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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Mais preços

Como disse ontem, o mínimo que me ofereceram nos últimos tempos foi 3 centavos de real por palavra do original. Foi uma agência brasileira. Disseram que geralmente pagavam mais, que esse era um caso excepcional. Mas eu recusei. Todo cliente sempre tem um motivo excepcional para justificar o baixo preço. Os motivos mudam, mas o preço é sempre o mesmo e eu já não dou a mínima bola para essas coisas: eles dão a explicação, eu digo que por esse preço não dá e estamos combinados.

Era a tradução de um manual de informática e esses manuais costumam ser bons de traduzir, se você for hábil com Wordfast. A gente vai adicionando sintagmas ao glossário e, lá pelas tantas, o WF começa a montar segmentos quase que sozinho, quer dizer, se você souber tratar a situação com jeitinho. Mesmo assim, 3 centavos era pouco e rejeitei.

Mas era pouco principalmente porque tenho um bom fluxo de serviço a preços maiores. Quer dizer, era pouco em relação à minha expectativa quanto as alternativas. Se aceitasse aquele serviço, provavelmente ia ter de recusar outro mais bem pago, por falta de tempo. Ou então trabalhar como um doido para fazer os dois. Mas se você trabalha como um doido para atender dois prazos malucos, provavelmente vai fazer dois serviços de má qualidade.

Aí é que mora o perigo: fica difícil criar uma reputação de tradutor competente e poder cobrar mais se o teu serviço não é grande coisa. Não importa o que você poderia ter feito se tivesse tido mais tempo: interessa o que você fez e entregou ao cliente. O cliente que pede de joelhos que você encaixe o serviço dele de qualquer jeito na tua agenda é o mesmo que, daqui a três meses,vai reclamar da porcaria de serviço que você entregou.

Se eu não tivesse um fluxo tão bom – e já tive épocas em que parecia que o mundo tinha se esquecido de mim – talvez não me parecesse tão pouco. receber 3 centavos por palavra.

Mas, atualmente, no mercado nacional, tenho cobrado tabela do SINTRA, não por me julgar obrigado a isso, mas porque acho a tabelinha maneira. Claro, nenhuma agência brasileira paga isso e muitos clientes diretos acham um roubo. Mas tudo isso faz parte.

Uma vez uma gerente de projeto de agência brasileira me disse se você quer trabalhar para agências brasileiras, vai ter que baixar muito esse preço. Sem dúvida. Mas eu não faço questão de trabalhar especificamente para agências brasileiras. Por outro lado, se as agências brasileiras quiserem trabalhar comigo, pelo menos na situação atual, vão ter que aumentar muito o preço que pagam. Entretanto, por enquanto, elas têm encontrado quem trabalhe pelo preço delas, eu tenho encontrado quem pague o meu preço e, assim, ficamos todos felizes, certo?

Essas agências que pagam quantias realmente irrisórias são muitas vezes subcontratadas de outras. Quer dizer, a Agência Grande pega um servição, que divide por Agências Médias, que subdividem por Agências Pequenas, que repassam aos tradutores. Como cada um dá sua mordidinha no pagamento, para o tradutor sobra muito pouco. Muitos dos problemas atuais do mercado de tradução resultam desse sistema de "terceirização maximizada”.

Porém vou ficando por aqui. Amanhã e domingo não vou postar. Vou ter fazer a cirurgia da catarata no sábado e pegar o domingo para dar férias ao computador.

Nos encontramos na segunda-feira.

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