágrafo  me parece bobagem pura. Aliás, já temos gente boa fazendo tradução literária usando WF + Google Translate e satisfeita com o resultado. Mas vai demorar até a turma se dar conta disso.  Claro, precisa revisar — mas toda tradução automática precisa de revisão cuidadosa. 

O fato é que tradutor costuma ter pavor de tecnologia e essa é uma das maiores falhas da profissão. Não tem que ter medo, tem que aprender a usar, tem que dominar. Não dar uma de avestruz. Tem que aprender a usar e ser melhor que a ferramenta. Essa é a realidade.  Veja que, com toda a tralha que a All Tasks tem, a dona se queixa da falta de mão-de-obra. Quer dizer, ainda somos nós a chave do problema, o fator escasso. 

__________________________

Este artigo foi alterado para agregar as contribuições de dois leitores, um que me mandou um link que funcionava para a reportagem e outro que corrigiu um erro de atribuição. A ambos, nossos agradecimentos. Um blogue se faz de muita coisa, inclusive de leitores atentos e dispostos a colaborar.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Legendagem

Escreveu a Priscila:

Meu nome é Priscila, sou estudante de Letras - Inglês pela faculdade UNIMEP - Piracicaba, e gostaria muito de alguma dica e/ou matéria que falasse sobre as traduções e legendas; o porque de algumas vezes serem bastante diferentes as traduções, as falas dos personagens, queria muito falar sobre "Traduções e legendas" na minha monografia gostaria muito que você pudesse me ajudar.

Obrigado pela mensagem, Priscila. O blogue adquire mais vida quando respondemos mensagens dos leitores.

Uma das maiores especialistas em legendagem em português é a Carol Alfaro, que, inclusive, dá aulas de legendagem a distância e já fez uma palestra grátis excelente sobre técnicas de legendagem, também a distância. Clique aqui, para conhecer melhor a Carol.

Particularmente, tenho pouco a dizer sobre legendagem, porque não é minha área (nem minha praia). Mas talvez possa abrir um caminho para você e sua monografia contanto este caso, que envolve exatamente a Carol.

Numa discussão entre tradutores, um colega apresentou algumas falas de filmes, juntamente com as legendas que ele tinha visto, e as suas próprias propostas. A Carol explicou que independentemente de sua qualidade, todas as propostas seriam recusadas porque tinham mais caracteres do que cabiam na tela. E esse é só um dos problemas enfrentados por quem trabalha com legendagem. As legendas precisam ficar um tanto de tempo na tela, porque caso contrário, muitos leitores não vão conseguir ler e ver o filme; além disso, precisam usar um vocabulário simples, porque ninguém vai consultar dicionário e porque não é possível usar notas de tradutor. E por aí afora.

Não há dúvida que há tradutores incompetentes e que mesmo os competentes cometem erros — sem contar os erros introduzidos pelos revisores, que, por bons que sejam, também têm lá suas fraquezas. Mas as restrições impostas pelas especificações do meio (que a Carol conhece mil vezes melhor que eu) são tantas, que o tradutor tem que fazer escolhas dificílimas. Na verdade, Priscila, muito do que parecem ser erros e falhas do tradutor, são soluções brilhantes para problemas complexos que escapam ao leigo que jamais teve de legendar um filme.

Tenho certeza de que você vai se divertir com o assunto.

Tem mais sobre o legendagem aqui.

Chega por hoje, amanhã tem mais.

Notícias

Pessoal, escrevendo rapidinho aqui, entre um espirro e outro, para avisar que o Danilo está sem internet até quarta-feira, provavelmente. Para facilitar as respostas aos comentários quando ele voltar, não vou aprovar nada, mas fiquem tranquilos, está tudo aqui e não estou recusando nenhum.

Ah, sim: minha conexão parece estar bem, estou voltando aos poucos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Viver exclusivamente da tradução

O Mairo perguntou, como comentário ao artigo anterior:

Posso perguntar uma coisa diferente? Quanto tempo leva, se eu começar hoje, para eu começar a ganhar uns trocados como tradutor? Uns trocados eu digo ser capaz de fazer só isso dá vida...

Depende muito do caminho que você seguir. Eu consegui um meio período numa empresa, quinze dias depois, uma editora e, assim, imediatamente comecei a viver de tradução. Nem todos conseguem.


Atualmente, eu diria que o caminho mais simples para o iniciante é procurar agêncis e editoras (principalmente as pequenas). Não se ganha muito dinheiro, mas há um fluxo de serviço contínuo, que paga o essencial e dá uma experiência enorme. Isso, evidentemente, quando você estiver preparado. Não adianta fazer testes aos montes quando você ainda estiver engatinhando: só vai queimar o filme.


Procure ter vários clientes: depender de um só é um risco muito grande. Oito meses depois de conseguir o emprego na empresa, pedi demissão, para trabalhar exclusivamente por conta própria. Tinha uma editora que ocupava 75% do meu tempo e mais um cliente direto que ocupava o resto. Muito melhor do que ter de ir ao centro de São Paulo todos, os dias para trabalhar quatro horas. Um dia, a editora parou de me dar serviço e eu caí em desespero.


Em outras palavras, não é bom que qualquer dos seus clientes represente mais do que 25% dos seus rendimentos. Idealmente, 10% deveria ser o máximo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Quero ser tradutor!

Ou, o que é mais frequente, "quero ser tradutora!". Rara é a semana em que não recebo uma mensagem de alguém que quer se dedicar à tradução como profissional, sempre me pedindo "algumas dicas".

Este blogue não passa de uma coleção de dicas para tradutores. Tem até, aí do lado, dois marcadores, um iniciantes e outro principiantes, que levam o leitor a várias notas especificamente direcionadas para os que estão ainda nos primeiros degraus da escada profissional.

Há muito pouco que eu possa dizer que não esteja aqui e que eu não tenha dito mil vezes em palestras e nas Reuniões na Sala 7. Uma das minhas maiores dificuldades atualmente é escrever artigos novos, sem repisar mais uma vez os fatos, temas e conselhos que já dei mil vezes.

Por que me escrevem, então, pedindo "dicas para iniciantes"?

Não sei. Talvez seja falta de paciência para pesquisar, para ler a tela toda do computador e ver o que nela está escrito, para dar uma boa xeretada no blogue.

Isso é mau. Mau porque o tradutor é, entre outras coisas, um pesquisador cuidadoso, um fuçador nato, um xereta paciente e incontrolável. E escrever uma mensagem perguntando o que está à vista de todos indica que o redator precisa, antes de tudo, mudar seus hábitos intelectuais.

Mas talvez eu esteja sendo injusto. Talvez o missivista tenha lido tudo e esteja procurando aquela diferença, o pulo do gato, aquela chave mestra que abre todas as portas. Como, depois de ler meio blogue, não encontrou, resolveu perguntar. O fato é que não existe essa chave mestra. Existe uma porção de coisas que você pode e deve fazer e que estão descritas nos itens para iniciantes e principiantes e, me desculpe, eu não vou repetir de novo mais uma vez (duplo pleonasmo proposital) para cada pessoa que me escreve.

Mas o pulo do gato não existe. Me faz lembrar as histórias que circulavam na minha adolescência — e devem ainda estar circulando, em versões mais modernas — sobre técnicas para conquistar as meninas. Tenho certeza de que entre as meninas circulavam as histórias recíprocas, sobre como conquistar os meninos. Mas, embora a maioria tivesse lá sua utilidade, nenhuma delas era garantida e eu também não tenho nenhuma técnica garantida para fazer carreira e conquistar clientes.

Mas, para quem insiste e pede, ao menos, uma diquinha, pequenininha que seja, tenho aqui a dica das dicas, a mãe de todas elas, a maior e mais importante: para cada hora que dedicar ao estudo da língua estrangeira à qual você quer se ligar como tradutor ou tradutora, dedique ao menos duas ao estudo do português.

Mas, se você insistir que quer mais uma diquinha, só uminha, porque teu português é bom, e você sabe a diferença entre "a", "á", "à", "ah" e "há", sabe quando se usa "havia" e quando se usa "haviam" (o que é mais do que sabem muitos que me pedem dicas para pretendentes a tradutor), eu vou dizer: aprenda a usar seu computador, principalmente o Word for Windows. Dá pena ver gente que não sabe formatar parágrafos, que bate enter duas vezes no fim do parágrafo, pensa que para iniciar página nova tem que ir dando enter até virar de página, não sabe formatar tabulações nem localizar e substituir marcas de parágrafo, por exemplo.

Agora, se você continuar a insistir, eu vou dar a terceira e última dica: clique nos marcadores "iniciantes" e "principiantes", aí do lado, que tudo o mais que eu sei está lá.

Pronto, já dei três.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Edição extra!!!!!

Não ia escrever nada, hoje. Pouca inspiração, muita confusão, dia complicado. Mas acaba de ser inaugurado o Tradução via Val, blogue da Val, também conhecida por Ana Valéria Ivonica, grande colega e amiga ainda maior — e eu não poderia deixar de noticiar aqui.

Ainda está no começo, tem pouca coisa, mas, sendo a dona quem é, vai crescer e aparecer, vai ser uma fonte de muita informação útil e interessante, porque a Val, além de competente e inteligente, é membro da Liga do Bem, um grupo de tradutores abstrato e imaginário (que eu acabo de inventar) que têm prazer em compartilhar o que sabe com todos os seus colegas.

Fique de olho e, melhor ainda, faça uma visita e deixe um recado de felicitações à nossa nova blogueira.

domingo, 19 de abril de 2009

Você foi bem sucedida na tentativa (2)

Só quem mantém um blogue destes sabe o trabalho que dá e, de vez em quando, simplesmente não dá coragem. Ontem foi o caso. Gosto muito de escrever estas notas, mas ontem, preferi ler e dormir.

Esta é a segunda parte da resposta a um comentário deixado aqui e, certamente, a mais importante.

Como disse na primeira parte deste artigo, acho deselegante e de pouca ética o hábito de desfiar coleções de erros alheios em público. Mas quando faço uma revisão, me considero na obrigação de manter o cliente informado sobre a qualidade do trabalho. Já elogiei muita gente, já fiz outros tantos perderem o cliente.

Quando a tradução é ruim, preciso de mais tempo para revisar. Ou cobro mais – e preciso justificar a cobrança – ou tomo prejuízo – o que não é minha obrigação, porque a burrada não foi minha. Já devolvi textos por inservíveis, já tive de refazer do zero, num fim de semana, porque tinha prazo para entregar e não havia tempo para grandes discussões, visto que a agência estava fechada.

Você não acredita quanta sem-vergonhice tem por aí. Tem gente que faz testes lindos, mas repassa tradução para pessoas absolutamente incompetentes; tem gente que simplesmente entrega material sem dar nem uma olhada por cima, para tirar o grosso dos erros. Chegou no fim, manda e o revisor que se vire. Por outro lado, tem gente que faz serviço bonito, inclusive se dando ao luxo de destacar os pontos mais complexos para atenção especial do revisor. Um ganha estrelinha dourada, o outro toma pito. É assim que funciona. O cliente e, mais do que ele, o leitor, merecem o nosso respeito.

Não importa se o cliente paga pouco ou muito: aceitou, tem que caprichar, que eu não estou aqui para limpar caca feita por gente incompetente ou descuidada. Caiu na minha mão, tem que sair bonitinho (não como estes artigos batuscritos assim meio a la porca em meio a mil outras coisas).

Mas a safadeza não é só dos tradutores: o que tem de cliente que manda para o editor o lixo dos lixos, esperando que a gente devolva uma tradução impecável é uma barbaridade. Tem uma turma que manda tradução automática para a gente revisar e quer pagar preço de revisão normal. E – acredite se quiser – temos um par de colegas espertinhos que fornecem traduções automáticas a clientes como se tivessem sido feitas por eles. Pau neles!

Com meu comentário, posso estar prejudicando alguém? Desculpe, mas dizer a verdade não prejudica a ninguém; calar perante o erro prejudica a muitos, incluindo uma turminha boa que está aí doida atrás de servço.

Não somos nós os primeiros a reclamar do que nos parece excesso de corporativismo em outras profissões? Quantas vezes você não ouviu alguém revoltado dizendo que os membros desta ou daquela profissão encobrem os erros uns dos outros? Então, como é que fica?

Um outro ponto do comentário que merece análise é o "dá para entender" e o "errado, não está". Que é isso, companheiro? Quando você está do outro lado do muro, como comprador, aceita um "dá para usar" ou um "quebrado, não está"? Acha que isso é aceitável? Pois é. O que não é aceitável para o comprador, não deve ser aceitável para o vendedor. Revisão serve para transformar uma boa tradução em uma tradução excelente. Tradução ruim não se revisa: joga fora e faz de novo.

Finalmente, no fecho você se refere a mim como "paladino das traduções bem sucedidas", não sem uma pontinha de escárnio. Não sou paladino de nada, mas defendo a qualidade. Aliás, meu nome é Danilo e prefiro não ser tratado por "senhor" - especialmente quando o "senhor" é forma de escárnio, não de respeito.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Críticas ao trabalho de tradutores


Um colega deixou um comentário a este artigo e me deu vontade de contar um caso já muitíssimo antigo. Vai tomar acho que dois dias, mas faz parte.

Fui a um congresso de tradutores, antes de 1980, na Alumni, em São Paulo. Na plateia, eu, boquiaberto, perante as grandes vacas sagradas que estavam na mesa diretora. Na primeira fila da plateia, esperando para ser chamado a falar, Paulo Rónai, como sempre tendo ao lado sua esposa. Quer dizer, era pesada, a barra.

Estava falando um crítico literário qualquer, desfiando uma daquelas longas listas de erros de tradução hilários. O homem rebolava alegre em sua vasta erudição, citando erros de tradução de espanhol, francês, inglês, italiano e alemão. Cada grupo da plateia ria dos exemplos em uma língua, claro, que poliglotas de tal quilate não há muitos. Quando o homem resolveu calar a boca, a casa veio abaixo com aplausos.

No lado direito da mesa (tenho a imagem na mente até hoje) ou seja, do lado esquerdo para quem, como eu, estava na plateia, Regina Alfarano, naquela época a alma da Faculdade Ibero-Americana, aplaudiu protocolarmente, de cara amarrada. Quem conhece a Regina Alfarano, sabe que ninguém amarra a cara como ela. Amenizada a tempestade de palmas, começou a Regina a falar. Falou pouco, menos de cinco minutos. Nesses poucos minutos, nos deu uma lição que deveria ter sido gravada, degravada, impressa, publicada e distribuída urbi et orbi e constituir matéria obrigatória em todo curso de tradução.

Lamento não poder reproduzir aqui exatamente o que ela disse. As palavras dela cortavam em cortes profundos e precisos, movidas pela força de sua revolta. Quando – dizia ela – num congresso de advogados, médicos, engenheiros ou o que quer que fosse, veríamos um orador humilhar de tal modo a profissão da plateia e ainda ser aplaudido por todos? Claro que erramos, claro que muitos de nossos erros são hilários, mas em todas as profissões há bons e maus profissionais e mesmo os melhores profissionais erram. Mas nossos intensos aplausos denotavam uma falta de auto estima que somente se igualava à deselegância do orador e de sua fala escarninha. Como poderíamos nós almejar o respeito da sociedade, se nem nós mesmos nos respeitávamos? Não se trata de acobertar os erros dos outros, de corporativismo. Trata-se do uso que se faz desses erros.

O constrangimento era grande, mas os aplausos foram maiores ainda. Tomamos todos um grande sabão da Regina – eu, incluso, porque era um dos que mais riu entre os que mais riram – pelo qual até hoje estou grato.

Fiz inúmeras palestras, desde então, mas sempre me recusei a fazer essas listas de erros cômicos. Acho mais importante e digno compartilhar o conhecimento que ridicularizar o erro.

Escreveu a Dra. Lourdes


A Dra. Lourdes nos enviou uma mensagem:
Boa noite, fico feliz que tenha um site preocupando-se com os Tradutores Juramentados porem um aparte meu, atualmente o ingles já perdeu o trono tão falado pois como Tradutora Juramentada e concursada pela JUnta Comercial, posso lhe dizer que o espanhol está no mesmo patamar que o ingles pois temos os paises limítrofes com o Brasil que necessitam e muito juntamente com as Universidades e exportações como importações, de Tradutores Juramentados dando a Fé Pública para regularização de todos os documentos.Dra. Lourdes Rodrigues
Quinze minutos depois, mandou a segunda, toda em caixa alta, talvez sem saber que as maiúsculas, na Internet, indicam os gritos.

BOA NOITE, EU REALMENTE ME INSCREVI NESTE SITE PARA PODER TER CONTATOS COM OUTROS TRADUTORES JURAMENTADOS MAS PARA MINHA SURPRESA, SÓ ESCREVEM TRADUTORES NÃO JUR. E SEMPRE EM BRINCADEIRAS QUANTO AOS PREÇOS E AS PESSOAS QUE DIZEM QUERER FICAR COM SEUS TRABALHOS.PARA MIM ISSO É PERDA DE TEMPO POIS GOSTARIA DE SER PROCURADA POR PESSOAS QUE NECESSITEM DA FÉ PÚBLICA E QUANTO AO DINHEIRO, CADA jUNTA COMESCIAL TEM A SUA TABELA DE TRADUTORES MAS TEM QUE SER JURAMENTADO.EU REALMENTE AINDA NÃO ENCONTREI NENHUMA COIS QUE ME PRENDESSE POIS O QUE QUERO É SER CONSULTADA PARA TRABALHOS E PODER TROCAR IDÉIAS COM TRADUTORES JURAMENTADOS.DRA. LOURDES RODRIGUES

Prezada Dra. Lourdes,

Aquilo que, para a senhora, é perda de tempo, para outros é um bom investimento. A maioria, a grande maioria, a esmagadora maioria dos tradutores destes Brasis não é, nunca foi nem vai ser TPIC e não é afetada pelas tabelas das diversas juntas e há tradutores de e para o português em diversos países deste mundo que, por morarem fora do Brasil, nem podem pensar em prestar concurso. Quer dizer, Dra., vastos são este nosso mundo e esta nossa profissão e não se pode limitar nossa profissão ao trabalho dos TPICs, por respeitável e respeitado que seja.

Aqui, nem a Kelli nem eu jamais nos propusemos a atender especificamente aos interesses dos TPICs, visto que nem ela nem eu jamais prestamos o concurso e, portanto, estaríamos lavrando em seara alheia. A senhora simplesmente bateu em porta errada e acabou entrando onde não queria entrar, o que certamente não é culpa nossa, embora seja lamentável. Mas a senhora se equivoca num ponto: muitos dos que comentam nossos artigos são TPICs, ou “juramentados” como diz a senhora.

Aliás, juramentada é a tradução, não o tradutor, pelo menos é o que me explica a diretoria da ATPIESP, a Associação dos Tradutores Públicos do Estado de São Paulo, que insiste em afirmar que o título ao qual a senhora adquiriu o direito por concurso é o de Tradutor Público e Intérprete Comercial, não de tradutora juramentada.

Quem sabe algum de nossos leitores TPICs pode lhe indicar o que a senhora quer, se é que existe. Se não existir, talvez a senhora mesma queira se encarregar de criar. Por que não?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Reunião na Sala 7

Chato, mas em abril de 2009 não tem Reunião na Sala 7. A próxima já está marcada para 9 de maio. Uma enfiada de feriados e outros bagunçou a nossa agenda. Para piorar, a Kelli está de novo sem conexão, o que é um problemaço. Uma vez que me acostumei a trabalhar junto com ela, trabalhar sozinho é uma chateação.

Temos a esperança e expectativa de pelo menos mais uma outra surpresa para vocês. "Pelo menos uma" quer dizer "talvez mais de uma". Mesmo com a Kelli desconectada, andamos muito ativos, nós dois. Imagine se ela estivesse com a conexão funcionando!

Se quiser anotar o link, é http://www.aulavox.com/2009/05/danilon/salasete0905.htm

Você foi bem-sucedida na tentativa?


"Você tem sido bem-sucedida em sua tentativa de aprender inglês? O marido de uma amiga minha falhou e consequentemente não foi promovido na corporação em que trabalhava."

Se eu encontrar uma bobagem dessas numa tradução que estiver revisando, troco logo para "Você está conseguindo aprender inglês? O marido de uma amiga minha não conseguiu e, por isso, não foi promovido no serviço" e aviso o cliente para procurar um tradutor melhorzinho ou, ao menos, para avisar o vivente que é para traduzir para o português, não para o anglunhês.

Essas coisas num texto traduzido são indesculpáveis: a isso se chama contaminação. Num texto escrito originalmente em português, são piores ainda e devem ter outro nome. No entanto, não há dia em que não se encontrem os famosos "falhou em" e "foi bem-sucedido em" na nossa imprensa e em mil outros lugares.

Outra é o "fortemente". Gente que tem horror a advérbios e diz, metodicamente "de forma metódica" para evitar o sufixo -mente, este pária da língua, diz "fortemente" só porque, no mesmo lugar, o inglês diria "strongly". "Sistemas fortemente correlacionados" são "sistemas com grande correlação", "recuou fortemente" é "sofreu/teve um grande recuo"

O mais curioso é que essa gente escreve português como se fosse inglês, mas escreve inglês como se fosse português: o mais puro tupiniquinglish. Quer dizer, esqueceram uma língua sem terem aprendido a outra. É um feito, convenhamos.

Obrigado pela visita, deixe seu comentário, dê um pulo aqui, se é que ainda não conhece — e volte amanhã.

PS: Já tinha publicado isto quando topei com um "poderão não atender". Em português, se diz "talvez não atendam". Eita ferro!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Agradecimento

A Kelli e eu agradecemos a todos os que visitaram nosso site de Ferramentas para Tradutores e, mas ainda, os que nos enviaram comentários e sugestões.


O site, ao qual você chega clicando aqui, ainda está nos começos. Pretendemos atualizar uma vez por semana. Espero que vocês gostem e aproveitem.

"Readaptação de tabela de valores"


Recebi, de uma agência escocesa, uma mensagem avisando que, dada a demanda por bons tradutores, estão aumentando nossas taxas. Estou - e não só eu - lotado de serviço.

E, aí, me aparece uma colega avisando que um cliente dela passou uma circular afirmando que está readaptando a tabela de valores para acompanhar a concorrência do mercado. Isso, para mim, é um eufemismo para dizer: pretendemos pagar ainda menos. Vão para o diabo que os carregue, com as devidas desculpas ao demônio e sua Ilma. família. Ainda por cima, é covarde: entende, ele é bonzinho, não quer baixar as taxas, são os outros, entende? São os outros, é o mercado. Os "outros" devem estar dizendo o mesmo. Nunca se esqueça que somos os outros dos outros.

Existem intermediários que só conhecem uma estratégia de negócios: cobrar menos do cliente final e pagar menos ao tradutor. Nem todos são desonestos, mas são todos incompetentes, porque ter exclusivamente a estratégia de esfolar o fornecedor é prova cabal de incompetência.

O que quer que aconteça, não importam as condições, esse pessoal aplica sempre a mesma estratégia: corta preços, corta pagamentos e vive da miséria de tradutor. A tal da crise é mero pretexto a mais: essa turma SEMPRE chora as mágoas e pede descontos. Chega de ser boba, reaja!

Uma sugestão: digamos que você esteja cobrando 100 dos clientes atuais.

  • Se um cliente atual pedir para reduzir para 80, recuse, com firmeza e educação. Não é sempre uma excelente resposta. Se você tem serviço a 100, não faz sentido trabalhar por 80. Se o cara fez um mau negócio e não pode pagar mais, ele que de dane.
  • Se aparecer um cliente novo oferecendo 100, diga que seu mínimo é 120. Serviço a 100, você já tem, não troque seis por meia dúzia.
  • À medida que for agregando os 120 à carteira, volte aos 100 e diga todos estão pagando 120. Se o cara recusar, larga dele. Por que trabalhar por 100 se você está conseguindo 120?
Ah, uma coisinha, sempre procure trabalhar melhor que o cara que faz por oitenta.

Pode ter certeza de que, com essa estratégia você vai perder clientes. Mas a perda não deve preocupar. É melhor ter 80% do seu tempo ocupado com quem pague 120 do que 50% ocupado com gente que paga 80 e mais 50% com quem paga 80. Assim, você pode descansar um pouco.

Lembre-se: coragem não garante vitória, mas sem coragem, você vai ser sempre derrotado.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ferramentas para tradutores

Acaba de entrar no ar, finalmente e atrasada, a nossa promessa de um site com ferramentas para tradutores. No momento, tem menos de 10% do material de que dispomos. Pusemos no ar assim mesmo porque se fôssemos esperar ter tudo, ia demorar mais um mês e, também, para sentir a reação dos usuários. Por favor, escreva para nós usando o formulário para contado que você encontra no próprio site, dizendo o que pensa, apontando erros, fazendo sugestões. A Kelli e eu agradecemos qualquer divulgação que você possa fazer.


Para chegar lá, é só clicar aqui.



segunda-feira, 13 de abril de 2009

Hora de pedir desculpas

Minhas desculpas a todos os que estão zangados comigo porque ainda não saiu o tal website com as ferramentas. Embolou um pouco o meio do campo, mas, daqui a pouco, temos uma telerreunião com o pessoal Aulavox para uns testes e — espero — ainda hoje liberamos um betinha. Está ficando bonito.

Frango!


A Meg encontrou um erro de tradução divertido no Windows. Não há de ser o único, nem mesmo o mais curioso deles e eu tenho seguido a praxe de não apontar erros alheios, mas o que ela encontrou dá margem a uma conversa interessante. Clique aqui pará dar um pulo lá para ver e volte para ler o meu comentário.

É um erro de tradução, certamente, mas nem todo erro de tradução é um erro de quem traduziu. Pode ter sido, mas nesse tipo de serviço, interfere muita gente e sabe-se lá quem deu a rata.

Pode ter sido o tradutor e esta é uma hipótese com boas probabilidades de estar certa e eu não vou ficar aqui dizendo que todo tradutor é bom, porque você e eu sabemos que não é verdade.

Entretanto, pode não ter sido falha do tradutor. Tradutor, nesses casos, trabalha com um glossário e, muitas vezes, é obrigado a aplicar o glossário a bem da "consistência" (que, em português, neste caso, se diz "uniformidade", mas alguns tradutores não conseguem falar português, ou acham indigno de suas altas prosopopéias). Nesses casos, quando a palavra tem duas traduções, a coisa encrespa. E, vamos falar a verdade counter, entre outras coisas, é contador e contador deve ser a tradução mais frequente para counter, num texto de informática. O glossário deveria ter as duas traduções, mas talvez não tenha. Ou talvez tivesse e o tradutor pertencesse à escola do "a primeira opção é a que vale".

Provavelmente, falta contexto. O tradutor recebe um longo arquivo com cadeias de caracteres ("strings", na língua da matriz) sem muita conexão uma com a outra e vai traduzindo, provavelmente com Trados - que a Microsoft parece ainda adorar - até terminar sua cota do dia.

Mesmo que o tradutor possa violar o glossário e tenha violado, sempre há uma boa chance de o revisor ou o pessoal encarregado de garantia de qualidade ter "corrigido o erro" e até dado um puxão de orelhas no tradutor. Quem nunca passou por essas coisas, que se dê por feliz.

Finalmente, acho que faltou o teste da tradução. Nesses casos, depois de as cadeias de caracteres serem incluídas na interface de usuário, tem que ter ao menos uma pessoa a clicar, metodicamente, em tudo o que for clicável, para ver se abre tudo direitinho, se acontece o que deveria acontecer e se não está escrita nenhuma bobagem. E esse cara é o goleiro: pode falhar todo o resto do time, que tem jeito, mas se falhar ele, não tem solução, é gol mesmo. E esse foi um frango dos bons.

domingo, 12 de abril de 2009

Demo do Trados

A Elizabeth escreveu:
Estou entrando agora para o ramo de tradução, mas não consigo baixar o TRADOS, você poderia me dar uma dica de como conseguir baixar este programa?
Boa pergunta, que muita gente anda fazendo, Elizabeth. Antigamente, a Trados tinha uns deminhos, muito restritos, mas que funcionavam. Esses deminhos sumiram. Aparentemente, eles acham que, como o Trados é líder do mercado, não faz sentido distribuir demos.

De qualquer maneira, o demo não vai resolver o seu problema. Se você quer Trados, ou compra ou pirateia. Deve haver mais de uma versão pirata do Trados por aí, não sei onde estão e, mesmo que soubesse, não divulgaria aqui. Além de ser ilegal, grande parte delas vem bichada e eu não vou recomendar alguma coisa que pode criar um problema para a turminha que lê este blogue. Ainda esta semana, uma amiga minha teve de reformatar e reinstalar tudo porque tinha baixado um arquivo com um rootkit.

A pergunta é se você realmente precisa de Trados. Eu tenho, desde o século passado, um Trados oficial, que mantenho atualizado. Mas detesto o programa. Praticamente tudo que ele faz, o Wordfast Classic faz melhor. E o Wordfast é bem mais barato.

Agora, é a hora em que muita gente diz "Estou só começando! Ainda tenho pouco serviço. Como posso gastar todo esse dinheiro". Pois é. Gostemos ou não, o tempo em que a gente "virava tradutor" de um dia para o outro, porque sabia duas línguas, está chegando ao fim. É cada vez mais difícil entrar na profissão sem fazer um investimento sério em software, abrir firma, essas coisas.

Nisso, não diferimos da maioria das outras profissões. Ou o sujeito é empregado e trabalha com o equipamento alheio, ou tem que comprar equipamento e se estabelecer. Não há grandes alternativas.

Quando eu comecei, tudo o que usava era o que se esperava que uma pessoa razoavelmente instruída tivesse em casa: escrivaninha, máquina de escrever e menos de meia dúzia de dicionários. Mas isso foi em 1970.

Se você clicar nos marcadores

Memória de tradução
Trados
Wordfast

aí do seu lado direito, vai aprender muita coisa sobre esses programas.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O tradutor e o macarrão

Dizem que quando há recessão, a turma que faz macarrão fica feliz. Macarrão é bom e barato. Uma pratada de spaghetti al sugo fumegante, com um bocado de queijo ralado por cima, enche a barriga do adolescente mais exigente, sem gerar reclamações. Então, macarrão vende adoidado e a turma que faz macarrão vende adoidado.

Quer dizer, "crise" é uma coisa localizada. Crise não afeta todos. E, dessa vez, parece que não está afetando a nós.

  • Ontem recebi uma mensagem de uma agência dizendo que, dado o aumento de serviço, estavam aumentando os preços para os clientes e a paga dos tradutores.
  • Uma colega está dizendo que está sobrecarregada.
  • A Kelli e eu também estamos com muito serviço.
  • Muitos dos nossos colegas parecem também estar lotados.

Agora, como dizia minha mãe, pousa a mala no chão, enxuga o suor da testa, senta e pensa: se você está com muito serviço, como tantos de nós, para que reduzir preços porque o cliente diz que estamos em crise? Quando ele estava montado na carne seca, ofereceu gratificação para você? Quando você fez o milagre de traduzir uma montoeira de coisas para ele no fim de semana e ajudou a ganhar uma concorrência, ganhou bônus? Alguma vez veio dizer que estava na hora de reajustar os seus honorários?

Mas, agora, vem pedir desconto, não é? Desconto a gente dá quando está com a corda no pescoço. Dar desconto quando você está trabalhando feito doida para dar conta do recado é bobeira.

Se o cliente pedir desconto, recuse. Diga, tranquila, sossegada, educada, que está sobrecarregada, que a procura por tradutores aumentou muito, porque muitas empresas estão reconhecendo a importância da boa tradução para seus negócios e que os bons profissionais são poucos.

Vamos lá, tenha a coragem de dizer "não" aos descontos.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Precisamos de uma revisãozinha

A Agência Alfa oferece um serviço à tradutora Beta, mas não chegam a um acordo quanto a preço. A Agência Alfa, então, encarrega do serviço a tradutora Gama, que aceita tarifas "mais competitivas". Até aí, faz parte da normalidade. Nós também procuramos preços "mais em conta", quando estamos procurando comprar alguma coisa. A Tradutora Beta não gosta, mas faz parte da vida. Quem ganha, celebra; quem perde, é melhor não chorar, porque chorar dá pé de galinha e porque também torna difícil notar que há outros clientes neste mundo, além da Agência Alfa.


Acontece que o Cliente Final rejeitou o serviço da Tradutora Gama e a Agência Alfa voltou a falar com a Tradutora Beta e pediu para revisar a tradução da Tradutora Gama. Beta está toda feliz, vingança é uma doçura e tal. Mas, falando objetiva e profissionalmente, temos que ver a história por um outro prisma.


Você já sabe, de antemão, que a tradução está ruim. Nem precisa ver. O Cliente Final disse que estava ruim e a Agência Alfa concordou, caso contrário não estariam falando com você. Quem é você para discordar do Sr. Cliente Final e da Sra. Agência Alfa? Ninguém. Então, estamos de acordo, está um lixo. Mais: temos um cliente exigente, que vai implicar até com o rabinho do "Q", que vai achar comprido ou curto demais. Quer dizer, barra pesada. Além disso, o prazo já mais que esgotou e eles querem serviço a toque de caixa.


A Agência Alfa vai querer que você revise a tradução, a preço de revisão, quer dizer, entre muito pouco e quase nada. Nada disso!


Primeiro, que revisão serve para transformar uma tradução boa em uma tradução excelente; tradução ruim, a gente não revisa: joga fora e faz de novo. Transformar lixo em tradução que se apresente dá mais trabalho que fazer tudo de novo. A Agência Alfa está cheia de saber disso, entre outras coisas porque a Sra. Alfa, que é dona da agência, já foi tradutora e já teve de arrumar muita porcaria na vida. Mas ela quer que você "dê uma revisada", porque sai mais barato do que pagar sua tradução. Se der trabalho, como certamente vai dar, azar seu.


Então, a tua resposta tem de ser clara, correta, concisa, simples e direta: um "não" redondo. É a tua hora de fazer pé firme, dizer que vai ter que cobrar preço de tradução, porque aquilo não tem jeito, não — até rima. E não vai virar noite, que sai serviço porco e o cliente reclama. Exija prazo normal ou pagamento de taxa de urgência. Não acredite quando a Sra. Alfa chorar dizendo que aprendeu a lição (até parece que é novidade para ela) e que os próximos serviços são seus. São lágrimas de crocodilo. Por este serviço, você tem que cobrar por este serviço. Pelo outro, cobra pelo outro. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.


Não vá você pagar pelos erros da Sra. Alfa, dona da agência homônima: ela paga pelas besteiras dela, você paga pelas suas. É assim que tem de funcionar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Chegou o Marcílio II

Chegou o novo Marcílio!

Sabe aquele dicionário de termos jurídicos, econômicos e de contabilidade que nenhuma editora brasileira quis publicar e que, por isso, o autor, Marcílio Moreira de Castro, resolveu publicar à sua moda e está vendendo diretamente ao público?

Pois é, então! Saiu uma nova edição.

A nova edição pesa metade da anterior porque a diagramação foi mudada. A nova diagramação resultou em grande economia de papel e, consequentemente, em uma boa redução no preço. Mas o conteúdo é ainda mais rico, porque o livro ganhou numerosas emendas e adições. Mais 1.200 verbetes, subverbetes e expressões, informa o próprio Marcílio. Mais ênfase na terminologia britânica, mais fundamentação, mais exemplos.

O Marcílio está sempre alerta para as recomendações e sugestões dos leitores e constantemente aperfeiçoa o seu trabalho, que já começou muito bom.

Embora se chame Dicionário de Direito, Economia e Contabilidade, o ponto mais forte do Marcílio é o direito, onde faz muita sombra para a concorrência. Se você trabalha nessa área ou quer ingressar nela, é um livro essencial. Se nem quer chegar perto desse tipo de texto, avise os colegas que possam se interessar: eles vão ficar muito gratos.

Em tempo: minha "comissão" se restringe a um exemplar autografado e com dedicatória, que ocupa lugar de honra na minha estante.

Clique aqui para comprar. O preço é de R$ 85,00 para o BR ou US$ 55.00.

Para ver meu comentário sobre a edição anterior, clique aqui.



sábado, 4 de abril de 2009

Fiquei cabreiro



Lá pelos meados da semana, me deu uma gana enorme de repassar uma série de conceitos a respeito de tradução e, em menos de três dias, encontrei uma boa dúzia de caras que chamam a tradução "parte da literatura". Para usar uma expressão muito em moda na minha adolescência, fico cabreiro com essas coisas. Tradução não faz parte da literatura coisa nenhuma.

Não precisa ser muito inteligente para saber que a tradução literária é importante. Também não precisa ser muito inteligente para saber que uma boa parte dos teóricos da tradução tem a tradução literária como ponto de partida. Mas também não precisa ser muito inteligente para saber que a maior parte do trabalho de tradução hoje e sempre não tem nada que ver com literatura. Conheço dezenas de tradutores que jamais traduziram nada de literatura na vida - muito menos de alta literatura. Quer dizer, para essa turma acha que tradução significa exclusivamente tradução de obra literária e que nós, a maioria, os que traduzem textos não literários, simplesmente não somos tradutores. Tradutores são eles, em sua nefelibática arrogância.

Agora, então faço uma pergunta, se tradução faz parte da literatura, por que se fala em "tradução literária", em vez de "literatura tradutória"? Ou será que eu esqueci o pouco português que sabia e agora num sintagma nominal desses o substantivo significa a espécie e o adjetivo é que indica o gênero?

Irmão Angelino, intérprete ad hoc

Irmão Angelino conteve um grito de susto ao ver José Pequeno rolar escada abaixo depois de levar um encontrão proposital de João Grandão. Ainda bem que Irmão Marcelo, encarregado da enfermaria do colégio, estava passando e assumiu o comando da situação.

Minutos depois, irmão Patrick, recém-chegado da Irlanda para dirigir o colégio e ainda com um português meio capenga, chamou João Grande ao seu gabinete e pediu a Irmão Angelino que servisse de intérprete.

Aqui vai o diálogo entre os três, com as falas em inglês traduzias ao português por mim, porque nem todos os leitores do blogue sabem inglês, mas em negrito itálico, para deixar claro o que é o quê.

I. Patrick: O que aconteceu, João Grandão?

I. Angelino: O que aconteceu, João Grandão?

J. Grandão: O José Pequeno rolou a escada e, como de costume, estão pondo a culpa em mim, dizendo que fui eu quem empurrou. Sou grande mas não abuso dos pequenos.

I. Angelino: O José Pequeno rolou a escada e, como de costume, estão pondo a culpa em mim, dizendo que fui eu quem empurrou. Sou grande mas não abuso dos pequenos.

Essa é uma história que dá voltas na minha cabeça há tempos, sob várias formas. Note que João Grandão estava mentindo, porque tinha sido ele a derrubar o José Pequeno. Irmão Angelino tinha presenciado o acontecido e sabia que era mentira. Mas Irmão Patrick perguntou o que João Grandão dizia e João Grandão dizia que era inocente. Sendo assim, para dizer a verdade, Irmão Angelino teve de repetir uma mentira.

Dada a situação, Irmão Angelino podia agregar uma "nota do intérprete", contando ao Irmão Patrick que tinha testemunhado o incidente e que João Grandão estava mentindo. Mas nem sempre as coisas são assim.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Respondendo: estudante quer ser tradutor

Mensagem do Luis, algo abreviada:
Meu nome é Luis, tenho 19 anos. Sou estudante de Engenharia e tenho pensado em ter uma renda mas a faculdade ainda está no começo e ainda não é hora de conseguir um estágio remunerado. Por isso, tenho pensado sobre tradução. Domino bem o inglês, costumo ler os livros na língua original, e tenho CPE.

Como começar? Já li algumas dúvidas similares no blog, mas nunca sobre o que fazer primeiro em relação a me apresentar para as editoras. Já mandei e-mails para algumas, mas não recebi resposta; não sei se devido à falta de experiência ou de formação (faculdade/curso).


Pretendo fazer um curso de tradução, mas até agora o melhor que eu achei aqui no Rio requer graduação.


Enfim, o que eu gostaria de saber é quais são seus conselhos de como procurar algum tipo de trabalho como tradutor. Se devo continuar a comunicação por e-mail ou carta ou me apresentar pessoalmente nas sedes. E principalmente se o diploma de proficiência tem um peso inexistente sem curso/faculdade.

Luis,

É cada vez mais difícil fazer da tradução um bico. Os prazos estão cada vez mais breves, as exigências cada vez maiores. Mesmo a tradução de grandes obras literárias, que, antigamente, muitas vezes era feita nas horas vagas por escritores, jornalistas ou acadêmicos, hoje cada vez mais está nas mãos de profissionais que se dedicam à tradução em tempo integral. Curso de engenharia consome um tempo enorme e dificilmente vai sobrar algum para cumprir os prazos de hoje. Mesmo assim, vale a pena insistir e você não seria o primeiro que, aos vinte anos, descobre que prefere traduzir a ser engenheiro.

Por outro lado, você quer a "receita do bolo", (quem não quer?) para entrar na profissão e essa eu não tenho e não acredito que exista. Não existe um modo certo e certeiro para se tornar tradutor. Há recomendações e, também, gente que faz tudo ao contrário e se dá bem. Você vai ter que ir formando seu próprio caminho, como fiz eu e como fizeram os outros. Nada impede que eu dê algumas indicações.

As editoras significam uma parte importante mas pequena de nosso mercado. Sem contar os mercados de interpretação e audiovisuais e mais alguns segmentos, que provavelmente não interessam a você, ainda temos as agências e clientes diretos, segmentos que não podem ser desprezados. Não existe em lugar algum uma lista de agências ou clientes diretos, mas, se você der uma olhada nas páginas amarelas, sob "tradutores", vai ver vários anúncios destacados e pode apostar que são agências.

As editoras, além disso, são especializadas. Se o teu negócio é engenharia, não adianta se oferecer como tradutor a uma editora especializada em literatura: precisa procurar as editoras que publicam o tipo de livro que você lê e saberia traduzir.

Não se apresente pessoalmente: é possivel que nem passe da porta, se não tiver uma reunião marcada. Continue usando correio convencional ou eletrônico e conforme-se com o fato de que você pode ter de mandar muitos CVs antes de encontrar seu primeiro cliente. Pense, assim, em torno de cem. Tem gente que emboca na primeira, mas é raro.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um zero à esquerda

O que é um "zero à esquerda"? Nada! Quando se diz, "fulano é um zero à esquerda", estamos dizendo que Fulano é um nada, um irrelevante, certo? Ótimo. Bom saber que você concorda comigo.

Agora, então, por favor, me diga, porque essa mania de adicionar zeros antes das unidades? O numero da minha casa é seis. Cada vez que dou o meu endereço, a turma escreve "06". Se fosse doze, teriam escrito "12", sem zero à esquerda; se fosse cem, escreveriam 100, sem zero a esquerda. Como é seis, escrevem "06", com um zero à esquerda. Para quê?

Há muitos anos, era permitido licenciar carros de duas portas como táxis em SP. Todos eles tinham um cartaz se referindo a "carros de 02 portas".

Um colega, tradutor profissional e que, portanto, deveria saber escrever, me diz que tem "02 serviços" para entregar. Deveria ter dito que tinha "dois serviços", não "02". Quer abreviar, era uma mensagem eletrônica, temos pouco tempo, que seja. Então, deveria ter dito "2 serviços", sem zero à esquerda. Não vi, não conheço, nenhuma regra que diga que quando o número é uma unidade, seja necessário ou correto usar um zero à esquerda.

Dizem que é por segurança, para que ninguém adultere. É mesmo? Qual é a chance de alguém, num texto impresso, inserir um algarismo a mais? Quer dizer, qual a chance de alguém entrar aqui no blog e transformar o meu "Rua Tal, nº 6" em "Rua Tal, nº 16"? Qual a possibilidade de alguém mudar o cartaz que havia nos táxis paulistanos para "carros de 12 portas"?

Mas, se você entregar o texto em formato eletrônico, não é o zero à esquerda que vai impedir adulterações, pode ter certeza.

Cada vez que embirro com o "zero seis", alguém me vem dizer que tem uma regra que manda. Tem, nada! Escrevi até para a Academia Brasileira de Letras, perguntando se existe alguma base para esse uso. Está aqui a resposta que recebi:
ABL RESPONDE

Pergunta : Existe alguma razão para o uso de zeros à esquerda dos números de um a nove? Coisas como "Fulano tem 02 filhos"? Obrigado.

Resposta : Usa-se o zero à esquerda mais em cheques para evitar fraudes. Numa frase comum, não se usa o zero à esquerda. Fulano tem dois filhos é a melhor redação. OU : Fulano tem 2 filhos.

O uso de zero à esquerda em cheques, evidentemente, só se faz necessário quando o cheque é manuscrito. E acho que se esqueceram de mencionar que se usa zero antes da vírgula, quando há decimais: 0,5%, para tornar a vírgula mais visível. De resto, zero à esquerda é zero à esquerda.