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quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Reunião na Sala 7

O tema principal da Reunião na Sala 7 deste sábado, vai ser Tradução de qualidade e cliente satisfeito.

Espero que vocês gostem. A participação é grátis, mas é preciso increver-se com antecedência. Todos são bem-vindos, não passamos rifa, não fazemos coleta, não cobramos dízimo. Mais: não vamos ficar atormentando ninguém para pagar curso de coisa nenhuma. Se alguém quiser se inscrever nas oficinas de tradução, ou no Wordfast, ótimo. Se não quiser, somos amigos do mesmo jeito.


http://www.aulavox.com/eventos_2007/_fevereiro/danilo/reuniaosala7-0302.htm

Amanhã de manhã de artigo novo. Por hoje, chega o desta manhã. Este aviso não conta como artigo, é mera pausa para os comerciais.

Preços, mais uma vez (e por que não?)

No topo da página, tem um search this blog e, se você pedir para buscar “preços”, vai encontrar uma porção de artigos sobre este trepidante assunto. Mas o assunto não tem fim e, de vez em quando, volto a ele.

Qual é o preço mínimo que você pode aceitar por uma tradução? De vez em quando, aparecem nas listas umas mensagens muito irritadas, de gente que diz que jamais aceitaria trabalhar por este ou aquele preço e que quem aceita trabalhar por esses preços é isto e mais aquilo. Menos, menos, como se diz agora. Quando a barriga ronca de fome, a boca reluta em dizer não. Tenho, ainda, boa memória e lembro que, no início de carreira, tive fases de pouquíssimo serviço e o que caia na rede era peixe. Por isso, não me sinto em condições de reclamar de quem aceita trabalhar por quase nada.

No entanto, se você tem a possibilidade de recusar um serviço por ser mal pago, recuse mesmo.

Dizer não é um excelente investimento. Não é uma palavra que abre muitas portas. O serviço interessa, sim, e eu já fiz outros parecidos, quer dizer, já tenho uma boa prática. Mas, a esse preço, desculpe, não interessa. Por menos que X, não posso aceitar.

Alguns colegas acham importante insultar o cliente que oferece pagamento baixo. De vez em quando, aparece nas listas alguma mensagem mal-educada que algum tradutor mandou a quem lhe ofereceu tradução a um real a baciada e que o colega exibe na Internet, orgulhoso, como se fosse um troféu. Discordo. Já insultei muito cliente na minha vida e acabei chegando à conclusão de que está errado, que não conduz a nada. Hoje, acho que manter a boa educação, mesmo em face de ironias, sarcasmos e descortesias do cliente, é essencial.

Já fui muito gozador, cheguei à conclusão de que é perda de tempo. Divertido, talvez, mas, mesmo assim, perda de tempo. E pode ter um efeito negativo na carreira, porque se o cliente te ofereceu pouco e foi bem tratado, pode ser que, amanhã, volte com uma oferta melhor. Mas se ele ofereceu pouco e foi destratado, dificilmente vai voltar.

Por falar em voltar, espero que você volte amanhã, porque, por hoje, é só.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Eventos a distância via Aulavox


3 fev • Sábado • 14:00 • Reunião na Sala 7 (grátis)

13 fev • Terça • 19:00 • ...e vice-versa Oficina de Tradução Inglês Português

3 mar • Sabado • 14:00 • Introdução ao Wordfast

10 mar • Sabado • 14:00 • Reunião na Sala 7 (grátis)

13 mar • Terça • 19:00 • ...e vice-versa Oficina de Tradução Inglês Português

10 abr • Terça • 19:00 • ...e vice-versa Oficina de Tradução Inglês Português

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Este é o centésimo artigo do blog.

Chega logo, o centésimo. Comecei no início de novembro; uns dias posto um artigo, outros dias mais. Raras vezes deixei de postar.


É muito esquisito ter um blog deste tipo. A gente escreve, posta e espera que alguém leia, mas fica sem saber se alguém leu. Existem diversos serviços grátis que dão algumas informações sobre os leitores. O que eu uso, o google.analytics, diz quantas pessoas visitaram o blog e de que locais vêm. Há um mapinha, com pontinhos, que às vezes ajudam, mas nem sempre. Domingo, por exemplo, estiveram em visita duas pessoas de São Luis e uma de Belém. Quem são essas pessoas, quanto tempo ficaram lendo o blog, o que leram, se gostaram, não sei. Sei que veio uma pessoa de Hammatsu e outra de Tóquio. Se caíram aqui por engano e saíram depressinha sem entender nada ou se são tradutores de português que vivem no Japão, também não sei.

Sei que, em qualquer dia, entre 35% e 40% dos visitantes já estiveram aqui ao menos uma vez. Como é que o Google sabe disso, é um mistério para mim. Não sei se esses “reincidentes” são do tipo que volta todos os dias, do tipo que volta uma vez por semana ou do tipo que veio uma vez, resolveu voltar mais uma para ver se melhorou um pouco, porém não volta mais.

A audiência vem subindo lentamente, embora oscile o tempo todo. Nos fins de semana, costuma cair verticalmente. No meio de semana, andava por vinte visitantes em novembro, agora varia entre 70 e 120 por dia, o que não sei se é uma grande vitória ou coisa que seria até melhor nem dizer em público, por ser grande vexame.

A concorrência pela audiência é feroz. Parece que hoje metade do mundo tem seu blog, alguns deles lindos, bem diagramados, com belas fotos, coisa de dar inveja. Não tenho a mais remota idéia de como fazer essas coisas. Escrevo o artigo no Word, posto aqui, faço uma que outra alteração e pronto. É essa a extensão de meu conceito blogológico.

Fico aqui, eu, com toda essa concorrência, brigandinho pelo meu lugar ao sol. Com o tanto que escrevo, aqui, no Translation Journal, nas listas, no Orkut, sei lá onde mais, que vai chegar o momento em que vou me repetir a ponto de ninguém mais me agüentar.

Até lá, vou escrevendo.

Obrigado a você que me lê. Espero que tenha tirado algum proveito do que escrevi e que volte logo. Se gostou do blog, divulgue. Se não gostou, escreva para mim sentando a lenha.

Técnicas de tradução - mais um emocionante capítulo

Terminei o último capítulo dizendo que Uma boa tradução, em minha opinião, também deve respeitar as normas do português e o estilo do autor. Isso é muito bonito e tal, mas é mais complicado do que parece.

Confesso que me expressei mal e gostaria de reformular a frase. Melhor seria dizer uma boa tradução deve soar idiomática em português e respeitar o estilo do autor. Quer dizer, mais do que respeitar a norma, que muita gente acha que é a tal da norma culta que as gramáticas dizem refletir, é necessário que a tradução soe idiomática, natural, parecendo português e não tradutorês.

Muitas das piores traduções que se andam por aí não têm erros de gramática, mas não soam idiomáticas, quer dizer, contêm termos e construções que somente se encontram em traduções – e é disso que pretendo falar em alguns dos próximos capítulos. O tradutor pode defender seu trabalho de Napoleão Mendes de Almeida em punho, se quiser. Mas não está bom. Se o revisor for inteligente e mudar alguma coisa, o tradutor pula prove que está errado!

Não, errado, a bem dizer, não está. Mas que está errado, lá isso está. E não pouco. Muito como o tupiniquinglish que a gente vê em textos escritos em inglês por brasileiros. A gramática está certa, o vocabulário está correto, mas o texto está um horror.

Mais do que os falsos cognatos, que atemorizam tanta gente, é um tradutores que me atormenta e que venho tentando arrancar de minhas traduções há muito tempo, com muito esforço.

Amanhã, espero, vou poder dar um par de exemplos do problema. Por hoje é só. Obrigado pela visita e não se esqueça da Reunião na Sala 7.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Preços, de novo!

Já falei de preços aqui várias vezes. Se o assunto interessa a você, no alto da página tem um “search this blog” para você achar os artigos mais antigos sobre o assunto.

Na última vez que falei sobre preços, mencionei os nacionais e disse que, no capítulo seguinte, ia falar dos estrangeiros.

O mercado estrangeiro perdeu um pouco de seu interesse por causa da taxa de câmbio. Com o dólar a quase quatro reais, a coisa é uma, mas está ameaçando chegar a dois e já, então, não é aquela maravilha. Também é bom lembrar que trazer dinheiro do exterior pode ser complicado e caro. Dê uma busca em “globalização”, que você acha as outras coisas que escrevi sobre o assunto.

No exterior, como no Brasil, os preços variam muito. O mínimo que me ofereceram veio de agências indianas e chinesas, que acham três centavos de dólar por palavra uma grande maravilha. Essas agências geralmente são terceirizadas. Quer dizer, o cliente final, alguma empresa européia ou americana encarrega uma agência de fazer o serviço, essa repassa aos chineses que, por fim, repassam aos tradutores finais. Evidentemente, cada um tira uma fatia do bolo e, quando chega a nossa vez, sobrou muito pouco.

O pior, entretanto, é que a cadeia de pagamentos fica muito fraca. Quer dizer, para receber, você depende de uma transferência internacional vida de uma agência chinesa que depende de uma transferência internacional vinda de uma agência americana que depende de um pagamento de uma empresa qualquer que pode ou não estar interessada em pagar seus tradutores com presteza. Aumenta muito o risco.

A isso se chama, muitas vezes, o mercolixo. Quem opera no mercolido faz poucas exigências de qualidade. Os muito exigentes, passam o revisor ortográfico e, se não acharem nada de muito estranho (quer dizer, se maioria das palavras estiver em português e se as que não estiverem em português forem palavras inglesas conhecidas), aceitam e mandam para a frente.

Quer dizer, isso parcialmente compensa o baixo preço pago, se você tiver dedo para digitar milhares e milhares de palavras por dia. Muitas dessas agêcias procuram tradutores via www.proz.com, um bom lugar para frequentar se você está procurando esse tipo de serviço, que pode até ser bom para “solta a mão” dos principiantes.

Mas também há excelentes agências e clientes finais, gente que paga bem, paga rapidamente e faz questão de qualidade. Mas disso falamos outra hora, que por hoje é só. Volte amanhã, que tem mais. E não se esqueça da Reunião na Sala 7, sábado que vem.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Reunião na Sala 7 - Gratis, a distancia

Não se esqueçam:

REUNIÃO NA SALA 7: A PROFISSÃO DE TRADUZIR

Um encontro mensal para discutir aspectos profissionais da tradução. Coisas como preços, mercado, clientela, formas de atendimento, enfim, todas aquelas coisas que interssam a nós que vivemos para traduzir e, por isso, queremos viver de traduzir.

Sempre na Sala 7 da Aulavox. O moderador é Danilo Nogueira, profissional com 37 anos de carreira e que já fez inúmeras palestras em vários estados do Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos.

O formato agora está mais dinâmico e interativo, com mais oportunidades para discutir as questões propostas no chat.

A participação é grátis, mas você precisa se inscrever antecipadamente. É permitida a inscrição de grupos. Compareça e avise seus colegas.

Data: 3 de fevereiro de 2007
Horário: 14h às 16h
Carga horária: 2 horas


http://www.aulavox.com/eventos_2007/_fevereiro/danilo/reuniaosala7-0302.htm

Grátis, não pedimos nem aceitamos doações, não fazemos coleta, não passamos rifa, não cobramos dízimo, não atormentamos ninguém com convites a participar de eventos pagos.

Técnica de tradução - mais um capítulo

O que faz uma boa tradução? Para mim – e para os meus clientes, cuja opinião é muito mais importante que a minha – uma boa tradução tem três qualidades principais. A primeira é preservar o sentido do original sem adicionar, sem subtrair, sem distorcer.

Se o original diz the boy ate a piece of cake, traduza por o menino comeu um pedaço de bolo. Não adicione (…um delicioso pedaço de bolo), não subtraia (comeu bolo), nem distorça (uma fatia de bolo).

Não quero dizer que as traduções devam ser todas e sempre literais, mas estou pregando a necessidade de ser fiel ao original. Em muitos círculos, fidelidade e original são conceitos considerados ultrapassados e até risíveis, eu sei. Muito bonito e tal. Mas essa turma não tem que ganhar a vida traduzindo, por isso diz essas coisas. A teoria, na prática, é outra.

Meus clientes fazem absoluta questão de que minhas traduções digam exatamente o que diz o original, sem tirar nem pôr, no que têm toda razão, porque o material aparece como de autoria deles.

Há alguns anos, participei do júri que escolhia traduções para um prêmio da União Latina e tive de avaliar a tradução de um livro científico, feita por um cientista aqui, brasileiro. O tradutor certamente não concordava com original e resolveu "fazer ouvir sua voz". Foi sutil: onde o original dizia this extremely important point, ele, achando que o ponto não era tão importante assim, botava este ponto. Onde dizia I cannot agree with this assertion o tradutor, que achava que a afirmação até que estava certinha, atacava de certas pessoas não concordam com essa opinião. E assim ia. No fim, a tradução ficou até bonita, mas o leitor que leu aquilo, coitado, foi enganado: pensou que tinha lido as opiniões de um determinado cientista americano, mas tinha lido as opiniões de um certo cientista brasileiro, que eram bem diferentes. Se fosse apresentar um trabalho a um congresso com base nessa tradução, ia passar vexame.

Uma boa tradução, em minha opinião, também deve respeitar as normas do português e o estilo do autor. Mas a discussão desses dois pontos e dos conflitos entre eles tem de ficar para outro capítulo desta emocionante novela.

Por hoje, é só. Este artigo está sendo postado no sábado, mas é o de sexta-feira. O de sábado, mesmo, vem mais tarde. Obrigado pela visita e volte sempre.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Resposta a um jovem que pensa em ser tradutor

Recebi ontem a mensagem abaixo. Respondo aqui, respeitando o anonimato do autor.

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Meu nome é _____, tenho 17 anos, e estou começando este ano o terceiro colegial.... Sempre me dei muito bem com o inglês, faço curso há 10 anos, sendo que na metade deste ano termino o curso completamente....

Depois disso vem a faculdade... sempre mexi bem com computadores.... mas a faculdade em si é outra coisa.... Quando vi sobre o curso de Tradução... me entusiasmei... mas tenho parentes no exterior... e me dizem que a profissão não é boa.... que ganha muito mal... etc... Bem... eu moro em ___, uma cidade no interior de São Paulo... mas me parece que naum preciso me locomover para consiguir clientes, sendo tradutor free lance, ou não? gostaria de saber como isso funciona... mas o que você me diz sobre isso? acha que Tradução é um curso bom? Quantas e quais línguas o senhor acha necessário saber hoje para ser um bom tradutor? desculpe a minha pergunta, mas é uma profissão de salário bom? E por último, quais as melhores faculdades desse curso???

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Pensando no futuro bem cedo, não? Isso é ótimo. Não posso dizer a você o que fazer da sua vida, não sou consultor de carreira; mas sempre posso dizer algumas verdades que podem ajudar você a tomar uma decisão.

Na tradução, como em qualquer outra área, o grau de sucesso profissional vai do fracasso total (“tenho diploma de X, nunca consegui serviço na minha área”) a um grande sucesso (“ainda estava na faculdade quando comecei a trabalhar na minha profissão”). Não se fica rico traduzindo, mas vivo exclusivamente das minhas traduçõezinhas há quase quarenta anos e estou até que bem gorducho. É necessário profissionalizar-se, quer dizer, tradução não é bico. Ou você é tradutor profissional, ou não é.

Nem todo mundo leva jeito para profissional da tradução. Precisa muita disciplina, vontade de pesquisar, habilidade para gerenciar finanças pessoais e clientes, quer dizer, uma porção de qualidades que muita gente não tem. E os serviços mais bem pagos vão para os profissionais, para a gente que investiu muito tempo e dinheiro para cobrir aquele enorme buraco que separa o “saber inglês” do “ser tradutor”. Aliás, traduzo exclusivamente finanças e inglês e não me falta serviço.

Não há nada de especial em “morar no interior e trabalhar no exterior”. Como tradutor, você “mora” na Internet e pode tanto ter clientes num país como em outro. Tenho clientes em quatro países e estou longe de ser uma exceção. Curiosamente, não tenho um só cliente na região em que moro e raramente me aparece algo da cidade de São Paulo, que fica aqui do lado. Quanto ao número de línguas, o grosso do mercado é inglês, depois vem o espanhol e, em seguida, francês alemão e italiano, mais ou menos nessa ordem. Se você tem um grande amor, digamos, pelo búlgaro, estude e, se aparecer uma tradução, faça. Mas viver de búlgaro é impossível. Nesse caso, você teria que fazer uma outra "das grandes" para ganhar dinheiro.

Por outro lado, saber várias línguas não é a solução, porque é muito difícil saber várias línguas no nível necessário para traduzir e, além disso, cada língua exige um investimentozinho a mais. Porém, o que limita o seu ganho é o número de horas que você consegue trabalhar, não o número de línguas que você conhece. Saber cinco línguas é como ter um táxi, uma carreta, um furgão e um micro-ônibus: como você não pode dirigir todos ao mesmo tempo, acaba sendo um mau investimento.

Por fim, não sou especialista em cursos, mas a UNESP, em São José do Rio Preto, bem aí perto de você, tem um curso de excelente reputação. Vale a pena ir lá ver como é.

Obrigado pela visita e, por hoje, é só. Volte amanhã que tem mais. Não se esqueça de dar uma olhada na pausa para os comerciais, aqui abaixo, onde, por incrível que pareça, há um evento grátis. Estamos em promoção.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Técnicas de tradução (mais um emocionante capítulo)

Nosso emocionante capítulo de hoje começa com uma citação. Não sou muito de citar o trabalho alheio, mas tudo tem lá suas exceções. Prometo que não vai virar moda. Acho um horror aqueles trabalhos que são meras colchas de retalhos de textos alheios. Entretanto, acho que tenho de dar a palavra a Paulo Henriques Britto:

Os tradutores, contra-argumentam, com toda a razão, que os mesmos teóricos que pontificam sobre a impossibilidade de se distinguir original de tradução, sobre a impossibilidade de se ter acesso às intenções do autor, sobre a relatividade radical de todo julgamento de valor referente às traduções, quando se defrontam com uma tradução de um texto por eles escritos, se comportam tal como os os autores logocêntricos, eurocêntricos e falocêntricos: querem que o tradutor reproduza em suas traduções exatamente o que eles queriam dizer, exigindo a mesma noção de “fidelidade” ao “original” que eles tanto criticam em seus pronunciamentos teóricos.

Este trecho lapidar se encontra na página 93 de um livrinho que você tem que ler: o Conversas com tradutores, que nossos colegas Ivone C. Benedetti e Adail Sobral organizaram e a editora Parábola publicou.

Para mim e para meus clientes, também, existem originais e traduções e as traduções tem de traduzir o original, se me faço claro. Existe a voz do tradutor, sim, refletida no fato de que não há dois tradutores que traduzam o mesmo texto da mesma forma. Mas é importante que o tradutor não sobreponha sua voz à do autor. Meus clientes e a maioria dos clientes, bem como as pessoas que leem minhas traduções, esperam que minha tradução retenha o sentido do original num português decente que, na medida do possível, preserve o estilo do autor e, além de tudo, seja inteligível.

Quando traduzo, eu me sinto como se estivesse testemunhando em juízo, como se o juiz me perguntasse _ Senhor Danilo Noguiera, em suas mãos o senhor tem um documento em inglês. Que diz esse documento? Cabe a mim dizer o que está no documento tão bem quanto eu possa e pronto. E, vamos falar a verdade, não é tarefa pequena.

Não perca o próximo capítulo de nosso novelão. Por hoje, ficamos por aqui. Volte amanhã, que tem mais.

Pausa para nossos comerciais

Evento grátis e a distância

Dia 3 de fevereiro de 2007, das 14h às 16h, vamos ter a Reunião na Sala 7, duas horas de fofoca desenfreada sobre a profissão de traduzir. Vem uma porção de gente. Não cobramos nada, não pedimos nem aceitamos doações, não fazemos coleta, não passamos rifa nem cobramos dízimo. São bem-vindos todos os que têm interesse pela tradução como profissão: profissionais, estudantes, professores, o que seja. Tratamos exclusivamente de assuntos profissionais.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Técnicas de tradução

Qual é a primeira distinção entre você e um desses programas de tradução automatizada, digamos Babelfish? Certamente, o fato de que você entende o que está lendo e o programa não entende nada. Faça valer essa diferença. Distancie-se cada vez mais dos tradutores eletrônicos procurando entender cada vez melhor o que você está traduzindo. Não importa o que te digam os doutores Silvana da tradução, quanto melhor você entender o original, maior é sua chance de produzir uma boa tradução. E se você não entender nada, não há dicionário nem glossário nem teoria que te salvem a pele: a tradução vai sair um lixo.

Se você não está entendendo nada do original, leia de novo, pesquisa na Internet, faça alguma coisa. Mas não se conforme.

Outro fator que faz diferença é lembrar das suas aulas de inglês e das dificuldades com que você teve de lutar. Por exemplo, você se lembra como foi difícil aprender a dizer coisas como:

  • My wife speaks German well, but I don’t.

quando, em português, a gente diz

  • Minha mulher falabem alemão, mas eu não.

não é verdade? Quer dizer, o natural, para nós, não é usar verbos auxiliares como vicários. Custou para aprender, custou muito. Agora, ainda que mal pergunte, por que, ao traduzir, a turma sai com Minha mulher fala bem alemão, mas eu não o faço? Vamos fazer um esforço para escrever português natural, normal, de gente criada a força de arroz e feijão e não tradutorês. Combinados?

Não perca o próximo capítulo deste emocionante novelão.

Palestra da SBS

Como prometido, começo hoje a publicar o material da palestra de sábado passado, 20 de janeiro. Esse material faz parte do que estou preparando para as oficinas de tradução a distância, via Aulavox, que já estão marcadas. Em vez de simplesmente colocar as transparências o blog, vou criar uma outra novelinha, que vai se chamar Técnicas de Tradução, com capítulos publicados ao menos três vezes por semana, a partir de hoje.

Aviso aos navegantes

Os comentários são publicados exclusivamente depois que eu aprovei. A aprovação é para evitar que o blog vire página de classificados para vendedores de Viagra. Os comentários são aprovados, logo que eu leio e vejo que são ligados a tradução. Não precisa repetir.

Um colega escreveu um comentário sobre tradução juramentada. Peço a ele que me escreva para danilo.tradutor@gmail.com.


De que vale um pedido?

Um colega me perguntou qual é o valor jurídico de um pedido de serviços de tradução. Boa pergunta, mas dirigida à pessoa errada: não sou advogado.

Mas, assim, de bate-pronto, posso dizer que o valor há de variar segundo a jurisdição cujo direito rege a operação. Se o pedido foi feito no Brasil para um tradutor que reside aqui, tem um valor diferente do que teria se fosse emitido em Idaho para um tradutor residente em Iowa. Esse é um grande problema da globalização: a gente fica sem saber realmente quais são nossos direitos e deveres. E, de qualquer modo, se um cliente indiano deixar de cumprir o que está no pedido, por mais que a legislação indiana pudesse nos proteger, é difícil processar o cara lá em Bombaim, Bombay, Mumbai ou como quer que você queira chamar o raio da cidadade.

A utilidadade maior do pedido, creio eu, é deixar claro e explícito o que o cliente quer, por pouca validade jurídica que o documento possa ter. Você conversou com o cliente, trocou e-mails e quetais, mas, no fala-fala, escreve-escreve, sempre podem surgir mal-entendidos e o mal-entendido é o pior que pode acontecer em um relacionamento profissional. No pedido, a gente deixa tudo explicadinho e, quando o cliente não faz tudo direitinho, a gente corrige. Por exemplo, se o cliente, no pedido, se dispõe a pagar 20 reais por lauda, mas não define lauda, é bom pedir a inclusão de uma definiçãozinha, para evitar aquele famoso "mas isso é uma lauda?".

Alguns clientes mandam pedidos propositadamente vagos, para depois encostar o tradutor contra a parede. Sabem que precisamos do dinheiro e que é fácil extrair um desconto injutificado de quem tem contas a pagar e cheque especial estourado. Então o cara liga e diz “sua fatura está em desacordo com o pedido” e, muitas vezes, por mais que você saiba que é sacanagem dele, lá pelas tantas cede e paga o quanto ele quer, não o que foi combinado. Para se livrar dessa gente, o melhor é promover seus serviços o tempo todo e arranjar clientes honestos.

Mas ainda vamos voltar a este assunto muitas vezes.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Aviso aos navegantes - palestra SBS

No meio da palestra da SBS, no sábado passado, um colega perguntou se eu ia pendurar as transparências em algum lugar da Internet. Na hora, simplesmente pedi para visitar o blog. Durante o fim de semana, cheguei à conclusão de que não ia resolver nada, porque as transparências pouco mais eram que uma série de frases soltas.

Então, decidi transformar a palestra em mais uma "novelinha" do blog. O primeiro capítulo vai ser exibido amanhã.

Aliás, o artigo de hoje vai mais tarde. Como fiquei o fim de semana longe do computador, tenho trocentas mensagens para ler ou responder.

Ah, sim. a cirurgia funcionou 100%.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Mais preços

Como disse ontem, o mínimo que me ofereceram nos últimos tempos foi 3 centavos de real por palavra do original. Foi uma agência brasileira. Disseram que geralmente pagavam mais, que esse era um caso excepcional. Mas eu recusei. Todo cliente sempre tem um motivo excepcional para justificar o baixo preço. Os motivos mudam, mas o preço é sempre o mesmo e eu já não dou a mínima bola para essas coisas: eles dão a explicação, eu digo que por esse preço não dá e estamos combinados.

Era a tradução de um manual de informática e esses manuais costumam ser bons de traduzir, se você for hábil com Wordfast. A gente vai adicionando sintagmas ao glossário e, lá pelas tantas, o WF começa a montar segmentos quase que sozinho, quer dizer, se você souber tratar a situação com jeitinho. Mesmo assim, 3 centavos era pouco e rejeitei.

Mas era pouco principalmente porque tenho um bom fluxo de serviço a preços maiores. Quer dizer, era pouco em relação à minha expectativa quanto as alternativas. Se aceitasse aquele serviço, provavelmente ia ter de recusar outro mais bem pago, por falta de tempo. Ou então trabalhar como um doido para fazer os dois. Mas se você trabalha como um doido para atender dois prazos malucos, provavelmente vai fazer dois serviços de má qualidade.

Aí é que mora o perigo: fica difícil criar uma reputação de tradutor competente e poder cobrar mais se o teu serviço não é grande coisa. Não importa o que você poderia ter feito se tivesse tido mais tempo: interessa o que você fez e entregou ao cliente. O cliente que pede de joelhos que você encaixe o serviço dele de qualquer jeito na tua agenda é o mesmo que, daqui a três meses,vai reclamar da porcaria de serviço que você entregou.

Se eu não tivesse um fluxo tão bom – e já tive épocas em que parecia que o mundo tinha se esquecido de mim – talvez não me parecesse tão pouco. receber 3 centavos por palavra.

Mas, atualmente, no mercado nacional, tenho cobrado tabela do SINTRA, não por me julgar obrigado a isso, mas porque acho a tabelinha maneira. Claro, nenhuma agência brasileira paga isso e muitos clientes diretos acham um roubo. Mas tudo isso faz parte.

Uma vez uma gerente de projeto de agência brasileira me disse se você quer trabalhar para agências brasileiras, vai ter que baixar muito esse preço. Sem dúvida. Mas eu não faço questão de trabalhar especificamente para agências brasileiras. Por outro lado, se as agências brasileiras quiserem trabalhar comigo, pelo menos na situação atual, vão ter que aumentar muito o preço que pagam. Entretanto, por enquanto, elas têm encontrado quem trabalhe pelo preço delas, eu tenho encontrado quem pague o meu preço e, assim, ficamos todos felizes, certo?

Essas agências que pagam quantias realmente irrisórias são muitas vezes subcontratadas de outras. Quer dizer, a Agência Grande pega um servição, que divide por Agências Médias, que subdividem por Agências Pequenas, que repassam aos tradutores. Como cada um dá sua mordidinha no pagamento, para o tradutor sobra muito pouco. Muitos dos problemas atuais do mercado de tradução resultam desse sistema de "terceirização maximizada”.

Porém vou ficando por aqui. Amanhã e domingo não vou postar. Vou ter fazer a cirurgia da catarata no sábado e pegar o domingo para dar férias ao computador.

Nos encontramos na segunda-feira.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Preços

Duas vezes por semana me escreve alguém perguntando quanto deve cobrar pelos seus serviços de tradução. A resposta mais precisa que posso dar é não sei e, se soubesse, não ia assumir a responsabilidade de dizer. Posso dizer quanto eu cobro, isso sim. Entre outras coisas, porque não é segredo.

Posso dizer quanto andaram me oferecendo nos últimos tempos, para orientação de todos. Posso dizer uma porção de outras coisas, mas não posso dizer quanto você deve cobrar. Preço é uma questão estratégica e não me sinto em condições de dizer para você qual deve ser a sua estratégia.

Talvez deva começar pelo princípio.

Minha unidade de cobrança é a palavra do original. Já disse isso quando comecei a escrever o blog, mas talvez você não tenha lido. Acho mais prático, porque, dessa forma, o cliente já sabe quanto vai pagar quando me manda o serviço e não tem aquela história do tudo isso, mas eram só cinco pagininhas! Além disso, é a praxe no mercado americano e inglês, onde tenho boa parte dos meus clientes.

Como sou veterano e tenho meu nome em tudo quanto é canto, recebo muitas ofertas de trabalho. Recuso muita coisa, muitas vezes porque são coisas que eu faria muito mal, como, por exemplo, tradução médica, que jamais aceito. No mais das vezes, entretanto rejeito por causa de preço, mesmo. Quando rejeito serviço, é sempre uma rejeição bem-educada. Há muitos anos deixei de dizer desaforos ao cliente do tipo quem você pensa que eu sou? A resposta é um por esse preço não vai dar: meu mínimo é X. Não chamo ninguém de ladrão, de explorador do trabalho alheio, nada disso. Só digo que não – e pronto.

O mínimo que me ofereceram, nos últimos doze meses, foi de 3 centavos de real por palavra, uma agência brasileira. Disseram que era serviço grande e tal, que no futuro haveria outros mais bem pagos, aquela conversa mole toda, mas não me interessou. Se eu estivesse com a corda no pescoço, teria aceitado? Não sei. Em épocas anteriores, tive momento de aceitar coisas a preço irrisório e também de rejeitar, na expectativa de que logo aparecesse algo de melhor.

Em retrospecto, poderia dizer que me saí melhor ao recusar os mal pagos, mas é algo que exige um tanto de coragem. Também é preciso lembrar que isso de mal pago e bem pago é relativo.

Mas disso vamos falar amanhã. Por hoje chega. Obrigado pela visita e volte sempre.

Avisos aos navegantes

Ontem a Eletropaulo me pregou uma peça e não deu para postar. Vamos tentar tirar o atraso hoje.

Por favor, dê uma boa olhada na mensagem abaixo, que foi mandada pelo Ulisses. Vamos dar uma força para ele.

E temos um encontro no Maria Imaculada no sábado. Mais informações, no site da SBS.

A tradução estava um lixo!

De vez em quando aparece uma mensagem ou numa lista de discussão ou numa comunidade do Orkut, onde alguém, digamos, aluna da Faculdade A afirma que já viu serviço feito por gente formada pela Faculdade B, ou que não tem formação específica como tradutor, e que o serviço estava um lixo.

Não duvido. Há muito lixo por aí, sem dúvida. E, por boa parte dele, são responsáveis os ex-alunos da Faculdade B (qualquer que ela seja) e o pessoal que não tem formação específica em tradução.

Mas há umas quantas outras conclusões a tirar da descoberta. A primeira é baseada no velho adágio de que, quanto maior a generalização, maior o erro. Quer dizer, você viu uma ou duas traduções feitas por gente da Faculdade B e estavam um lixo. Isso não significa que todas as traduções feitas pelo pessoal da Faculdade B sejam um lixo, nem sequer que a maioria seja.

Pior: daí começar a julgar que todas as traduções, ou a maioria das traduções, feitas pelos seus colegas de Faculdade A (ou “que tenham sido engenheiros”, ou “que tenham morado no exterior”, ou “que falem inglês em casa desde a infância”) sejam boas ou ao menos melhores do que as do pessoal formado na Faculdade B é extrapolar demais.

Por fim – e aqui está a parte mais importante – nunca se esqueça que da quantidade de erros que você encontrou em uma tradução alheia, por enorme que seja, não se pode deduzir que as traduções que você faz sejam boas.

Aliás, no mesmo momento em que você está esculhambando com uma tradução de gente da Faculdade B, pode haver algumém, em outro local, esculhambando com uma tradução feita por gente da sua Faculdade – e pode muito bem ser uma tradução feita por você.

(A bem dizer, este é o artigo de ontem. O de hoje vai mais tarde.)

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

NOTÍCIA IMPORTANTE

Do Ulisses

Por favor, abandone a comunidade http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=380657 imediatamente porque ela foi roubada! Cadastre-se na nova "Tecla SAP :: Dicas de inglês" em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=26549041 . Obrigado.

Somente esvaziando a comunidade antiga venceremos a batalha contra o idiota que a roubou.


Leia e divulgue, por favor. A união faz a força. Que conhece o Ulisses sabe que ele é do bem.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

MENSAGEM IMPORTANTE - LEIA, POR FAVOR

Urgente!
Roubaram a Tecla SAP do Ulysses!
Denunciem!
Stella Machado

News: Comunidade do Orkut roubada!

Peço desculpas por incomodar os leitores do blog com notícias desagradáveis. Infelizmente, a comunidade "Tecla SAP - Dicas de inglês" foi roubada na manhã de hoje. Peço para que vocês me ajudem a denunciar o fato. Clique em "Falso! Denunciar" no menu à esquerda da página principal da "Tecla SAP - Dicas de inglês" em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=380657, clique em uma das opções do menu e copie o texto abaixo na caixa de texto que vai aparecer. Obrigado!

Esta comunidade foi roubada! Ela pertence a Ulisses Wehby de Carvalho http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=16857945388981450694

Para quem acessa o Orkut em inglês, o item do menu é "Report as Bogus" e o texto é o seguinte:

This community has been stolen! It belongs to Ulisses Wehby de Carvalho http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=16857945388981450694

Abraços a todos
(Ulysses)

Equity, palavra enjoada

No Orkut, uma colega disse ter problemas com equity. Como, nos meus guardados, havia um velho artigo sobre o assunto, achei interessante atualizar e publicar aqui. Espero que vocês se divirtam. Aviso que não tenho guardados artigos sobre todas as palavras da língua inglesa nem me proponho a escrever sobre isso. Quem entende de palavras esquisitas é a Isa Mara Lando, não eu.

Origem e sentido fundamental

Equity tem a mesma origem latina que os nossos equidade, igual e quejandos. Mas igual (equal) e eqüitativo (equitable) são conceitos diferentes: Eqüitativo / equitable dá a idéia de uma igualdade moral, abstrata, ao passo que igual / equal pendem mais para o físico, concreto. Uma divisão in equal parts pode não ser equitable: dividir a comida em quantidades iguais para um adolescente em idade de crescimento e para um recém-nascido pode não ser lá muito eqüitativo, pelo menos se medirmos a eqüidade pelo apetite de cada um. O famoso poll tax da Margaret Thatcher, que tinha valor igual para todos os britânicos, foi considerado unequitable, porque onerava ricos e pobres com carga igual, quando seria de se esperar que os ricos pagassem mais impostos que os pobres. Quer dizer, de modo geral, equitable reflete o nosso eqüitativo.

Direito

No direito, a palavra teve um desenvolvimento especial. Os ingleses, no passado, se regiam exclusivamente pela common law, que previa penalidades pecuniárias para as transgressões da lei. Com o tempo, cada vez mais pessoas reclamaram que a common law não tratava de seus pleitos com justiça, quer dizer, afirmavam que a solução prevista na common law era unequitable. Para resolver esses problemas, o rei da Inglaterra começou a decidir in equity, quer dizer, de modo equitativo, embora em desacordo com a common law. Essas decisões aos poucos foram delegados ao chanceler e, posteriormente, a um conjunto de órgãos judiciais separado dos que decidiam pela common law. A esse grupo de órgãos se chama courts of equity, ou equity courts. O sistema de equity rege-se por máximas, uma das quais, equity will not suffer a wrong without a remedy explica muito bem do que se trata. Não há um termo português para essa acepção, porque nós temos um único sistema judicial. Para esta acepção, provavelmente o melhor é falar em equity mesmo.

Note que, num sentido técnico e estrito, law, legal, se referem a common law e statute law, mas não a equity e nem sempre é fácil perceber quando o autor usa under law no sentido genérico, que nos permite traduzir como conforme a lei, e quando usa no sentido específico de under common and statute law (not mentioning equity), o que nos obrigaria a dizer conforme a common law e conforme o direito positivo inglês, ou coisa que o valha.

O juiz brasileiro pode decidir por eqüidade, mas é outra coisa: não há no Brasil um sistema de eqüidade. Por isso, não recomendo chamar equity de eqïdade quando se trata do sistema judicial.

Quando se trata de um contrato a ser celebrado no Brasil e em português, é bom conversar com o cliente, para indicar o problema. Não que vá resolver muito, mas pelo menos por desencargo de consciência, ajuda. Há uma porção de equity isso e equitable aquilo em direito anglo-americano. Equity of redemption poderia ser direito do devedor hipotecário à remição liberatória. Aliás, remição com ç mesmo, de verdade. Mas nem sempre a coisa é simples e como definido pelo sistema jurídico de equity pode ser a única saída. Por exemplo, existe uma diferença entre equitable estate e legal estate e, na maioria dos casos, é mais sensato traduzir como direito de propriedade como definido pelos sistemas de common law e equity.

A common law prevê pagamentos em dinheiro, equity prevê outros tipos de remédio jurídico, o que, às vezes, pode sugir alguma coisa do tipo ressarcimentos monetários e outros remédios jurídicos cabíveis ou coisa que o valha, mas já estamos, aqui, entrando no campo da localização, que é terreno movediço.

Contabilidade e finanças

O sentido se estende a contabilidade e finanças: equity é uma participação, um quinhão, a parte justa de alguém em alguma coisa. Por exemplo, your equity in your home é o valor residual da sua casa, liquidado o financiamento ou seja, o que é seu e não do banco.

Em balanços mais antigos, assets se opõe muitas vezes a equities. Assim está numa edição do respeitadíssimo Accountants Handbook de 1950. Esses equities se dividem em creditors’ equity ou liabilities (passivo exigível) e owners’ equity (passivo não exigível, atualmente patrimônio líquido). Isto significava respectivamente as participações teóricas dos credores e dos proprietários no ativo da empresa, o que ficaria para cada um se o ativo fosse repartido eqüitativamente entre os dois grupos. Parece bom inglês, porque, a rigor, liability dá a idéia de algo de que devemos nos desencarregar, o que reflete bem a situação em relação aos credores, mas não a situação perante os acionistas. Os credores devem ser pagos, os acionistas não devem ser pagos. Mas o uso foi evoluindo e hoje liabilities substituiu o creditors’ equity e o lado direito do balanço se chama liabilities and shareholders’ equity. Isso quando não fica liabilities sozinho.

Então, equity, agora no singular, ficou sendo somente a parte inferior do lado direito do balanço, quer dizer, a que corresponde ao patrimônio dos acionistas, formalmente designado patrimônio líquido no Brasil. O nome formal mais comum, nos Estados Unidos, é shareholders’ equity ou owner’s equity

Por isso, equities são ações, ou seja, as participações que refletem esse patrimônio. No Reino Unido, equities são somente ações ordinárias; nos Estados Unidos, são todas. Um equity fund é um fundo mútuo que investe em ações, ou, como se diz normalmente, um fundo de ações. Equity financing é financiamento pela emissão de ações. Em outras palavras, quando uma empresa precisa de dinheiro, ou toma emprestado, aumentando seu passivo exigível (debt financing) ou emite ações, aumentando o capital (equity financing).

Por fim, temos o famoso equity method ou at equity. Isso significa, fundamentalmente, a apresentação de um investimento pelo seu valor patrimonial. Ou seja, refletindo a parte do patrimônio da empresa investida (aviso aos puristas: sim, usa-se empresa investida) que pertence ao investidor, em vez do valor pago pelo investimento.

Outros sentidos

Os sentidos de equity não param aí. Por exemplo, temos Actors’ Equity, uma organização de artistas que aparentemente combina sindicato com bolsa de trabalho, um sentido que não parece estar convenientemente dicionarizado. A meu ver, também está ligado à nota de justiça, já que essas organizações foram criadas para dar ao artista uma condição de trabalho mais justa.

Deu para entender?

Até amanhã – e sábado de manhã, no Maria Imaculada.

Aviso aos navegantes

Ontem, segunda-feira, o Blogger teve dor de barriga e a postagem de segunda acabou sendo feita na terça-feira. Faz parte.

Troco miúdo

Resposta a um pedido de informações da Stela Machado

A Stela Machado comenta aí em baixo:

Danilo, preciso de uma favor: você poderia passar para mim/nós o endereço daquela site que publica textos maravilhosos de tradutores do mundo inteiro e no qual vc colabora? Não consigo lembrar o nome. Estava nos favoritos, mas houve um problema de congestionamento no HD, o PC travou e, qd consegui acessar, dias depois, os favoritos haviam sumido.

Te agradeço muito.

Stela Machado

Você está falando do Translation Journal, criação do Gabe Bokor, grande amigo de todos nós tradutores brasileiros (aliás, fala português perfeito e tem diplomas da Fundação Getúlio Vargas e da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Os artigos do TJ são copiados em toda a Internet, mas é lá que as coisas começam.

O futuro do blog

Criei este blog sem ter muita idéia de como se faz uma coisa dessas. Até hoje, estou indo meio de orelhada. Mas estou tentando aprender a fazer algo mais arrumadinho. O fim de semana passado passei um bom tempo lendo a ajuda do blogger.com, para ver se entendia umas coisinhas e parece que, lentamente, estão fazendo sentido. Pretendo introduzir boas mudanças nos próximos dias. Espero não estragar tudo. Parece que o número de visitantes cresce lenta mas seguramente. Às vezes, dependendo da quantidade de serviço, fica difícil escrever algo, mas me comprometi a postar todos os dias e, até agora, consegui, exceto no fim de semana em que operei a catarata e na semana do Natal, em que resolvi fazer feriado. Aliás, a outra catarata vai embora no sábado que vem, depois da palestra no Maria Imaculada. O pior é que vou estar de jejum para a cirurgia e vou ter de falar uma hora e meia sem tomar água. Maldade!

Vida complicada, esta.

Equity e otherwise

Hoje uma colega disse que tinha horror à palavra equity e me lembrei que tenho um escrito já antigo sobre essa palavrinha complicada. Estou atualizando o arquivo, para postar ainda esta semana. Na semana que vem, vou ver se consigo atualizar e postar um outro que tenho sobre otherwise.

Morro de curiosidade por saber...

... quem são os colegas do Japão que têm acessado o blog. Todo dia, vejo um mapinha que diz onde estão as pessoas que acessam o blog. Frequentemente tem gente do Japão.

Por hoje, é só. Volte amanhã, que tem mais.


domingo, 14 de janeiro de 2007

Tradução automatizada

Na tradução automática, o computador traduz sozinho. A expectativa era, há anos, de que o operador escolhesse um texto, indicasse ao computador as línguas de partida e de chegada, mandasse processar e fosse tomar um café. Quando voltasse, estaria tudo prontinho. O operador nem precisaria saber línguas: um chinês monoglota poderia tranquilamente, num dia de trabalho, traduzir um livro do russo para o japonês e outro do turco para o esquimó.

Não deu muito certo, pelo menos até agora.

O que se usa, mesmo, de fato, é tradução assistida por computador, quer dizer Trados, Wordfast, DéjàVu ou StarTransit, que, embora não traduzam nada, ajudam muito na tarefa de traduzir.

A tradução automática sempre foi o sonho de todos. Quer dizer, todos, menos os tradutores, para os quais é um pesadelo, porque – dizem – seria a morte de nossa profissão.

Há muitos mal-entendidos sobre tradução automatizada. Vamos ver se consigo lançar alguma luz sobre essa história toda.

Os tradutores eletrônicos que você encontra por aí são meros brinquedos e é muita safadeza disponibilizar para os incautos como se fossem programas sérios. Usá-los como prova de que tradução automática é impossível, por outro lado, é muita ingenuidade, porque há programas bem melhores no mercado, mas custam bom dinheiro. Alguns já sabem lidar com português, a maioria está melhorando, há até uns que fazem traduçõezinhas razoáveis, embora nenhum ainda esteja pronto para produzir uma tradução aceitável sem ajuda humana. Não sei se algum dia algum haverá algum que nos dispense.

Mas, bons ou mais, todos esses programas têm limitações. Não é este o lugar para fazer uma análise profunda dessas limitações. Grosso modo, pode-se dizer que aquilo que o um bom tradutor humano faz com facilidade, elas também fazem e fazem muito rapidamente: frases curtas, com pouca polissemia, pouca ambigüidade, poucas imagens e metáforas, sem desvios da norma culta, sem complexidades sintáticas, sem termos raros ou inovações terminológicas.

À medida que o texto vai se afastando dessas características de simplicidade, fica pior a tradução automática. Se tiverem de enfrentar, por exemplo, um parecer jurídico escrito por um advogado brasileiro, vão produzir um texto ainda mais terrível que o original, se parece possível.

Por isso, algumas empresas estão começando a usar redação controlada, quer dizer, fazer seus redatores escreverem de acordo com certos parâmetros que facilitam automatizar a tradução. Nem sempre é fácil conseguir que o especialista se acomode às regras e, portanto, surge a figura do “pré-tradutor”, um ser humano que adapta os textos às exigências do programa de tradução automatizada. Mesmo assim, a tradução não é perfeita e precisa de uma “pós-tradução”, também humana. E, claro, os bancos de dados e algoritmos dos programa precisam ser atualizados constantemente, também por seres humanos.

O processo que envolve pré- e pós- tradução é caro, mas pode dar um bom lucro quando um mesmo texto precisa ser traduzido para várias línguas: o custo da pré-tradução é dividido por várias línguas e, mesmo somado ao custo da tradução automática e ao custo da pós-tradução, ainda fica mais barato que o da tradução humana, sobre ser mais rápido. Entretanto, é inaplicável quando se trata de um texto a ser traduzido para uma língua só.

O que se pode deduzir de tudo isso? Em primeiro lugar, até um agnóstico empedernido como eu sabe que o futuro a Deus pertence: predizer o que vai acontecer é tarefa até que interessante, mas as previsões não são muito seguras. Ainda me lembro do que se dizia, na minha infância, sobre como ia ser o ano 2000. Chegou e passou o tal do ano e não é nada como diziam que ia ser. Porém, há umas tantas coisas que já estão emergindo como verdades agora e que merecem comentário.

Entretanto este artigo já está ficando longo demais e vou parar por aqui. Como assunto é importante e não se esgotou, vou voltar a ele daqui a uns dois ou três dias.

Obrigado pela visita e volte amanhã, que tem mais, provavelmente sobre dicionários, de novo. Se estiver em SP no sábado agora, dê um pulo no Colégio Maria Imaculada, perdo do Metrô Paraíso, para o enveto de férias da SBS.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Alguém pode me recomendar um bom dicionário?

Do ponto de vista do tradutor, além da divisão fundamental entre dicionários monolíngües e bilíngües, existe a distinção, igualmente fundamental, entre dicionários de língua de partida e dicionários de língua de chegada.

Vamos partir do genérico para o específico, que fica mais fácil. Se você traduz do inglês para o português, o que é um “bom dicionário” vai ajudar muito pouco nas traduções do português para o inglês. Por exemplo, se o inglês for a língua de partida, é melhor usar um dicionário tão completo quanto possível, um Merriam Webster III, um American Heritage, um Oxford English Dictionary, por exemplo. Nenhum desses três dicionários é suficiente quando você traduz do português para o inglês, mesmo que o inglês seja sua língua nativa. Na tradução para o inglês, a idéia é usar, em lugar deles, ou, de preferência, antes deles, aquelas obras para "advanced learners", publicadas pela Longman, Collins ou pela Oxford University Press. Com a riqueza de exemplos e explicações, são eles que nos ajudam a achar a construção mais apropriada para cada caso.

Se você traduz do inglês para o português, a coisa encrespa, porque não temos dicionários para “estudantes de português em nível avançado”. Mas a gente sempre pode suplementar o Houaiss e o Aurélio com os dicionários do Francisco Fernandes, que, embora antiquados, contêm informações fundamentais sobre verbos, substantivos e seus regimes. Se você não encontrar nas livrarias, procure nos sebos. Você conhece o Estante Virtual? Clique no nome e pesquise em vários sebos ao mesmo tempo. Existe, também, um lendário dicionário de regimes de verbos do Francisco da Silva Borba, mas não encontro de modo algum. Do mesmo Borba, entretanto, há um interessante e útil Dicionário de Usos do Português do Brasil, que me tem ajudado em várias situações.

Por hoje é só, que este assunto não tem fim. Volte amanhã, que tem mais, porém não deixe de ler o Você faz “versão" aqui abaixo e o ver o convite para o evento grátis de sábado que vem. Obrigado pela visita.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Você faz versão?

Tradicionalmente, no Brasil, “versão” é uma tradução do português para uma língua estrangeira. Confesso que não gosto do nome, mas é tradicional e não deixa de ser útil.

Escrever uma língua estrangeira é muito fácil. Escrever uma língua estrangeira direito é mais difícil. Escrever “sem sotaque” é quase impossível. Existe gente que é capaz de escrever “sem sotaque” em algumas áreas muito restritas, mas o número de pessoas que é igualmente proficiente em duas línguas é muito exíguo, muito menor do que o número de pessoas que se considera capaz de escrever duas línguas “sem sotaque”.

Problema grave, não? Principalmente porque o número de falantes nativos de outras línguas que sabe português o suficiente para fazer uma tradução que presta para suas próprias línguas também é muito pequeno. Isso significa que muitas traduções para línguas estrangeiras têm de ficar na mão de brasileiros, mesmo, não tem saída. Então, para muitos de nós, a solução é só uma: aprender a traduzir “ida-e-volta”.

Digo mais: andei raciocinando sobre essa história toda e cheguei à conclusão de que traduzir para uma determinada língua é um exercício importantíssimo para quem quer aprender a traduzir dessa língua. Quer dizer, traduzir do português para o inglês é um excelente exercício para quem quer aprende a traduzir do inglês para o português. Não estou dizendo nenhuma novidade, mas, de vez em quando, é útil voltar um pouco às raízes e reafirmar coisas que a gente sempre soube serem verdade.

Não sei se você sabia, mas a semana que vem a SBS vai promover um encontro para tradutores e professores e eu fui escalado para falar no sábado de manhã, dia vinte. Assunto? Como aproveitei minha experiência de traduzir para o inglês para melhorar minhas traduções para o português e vice-versa. É grátis, com direito a lanchinho. No Colégio Maria Imaculada, no Paraíso em São Paulo. As informações completas estão aqui. Vá lá e clique em no link para o 7º encontro de férias. Entre outras coisas, como de hábito, vamos falar mal dos ausentes e você não quer ser vítima de nossa língua, não é?

Falta lembrar que o mercado paga mais para as "versões" que para as traduções. Se e quando o diferencial vale a pena ou não é outra conversa, que fica para amanhã.

Por hoje é só e muito obrigado pela visita. Nos vemos no Maria Imaculada?

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Troco miúdo: respostas, comentários, etc.

Para Jeovane Cazer, que postou um comentário aí em baixo. "Cadastrar-se como autônomo ... porque uma agência...exige nota fiscal"? Antes é bom ler, atentamente, o que a Vera e eu escrevemos aqui, para não fazer o que não deve.

O Ewandro, que não tem a mais remota responsabilidade pelas coisas que eu digo aqui, me mandou algumas informações preciosas, as quais vou combinar o que já eu já sabia e, em algum momento da semana que vem, iniciar uma novela sobre tributação.

Por hoje é só. Amanhã tem mais. Espero que vocês estejam se divertindo tanto quanto eu.

Trabalhar para o exterior (5) – mais sobre recebimento

A novela do recebimento andava suspensa, mas volta ao ar.

Uma boa coisa é ter uma conta no exterior, por exemplo nos EUA. Se tiver a chance, abra uma. É cada vez mais difícil, mas, se você for até lá e tiver um conhecido que te leve ao banco dele e tal, talvez consiga. Não há nada de ilegal em ter uma conta no exterior, desde que você inclua em sua declaração de bens que faz parte da declaração de rendimentos. Antes de abrir investigue que tipo de cartão magnético o banco te dá. De modo geral, com um cartão magnético, você saca dinheiro de sua conta americana nos caixas automáticos do Banco 24 Horas, aqui no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, sem o mais leve problema. O problema, claro, está em abrir a conta. Se você tiver a conta, o cliente manda o seu cheque diretamente para o banco, que faz a compensação e credita a sua conta. A maioria dos bancos americanos cobra uma taxa de administração se o saldo médio cair abaixo de um certo valor. Então, para deixar 50 dólares por lá, não vale a pena.

Muitas agências atualmente pagam via Paypal. Paypal cobra taxa, um pouco menos de 4%, mas é seguro e simples. Para pequenos valores, não tem igual. Ótimo, por exemplo, quando você quer pagar 5 dólares que deve a um amigo em algum lugar do mundo. É possível transferir valores de sua conta Paypal para sua conta corrente bancária em vários lugares do mundo, mas não no Brasil, o que é a maior água no chope. Te mandam um cheque, se você quiser e estiver disposto a pagar a taxa de 11 dólares. Mas aí você fica com o cheque e não adiantou nada ter Paypal. Quer dizer, precisa ter Paypal e conta lá. Se não tiver, só pode usar Paypal para pagar compra no eBay e outros lugares onde for aceito. Há uma que outra empresa que compra créditos de PayPal. De vez em quando, aparece. Mas pagam um deságio de mais de 10%.

Também tem o iKobo. Eles te dão um cartão magnético, que permite sacar da sua conta em qualquer caixa eletrônico. O problema é o cliente aceitar pagar via iKobo. Tem também a Western Union, mas o problema é o mesmo: precisa ver se o cliente topa. Do lado do cliente, nem iKobo nem WU são convenientes, que não vou discutir aqui. Se o cliente topar, topou; se não topar, de que adianta minha discussão?

Por fim, alguns bancos compram cheques em moeda estrangeira. São poucos e quem comprava ontem pode não comprar hoje, mas voltar a comprar amanhã. Dá trabalho, porque você precisa sair de casa para ir ao banco negociar o cheque. E tempo é dinheiro. Uma tarde para ir ao banco, custa o que você teria ganho traduzindo. Pense nisso.

Por fim, é bom ficar de olho nos encargos. Todos esses serviços cobram alguma coisa e, quando se troca moeda, é bom ver qual é a taxa de câmbio aplicada. Um encargozinho de cá, uma comissãozinha de lá, uma tarifinha mais adiante e uma taxa de câmbio assustadoramente baixa, para um dólar que já anda meio capenga – e lá se vai nosso rico dinheirinho. Tudo isso deve ser levado em conta antes de aceitar um servicinho a cinco centavinhos de dólar por palavra.

Trabalhar para o exterior (5) – mais sobre recebimento

A novela do recebimento andava suspensa, mas volta ao ar.

Uma boa coisa é ter uma conta no exterior, por exemplo nos EUA. Se tiver a chance, abra uma. É cada vez mais difícil, mas, se você for até lá e tiver um conhecido que te leve ao banco dele e tal, talvez consiga. Não há nada de ilegal em ter uma conta no exterior, desde que você inclua em sua declaração de bens que faz parte da declaração de rendimentos. Antes de abrir investigue que tipo de cartão magnético o banco te dá. De modo geral, com um cartão magnético, você saca dinheiro de sua conta americana nos caixas automáticos do Banco 24 Horas, aqui no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, sem o mais leve problema. O problema, claro, está em abrir a conta. Se você tiver a conta, o cliente manda o seu cheque diretamente para o banco, que faz a compensação e credita a sua conta. A maioria dos bancos americanos cobra uma taxa de administração se o saldo médio cair abaixo de um certo valor. Então, para deixar 50 dólares por lá, não vale a pena.

Muitas agências atualmente pagam via Paypal. Paypal cobra taxa, um pouco menos de 4%, mas é seguro e simples. Para pequenos valores, não tem igual. Ótimo, por exemplo, quando você quer pagar 5 dólares que deve a um amigo em algum lugar do mundo. É possível transferir valores de sua conta Paypal para sua conta corrente bancária em vários lugares do mundo, mas não no Brasil, o que é a maior água no chope. Te mandam um cheque, se você quiser e estiver disposto a pagar a taxa de 11 dólares. Mas aí você fica com o cheque e não adiantou nada ter Paypal. Quer dizer, precisa ter Paypal e conta lá. Se não tiver, só pode usar Paypal para pagar compra no eBay e outros lugares onde for aceito. Há uma que outra empresa que compra créditos de PayPal. De vez em quando, aparece. Mas pagam um deságio de mais de 10%.

Também tem o iKobo. Eles te dão um cartão magnético, que permite sacar da sua conta em qualquer caixa eletrônico. O problema é o cliente aceitar pagar via iKobo. Tem também a Western Union, mas o problema é o mesmo: precisa ver se o cliente topa. Do lado do cliente, nem iKobo nem WU são convenientes, que não vou discutir aqui. Se o cliente topar, topou; se não topar, de que adianta minha discussão?

Por fim, alguns bancos compram cheques em moeda estrangeira. São poucos e quem comprava ontem pode não comprar hoje, mas voltar a comprar amanhã. Dá trabalho, porque você precisa sair de casa para ir ao banco negociar o cheque. E tempo é dinheiro. Uma tarde para ir ao banco, custa o que você teria ganho traduzindo. Pense nisso.

Por fim, é bom ficar de olho nos encargos. Todos esses serviços cobram alguma coisa e, quando se troca moeda, é bom ver qual é a taxa de câmbio aplicada. Um encargozinho de cá, uma comissãozinha de lá, uma tarifinha mais adiante e uma taxa de câmbio assustadoramente baixa, para um dólar que já anda meio capenga – e lá se vai nosso rico dinheirinho. Tudo isso deve ser levado em conta antes de aceitar um servicinho a cinco centavinhos de dólar por palavra.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Vida de tradutor

Interrompo um pouco a novela dos pagamentos do exterior para contar uns causos, basicamente porque não tive tempo de organizar o capítulo final como queria. Mas ele vem, tenham certeza.

Portugês para "ambos os lados do Atlântico"

Então, me escreve um cliente pedindo uma tradução em português "elegante" que seja considerado bom em ambos os lados do Atlântico. Recusei o serviço. Conheço suficientemente bem as duas vertentes da língua para saber que é impossível escrever um texto institucional sobre finanças que seja considerado "elegante" e informativo em ambos os lados do oceano. A terminologia técnica é diferente, o estilo é diferente, até a ortografia é diferente. Ou você fala de "fatos" ou de "factos". Até meu celular, que me escrevia em luso, agora escreve em brasileiro.

Avisaram que estão procurando outro tradutor. Vem aí a famosa história do "se eu não fizer, alguém faz", que sempre me parece a mais fraca de todas as justificativas para fazer qualquer coisa. É provavelmente verdadeiro que não faltará quem faça. Mas isso não me preocupa. O importante, para mim, é que não sou eu quem vai fazer.

Pensamento do dia

Se todos os seus orçamentos estão sendo aceitos, você está cobrando menos do que devia.

A novela da tributação

Por sugestão de um leitor, iniciei a novela sobre como receber pagamentos do exterior. Vem o Ewandro e puxa a conversa da tributação dos nossos serviços, que já é outra coisa bem diferente, porém até mais importante. Estou mantendo uma correspondência com ele e discutindo certos pontos com meu contador (arrependido de me ter como cliente, mas isso é problema dele) e a próxima novela provavelmente vai ser sobre tributação. Preparem-se.

O blog em geral

O número de visitantes do blog vai aumentando paulatinamente. De vez em quando, dá um salto, depois baixa, mas, quando baixa, é sempre para um nível um pouco mais alto que antes. Fico muito contente com isso. Tenho tentado fazer um blog sobre a profissão de tradutor, quer dizer, sobre tradução como modo de ganhar a vida, não sobre tradução vista como disciplina acadêmica ou empreendimento intelectual. Nada contra essas duas abordagens, mas achei que faltava algo sobre a profissão, mesmo. Por outro lado, procuro fazer um blog orientado para soluções. De choradeira e reclamação, já ando cheio.

Por hoje chega. Até amanhã e obrigado pela visita.























terça-feira, 9 de janeiro de 2007

PDF, o final, creio eu

Vou terminar aqui a novela do pdf, para depois ficar só com a novela dos pagamentos no exterior. Escrever duas novelas ao mesmo tempo é complicado demais.

O Ewandro deixou um comentário muito interessante, para o último post. Recomendo ler, porém, não se esqueçam que os pdfs podem ser criados de mil maneiras diferentes e que o programa que aparentemente fez um milagre com um deles pode criar problemas terríveis com outro arquivo, aparentemente até mais simples. Quer dizer, despedefação não é ciência exata.

Mas o foco deste artigo está não na despedefação, mas sim nos casos em que o cliente diz “dá para entregar no pdf?” Esse é um pedido muito perigoso, que o cliente às vezes faz de ingênuo, às vezes de sabido.

Vamos por partes: em primeiro lugar, criar um pdf é fácil. Há várias maneiras, uma delas sendo instalar um Open Office, que é grátis e faz a conversão facilmente. O problema está em que quando o cliente diz pede entrega no pdf, está pedindo para você diagramar tudo como estava no original e, como eu disse no primeiro artigo desta série, geralmente se usa pdf para diagramações endiabradas.

Diagramações endiabradas no Word são difíceis, muito difíceis. Arquivos Word com diagramação complexa são enormes e instáveis e, quando convertidos em pdf, podem dar resultados inesperados. Na verdade, se é para pedefar, o correto é primeiro tratar o texto em um programa de editoração eletrônica, como o PageMaker ou o InDesign. São programas extraordinários, que custam caro e cujo manejo não se aprende de um dia para o outro.

Recuperar as imagens que o original possa ter, para recolocar na tradução, é outra tarefa que pode variar de muito simples a impossível. E você vai precisar das fontes que o cliente usou no original, que podem ser raras e caras. Quer dizer, é um trabalho que exige habilidades e, muitas vezes, também recursos especiais, que não estão disponíveis para todos nós.

Além disso, na maior parte das vezes, é um trabalho que toma muito tempo e, portanto, precisa ser cobrado separadamente. Em outras palavras, ou você aprende a usar PageMaker, InDesign, Adobe Illustrator e coisas que tais ou a aprende a dizer “não” para esses serviços.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

PDF (2)

Continuando a novela do pdf, vamos conversar um pouco sobre o que se chama despedefação, quer dizer, o trabalho inglório de transformar um arquivo pdf em arquivo word.

Caso 1: arquivo pdf de texto, sem proteção por senha

Se você tiver sorte, é só abrir o arquivo no Reader, depois

  • View > Page Layout > Continuous
  • Select > All
  • Edit > Copy
  • Abra um documento novo em Word e cole o texto (Ctrl V)

Se o texto aparecer e estiver legível, ótimo: você pode passar à segunda fase. Caso não apareça, as soluções (nenhuma muito boa) estão mais abaixo.

A segunda fase é baixar o +Tools do site do Wordfast. É grátis e não tem nada que ver com o WFast propriamente dito. Instale, abra o documento que você criou com o texto copiado do AcrobatReader e

  • Tools > Cnv > Recreate paragraphs in current document.

O +Tools dá uma arrumada bonita no documento, embora nem sempre resolva tudo. É comum sobrar algo para ajeitar a unha. Pdf é uma desgraça.

Caso 2: arquivo pdf protegido por senha

Se o arquivo estiver protegido por senha, o Reader não vai permitir seleção. Nesse caso, o que resolve é um aplicativo da Elcomsoft, que você compra via Internet. Rápido e fácil de usar. Um dos meus melhores investimentos. Desprotege o arquivo em menos de um minuto. Aí, normalmente, você fica com um arquivo simples, que se enquadra no Caso 1.

Caso 3: arquivo em forma de imagem

Alguns arquivos, embora somente contenham texto, foram gravados como imagem. Por que alguém faz uma coisa dessas, é coisa difícil de explicar. O fato é que se o arquivo está como imagem, você pode copiar to Reader e colar no Word, mas só vai sair lixo. Nesse caso, a única saída é reconhecimento ótico, quer dizer, digitalização do texto. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário um scanner para isso: os programas atuais "enganam" o computador, fazendo a digitalização diretamente a partir do pdf. Os melhores são o OmniPage e o FineReader, da Abby, ambos facilmente encontráveis mediante consulta ao Google. Aprenda a ler direto do pdf, em vez de imprimir e passar pelo scanner. A qualidade do resultado varia de magnífica a muito má, dependendo de mil fatores que não posso discutir aqui.

Caso 4: arquivo protegido e em forma de imagem

Às vezes, o arquivo vem em forma de imagem e ainda protegido por senha, caso em que é necessário primeiro desproteger e depois digitalizar.

Até a próxima!

No próximo artigo sobre pdf, provavelmente depois de amanhã, vamos falar da história de entregar no pdf. Por hoje é só. Amanhã, creio eu, voltamos à discussão dos trabalhos para o exterior. Espero que estas informações sejam úteis e que você visite o blog amanhã de novo.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Comentário em destaque

A Giovana Boselli mandou o comentário abaixo. Em vez de deixar entrar como comentário, como de hábito, preferi dar um destaque e uma resposta.

Parabéns pelo blog!

Meu comentário aqui é, na verdade, uma pergunta, embora tenha quase certeza de que acontecerá assim: você colocará aqui data e hora da aula aberta (grátis, sei lá, esqueci o nome agora) do Aulavox, né?

Explico: fiquei frustrada com a última que rolou, pois, no dia e hora da aula, fui toda feliz e contente ao site e dei de cara com o seguinte recado: "Esta aula foi adiada e ainda não há data definida para a próxima." Beleza, dei azar. Mas, o azar que deu raiva foi o segundo, pois recebi o comunicado da nova data somente depois que a aula já tinha rolado. No mesmo dia, mas umas 2 horas depois. Fiquei fula de raiva. Não sei se a falha foi do pessoal do Aulavox ou atraso de provedores.

Anyway, queria, de fato, poder participar da próxima!

Naquele dia, Giovana, houve um problema técnico. Não foi realmente culpa do pessoal do Aulavox, mas sim um daqueles desencontros de informações que lamentavelmente ocorrem. Ninguém ficou mais irritado e frustrado que eu, pode ter certeza. O vexame foi discutido a saciedade e tomamos medidas de segurança para que o fato não se repita. Não estamos livres de acontecer de novo, porque, como você sabe, shit happens. Mas fizemos tudo o que estava em nossas forças para que não sucedesse outra vez.

Aproveito para dar duas outras informações que creio importantes.

Primeiro, que, doravante, como os cursos pagos são promovidos por mim próprio, assumo, pessoalmente, o compromisso de apresentar o curso mesmo que haja somente um inscrito. O curso será cancelado exclusivamente se vinte e quatro horas antes da hora marcada, não houver nenhum interessado ou naqueles casos clássicos de doença e tal. Quer dizer, vou esperar o máximo possível antes de cancelar.

Segundo, que vou ter de operar a minha outra catarata e isso pode resultar no adiamento de um dos cursos pagos. Por motivos que não cabe discutir aqui, minha cirurgia só pode ser feita no sábado e, mesmo que fosse feita de manhã, a gente passa o dia todo meio derrubado e não tem condições de dar treinamento. Só vou saber a data certa da cirurgia no dia 11 de janeiro e a nova data do curso vai ser postada aqui e no site Aulavox no dia seguinte, logo cedo.

Trados ou Wordfast?

Uma pergunta que sempre me fazem é se é melhor usar Trados ou Wordfast. Vou dar a minha opinião particular, que pode diferir do que pensam outros colegas.

Wordfast é muito mais barato, fácil de usar e eficientíssimo. Tudo aquilo que os dois fazem, Wordfast faz melhor que o Trados. Recebo das agências que atendo muitos arquivos para fazer “em Trados” e sempre faço em Wordfast, sem problema algum, porque é mais fácil e eficiente trabalhar em Wordfast. Como o marketing to Trados é muito forte, muitas agências, principalmente no exterior, nem desconfiam que existam opções e ficam muito surpresas de saber que é perfeitamente possível.

Mesmo as memórias criadas por um são facilmente exportadas para uso no outro.

O problema é que a Trados, para preservar seu mercado, criou algumas soluções que, se não ajudam muito o tradutor, impedem o uso do Wordfast.

Os dois problemas principais são os arquivos em formato .ttx, usados geralmente para traduzir arquivos PowerPoint e as memórias protegidas com senha.

É perfeitamente possível traduzir um .ppt usando Wordfast e ainda mandar uma memória Trados para a agência, mas se a agência te mandar o ttx e exigir um ttx de volta, ou você faz com Trados ou com DVX, porque o Wordfast só dá conta do recado com um bocado de prestidigitação que não se recomenda aos novatos.

Muitas vezes, as agências mandam uma memória de Trados para o tradutor. Conforme o formato da memória, dá para usar direto em Wordfast ou usar o Trados para exportar em formato que o Wordfast entenda. Se você não tiver um Trados, pode pedir a um colega que exporte para você. Mas, às vezes, as memórias são protegidas contra exportação e, aí, não tem jeito. Mas são casos raros.

Minha sugestão: comece com WF e vá construindo suas memórias e glossários. Se, depois, tiver uma oferta que valha a pena mas exija Trados, compre um Trados e divirta-se. Eu tinha um Trados, comprado muito antes de existir WordFast. Abandonei totalmente e deixei de atualizar. Um dia, me aparece um serviço de 8.500 dólares, que exigia Trados atualizado. Bom, aí a conversa é outra, certo?

Um aviso final: tanto Trados como Wordfast trabalham com todas as línguas que seu computador aceitar e forem escritas da esquerda para a direita. Nenhum dos dois traduz nada, mas ambos ajudam o tradutor a traduzir melhor e mais depressa. E, finalmente, ajudam a traduzir qualquer tipo de texto, técnico ou literário, desde que você tenha o texto em formato eletrônico. Temos, inclusive, colegas excelentes tradutoras que digitalizam livros inteiros para poder traduzir com Wordfast.

sábado, 6 de janeiro de 2007

EXTRA! EXTRA! EXTRA! Mil&Um Termos

Logo depois que eu postei os dois artigos abaixo, chegou o SEDEX com os meus exemplares da nova edição do Direito Societário, em nova edição revista, atualizada e aumentada.

Cursos e palestras, grátis, pagos, presenciais, a distância

A Editora SBS está promovendo um “Encontro de Férias”, no Colégio Maria Imaculada, junto ao metrô Paraíso, São Paulo. Grátis, com direito a lanchinho e tudo. Ninguém vai ficar te importunando para comprar livros. Tem muita coisa para professores, não só de inglês, mas os tradutores não foram esquecidos. Fui escalado para falar às oito da manhã de sábado, o que é um tanto de crueldade, mas isso faz parte da vida. Espero que apareça alguém para assistir.

Os eventos a distância Aulavox recomeçam agora. Vamos começar com cursos de Wordfast e Trados e, evidentemente, com mais uma Reunião na Sala 7. Os cursos de Wordfast e Trados são pagos, mas a Reunião na Sala 7 é grátis, embora exija inscrição prévia. Visite o site da Aulavox para entender melhor como funciona. Como os eventos são a distância, você pode participar não importa onde estiver. Acabou aquela história de dizer “na minha cidade não tem...” Na sua cidade tem, sim: Aulavox vai até lá e dá o recado. Meus eventos pela Aulavox agora aparecem sob o nome de Texto & Contexto, que, na verdade, é só um nome de fantasia para a firma que tenho de parceria com a Vera, casada comigo há quase 40 anos.

Se está em dúvida entre Trados e Wordfast, leia o artigo sobre o assunto que vou postar amanhã. Mas tem que ficar para amanhã, caso contrário vou ficar o dia inteiro escrevendo neste blog.

Trabalhar para o exterior (4) – Como receber o pagamento (continuação)

Vamos voltar ao assunto dos pagamentos.

Melhor do que o cheque, que é um pesadelo, se você não tiver conta no exterior, é a transferência eletrônica, que, tecnicamente, se chama “electronic funds transfer”, mas que, coloquialmente, muita gente ainda chama “wire”, porque, antigamente, era, de fato, uma transferência telegráfica. É muito mais rápido e chega, direitinho, à sua conta bancária, onde quer que ela seja.

Muitas agências se negam a fazer esse tipo de pagamento. Fora do Brasil, os cheques liquidados pelos bancos são devolvidos ao emitente. Isto significa que a agência (ou quem quer que esteja pagando) pode guardar os cheques carimbados “pago” pelo banco deles como recibo, para fins de controle interno. Estão tão acostumados com esse sistema, que relutam em usar os recibos fornecidos pelos bancos quando fazem transferências. Além disso, transferências eletrônicas custam dinheiro, entre 30 e 40 dólares, dependendo do banco e, por isso, só são viáveis para pagamentos de valores razoavelmente altos. Algumas agências somente fazem esse tipo de pagamento se você permitir que deduzam o custo da transferência do valor da tradução. Geralmente, vale a pena, porque o dinheiro pinga na sua conta, aqui no Brasil, rapidinho e sem que você tenha de levar mim papéis ao seu banco. Mas claro, se o serviço for de 100 dólares, não vale a pena. Para isso, há outras soluções, das quais vamos falar mais adiante. Desculpe a novela que estou fazendo dessa questão, mas, realmente, é complicado e não gosto de dar informações pela metade.

Antes que me esqueça, para fazer uma transferência dessas, o seu cliente precisa saber o código SWIFT do seu banco no Brasil, que o próprio banco vai informar a você. Os clientes americanos costumam pedir o “ABA number”, mas isso é coisa interna lá deles e às vezes precisa de um pouco de persistência para explicar que, por definição, só os bancos americanos têm. Os europeus costumam pedir o IBAN, mas, aqui também, é coisa interna lá deles. Internacionalmente, o que existe é SWIFT.

O Ewandro apareceu aí em baixo contando uma história de um cliente que pagou em quatro dias. Existem essas coisas, claro. Mas são a exceção, não a regra. A regra, nos EUA, Canadá e RU, é 30 dias; na Europa continental, de 60 para mais. Se seus clientes são mais rápidos, sorte sua.

Por hoje é só, mas a conversa não acabou.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Introdução ao pdf

Pdf significa portable document format e é um formato de arquivo desenvolvido pela Adobe, para facilitar a distribuição de material com formatação complexa. Imagine o seguinte: uma empresa manda preparar um catálogo magnífico, com uma formatação cuidadosa, cheio de figuras e tabelas, com fontes especiais e o que mais seja. Montar uma diagramação dessas em Word for Windows talvez seja possível, mas dá um trabalho danado e, quando se abre em outra máquina, menos poderosa, pode travar o sistema. Se o arquivo tiver fontes especiais, então, nem se fala.

Para isso, a Adobe inventou o pdf. Se você tem um arquivo louco, muito louco, preparado em QuarkExpress com todas as firulas que aquele programa permite, e converte em pdf, o arquivo abre que nem pára-quedas em qualquer máquina que tenha o AdobeReader, que é grátis, dispensando o QuarkExpress, que custa uma fábula. É essa a idéia.

Mas, para o tradutor, pdf pode ser um horror. Tanto que a gente muitas vezes chama arquivos fdp. Os problemas podem ser de dois tipos: problemas de tradução propriamente dita e problemas de entrega do serviço. Vamos cuidar de um tipo de cada vez. Primeiro, a tradução.

Se você for traduzir pelo método tradicional, quer dizer, com o texto impresso do lado do computador, uma régua para marcar onde você está e digitando tudo, não há problema. Muito ao contrário: imprimir pdf costuma ser muito fácil e os resultados normalmente são muito bons, com todos os gráficos no lugar e tal. A exeção são os pdfs formatados em tipo microscópico.

Acontece que cada vez mais usamos programas de tradução assistida por computador, quer dizer, as tais “memórias de tradução”. Então, nas listas de tradutores, aparece o colega que diz “peguei um trabalho em pdf, por favor, como posso traduzir pdf no Wordfast?”

É disso que vamos falar na continuação deste artigo. Por hoje é só, amanhã tem mais, sobre como receber dinheiro do exterior. Depois, no domingo, volto aos pdfs.

Até lá.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Aviso aos comentaristas e leitores em geral

O Ewandro, conhecido tradutor e intérprete de Brasília, deixou dois comentários, lá em baixo, bem nos primeiros posts do Blog. Os dois merecebem destaque e um comentário meu, que vai vir no fim de semana.

O Google tem um serviço que me diz quantas pessoas visitaram o blog e tem um mapinha dizendo onde essas pessoas estão. Esperava leitores do Brasil, talvez um que outro de Portugal e mais alguns dos EUA, Canadá e Reino Unido, se tanto. Surpreendi-me com leitores de países da Ásia e da escandinávia. Não tenho como saber quem são esses leitores (se tivesse, não iria investigar: o leitor tem todo o direito de permanecer anônimo), mas tenho curiosidade de saber quem anda lendo estas coisas, até para poder melhorar a qualidade dos artigos. Por isso, se você mandar um comentários, talvez pudesse dizer em que cidade ou país está. O contato é anônimo e eu não vou botar teu nome numa lista de spam. Não precisa dar seu e-mail, só dizer algo do tipo "estou em Xiririca, Estado de Tal". Ah, mais uma coisa, não precisa escrever português direito. Português de pé-quebrado também serve. Se quiser escrever em outra língua, porque não se sente bem escrevendo em inglês, tudo bem. Mas não exagere: comentários em vietnamita não dá para encarar.

Se quiser sugerir algum assunto, esteja à vontade. Não posso garantir que tenha uma boa resposta, mas vou ao menos tentar.

E obrigado por sua visita. Agora, aproveite para ler o artigo aqui abaixo.

Trabalhar para o exterior (4) – Como receber o pagamento

Receber pagamentos do exterior toma tempo e custa dinheiro. Tempo e dinheiro que, às vezes, tornam a transação proibitiva.

Primeiro que os prazos lá fora são mais longos que os nossos. Há países na Europa onde o prazo chega a noventa dias. Isso quando não há atraso. Então, é necessário ter paciência e recursos para agüentar o tranco. Considerando as taxas de juros do cheque especial ou cartão de crédito e no custo da transação, você vai ver que o valor real recebido pode ser bem menor do que você pensava.

A maioria das agências simplesmente emite um cheque em dólares ou euros e manda pelo correio. Os meus, sempre chegaram, mas podem demorar, porque a turma, realmente, não tem pressa. Um grande, grande, muito grande, banco americano enviava seus cheque por um "mass mailer" que trazia a correspondência de navio até a Venezuela, onde era posta no correio normal. Poupava dinheiro de postagem para o banco e, evidentemente, atrasava a entrega uma barbaridade.

Quando o cheque chega aqui é que a coisa encrespa. Doleiros e casas de câmbio geralmente não compram cheques, se é nisso que você estava pensando. O procedimento normal é depositar na sua conta bancária. Mas você não pode simplesmente passar no caixa automático do shopping e largar por lá. Tem que ir ao banco, falar com o pessoal que opera câmbio, preencher mil papéis e esperar a cobrança. Não existe compensação internacional. O cheque vai, via correio, de volta ao país de origem, onde um correspondente do seu banco apresenta o cheque ao banco sacado, para liquidação. Liquidado o cheque, o banco correspondente do seu credita a conta do seu banco lá fora, manda um aviso para cá e o seu banco credita a sua conta aqui. Entendeu? O problema é que o processo costuma demorar pelo menos 45 dias e o banco ainda cobra uns USD 45 pela transação. Para um serviço de, digamos, USD 450, isso significa 10% do total.

Há alternativas, que vou abordar a partir de sábado. Para variar um pouco, amanhã pretendo falar de arquivos pdf.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Aviso aos comentaristas

Uma comentarista perguntou se podia dar os seus pitacos, embora principiante. Claro que pode! Qualquer comentário relacionado com o que foi publicado aqui ou com a tradução é bem-vindo. Dou-me ao luxo de censurar qualquer coisas que infrinja a lei e, a meu exclusivo critério, o bom senso e as normas de boa educação.

O tradutor e a globalização (3)

Jamais trabalhe para uma empresa estrangeira sem um pedido formal, normalmente conhecido por Purchase Order, abreviado P.O. Há quem use outros nomes, mas P.O. é o mais freqüente. Esse documento descreve o que deve ser feito, como e quando vai ser entregue, bem como as condições de pagamento. Leia com atenção e peça para o cliente emendar se for o caso. Não existe nada “para constar” neste mundo, muito menos em um P.O. e o cliente vai exigir que você faça exatamente o que está no P.O.

Preste atenção especial ao horário. O cliente normalmente dá o horário de entrega de acordo com o fuso dele e as diferenças de fuso variam conforme a época do ano. O cliente europeu que te pede uma entrega EOB Thursday, quer uma entrega no fim do expediente dele na quinta-feira, que pode muito bem ser a hora do almoço no Brasil, durante o nosso inverno.

Note também que a maioria dos clientes estrangeiros não tem a mais remota idéia de quais sejam os nossos feriados e pode perfeitamente ligar no feriadão de sete de setembro, por exemplo. Se for americano ou canadense, é bem capaz de ligar em final de copa do mundo.

Terminado e entregue o serviço, envie sua fatura. Jamais envie Nota Fiscal nem RPA, que são documentos exclusivamente brasileiros. Normalmente, para o exterior, é melhor cobrar como pessoa física, mesmo que, no Brasil, você dê entrada no dinheiro como receita da pessoa jurídica.

Podem pedir que você assine algum documento atestando que não é residente nem domiciliado no país deles, o que é necessário para evitar a retenção de imposto de renda por lá.

Os americanos podem te pedir o SSN (Social Security Number) que você não tem nem vai requerer. Os europeus podem te pedir o VAT registration, que você também não tem nem vai requerer. Às vezes, é difícil explicar essas coisas para eles, mas isso faz parte.

Se quiser um modelo de fatura, escreva para danilo.tradutor@gmail.com e coloque, na linha de assunto M*O*D*E*L*O* *D*E* *F*A*T*U*R*A, assim, com asteriscos, para facilitar a identificação. Não vou ficar atormentando você com span nem nada dessas coisas. Mas vou ter uma idéia de quem se interessa por essas coisas, o que é importante para mim.

Por hoje é só. Amanhã tem mais.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Vida de tradutor

Reduzi a atividade entre natal e ano novo. Mas não foi fácil. Até no dia 30, apareceu um cliente com um pacote para revisar no fim de semana. A idéia era o tradutor traduzir no dia 31 e nós aqui (Vera e eu) revisarmos no dia 1º de janeiro. O tradutor se negou a traduzir antes de terça-feira, o que me poupou o trabalho de me negar a revisar na segunda. O cliente disse I understand, o que quer dizer não gostei, como você sabe. Devo receber o trabalho esta tarde.

Entretanto para tudo há um limite e, como eu sempre digo, a gente tem de aprender a dizer não. Em algum momento, a gente tem de parar e, cada vez mais, com Internet e telefonemas rápidos e baratos, os clientes acham que a gente está disponível dia e noite, 365 dias por ano. É preciso fazer alguma coisa e quem tem que fazer essa “alguma coisa” somos nós. Não é uma excelente resposta.

Agora, é voltar à vida normal, inclusive aos artigos diários para o blog. Aliás, se você tiver alguma sugestão, é só deixar um comentário a este artigo. Amanhã, volto à série sobre trabalho para clientes no exterior.

Um feliz ano novo para você e todos nós. Acho que merecemos.