Nosso emocionante capítulo de hoje começa com uma citação. Não sou muito de citar o trabalho alheio, mas tudo tem lá suas exceções. Prometo que não vai virar moda. Acho um horror aqueles trabalhos que são meras colchas de retalhos de textos alheios. Entretanto, acho que tenho de dar a palavra a Paulo Henriques Britto:
Os tradutores, contra-argumentam, com toda a razão, que os mesmos teóricos que pontificam sobre a impossibilidade de se distinguir original de tradução, sobre a impossibilidade de se ter acesso às intenções do autor, sobre a relatividade radical de todo julgamento de valor referente às traduções, quando se defrontam com uma tradução de um texto por eles escritos, se comportam tal como os os autores logocêntricos, eurocêntricos e falocêntricos: querem que o tradutor reproduza em suas traduções exatamente o que eles queriam dizer, exigindo a mesma noção de “fidelidade” ao “original” que eles tanto criticam em seus pronunciamentos teóricos.
Este trecho lapidar se encontra na página 93 de um livrinho que você tem que ler: o Conversas com tradutores, que nossos colegas Ivone C. Benedetti e Adail Sobral organizaram e a editora Parábola publicou.
Para mim e para meus clientes, também, existem originais e traduções e as traduções tem de traduzir o original, se me faço claro. Existe a voz do tradutor, sim, refletida no fato de que não há dois tradutores que traduzam o mesmo texto da mesma forma. Mas é importante que o tradutor não sobreponha sua voz à do autor. Meus clientes e a maioria dos clientes, bem como as pessoas que leem minhas traduções, esperam que minha tradução retenha o sentido do original num português decente que, na medida do possível, preserve o estilo do autor e, além de tudo, seja inteligível.
Quando traduzo, eu me sinto como se estivesse testemunhando em juízo, como se o juiz me perguntasse _ Senhor Danilo Noguiera, em suas mãos o senhor tem um documento em inglês. Que diz esse documento? Cabe a mim dizer o que está no documento tão bem quanto eu possa e pronto. E, vamos falar a verdade, não é tarefa pequena.
Não perca o próximo capítulo de nosso novelão. Por hoje, ficamos por aqui. Volte amanhã, que tem mais.
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